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quinta-feira, 16 de outubro de 2014

O debate do SBT e o "mar de lama" à la Aécio, na ótica do jornalista Paulo Nogueira


Segue texto de Paulo Nogueira, extraído do Diário do Centro do Mundo:


O “mar de lama” à Aécio


Primeiro que tudo, acho importante que haja agressividade em debates presidenciais, e que questões pessoais sejam trazidas à discussão.

É o interesse público que está em jogo. A sociedade tem que conhecer melhor cada candidato.
O pior cenário, para os cidadãos, seria uma conversa de lordes ingleses, com elogios mútuos e protocolares em meio a goles de chá.

Por isso dou nota elevada ao debate de hoje no SBT. Onde alguns viram baixaria enxerguei a tensão, a eletricidade, a adrenalina dignas de uma disputa presidencial.

A grande diferença entre Dilma e Aécio esteve no conteúdo da agressividade.

Aécio fez o que sempre faz. Pediu generosidade quando jamais é generoso. Pediu respostas quando ele invariavelmente tergiversa. Pediu sinceridade quando é cínico em regime de tempo de integral. Pediu humildade quando é arrogante a ponto de falar em nome dos brasileiros.

Num momento de descaro abissal, comparou o caso do irmão de Dilma ao time de parentes aos quais ele dá altos cargos públicos quando pode.

Uma rápida pesquisa mostra que Igor Rousseff foi assessor do prefeito petista Fernando Pimentel, de Belo Horizonte.

Depois disso, nunca ocupou cargo público nenhum. Disse o Globo, o insuspeitíssimo Globo, num perfil de 2011: “Quem não conhece o Igor não fica sabendo nunca que ele é irmão da presidente. Morre de medo de pensar que quer tirar proveito disso.” (Aqui o link.)

Pois Aécio quis tirar proveito disso.


Não há termo de comparação entre o caso da irmã de Aécio e o caso do irmão da Dilma. Mas fingiu – nisto ele é mestre – que são coisas iguais.

Andrea Neves ocupou sob Aécio um cargo – ainda que formalmente não remunerado – que dava a ela o comando das verbas publicitárias estaduais.

Sabe-se, porque a Folha enfim resolveu investigar um pouco o candidato tucano, que o governo de Aécio colocou dinheiro público nas rádios da família.

É, em si, uma indecência. Isso piora quando, numa afronta brutal ao conceito de transparência tão citado por Aécio, ninguém informa quanto foi o dinheiro público investido nas rádios.

E não é apenas Andrea. É o cunhado, são primos, agregados – em funções muitas vezes de mando.
Meritocracia?

Só se for pela ótica de quem, aos 25 anos, foi nomeado diretor da Caixa Econômica Federal pelo mérito de ser neto de Tancredo Neves.

Aécio não surpreende. A cada debate, ele faz mais do mesmo.


Dilma, ao contrário, surpreendeu ao adotar o mesmo tom de Aécio. Ou quase o mesmo: Aécio a chamou de mentirosa várias vezes e Dilma disse o mesmo uma ou duas.

Onde ela avançou em relação ao primeiro debate: não deixou que certos assuntos sumissem da discussão.

O aeroporto de Cláudio é o maior exemplo. Aécio fala, tergiversa, se desvia – mas não consegue dar uma única explicação convincente para o aeroporto de uso privado construído com dinheiro público.
Jornalistas de Minas disseram que essa história já era conhecida nas redações. Mas ninguém publicava pela censura que, na prática, Andrea Neves comandava para proteger o irmão de notícias desfavoráveis.

Eis o conceito de liberdade de expressão de Aécio.

Para quem lida com palavras como eu, irritou particularmente a manipulação de Aécio ao usar uma frase de Dilma que, supostamente, seria um incentivo à corrupção.

O sentido da frase é o seguinte: todo mundo pode cometer corrupção.

É uma verdade verdadeiríssima. Ninguém está acima às tentações que o poder e a sensação de impunidade trazem, como mostra o próprio episódio do aeroporto de Cláudio.

A questão é fiscalizar e punir.

Neste sentido, o PSDB – dos votos comprados para a reeleição de FHC às propinas do Metrô de SP – não tem muita coisa a dizer.

No debate, Aécio voltou a afirmar que não havia evidências de nada nos casos de corrupção do PSDB.

Hoje mesmo, viralizou na internet o depoimento do jornalista Fernando Rodrigues, da Folha, autor do furo em 1997 sobre a compra de votos.

“Não eram evidências”, disse ele. “Eram provas.” Ninguém investigou – incluída, como lembra Rodrigues, a mídia. Como FHC era presidente, e amigo dos donos da mídia, entendeu-se que não era assunto a compra de votos para que ele pudesse se reeleger.

Como Lacerda, Aécio fala em “mar de lama” olhando para o outro. Ambos deveriam, no entanto, olhar para o espelho.

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Paulo Nogueira
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

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