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sábado, 25 de julho de 2009

A Igreja, A Mídia e a Parapsicologia 2

Continuação

A questão do uso do conceito do inconsciente, próprio da Psicanálise a partir de Freud, por Quevedo tem sido tema de discussões nas salas e corredores das faculdades de Psicologia, já que este parece ser tudo, menos o inconsciente psicanalítico de Freud ou Jung. Na verdade, como bem falam os psicanalistas, o uso do termo inconsciente por algumas pessoas lembram mais o uso de um conceito vago para explicar coisas de que não se sabe nada. Ademais, é problemático se substantivar o "inconsciente", bem como o "consciente". Não existe um objeto espacial, físico, chamado "inconsciente", nem um que seja "consciente". Sabemos que áreas no cérebro que são ligadas à funções fisiológicas precisas, mas uma área específica da memória e do pensamento parece ser difícil de ser encontrada. O que existem são processos de memória, processos de pensamentos, processos conscientes e processos inconscientes, assim como uma música é um processo que está acima das notas musicais tomadas por si.
Mas "o" inconsciente tem sido algo estranho na teorias de alguns "experts". E prova de que isto pode se aplicar ao "parapsicólogo" jesuíta vem destas palavras que ele costumava usar na abertura de suas palestras: - Eu chamo de inconsciente a tudo aquilo que a psicologia, a psiquiatria e a psicanálise chamam de inconsciente inconsciente, o que é o mesmo de dizer, como alguma ornamentação retórica, que existe um preto escuro ou que o branco é claro. E aos que têm algum conhecimento da área, fica a impressão de que o padre não tenha de fato falado nada (pois que se o inconsciente é justamente inconsciente por não termos consciência dele, como é que pode ser ainda mais inconsciente do que já é?) E apesar do silêncio que geralmente reina após estas primeiras palavras, percebemos que realmente ninguém entendeu nada, ou, então, aparenta-se ter entendido o nada que foi expresso. Restaria aos psicólogos, psiquiátras ou estudantes de psicologia, então, se manifestarem e perguntar a qual escola de psicologia, de psiquiatria ou de psicanálise o conferencista está se referindo, mas quase sempre ninguém pergunta (e nas poucas vezes em que isso ocorre geralmente o expositor se sente muito incomodado e ofendido, como nos fala o médico Guaracy Lourenço da Costa em seu artigo sobre um curso ministrado pelo Pe. Quevedo), todos se conformam, aguardando pelo resto da exposição "científica". Aliás, convém lembrar que Freud era crítico severo da Igreja. Esta, aliás, foi extremamente rude com as teorias de Freud, como podemos ver por esta passagem de Allers, citada pelo psiquiatra Dr. Alberto Lyra em seu excelente e não-Quevediano livro "Parapsicologia, Psiquiatria e Religião":
"Não pode aceitar o freudismo nem como psicologia, tão impregnado está de filosofia materialista e hedonista, sendo portanto muito perigoso para o cristão qualquer contato teórico ou prático com ele" (LYRA, 1990, p. 183).
Alguns sacerdotes mais lúcidos, porém, começaram a ver que a importância da Psicanálise não poderia ser avaliada por preconceitos religiosos. No mesmo livro o Dr. Lyra cita Joseph Nuttin:
"O fato de se terem realizado progressos nesta ciência (a Psicologia) sem nós e muitas vezes contra nós, foi culpa nossa (dos sacerdotes), isto é, 'por nossa falta de interesse' (pois reconhecemos demasiado tarde a sua importância) e 'por nossa atitude passiva' (pretendendo simplesmente tirar proveito do que fizessemos a outros), pelo que iríamos pagar bem caro, inclusive porque não nos basta no momento fazer aplicação da Psicologia aos nossos problemas (...) e até que se possa reformular a nossa Filosofia à luz das conquistas psicológicas" (LYRA, 1990, p. 182). Imagine se Freud estivesse vivo para ver o que estão os ditos "parapsicólogos" fazendo de seu conceito de inconsciente...
Mas vejamos uma outra pérola descritiva sobre as capacidades "divinas" do "inconsciente" quevediano, talo como o autor descreve (mas não apresenta as pesquisas feitas ou as provas/evidências/indícios de onde, ao menos, tirou isso):
"Extra-sensorialmente, o inconsciente sabe tudo o que acontece no passado, presente e futuro, dentro do nosso globo, numa margem de dois séculos" (QUEVEDO, 1976, livro "CURANDEIRISMO: UM MAL OU UM BEM?", Ed. Loyola, São Paulo, p. 156). Bom, isso parece meio que uma usurpação da onisciência divina, não? As única limitações triviais são que a onisciência incosnciente parece ser restringida espacialmente apenas "dentro do nosso globo", e temporalmente a um intervalo de duzentos anos, para o futuro ou para o passado. Pois bem, em que pesquisas se baseia o ilustre autor para chegar a afirmar isso? Qual psicanalista de renome concordaria com isso? O que a Metapsíquica e, posteriormente, a Parapsicologia demonstraram - o que é algo bem diferente - é que é possível à capacidade psíquica profunda, que é inconsciente, captar informações por outros meios que não os sensoriais convencionais, o que só em casos muito especiais se manifesta, e mesmo assim, quase sempre de modo simbólico, e em laboratório tais eventos se dão em proporções esttisticamente bem discretas, o que não liquida a possibilidade -até bem lógica - de que a informação, em certas condições bem específicas, possa ser transmitada por qualquer outro ente em uma outra dimensão da realidade.
