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segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Estudo busca decodificar palavras finais dos moribundos

  Projeto delineado por uma poetisa gera um estudo da Universidade Bryn Athyn, do Condado de Montgomery, EUA, que irá gravar as palavras de pessoas que morrem em casa, sob os cuidados médicos. O objetivo é analisar as mudanças das comunicações dos moribundos, nas últimas seis semanas de vida, a fim de tornar o processo menos misterioso - e assustador - para os familiares e prestadores de serviços médicos.



No início do evento "The Unintelligible Afterlife: What Deathbed Conversations Tell Us About a World Beyond" - "A ininteligvel pós-vida: O que Conversas leito de morte diz-nos sobre o Mundo do Além", (da esquerda) o moderador Curtis Childs com Raymond Moody Jr., Lisa Smartt, Erica Goldblatt Hyatt, Dan Synnestvedt, e o Rev. Jonathan Rose. 

Segue artigo de Stacey Burling, membro da equipe de redação do jornal Inquirer, publicado em 28 de setembro de 2015

Tradução: Carlos Antonio Fragoso Guimarães


 Lisa Smartt, uma poetisa e linguista, ficou fascinada pelas belas, estranhas e enigmáticas palavras dos moribundos a partir do que vivenciou durante os últimos dias de seu pai, em 2012.

  "Eu não posso chegar, Jack", disse ele. "Minha parte está quebrada." E também "Há tanta coisa triste." E, o que mais a surpreendeu, porque ele não era um homem religioso: "Lisa, você estava certa sobre os anjos!"

 Ela começou o Projeto Palavras Finais para recolher outros pensamentos dos que partem e que eram enviados por várias pessoas a ela. Não era, então, uma pesquisa científica. Eram apenas palavras que os parentes haviam tido tempo de gravar e que tinham considerado significativas.

 Seu projeto, porém, gerou um estudo do Bryn Athyn College, Faculdade do Condado de Montgomery, que irá gravar as palavras - todas elas - de pessoas que morrem em casa, sob cuidados médicos. O objetivo é analisar como se dão as mudanças das comunicações, nas últimas seis semanas de vida, a fim de tornar o processo menos misterioso - e assustador - para os familiares e prestadores de serviços médicos.

  O estudo pioneiro será dirigido por um trio incomum: a própria Smartt, Erica Goldblatt Hyatt,  professora de psicologia na faculdade, e Raymond Moody Jr., que é famoso pelos estudos das experiências de quase-morte - EQM - (termo que ele cunhou em 1975) e que, mais recentemente, vem focando-se em categorizar o discurso aparentemente sem sentido dos moribundos. Seus 70 tipos irão fornecer um modelo para analisar algumas das expressões  estranhas comumente ouvidas.

  Os três falaram no último fim-de-semana para mais de 400 pessoas no Bryn Athyn College's Mitchell Performing Arts Center. O evento, intitulado "A Ininteligível Pós-Vida: O que Conversas no Leito de morte conta-nos sobre o Mundo do Além", arrecadou dinheiro para a pesquisa. Goldblatt Hyatt disse a concessão para um financiamento foi negada porque o projeto não se enquadra nas categorias habituais (Nota do Tradutor: isso ocorre sempre: qualquer pesquisa que não se enquadre no paradigma mecanicista padrão e/ou não ofereçam um retorno lucrativo imediato são frequentemente descartadas pelo establishment ordinário. Por isso, por exemplo, a escassez de recursos para estudos voltados para a Ecologia ou as áreas de humanidades). Ela espera envolver de cinco a 20 pessoas neste estudo, este ano.

 Apesar do título provocativo, Goldblatt Hyatt disse que, para ela, o estudo não é destinado primariamente a encontrar evidências de que as pessoas que estão morrendo estão fazendo a transição para um mundo espiritual.

"Eu sou muito cética em relação a linguagem de uma vida após a morte", disse ela. "Nós não estamos pesquisando para provar que a consciência existe após a morte."

  O trabalho de Moody, narrando luzes brilhantes testemunhadas próximos ao leito de morte, experiências de saída do corpo (out-of-body experiences) e encontros com falecidos por pessoas à beira da morte ou das  que as assistem é vista por muitos como evidência de vida após a morte. Mas ele também advertiu sobre a leitura determinista que fazem dos fenômenos que estuda.

