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segunda-feira, 6 de junho de 2016

O papel da imprensa no golpe 2016, por Cintra Beutler



Não é de agora: a imprensa tradicional é ferramenta das classes hegemônicas locais e serve a um propósito que nada tem de republicano.
Não se iluda: só chegamos a esta crise em grande parte pela atuação da imprensa de massa. Utilizada como lastro, assim como as instituições de Estado, a imprensa serve ao propósito de climatizar o estado de coisas para algum plot. Ou seja, propiciar à população comum a sensação de algo externo. O anti-esquerdismo e o antipetismo são, em maior parte, oriundos dessa sensação e da criação artificial do ódio partidário propagado pela imprensa. Assim, a mídia (entendida aqui como o conjunto de veículos de massa composto por rádio, TV, jornais e revistas) é usada dentro dessa estratégia, para o fim de permeação, de criação de um sentimento uniforme e de direcionamento da opinião pública em um sentido único. Assim, o cidadão médio é levado a pensar numa certa direção por conta da repetida propaganda. Esse cidadão medíocre não se dá conta disso, pois é normalmente incapaz de exercer ou é impermeável ao pensamento crítico.
A sensação impalpável:
A mídia serve como meio de propaganda ao propósito final de preencher as falas da opinião pública com convicções, de forjar a adesão voluntária do cidadão irracional a uma forma de pensar introjetada artificialmente. E conta com diversos mecanismos para essa manipulação, com destaque para:
1. Omissão: quando deliberadamente não divulga fatos inconvenientes a ela;
2. Desproporcionalidade: quando, para fatos semelhantes, há diferentes abordagens. O uso de eufemismos para quando os alvos do nociário são aliados e o uso de palavras fortes enfáticas quando do contrário, são bons exemplos;
3. Distorção: quando dá uma versão falaciosa a um fato verdadeiro divulgado;
4. Meia-verdade: quando divulga parcialmente o fato, mutilando partes do todo;
5. Desinformação: quando mescla parcelas de fatos verdadeiros com mentiras ou assertivas improváveis ou pouco prováveis;
6. Mentira deliberada: quando simplesmente falta com a verdade;
7. Repetição: quando, se valendo dos métodos acima, noticia e alveja constantemente certas figuras, siglas ou bandeiras, com frequência e assiduidade.
Paralelo entre 1964 e 2016:
No golpe de 64, Jango foi defenestrado pela imprensa hegemônica e rotulado como corrupto. Nada muito diferente do que aconteceu com Lula e Dilma. Os jornais à época ratificaram o golpe e forneceram as justificativas necessárias para abafar qualquer contestação do público, tanto quanto pelo método quanto pela motivação do golpe. Obviamente, as classes elitistas apoiaram o golpe por serem naturalmente contrários a qualquer iniciativa que fizesse menção ao trabalhismo ou emancipação dos trabalhadores e demais classes subalternas. Mas era necessário o apoio das classes intermediárias para corroborar o plot sem oposição.
A criação do inimigo único e visível
Em 1964, havia ali um sentimento anti-comunista e macartista manifesto, muito por conta das tensões geradas pela Guerra-Fria. Os inimigos do “cidadão de bem” mudaram, embora guardem semelhanças. 2016 foi o ano do apogeu da crise inflamada pela imprensa, que culminou com este golpe branco. Trocam-se as épocas e os personagens, mas os motivos e os objetivos são essencialmente os mesmos: a criação e a exacerbação do inimigo, do totem erguido para expiação em praça pública como a representação do mal a ser combatido. Lá em 64 o inimigo a ser combatido era Jango, a ameaça comunista e tudo o que ele representava. Aqui em 2016 é o PT, Dilma e Lula.
Cintra Beutler
Fonte: Jornal GGN

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