Convém aqui lembrar as palavras do grande Psicanalista Carl Gustav Jung sobre o abuso que se vem fazendo com o conceito de inconsciente:
Quando dizemos "inconsciente" o que queremos sugerir é uma idéia a respeito de alguma coisa, mas o que conseguimos é apenas exprimir nossa ignorância a respeito de sua natureza.
O que o Padre "Parapsicólogo" usa constantemente como fundamento de sua teoria do "onipotente" inconsciente paranormal é o conjunto das sugestões postulados por vários metapsiquistas que se sentiam muito mal com a noção de "espírito" e buscavam, então, uma alternativa a este conceito por demais encharcado de conotações religiosas. Tal foi o caminho aberto, em princípio, por Jean-Martin Charcot e por Pierre Janet, posteriormente seguido por René Sudre e, em parte, por Charles Richet, na área conhecida como Metapsíquica, que foi a disciplina anterior à moderna Parapsicologia. A resultante disso foi a postulação, nos anos 50 do século XX, por Thouless e Wiesner de chamar de "função psi" a faculdade de provocar objetivamente os fenômenos paranormais. Esta se originaria de uma entidade psíquica humana primitiva e inconsciente que operaria não só nos fenômenos paranormais, mas em todos os demais fenômenos psíquicos que são objeto de estudo da Psicologia. Os mesmos autores chamariam a esta intância profunda, ou "entidade" psíquica, de "shin", embora este termo seja muito pouco utilizado. Mas o que é isso a não ser uma forma rebuscada de apenas trocar a palavra espírito por outras, consideradas mais técnicas? De qualquer forma, foi um alívio para os materialistas que a "função psi" pudesse ser - ainda que mal - acomodada com certo esforço ao conceito psicanalítico de inconsciente, já que este conceito de Freud atrelava-se à sua postura positivista, pois ele sempre se dizia atrelado ao mecanicismo clássico da ciência do século XIX.
Para os crentes do onipotente inconsciente, em especial os filhotes do CLAP, este explica tudo o que não for obra de fraude. Na verdade, até mesmo quando explica um fenômeno legítimo pelo inconsciente, o ilustre "parapsicólogo" jesuíta algumas vezes apenas diz que a fraude de um tipo - consciente e de má fé - é meramente subsituída por um outro tipo de fraude, inconsciente, pois o próprio diz que "Não há dúvida de que o inconsciente é capaz de FRAUDES superiores, muito superiores, às fraudes realizadas pelo consciente" (QUEVEDO, livro "AS FORÇAS FÍSICAS DA MENTE", tomo I, p. 142). Neste caso, os fenômenos mediúnicos são todos fenômenos de fraude, mesmo com fatos paranormais autênticos que se explicariam pelo tão poderoso inconsciente. Mas vejamos que no mesmo livro As Forças Físicas da Mente, página 75, o ilustre "parapsicólogo" fala textualmente:
"Notemos que Home" (Daniel Dunglas Home, o mais famoso médium do século XIX) "nunca foi pego em fraude, e que as condições de controle, nas sessões que realizava, foram frequentemente satisfatórias, como veremos".... E ai? Então, pelo que o "sábio" jesuíta escreveu está afirmado que existem fenômenos mediúnicos legítimos...
Mas será mesmo que é sempre o inconsciente (mera palavra que nada explica em termos paranormais, pois não se sabe o que é este inconsciente quase divino do Sr. "Caçador de Enigmas". Poderia bem ser "guaraná", "transubstancianção" ou qualquer uma outra) do paranormal que é responsável pelos efeitos conseguidos? Isso é uma hipótese? Uma teoria científica? Mas como, se não pode ser testada, e ainda sese diga que é única, fora a fraude? Falando assim, ou melhor, gritando assim, a turma do Sr. Quevedo nada explicando propõe uma "explicação" irrefutável, exatamente por não poder ser testada e, ainda mais, por ser indemonstrável. Todos os resultados de laboratório com respeito a telecinesia foram extremamente modestos, e o agente QUERIA obter determinado resultado, e fora, sem que se queira, nos fenômenos mais assombrosos, o inconsciente ganha força? Isso não parece ser uma explicação reducionista e um tanto forçada para eliminar o incômodo da hipótese espiritualista? Parece a velha tática dos ospositores fanáticos de se valrem por teorias indemostrávei... Que o digam Galileu, Espinoza e Leonardo Boff diante das "certezas" dos Dogmas católicos....
