Postado no Diário do Centro do Mundo em 14 May 2016
Apesar de aclamado por boa parte do segmento evangélico, sobretudo entre os pentecostais, Silas Malafaia se sente credenciado para expor a comunidade evangélica brasileira a mais um vexame diante de toda a sociedade. Razão pela qual muitos já preferem não se identificar como evangélicos.
Não bastasse sua postura anticientífica em sua defesa do criacionismo clássico, ignorando todas as evidências que apontam para a veracidade da teoria da evolução; não bastasse sua cruzada contra a comunidade LGBT que já lhe rendeu o título de “inimigo número 1” dos gays; agora, o líder das Assembleias de Deus Vitória em Cristo resolve eleger a cultura como o novo alvo de seu ataque, como demonstrado no tweet abaixo:
Acredito que ele não imaginava a repercussão que teria seu comentário. Em plena sexta-feira 13, o pastor Silas Malafaia celebrou o enterro da cultura.
Enquanto boa parte da sociedade lamenta a decisão do presidente interino de encerrar as atividades do Ministério da Cultura, Malafaia presta o desserviço de fazer tal comentário, reforçando o estereótipo de que evangélicos sejam alienados, anacrônicos, contrários a todo tipo de avanço social e cultural.
Abaixo, outros tweets do renomado pastor.
– FALA AÍ ! Pede para o novo min da educação e cultura, Mendonça filho, para limpar o ministério desses esquerdopatas q ideologizaram tudo.– MINISTRO MENDONÇA, põe a companheirada toda na rua, q mamava nas tetas do ministério. LIVRA O BRASIL DESSA CAMBADA. XÔ, FORA ESQUERDOPATAS!– AVISA AOS ESQUERDOPATAS > Acabou a boquinha no ministério da cultura. Não adianta pressionar , a sopa acabou
Para sua tristeza, esta sexta-feira treze entra para a história como o dia em que o novo ministro Mendonça Filho foi recebido sob protestos e gritos de gospista pela turba enfurecida.
Não é somente a classe artística que está de luto. Qualquer ser humano dotado de sensibilidade se sente profundamente insultado com tal medida. Sim, é mais do que luto. É um insulto. E, como evangélico, sinto-me ultrajado por ver um representante proeminente deste segmento sendo o coveiro deste funeral.
Quem sabe agora, com a cultura em baixa, a subcultura gospel consiga se sobressair? Quem sabe, cinemas e teatros que cerrarem suas portas poderão ser comprados a preço de banana por esses ministérios megalomaníacos.
Pelo jeito, estamos mesmo a caminho de um Talibã Evangélico. Se continuar assim, já, já, veremos o anúncio do fim do Carnaval, do Parintins, do Boi-Bumbá e de outras celebrações populares que tanta alegria têm dado ao nosso tão sofrido povo.
Diferentemente desses porta-vozes do divino, Jesus realizou Seu primeiro milagre para que a festa não terminasse antes da hora. Se fossem esses estraga-prazeres, em vez de transformar água em vinho, teriam sabotado a festa, transformando o vinho em refresco do mais aguado e sem graça.
O Cristo que emerge das páginas do Novo Testamento não é contra a ciência, nem contra qualquer segmento social, muito menos contrário à cultura de um povo. Que bom seria se os líderes da igreja evangélica brasileira deixassem de ser discípulos de Olavo de Carvalho e se tornassem verdadeiramente discípulos de Jesus.
Se deixassem de ser assombrados pelo fantasma do comunismo e passassem a enxergar em cada manifestação cultural a silhueta de Cristo, mesmo entre o nevoeiro de nossos preconceitos idiotas.
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