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sexta-feira, 6 de maio de 2016

A desculpa miserável de Teori para explicar sua demora no caso Cunha, por Paulo Nogueira

O STF afasta Cunha depois de ele virtualmente destruir o país
Teori Zavascki falou, falou, falou, mas não conseguiu explicar por que demorou tanto para deliberar sobre o pedido de afastamento de Eduardo Cunha que lhe foi entregue no remoto dezembro de 2015.

Quer dizer: o que ele disse  na sessão do STF nesta quinta da qual resultou a queda de Cunha foi tão absurdo que não dá para levar a sério. Teori afirmou que recebeu a papelada perto do recesso.

Um momento, senhor juiz.

O Supremo é tão preguiçoso, ou tão engessado, que num caso de extrema importância para o país seus integrantes não podem postergar por algum tempo suas férias de final de ano?

O país em convulsão, por conta de um processo criminoso de impeachment movido por um psicopata capaz de tudo, e os eminentes magistrados passando creme protetor à beira do mar ou da piscina?

Uma democracia frágil e jovem sendo estuprada e os juízes supremos se divertindo em viagens?

É simplesmente impossível respeitar uma instituição que se comporta dessa maneira.

Teori deveria ter dito o seguinte, em sua fala como relator do caso: “Brasileiras e brasileiros, aqui lhes peço desculpas por meu papelão.”

Seria menos ridículo.

O que mudou para que justamente agora, depois de Cunha transformar o Brasil em piada mundial, Teori enfim se mexer e fazer o que deveria ter feito ainda em 2015?

Nada.

Pela primeira vez sou obrigado a concordar com Eduardo Cunha. Ele disse, candidamente, depois de receber sua botinada: “Se era urgente, por que esperaram seis meses para julgar o pedido de afastamento?”

Nisso, ele não poderia estar mais certo.

Numa frase célebre, Eça de Queiroz atribuiu a asneira de alguém ou à má fé cínica ou à obtusidade córnea.

Em qual das duas alternativas se encaixa Teori? Numa hipótese benigna, na segunda. Obtusidade em doses colossais. Mas são muitas as pessoas que enxergam má fé no STF.

Imagine uma casa que se queira preservar da ação de um destruidor. Você espera que ele complete o serviço para depois tomar providências?

Foi o que o STF fez.

Já não há nada que os eminentes juízes possam fazer para reparar os estragos na sociedade provocados por um Eduardo Cunha de mãos inacreditavelmente desimpedidas.

E nem há nada, muito menos, o que eles possam fazer para atenuar o papel infame, indecente que tiveram no golpe em curso.

A melhor prova disso está numa frase proferida na sessão de hoje por Teori. Eduardo Cunha, disse ele, não reúne as “mínimas condições pessoais” para presidir a Câmara. Perfeito. Mas e para conduzir o impeachment, ele reunia? Ou isso não vem ao caso?

É uma contradição brutal que o governo pode utilizar em sua justa tentativa de anular o circo do impeachment. Terá sido uma contribuição involuntária do STF à democracia.

Paulo Nogueira
No DCM

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