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domingo, 18 de novembro de 2012

O lado perverso da Globalização Econômica


Analisando o resultado de 21 anos de Globalização e 30 de Neoliberalismo

Carlos Antonio Fragoso Guimarães

Com o fim da Guerra Fria, o capitalismo se ufanou de ser o grande vencedor, ao ponto de decretar "O Fim da História": caberia a todos agora aceitarem a realidade da Lei de Mercado, onde a produção e o comércio de produtos e serviços (ou indo mais além, de mercadorias e pessoas) daria o mote e o sentido em direção ao futuro.... Mas que futuro?

Vinte e um anos depois, o resultado obtido na Globalização foram:

1- Destruição do Meio-Ambiente em favor da exploração insana de recursos naturais e da mega-especulação imobiliária.

2- Mecanicismo e educação voltada não para o desenvolvimento do humanismo, mas da técnica e da frieza competitiva. O individualismo, assim, exacerba-se bem como suas consequências correlatas, como isolamento e solidão. O vazio existencial, agravado pelo materialismo consumista, permite o desenvolvimento de mecanismos neurôticos de defesa e o recrudescimento de fenômenos irracionais, como os diversos tipos de fundamentalismos: religiosos, políticos e econômicos.

3 - Crises econômicas intermináveis, onde o bem-estar de bancos e de especuladores financeiros se faz pelo sacrifício de empregos, qualidade de vida e sonhos de milhões de pessoas em todo o mundo, particularmente, hoje, na Europa.

4 - A tecnologia, que deveria auxiliar o homem, passa, ao contrário, a escravizá-lo. Também passa a ser mais valorizada que o próprio ser humano (e os demais seres da natureza), tornando-se um fetiche e contribuindo para a degradação ambiental.

5 - Perda progressiva das soberanias nacionais em prol de uma soberania de mercado (Globalização Econômica) e consequente enfraquecimento da Democracia e dos Direitos Humanos e Trabalhistas.

6 - Comprometimento do pensamento social, má distribuição urbana e inchamento das cidades.

7 - Opressão e chantagem produtivista levando ao estresse, ao descontrole social, ao aumento da violência.

8 - Aumento do crime organizado, que se utiliza amplamente das novas tecnologias e, diante do quadro acima, da facilidade de corrupção do sistema.

9 - O sistema capitalista visa apenas e prioritariamente meios de garantir lucros crescentes e se perpetuar e, assim, investe pesado na mídia e na imprensa, visando tratar acontecimentos e fatos de modo mais favorável a seus interesses. No Brasil, isto é amplamente confirmado pelo modo tendencioso de grandes veículos de comunicação, incluindo as maiores redes de TV e a imprensa tradicional, sobretudo a Paulista.

10 - As demandas sociais, a democracia, os direitos trabalhistas são entendidos pela indústria e pelo sistema financeiro como empecilhos de domínio e contratempos ou causas de prejuizos nos lucros, portanto, se exerce forte pressão política, econômica e midiática para solapar os direitos sociais (férias, lazer, qualidade de vida, previdência social) e trabalhistas (13 salário, proteção ao emprego, segurança) em favor do aumento de lucros.

Como consequência deste estado de coisas provindas do "Fim da História", temos igualmente o cinismo político, o fim das utopias e uma grande apatia social, o que é benéfico à minoria que lucra com isto.

A crueldade do neoliberalismo, tão incentivado pelos ridículos Ronald Reagan e Margareth Tatcher nos anos 80 do século passado, no seu atual estágio de Globocolonização em que as falsas promessas de bem-estar agora são suplantadas pelas de que o arroxo salarial e o fim dos direitos sociais trarão benefícios para todos, têm estimulado crescentes movimentos críticos e de ação social, por vezes deturpados pela mídia conivente com os neoliberais.

Movimentos como os dos "Indignados", "Fórum Social Mundial" e os diversos "Ocupem" são expressões de uma reação ainda incipiente contra o mal-estar da Globocolonização neoliberal e expressam o tipo de "Loucura Heróica" que Miguel de Unamuno falava e incentivava. Esta mesma ação é rotulada de "Otimismo Trágico" pelo sociólogo Boaventura de Sousa Santos, que vê surgirem, em meios às dificuldades impostas pelos neoliberais, surgirem alternativas sociais que voltam a questionar as "verdades impostas" por especialistas pagos ou patrocinados pelos mesmos neoliberais e a revalorizarem um conhecimento que seja válido para todos, se ainda houver tempo.

Sousa Santos chama de "Epistemologia do Sul" esta movimentação em prol de um saber que suplante o saber técnico e comprometido dos neoliberais. Esta epistemologia se aproxima das idéias de pensadores como Edgar Morin, Paulo Freire, Fritjof Capra, Thomas Kuhn, Karl Marx e outros e diz, fundamentalmente, que  todo conhecimento válido é relacional e social, constituindo um "ECOLOGIA" passível de enriquecimento intercultural, centrado na vida, constituindo uma alternativa ao tecnicismo frio do pensamento capitalista. Chama-se "Epistemologia do Sul" por basear-se nas experiências de países da América Latina e da África (bem como outros de outros continentes) que, através de experiências locais e lutas contra títeres impostos por potências ricas do norte, desenvolveram práticas sociais de produção e elaboração de um saber social bem-sucedido.

De acordo com o site do Instituto Humanitas, da Unisinos:

Santos explica, tanto em seus textos como em suas conferências, que a ecologia dos saberes é “o diálogo horizontal entre conhecimentos diversos, incluindo o científico, como também o camponês, o artístico, o indígena, o popular e outros tantos que são descartados pela quadrícula acadêmica tradicional”. De tal maneira que a tradução intercultural é o procedimento que possibilita criar entendimento recíproco entre as diversas experiências de mundo.

Dessa forma, ele assinala, pode-se assimilar outras concepções de vida produtiva distintas daquelas do capitalismo reproduzidas pela ciência econômica convencional, como, por exemplo, o “swadeshi” - estratégia formulada por Mahatma Gandhi - que propõe a autossuficiência econômica e o autogoverno; ou o “sumak kawsay” - conceito indígena do bem viver - incorporado nas constituições do Equador e da Bolívia, que significa reconhecer e aprender das sabedorias dos povos tradicionais que na América Latina estão ligados com a natureza e seu bom aproveitamento. Estas experiências produtivas assentam-se na sustentabilidade, solidariedade e reciprocidade.

Ao mesmo tempo, o sociólogo andarilho e intelectual militante, como ele se define, considera que boa parte do mundo, sobretudo o Ocidente, está entrando num processo pós-institucional, na medida em que a política esqueceu-se do cidadão, o que se evidencia na sua ativa presença em ruas e praças que “ainda não foram colonizadas pelas transnacionais”. 

Por isso, ele propõe a refundação do Estado e também dos partidos políticos, sobretudo de esquerda, para que mude não somente o criminoso modelo econômico que está acabando com o planeta, como também para organizar a vida em condição mais humana, elevando os níveis de participação democrática e respondendo de maneira satisfatória às demandas e necessidades sociais. Atualmente, o que agrega “os conceitos jurídicos e sociológicos tradicionais ou eurocêntricos, é muito débil para enfrentar a realidade social”. 




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