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terça-feira, 8 de março de 2016

Tereza Cruvinel reflete sobre o erro da Lava Jato, o roteiro do golpe e o ajuste no mesmo pedido pelos políticos da "oposição" para efetivá-lo

  "Diante da reação altaneira e desafiante de Lula, do despertar da resistência popular e democrática e das críticas do meio jurídico, inclusive de integrantes do STF, aos excessos cometidos na sexta-feira pela Operação Lava Jato, que não se limitaram à condução coercitiva do ex-presidente, os partidos de oposição avaliaram que a brigada de Curitiba cometeu um erro de cálculo. O Lula redivivo e A fervura do sangue militante exigiram um ajuste no roteiro da oposição, que consiste em velar e minimizar a violência contra Lula e acelerar a derrubada (golpista) do governo Dilma por vias legais."

O erro da Lava Jato e o ajuste no roteiro golpista

por Tereza Cruvinel, em seu blog:




  Diante da reação altaneira e desafiante de Lula, do despertar da resistência popular e democrática e das críticas do meio jurídico, inclusive de integrantes do STF, aos excessos cometidos na sexta-feira pela Operação Lava Jato, que não se limitaram à condução coercitiva do ex-presidente, os partidos  de oposição avaliaram que a brigada de Curitiba cometeu um erro de cálculo. O Lula redivivo e A fervura do sangue  militante exigiram um ajuste no roteiro da oposição,  que consiste em velar e minimizar a violência contra Lula e acelerar a derrubada do governo Dilma por vias legais.
  Os jornais e publicações deste domingo estão pontilhados de pistas sobre a estratégia para o pós-Operação Alethea. Algumas delas.
  1) O anúncio de uma ação judicial contra Dilma por ter feito ontem uma visita de desagravo a Lula, estando no cargo e usando meios oficiais. Autor, o soldado da Lava Jato, deputado paranaense Fernando Francischini (SD).
 2) A pregação do vice-presidente Michel Temer, neste domingo, a favor da “unidade e da reunificação” para tirar o pais da crise. Já nem se sugeriu como solução,  como quando disse que “alguém tem que ser capaz de reunificar o pais”.
  3) O artigo de Fernando Henrique reconhecendo que a crise tem raízes mais profundas, que elas ultrapassam o atual governo e precisam ser enfrentadas de outro modo. . “É hora, portanto, de líderes, de pessoas desassombradas dizerem a verdade: não sairemos da encalacrada sem um esforço coletivo e uma mudança nas regras do jogo.”. No final, até insinua que a saída poderia ser “um regime semiparlamentarista, com uma Presidência forte e equilibradora, mas não gerencial.”
 4) Declarações de vários líderes da oposição, inclusive de Aécio Neves, no sentido de que o caso de Lula é com a Lava Jato e que a prioridade agora é o impeachment de Dilma e a ação de cassação de seu mandato no TSE. Para isso, vão anexar aos dois processos da suposta delação premiada de Delcídio do Amaral.
 5) As ações programadas para começar nesta segunda-feira, na Câmara, para acelerar  o afastamento de Eduardo Cunha da presidências, o  que “limparia” o impeachment da mácula indelével que seria deixada por seu condutor.
 6) A coluna de Miriam Leitão, de O Globo, declarando que o governo Dilma já acabou e sugerindo que só falta remover o cadáver através do impeachment. A de Merval Pereira mencionando as preocupações de militares com o risco de confrontos – depois que Moro riscou o fósforo - e concluindo que  “o Congresso tem que encontrar rapidamente uma saída constitucional que possibilite a formação de um governo de transição democrática, e o caminho mais viável parece ser o impeachment”. 
 Afora ter provocado iras populares, como se viu neste domingo com protestos diante da TV Globo e ocupação da residência atribuída à família Marinho em Angra dos Reis, com sua violência a Lava Jato ainda pode ter sacudido a densa precaução do STF. 


 Possivelmente não apenas o ministro Marco Aurélio, grilo falante da consciência democrática, incomodou-se com o ocorrido e ponderou. “É preciso colocar os pingos nos is. Senão daqui a pouco teremos um paredão na praça dos Três Poderes”.  


  São muitos os is sem pingo mas o STF poderia começar julgando logo a ação proposta pela defesa de Lula no dia 26 de fevereiro, pedindo que seja definida a competência (se da Lava Jato ou do Ministério Público de São Paulo) para investigar o ex-presidente pelos imóveis que não tem mas é acusado de ocultar, o triplex e o sítio.  A Lava Jato, disse Lula, ofendeu também o STF ao não esperar por esta decisão antes de optar pela coação, e com a desculpa inaceitável até pelas crianças, de que o fez para garantir a segurança do ex-presidente.

  Mas voltemos ao ajuste no roteiro do golpe.
  Ele estava escrito e tinha cenas encadeadas, como bem demonstrou o colunista Janio de Freitas em sua coluna deste domingo. O rascunho da delação de Delcídio ficou guardado desde dezembro para ser vazado na hora exata e pelo veiculo mais adequado. Os vazamentos foram administrados com rigor, de modo a contribuir e não a atrapalhar. Semeado o horror na quinta-feira, Lula sofreu a coação na sexta-feira.  De quebra, foi montada uma “trampa” contra os blogs e mídias alternativas, através de um vazamento do que ocorreria para o Blog da Cidadania. O Brasil, perplexo e indignado na quinta, reagiria (ou deveria reagir, para eles) na sexta a favor do golpe.  Estaria criado o clima para grandes manifestações contra o PT, Lula e Dilma. A “solução final” viria a curtíssimo prazo. Seria uma solução paraguaia via Congresso.  Mas deu-se a reação popular, que está em curso, e o roteiro teve que ser ajustado.  Novamente a oposição terá que, tal como os militares de 1964, de criar cenas e simulacros de legalidade para o que tem outro nome.

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