Ao lado da hipótese do inconsciente, e complementar a esta, não existiram outras hipóteses tão ou mais prováveis? Ora, geralmente médiuns e paranormais provocam fenômenos ou dão informações que estão bem além dos conhecimentos deles e da assistência. Sem problema, os adeptos reducionistas apontam para a criptestesia (conhecimento adquirido pela percepção extra-sensorial) onde o inconsciente do informante capta a informação existente em algum outro lugar. Bem, quando o fotógrafo Gordon Carrol procurava fotografar detalhes da Igreja de Santa Maria, em Woodford, Inglaterra, seu interesse "consciente" era apenas o de registrar a plástica arquitetônica do lugar, não havendo mais ninguém com ele. Após ter revelado os filmes de seu trabalho, ele tomou um susto a ver uma figura toda de branco ajoelhada diante do altar. Para os adeptos do inconsciente "paranormal", Carrol teria "inconscientemente" provocado o fenômeno. O mesmo teria se dado com o vigário K. F. Lord da Igreja de Newby, perto de Yorkshire, que em 1963 apenas querendo registrar a foto do altar da Igreja, acabou depois por ver na chapa revelada um fantasmagórico, realmente assustador, espectro, em uma foto hoje famosa (foto acima), no qual aparece uma figura semelhante a um monge, em processo de semi-materialização. Mas ai fica a pergunta: como ter certeza de que o inconsciente do fotógrafo estava realmente preocupado, planejando e materializando a foto do fantasma, e por quê? Como se mede o "pensamento" intencional do inconsciente? Como ele atua? Sai da "cabeça" da pessoa (ou alguma outra parte) para dar às caras às câmeras? Como podem eles ter a certeza de que, neste e em outros casos, isso foi fruto da ação do "inconsciente"? Por que ambos os fotógrafos não mais conseguiram repetir fotos semelhantes tendo um inconsciente tão talentoso?
Uma outro foto célebre de um "fantasma" foi a obtida em 1936: A chamada "Dama Marrom de Rayham Hall", Inglaterra, que foi vista pela primeira vez em 1835. A foto foi tirada pelo Capitão Provand e por Indre Shire, quando faziam uma matéria para a revista Country Life. Shire viu um vulto se acercando do topo da escada e avisou ao Capitão Provand, que, nada vendo na hora, assim mesmo bateu uma fotografia da escada e conseguiu captar o vulto descendo. Neste caso, pode se aplicar, como hipótese, a teoria da ideoplastia ou escotografia inconsciente, pois os fotógrafos tinham a expectativa de fotografar o fenômeno. Porém, esta é meramente uma das hipóteses, a outra seria a de que um "espírito" de uma pessoa (que ninguém sabe quem seria) foi de fato fotografado, confirmando os relatos das pessoas que o viram desde 1835. Não há como provar uma ou outra destas duas hipóteses. O mesmo fenômeno serve de evidência a ambos os modelos teóricos. Ambas as explicações, portanto, são válidas, ainda que os fotógrafos tenham tido a certeza de que, de fato, fotografaram um fantasma objetivo.
Quevedo usa e abusa do fato de que um americano médio, chamado Ted Serios, demonstrou suas faculdades de escotografia em vários experimentos. Mas o que Quevedo não diz é que para conseguir as Escotografias (e muita gente acha que nem sempre todas as fotos estáticas ou em via de formação para uma figura estática eram autênticas, embora um bom conjunto delas dificilmente sejam explicadas por fraude) por Serios este se punha em um estado de grande tensão consciente para obter as fotos e, conforme GARCIA FONT, "com as veias prestes a rebentar, a suar e a beber whisky" (ENCICLOPEDIA de CIÊNCIAS OCULTAS E PARAPSICOLOGIA, vol. 1, p. 264), e freqüentemente punha uma ou as duas mãos em contato com a objetiva da câmera. Ao lado, foto de Ted Serios em ação e, abaixo, uma de suas escotografias.
O que fica deixando essa teoria um tanto mole é que na maior parte das fotos de fantasmas acidentais, as pessoas não pensavam e nem queriam tirar foto de fantasmas, muito menos entravam em um nervoso estado de tensão conscientemente provocado. Aliás, existem fotos obtidas por circuitos internos sem que pessoa alguma estivesse presente, o que já deixa a teoria quevediana igualmente em cheque, pois ele diz que sem um sensitivo, paranormal ou qualquer que seja o nome que cada "tribo" queira dar, não existem fotos paranormais sem que a pessoa causante esteja presente até pouco mais de 50 metros de distância. Que dizer então da seguinte foto (trecho de um vídeo), em um estacionamento vazio pelo circuito interno eletrônico de tv nos Estados Unidos?
