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quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Deus cria a beleza e a vida, mas a religião cria gaiolas, medos e culpas



Carlos Antonio Fragoso Guimarães

(a partir de algumas reflexões de Rubem Alves)


 Engraçado como os homens, que se reconhecem limitados nas ciências e no conhecimento, teimam em dizer que entendem e, mais do que isso, que possuem Aquilo que deu causa a tudo e que, certamente, está além do humano e portanto além dos aspectos mesquinhos de exclusivismos, ciumes, juízos e obsessões que marcam a mentalidade tacanha de muitos líderes religiosos, especialmente os fundamentalistas cristãos que vêem crescendo em número pela sedução cômoda de que basta a fé - e nada mais que isso - em um interpretação antiquada de escritos igualmente antigos, onde impera deus tribal ciumento para conseguirem tudo, inclusive bem materiais....

  O medo e os interesses egoístas enchem templos e bolsos de novos mercadores da "fé", alguns dos quais até buscam fabricar uma falsa conexão com estes antigos textos (destacnado mais, quando assim lhes convém, os do Antigo Testamento contra a fraternidade e amor do Novo), reconstruindo templos salomônicos ou faraônicos em benefício da própria vaidade e conta-corrente.


 Esta mentalidade infantil em recurdescimento no século XXI é um retrocesso imenso, mas está concorde com o espírito do capitalismo neoliberal, egoísta, individualista e imediatista, que grassa o mundo. Não é à toa que muito do neopentecostalismo fundamentalista se arvore em práticas midiáticas importadas do televangelismo norte-americano e se caracteriza por apelar não para o sentimento de fraternidade, compreensão, partilha e amor, mas para a espetaculosidade, o egoísmo, o imediatismo, o exclusivismo e a vaidade.

  Por outro lado, religiões institucionalizadas são formas que os homens dão àquilo que lhes chama a atenção, causa espanto, mas não entendem. Como bem fala o Físico e Professor Guido Nunes Lopes: "A religião é para aqueles que necessitam que alguém lhes diga o que fazer e querem ser guiados. A espiritualidade é para os que prestam atenção à sua Voz Interior."

 A espiritualidade vê a essência de Deus em todas as religiões, mas as religiões se vêem como as únicas e exclusivistas detentoras da essência de Deus. A espiritualidade é um estado de consciência e uma forma de ver a vida, a religião é um conjunto de ditos, normas e prescrições impostas socialmente.

  Sobre essa estreiteza espiritual, bem fala Rubem Alves em seu livro Perguntram-me se acredito em Deus:

 "Deus é uma suspeita do nosso coração de que o universo tem um coração (...). Suspeita... Nenhuma certeza. Fujam dos que têm certezas. Olhem bem: eles trazem gaiolas nas suas mãos (...).

 "Deus nos deu asas. Mas as religiões inventaram gaiolas

 "É preciso esquecer os nomes de Deus que as religiões inventaram para encontrá-lo sem nome no assombro da vida.

 "Que desejamos para os nossos filhos? Que eles sejam felizes. Sorrimos ao vê-los por ai a correr, a pular, a cantar, a brincar (...). Mas enquanto brincam e riem eles não pensam em nós. Se um filho, ao se levantar, viesse até você e o elogiasse, e agradecesse porque você lhe deu a vida e jurasse amor para sempre, e fizesse a mesma coisa na hora do almoço, e repetisse os mesmos gestos e palavras no meio da tarde e de noite fizesse tudo de novo, suspeitaríamos de que alguma coisa não está bem. O que desejamos é que eles aproveitem a vida sem pensar muito em nós. Quem pensa demais em fala demais sobre Deus é porque não o está respirando. A fala indica uma ausência 'Pensar em Deus e desobedecer a Deus. Porque Deus não quis que o conhecêssemos, por isso não se mostrou' (Alberto Caeiro).

"Deus nunca foi visto por ninguém. Por acaso a gente vê os próprios olhos? Quem vê os próprios olhos não enxerga mais nada. Para ver com os olhos é preciso não ver os próprios olhos.... Deus é como os olhos. Não podemos vê-lo para ver através Dele. Deus é um jeito de ver.

"Mas uns homens tolos, querendo ver Deus, fizeram um deus com pedaços deles mesmos. E assim inventaram ujm deus à sua imagem e semelhança. E, como muitos homens têm corações maus, eles inventaram um deus parecido com eles mesmos, um deus mau que provoca medo. Disseram até que esse deus tem uma câmara de tortura chamada inferno, onde tranca seus desafetos por toda eternidade... Que tipo de pai é esse?

"Há pessoas que pensam que Deus se parece com um banqueiro que tem um livro de contabilidade onde registra os débitos e os créditos dos homens para acertos futuros. Os débitos, chamados pecados, serão punidos. E os créditos, chamados virtudes, serão recompensados. Mas Deus não se parece com banqueiros. Ele não tem um livro de contabilidade. Deus (...) é como um regato de águas cristalinas. Não importa que joguemos nele os nossos detritos. Ele continua a jorrar águas cristalistas... (Paráfrase. Lucas, 15,11)"

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