 "Se os nossos espíritos vivem é uma importante questão filosófica que a ciência ainda não é capaz de investigar", disse Moody. Um filósofo de formação antes de se tornar médico, Moody, 71 anos, é um curioso enérgico e contagiante.

  Ele questiona a ideia de que as visões são o resultado do morrer dos cérebros, dizendo essas coisas também têm sido experienciadas por pessoas que passaram por algum trauma, tipo acidentes, mas que eram saudáveis.

 Dos três, Smartt é a que mas expressamente vê as palavras dos moribundos como uma janela potencial para alguma outra coisa. Como ela escreve em seu site: "É possível que a linguagem do fim da vida seja uma linguagem de 'transição', que emerge como parte da transição da vida aqui na terra para outra vida, ou outra dimensão."

 Outra possibilidade, disse ela durante seu discurso de sábado, é que a forma como as pessoas falam no final pode revelar mudança de habilidades. "Será que estamos ligados para alguma experiência transcendental no final da vida?" perguntou.

 Ela disse que metáforas sobre viagens e grandes eventos figuram com destaque em muitas das últimas palavras enviadas a ela.  Também falam os moribundos de estarem a ver outras pessoas em salas que aparecem vazias para seus familiares.

  Moody disse ser um absurdo afirmar que as declarações não fazem sentido por estarem aparentemente erradas ou por parecerem inventadas ou não combinarem.  

 No final da vida, disse ele, as pessoas frequentemente dizem coisas que não fazem sentido. Contudo, também é bem comum, afirmou, os parentes, ou outros, dizerem : "Eu sabia que era algo sem sentido, mas, no fundo da minha mente, eu senti que eu sabia, que eu entendia"

  Ele então perguntou quantos na platéia tiveram uma experiência semelhante. Muitas mãos elevaram-se.

  As pessoas estão mais propensos a lembrar as últimas palavras que fazem sentido, disse ele. Ele está animado que o novo estudo irá gravar toda uma linguagem, dando uma melhor visão sobre como a mente está mudando.

  Goldblatt Hyatt disse que ela estava "intrigada com a ideia de que as palavras dos moribundos pode significar mais do que a vida pode apreciar." Ela quer desembaraçar padrões lingüísticos e analisar temas psicológicos. Ela está interessada em saber se a personalidade permanece estável durante o processo de morrer e se as visões descrevem algo ou as metáforas que eles usam refletem as crenças que tiveram ao longo de suas vidas.

  O trabalho, segundo ela, pode tornar mais fácil para as famílias "entrar na realidade" de que seus entes queridos morrem, ao invés de negá-la.

 Matthew Mendlik, um neurologista e um médico de cuidados paliativos na Universidade da Pensilvânia, disse que as pessoas que têm experiências de quase-morte são diferentes das que estão efetivamente morrendo de uma maneira que pode ser cientificamente significativa: Eles sobreviveram. Ele acrescentou que grande parte da forma como o cérebro funciona, tanto quando é saudável quanto quando ele está morrendo, permanece um mistério.

 Não é surpreendente, disse ele, que possa haver experiências comuns quando o corpo declina. "Eles chamam a morte de a grande equalizadora por uma boa razão."

  Ele disse que o delírio, que faz com que haja visões, é comum no final da vida. No entanto, ele disse, não sabemos por que visões particulares acontecem  (Nota do Tradutor: este e a afirmação padrão dos médicos que estão atrelados ao apradigma mecanicista convencional. Contudo, pesquisas em EQM, como as levadas recentemente pela Universidade de Southampton, Reino Unido, questionam esta forma reducionista de explicar os fatos. Por vezes, o "fantasma!"  visto pelo moribundo pode ser visto também por outras pessoas, sejam parentes ou pessoal de saúde. Clique aqui para saber mais).

  Ele concordou que é comum para os moribundos começar a ver ou falar com as pessoas que estão mortas há muito tempo. Isso, segundo ele, "é um dos marcadores para nós que as coisas estão se direcionando para o fim."

  Não são as palavras finais a dizer ao parente que está a morrer o que as famílias lhe perguntam mais freqüentemente ao médico. Eles são muito mais propensas a querer saber o que fazer quando seus entes queridos param de falar. Elas perguntam se eles ainda podem ouvir e entender.

Sempre assumi que eles podem, diz ele.

sburling@phillynews.com

215-854-4944

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