Para não dizer que estes "fantasmas" são apenas acidentalmente captados por fotos e vistados por pouquíssimas pessoas "ao vivo", devemos lembrar que em 1968, enquanto o Ocidente vivia sua fase de febre contestatória na Europa (Maio de 68, em Paris; Primavera de Praga, na Tchecoslováquia), nos EUA (contra a sórdida Guerra do Vietnã e a luta pelos Direitos Civis), e no Brasil, os estudantes iam às ruas contra a Ditadura Militar, a televisão do Egito mostrava um estranho fenômeno presenciado por milhares de pessoas, na maioria mulçumanos, inclusive pelo Presidente Nasser, por sobre as torres de uma Igreja Ortodoxa Copta (portanto, não Católica-Romana) em Zeitun, Egito, segundo os jornais da região e outros do exterior. A figura, ou melhor, sua silueta, lembrava as representações clássicas ocidentais da Virgem Maria e foi como uma "aparição" de Maria que foi interpretada (correta ou incorretamente) pela maioria dos que viram o fenômeno(lembremos que Maria, junto com Jesus, são duas figuras respeitadas pelos mulçumanos e são citadas no Corão e, portanto, são parte da herança religiosa do Oriente Médio islâmico. A pergunta é: sendo uma "ideoplasmia", por que não foi vista em uma Mesquita? Quem garante que foi a figura histórica de Maria?). O fenômeno, segundo as fontes, repetiu-se por várias vezes seguidas, e foi bem fotografado. Veja como a figura tem certa semelhança com a da foto da "Dama Marron" acima citada. Um vídeo-documentário sobre o fenômeno pode ser visto na internet, em http://www.zeitun-eg.org/zeitun_en.rm. Aqui, mais uma vez se pode usar com lógica a hipótese da "ideoplastia" ou "teleplastia", neste caso, tendo vários epicêntros, ou seja, tendo por causação várias pessoas, e não uma ou algumas poucas. O único porém é que este é, talvez, o único caso registrado de ilusão ou "ideoplastia" coletiva registrado em fotografia! Ademais, a energia necessária para plasmar uma figura luminosa como a que aparecem nas fotos da época levaria à exaustão os epicêntros "inconscientes" responsáveis pelo fenômeno. Não foram achadas qualquer prova consistente ou convicente de fraude. Neste caso, essa teria sido uma espécie de hiper-ilusão inconsciente coletiva, talvez percebida por "contágio" psíquico, potencialmente materializada ao ponto de ser registrada em fotos? Mas este tipo de explicação, embora com sua lógica e aparência de verossimelhança, soa um tanto quanto forçada para se adequar ao modelo positivista (?) mecanicista ainda dominante. Não é convincente, em especial para quem presenciou os fenômenos (no vídeo indicado existe vários depoimentos de testemunhas oculares). O que se tem certeza é de que "algo" ocorreu nas torres da Igreja Copta de Zeitun entre 1968 e 1970, e que foi percebida por uma imensa multidão de pessoas. A questão "causal" sobre este fenômeno, portanto, permanece em aberto e, de fato, foi tão desconcertante que ainda hoje ele intimida e confunde pesquisadores no mundo inteiro. Como não mais se repetiu em lugar algum, a maioria prefere descartá-lo como alucinação e fraude. Convém, só para notificar, que ao lado da silueta humana principal vista, também foram percebidas figuras de aves, aparentemente pombas luminosas e outras figuras pouco claras ao redor da "aparição". Mas esta é uma "aberração" estatísica... Não se vê freqüentemente algo assim pelas ruas do mundo.
Para ver fotos de espíritos tiradas por cientistas célebres em um rígido controle experimental, e ler excelentes artigos sobre a questão da sobrevivência, aconselho o leitor a visitar o site da "The International Survivalist Society".
Como fala o professor Henrique Rodrigues, o inconsciente, para o "Caçador de Enigmas", é uma espécie de conta bancária que tem a facilidade de pagar prontamente qualquer cheque, além de ter características tão assombrosas, bem além do que postulava Freud e Jung, que não pode ser entendido como o inconsciente da psicanálise tal como conhecido e estudado nas faculdades de Psicologia e Medicina, mas sim um inconsciente "sui generis", "paranormal" (mas sejamos justos: o bom padre não foi o primeiro a postular tal inconsciente "paranormal" semi-divino, e nem é o único a adotar ardorosamente tal modelo), e a tal ponto poderoso, que é capaz conseguir gravar imagens e sons em fitas magnéticas em laboratórios eletrônicos da mais alta tecnologia, estando os equipamentos isolados em salas hermeticamente fechadas, ou que tem a capacidade de manter diálogos com as pessoas quer por meios eletrônicos, quer por intermédio de médiuns, e que costuma mudar a caligrafia do médium no caso da psicografia e dar informações que eram desconhecidas de todos os presentes... Enfim, um "inconsciente" que é quase uma entidade espiritual... Aliás, se o inconsciente é uma instância psíquica, pertence portanto à alma humana. Ora, sendo assim, esta ainda a deve deter após a morte (o padre ora diz que temos um espírito, ou diz que espíritos não existem... Mas é dogma da igreja de que as almas continuam a existir em algum lugar, quer seja o céu, o inferno ou o purgatório... Ora, será que o inconsciente, nos moldes quevedianos, deixaria de ser menos poderoso do outro lado? Neste caso, seria mais um problema a se expor ao ilustre parapsicólogo), e o que impediria, então, de que esta instância continuasse a funcionar tão maravilhosamente quanto em vida? No fim das contas, esta teoria não parece realmente ser mais que o mais recente reduto dos reducionistas com fobia do espiritismo. De qualquer modo, parece que o mister do caro padre em distorcer fatos já de longa data foi percebibo por alguns estudiosos, como o professor Afonso Martinez Taboas, em sua Revisão Crítica dos Livros do Padre Quevedo
Cabe aqui, penso eu, a citação de um trecho do excelente artigo de Carlos S. Alvarado, publicado pela Revista Argentina de Psicologia Paranormal, e intitulado Aspectos Ideológicos de La Parapsicologia:
"Otros ejemplos existen en donde la parapsicología ha sido utilizada para defender un sistema de creencias religiosas específicas. Este es el caso del Jesuíta Oscar González Quevedo (1969/1971). Una revisión de la obra de este escritor muestra claramente que su ideología religiosa moldea las teorías y los fenómenos considerados válidos en el campo 4. González Quevedo pretende utilizar argumentos científicos para establecer que la comunicación entre las vivos y los muertos no es posible. Pero su prejuicio religioso se revela cuando afirma que: "Solo Dios puede conseguir esta comunicación. La comunicación perceptible sería milagro" (p. 113). De forma similar, este autor nos presenta aparentes análisis racionales de "milagros" y de la diferencia entre lo milagroso y el fenómeno humano. Pero en toda ocasión es claro que su intención non es válida- su sistema religioso, aceptando por fé los dogmas de su religión y defendiendo un sistema de parapsicología diseñado para combatir el espiritismo y otras interpretaciones de los fenómenos psíquicos."
