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quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Os estudantes paulistas, defendendo as escolas públicas da sanha elitista de Alckimin, deram uma aula inesquecível de brasilidade


"Para muitos dos meninos, a rebelião não foi apenas uma aposta de vida, mas um desafio de morte"
Nesta edição, exibida na última segunda (21), na TV Brasil, entrevistamos três estudantes que participaram das ocupações das escolas paulistas.
Recomendo assistir, especialmente os que estão em crise com o país. É um vendaval de cidadania.
Mostra a eficiência da chamada pedagogia da participação, a maneira como, sentindo-se protagonistas, a rapaziada se abriu para o mundo. A explicitação da pedagogia da participação foi uma explosão inesperada, o produto mais relevante de uma movimentação que visou, em um primeiro instante, apenas evitar que alunos fossem remanejados para outras escolas, sem consultá-los.
Nicole dos Santos, 17 anos, aluna do terceiro ano médio da Escola Estadual José Lins do Rego, na Estrada do M’Boi-mirim, no Jardim Ângela, contou que os mais ligados na ocupação foram vários alunos com baixa produtividade na sala de aula.  Muitos deles estavam entre os mais dinâmicos, curiosos, interessados em temas contemporâneos,  em música, cultura, mas não se adequavam ao modelo linha de montagem das aulas, o mesmo conteúdo entregue empacotado em 50 minutos de aula.
Com o movimento, saíram da toca, mobilizaram-se, assumiram compromissos, colocaram em prática seus interesses e foram os que melhor cuidaram da sua escola.
Mais que isso.
Nicole e suas colegas sempre se incomodaram com as brincadeiras machistas dos rapazes. Mas nunca conseguiram que a direção da encarasse a questão, com um debate aberto. Com a ocupação, definiram o machismo como um dos temas de discussão, abriram as discussões e conseguiram abrir a cabeça dos colegas machistas mais renitentes.
O mesmo ocorreu na escola estadual Fernão Dias, de Pinheiros, conforme relato da aluna Luana Nardi, 16 anos. Alunos desinteressados por um método de ensino anacrônico, de ouvir a aula sem participar e limitar-se a fazer a lição sem questionar, de repente viram o mundo se abrir para eles, podendo escolher o tema para as aulas especiais ministradas durante a ocupação.
A crítica à reorganização estava fundamentada, com argumentos em relação aos erros de análise e às questões legais. Como explicou Guilherme Botelho, 16 anos, aluno do segundo ano médio da Escola Estadual Professor Oscavo de Paula e Silva, na cidade de Santo André
No município existem duas favelas, focos de enormes tensões entre os moradores de uma e outra. Fechar uma das escolas e transferir os alunos de uma favela para outra poderia resultar até em mortes, explicou Guilherme.
Mas os técnicos da Secretaria da Educação não tinham a menor ideia porque limitaram-se a tratar os números sem considerar que, por trás deles, havia pessoas, ambientes.
Indagado se haviam analisado com isenção a reforma, Guilherme responde com uma lógica definitiva: se hoje as classes já são superlotadas, há filas e a reforma iria diminuir mais ainda a quantidade de classes, é fácil entender sua lógica, que não é definitivamente a lógica pedagógica. A ocupação também expôs de forma grave o despreparo de alguns diretores.
Na escola José Lins do Rego a diretora chamou a PM e autorizou a invasão da escola. Professores que tentaram defender os alunos terminaram agredidos, alguns hospitalizados.
Lembro-me da velha PUC de Campinas, dirigida por dois clérigos extremamente conservadores, dom Amaury Castanho e outro que não me recordo o nome agora. Quando o Exército tentou invadir o campus, ambos se colocaram na frente do portão e impediram, em defesa dos seus alunos.
Ao final do programa, indaguei se tinham medo. Tinham. Um, o medo de estudantes com as represálias que poderiam sofrer dos diretores. Outro, o medo de jovens de periferia com o que poderia acontecer se a PM viesse atrás deles.
Para muitos dos meninos, a rebelião não foi apenas uma aposta de vida, mas um desafio de morte.

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