De qualquer forma, é bom sabermos que muitos outros pesquisadores estão abertos aos fenômenos da psicografia e da transcomunicação, sem impor a estes preconceitos de antemão construídos para os desacreditar. Neste sentido é reconfortante saber que o fenômeno da Transcomunicação, ou, como também é conhecido, da Psicotrônica, tenha atingido tal importância nos meios científicos ao ponto de ser aprovado todo um programa de estudos para este campo, encabeçada pelo Institute of Noetic Sciences, da California, Estados Unidos, organização fundada pelo astronauta Ed Mitchell e que conta com inúmeros cientistas e pesquisadores ligados às mais importantes Universidades Norte-Americanas (clique aqui para obter mais detalhes sobre este programa).
O novo mágico, ou melhor, a nova estrela (à época) das noites de doming, irá bem usar de seu espaço nobre na mídia e mais uma vez nos contará, como o fazia seu antecessor, como são os segredos e truques - porque esta é uma área onde eles se apresentam mais claramente , o que não implica dizer que só existam truques ou pessoas de má fé - de parte do que se apresenta, aparentemente, como "fenômenos paranormais" - sim, porque ele mesmo reconhece que existem realmente fenômenos legítimos, mas apresentá-los e demonstrá-los não é, obviamente, seu principal trabalho na TV, muito menos o de respeitar ou apresentar os trabalhos e pesquisas de outros, a menos que compartilham de seu mesmo ponto de vista que, claro, julga ser o único correto. É mais fácil apresentar alguns truques de circo e generalizar a apresentação para explicar todo o universo dos fenômenos geralmente ligados a vertentes religiosas que ele não aceita e quer que não sejam levados em conta por ninguém.
Oh, este ai sabe!, exclama o grande público, na sua ingenuidade e fé no no dito que diz a TV, em especial, em associação com o respeito que a aura de um Sacerdote Católico, e ainda mais estrangeiro e parapsicólogo, inspira, permanecendo, porém, as pessoas distantes da literatura especializada no assunto. A imagem, para muitos, diz tudo. Mais adiante, porém, iremos nos aprofundar no que é realmente a Parapsicologia que, atualmente, foi aprofundada na Psicobiofísica.
O ilustre auto intitulado "parapsicólogo" teórico a que nos referimos nasceu na Espanha. Em sua infância teve parentes espíritas (ao menos é isso o que ele diz), mas sua vocação para o sacerdócio católico o fez entrar em choque com as idéias dos que simpatizam com o espiritismo. Por esta época, já se tornornava para ele intolerável que os espíritas - ou quem quer que fosse - pudessem por em cheque os ensinamentos e dogmas da Igreja, ainda que tivesse um secreto interesse por temas como materializações, aparições, etc., em especial as ocorridas dentro da Igreja Católica.
Os fenômenos ditos "paranormais" (que não necessariamente são sinônimos de anormais ou sobrenaturais, hoje em dia sendo paulatinamente chamados de fenômenos psi e que só são ainda paranormais por escaparem ao escopo de nosso paradigma científico dominante. Se um cavalheiro de 1801 visse, pelas ruas de Paris, um automóvel andando sem que se visse cavalos puxando-o, certamente teria tomado a "visão" como sendo sobrenatural), porém, não pertecem, não são e nunca serão exclusividade do movimento espírita, do mesmo modo que as fraudes e trapaças, que, se existem, também não deixaram e não deixam de ocorrer igualmente até mesmo em ciências muito bem assentadas, mas que nem por isso chegaram a desmontar a Medicina ou a própria Igreja - e não foram poucos os falsos milagres e o comércio da fé ocorridos nas paredes dos templos católicos. E nem mesmo os luminares do intelecto e da pesquisa mais moderna escapam de montarem sistemas ou idéias de um precoceito flagrante. Tome-se o caso, por exemplo, da volta implícita do racismo na moderna teoria da Sociobiologia que, em linhas gerais, estabelece uma etnia (claro, a do homem branco) como superior às demais.
Os fenômenos paranormais já existiam antes do espíritismo (doutrina formulada na Europa no século XIX), são relatados em todas as culturas, continuam a ocorrer, e seus registros fazem parte de praticamente todas as partes do mundo onde se conhece a escrita ou outra forma de expressão plástica (C.f. Mircea Eliade, em seu livro "O Xamanismo e as Técnicas Arcaicas do Êxtase" e Ernesto Bozzano em "Povos Primitivos e Manifestações Supranormais") e mais adiante veremos que estão muito bem registrados na própria Bíblia.
Financiado pela Igreja, o "Padre que não tem medo de assombração" muda-se para o Brasil onde, no Rio Grande do Sul, termina seus estudos de Teologia e, diante da imensa popularidade das idéias espíritas e espiritualistas no país, passa a se dedicar com maior ênfase ao estudo da Parapsicologia, por ser este, segundo ele, o único instrumento válido para combater principalmente os - também segundo ele - erros do espiritismo. Na verdade, se fosse esta a sua real intenção, seu trabalho seria louvável e de grande utilidade, desmascarando os reais embusteiros e charlatães que existem a torto e a direito por todos os lugares. Neste ponto, deveria, usando do fundamento da imparcialidade, igualmente, conhecer e respeitar os trabalhos de outros parapsicólogos sérios - que citaremos mais adiante e cujos trabalhos são mencionados na bibliografia ao final desta página - que constatam a existência de outras tantas pessoas "especiais", chamadas de parnormais e os fenômenos a elas correlatos dentro mesmo de quadros teóricos a que não se acha obrigado a concordar.
Porém, patentemente não era esta sua inteção, ou apenas esta intenção, mas sim a de usar de um novo campo de pesquisas, a Parapsicologia, para se revestir de certa autoridade e dar um halo de cientificidade à muito de sua guerra pessoal contra os espíritas, passando por cima das novas áreas de estudo em ciência, como as descobertas da Física Moderna, a Psicologia Transpessoal, os estudos sobre mente e consciência levados à cabo por Karl Pribam, os trabalhos de David Bohm e outros. Ele simplesmente despreza as consequências destas pesquisas que superam o modelo mecanicista que já vem sendo superado pela ciência, em especial a Física e Biologia (C.f. a Home Page O Novo Paradigma Holístico), que relativiza a visão de mundo ocidental que o "Caçador de Enigmas", apesar de pertencer, bem ou mal, a uma instituição que se diz espiritualista (será?) e em seus livros demonstrar, intelectualmente falando, é claro, conhecimento dos avanços epistemológicos nas ciências físicas e cognitivas, inclusive adotando uma postura mais coerente com estes avanços no tocante à validade da Percepção Extra-Sensorial (PES), ainda adota ardorosamente os velhos modelos mecanicistas quando se trata de combater as idéias e teorias outras que levam em consideração a interrelação e comunicação entre planos de existências diferentes, como o espiritual e o físico, e assim sendo, ele age mais como um dos últimos positivistas que como um cientista de vanguarda. Pelo menos é bastante newtoniana a sua acertiva de que os efeitos físicos paranormais, em especial os causados em aparelhos eletrônicos, são inversamente proporcionais à distância que deles se acham os paranormais... Bem, levando-se em conta as descoberta da física quântica, em especial a do experimento de Einstein-Rosen-Podolsky, esta assertiva, se tomada como lei, é ao menos questionável. Quevedo insiste que gravações paranormais só podem ser feitas se um agente (pessoa) está por perto, até cerca de 50 metros, para que o inconsciente (de que forma? como?) possa produzir imanges registradas em vídeo. Bem, então como se explica uma imagem "fantasma" feita pelo sistema de segurança de um estacionamneto, onde se vêem carros dispostos em mais de 150 metros, sem que nenhuma pessoa esteja presente? Este vídeo foi apresentado pela News Channel 4, da cidade de Oklahoma, Estados Unidos, e pode ser visto aqui.
Como muito bem nos fala Lawrence LeShan em seu esplêndido livro "De Newton à Percepção Estra-Sensorial, A Parapsicologia e o Desafio da Ciência Moderna", fazendo eco às pesquisas em Filosofia da Ciência de Thomas Kuhn, Edgar Morin e Fritjof Capra, a partir da Revolução Científica do século XVI, a visão do homem sobre a natureza modificou-se consideravelmente.
"A nova visão era a de que tudo no mundo funcionava [basicamente] da mesma maneira, do mesmo como como as máquinas funcionavam. As coisas só se afetavam mutuamente através de um contato direto, da mesma forma que uma biela faz uma roda girar. (...) Uma vez que Newton demonstrou que esse modelo mecânico podia ser aplicado ao movimento dos planetas, este, cada vez mais, tornou-se a única espécie aceitável de explicação até que, no final do século XIX, foi aplicada a virtualmente tudo, inclusive a evolução das espécies, às realizações da sociedade e à própria consciência" (LeShan, Op. Cit, p. 21).
Só que, a partir da nova Revolução Científica iniciada em fins do século passado, na Física (C.f. meu texto A Física Moderna, Uma Nova Visão de Mundo), em especial com os trabalhos de Faraday, Maxwell e Planck, atingindo seu ponto mais dramático com Einstein e os teóricos da Física Quântica (Bohr, Schrödinger, Heisenberg e outros), ficou amplamente demonstrado que a visão de mundo mecanicista da física clássica de Newton, que serviu de modelo às demais ciências, não só não dá conta de toda a realidade física como, inclusive, é vista como sendo uma criação humana, útil, porém limitada, feita pelo homem para dar sentido aos fenômenos naturais que o cercam, e mesmo assim, só ao nível das chamadas dimensões médias, ou seja, dos objetos compostos (portanto, formado de um conglomerado de átomos) que nos cercam e com quem interagimos a velocidades muito baixas. Se saímos desta faixa de dimensões médias, indo para o nível atômico, ou para os grandes conlgomerados de galáxias, ou temos de lidar com grandes velocidades, a mecânica de Newton simplesmente deixa de funcionar à contento.
As mudanças conceituais na Física Moderna, porém, correram silenciosas e à parte dos estudos nas ciências humanas, em particular na Psicologia e, com ela, na Parapsicologia. De fato, na Física ocorria um movimento que
"se afastava da idéia de que apenas um modelo do universo era necessário para explicar toda a realidade, indo em direção ao conceito de que diferentes modelos eram necessários para lidar com diferentes aspectos (domínios) da experiência. Tudo começou com Max Planck, em 1900, segundo a qual o sistema teórico necessário para explicar o microcosmo (aquele mundo de coisas por demais pequeno para ser observado pelos sentidos, ainda que teoricamente) era diferente do sistema necessário e válido para o domínio das coisas cotidianas, acessíveis aos sentidos. De acordo com as palavras de Planck, vivemos em um 'universo de duas pistas'. Eis o que revelou o físico Erwin Schrödinger:
À medida que os olhos de nossa mente penetram em distâncias cada vez menores e em tempos cada vez mais curtos, percebemos a natureza comportando-se de maneira tão inteiramente diversa daquilo que observamos em corpos visíveis e palpáveis, em torno de nós, que nenhum modelo criado a partir de nossas experiências jamais poderá ser inteiramente 'verdadeiro'.
"Decorridos alguns anos, Einstein demonstrou que um terceiro sistema, um terceiro modelo, era necessário para o domínio da experiência que incluia coisas grandes demais ou que caminhavam rápido demais para serem acessíveis aos sentidos.
"Nenhum desses sistemas explanatórios se contradiz mutamente. Eles são compatíveis e nehum é mais válido do que os outros. São simplesmente acessíveis a um domínio específico da experiência (...).
"Aos poucos ficou evidente (...) que um comportamento significativo, não pode ser explicado simplesmente de acordo com os mesmos princípios a que precisamos recorrer para lidarmos com os domínios de experiências que interessam a um físico [coisa já demonstrada pelo filósofo existencialista Sören Kierkegaard no século XIX] (..)(LeShan, Op. Cit. pp.16-17).
A pesquisa Parapsicológica propriamente dita - como veremos mais adiante - começou por uma tentativa de avaliação científica dos fenômenos espíritas.
"A pesquisa sobre a mediunidade desenvolveu-se no final do século XIX em um momento de crescente materialismo. Diante de uma crença cada vez maior, segundo a qual apenas aquilo que se podia ver e tocar era real, que afirmava todas as coisas, vivas e não vivas, funcionavam de acordo com um princípio mecânico, que proclamava que a morte significaca o aniquilamento, iniciou-se uma pesquisa para obter provas de que existia algo mais do que aquilo que era visível, que para o homem havia alguma coisa além do corpo, algo que sobrevivia à morte.
"De acordo com o conceito de um dos seus fundadores, Frederic Myers, tratava-se de 'uma questão que se situa no ponto de encontro da religião, da filosofia e da ciência, cujo propósito é aprender tudo aquilo que pode ser apreendido sobre a natureza da realidade humana'. Era a busca da prova de que o homem era mais que uma máquina, mais do que aquilo de que uma filosofia materialista poderia dar conta.
"Finalmente, na década de 30, tornou-se claro que havia dois tipos de atividade paranormal. O primeiro deles eram os acontecimentos que, originalmente, excitaram nosso interesse pelo campo - as aparições no leito de morte, os casos de mediunidade, as trocas telepáticas que modificam nossas vidas. Tais tipos de eventos, [por serem os mais expressivos existencialmente], não eram facilmente quantificáceis e rapidamente tornou-se claro que jamais o poderiam ser, pois eram significativos e nos afetavam (como poderia ser possível medirmos em unidades os acontecimentos importantes de nossa vida - nosso primeiro amor, a morte de um dos pais, o nascimento do primeiro filho?). O segundo tipo eram aqueles que podiam ser quantificados: quantas cartas se pode adivinhar corretamente em um baralho escondido, independentemente do acaso? Quantas vezes, deixando de lado o acaso, pode-se fazer com que o lado de um dado que marca cinco caia para cima, unicamente mediante a força de vontade? Eram acontecimentos mínimos, essencialmente desprovidos de significado. Não exerciam o menor efeito sobre a nossa existência e raramente sabíamos quando eles haviam ocorrido. (...)
"Elas eram, porém, quantificáveis. A ciência e o pensamento de boa parte de nosso século nos diziam que, se quiséssemos ser 'científicos', se quiséssemos estudar coisas 'reais', teríamos de estudar coisas quantificáveis (...)" (LeShan, Op. Cit. pp. 33-34).
Para o mundo sensorial, o mundo que nos cerca, um entendimento geométrico e matemático funciona. Pois bem, coisas quantificáveis podem ser estudadas estatisticamente. O envólucro matemático parece dar à maioria dos cientistas da área de humanas o conforte de poderem ser reconhecidos como cientistas, de acordo com o paradigma mecanicista da ciência newtoniana do século XIX. Devido ao grande sucesso prático deste paradigma, expresso sobretudo no desenvolvimento tecnológico e na aceitação social deste modelo clássico, eles, em sua maioria, ainda desconhecem os avanços epistemológicos que adiviram das ciências físicas e da Psicologia profunda, a começar por Carl Gustav Jung. Mas os os números dizem muito pouco sobre as relações de acontecimentos, a não ser sua periodicidade. A explicação destas, porém, ficava ao critéro de cada pesquisador, já que não há uma teoria parapsicológica geral e aceita por todos os parapsicólgos. É aqui que o Padre "Caçador de Enigmas" faz a sua festa, pois ele interpreta fatos espíritas de acordo com uma concepção mecanicista de parapsicologia, ainda que em seus livros pareça ter uma postura mais contemporânea menos mecanicista para outros fenômenos clássicos, como telepatia e precognição, inclusive alencando os limites do mecanicismo, e faz deste conhecimento uma arma conceitual - ou melhor, plena de preconceitos - para descreditar em especial o espiritismo, doutrina que ele já teve mais de uma ocasião de dizer que odéia.
Só que as coisas que estão ligadas à consciência do homem - e que, realmente, são as mais profundamente significativas - são tudo, menos quantificáveis e muito menos facilmente "replicáveis" em laboratório. Até mesmo o sucesso de Rhine quanto à questão da comprovação da psicocinesia foi estremamente modesto. Ninguém, por não poder fazer um estudo experimental com variáveis explicitamente controlada, vai dizer que o fenômeno "apaixonar-se" não existe porque no laboratório um cientista não conseguiu que homens e mulheres desenvolve-se este sentimento de modo estatisticamente significativo em um dia. Nem tampouco podemos dizer que o pensamento é uma abstração porque não o conseguimos pesar numa balança e muito menos localizá-lo com certeza numa certa região do cérebro - o mesmo dizendo para a memória, como nos mostra os excelentes estudos de Karl Pribram. O "Caçador de Enígmas" tem o mérito de saber disto e discorrer sobre tal em suas obras, mas toma posição bem tradicional quando a questão se refere à comunicação mediúnica ou aspectos relacionados à possível interação vivos e mortos. Ora, como ninguém pode se apaixonar na hora que quiser, ou deixar de sonhar a partir da noite de hoje, dizer que certos fenômenos psíquicos são ficções ou embustes apenas porque não são replicáveis em laboratório mostra muito bem o quanto o ilustre padre tem uma mentalidade teórica muito concordante com a ciência do século XIX, mas não do século XX. É mais fácil ocorrer telepatia entre uma mãe e um filho (grau altamente significativo em termos psicológicos), que entre um suposto "telepata" e um estranho, que tenha à frente uma carta de baralho, e ao qual um pesquisador fique cronometrando o tempos e as respostas, para ver, estatisticamente, a relevância dos acertos ou erros (grau altamente concorde com a visão científica do século XIX, e altamente não significativo em termos psicológicos, ao sujeito que participa da experiência). Da mesma forma ocorre com os chamados fenômenos mediúnicos, e não é por serem estes replicados em condições controladas e como se espera que ocorram que se pode afirmar que não existam, tal como o diz o "caçador de enígmas". Mas o real interesse é mais o de atacar determinados pontos de vista do que se dar ao luxo de pesquisar ou deixar que outros, que pesquisam, tenham a chance de expor ou dispor de espaço na mídia sensacionalista para apresentar uma outra visão mais "avançada" dos fenômenos psíquicos, o que contradiz o proselitismo do super-star da pseudo-parapsicologia televisiva.
Basta ver o modo como o "parapsicólogo" jesuíta dirige seu discurso "parapsicológico" para bem ver a sua Parcialidade. Vejamos alguns exemplos, citado pelo parapsicólogo Alfonso Martinez-Taboa em seu artigo Uma Revisão Crítica dos livros do Pe. Quevedo:
O dogmatismo marcado do sacerdote Padre Quevedo se reflete em todas as suas obras. Aquele com quem não combina é titulado, com frequência, de "um enganado", "espiríta" e "anti-científico". Muitas de suas conjecturas perdem essa qualidade ao virar-se umas páginas mais adiante em fatos estabelecidos.
Prova disso não é difícil de se oferecer. Por exemplo, no tomo I de "As Forças Física da Mente", página 287, se diz: "os fenômenos parapsicológicos não são nem podem ser do "além" (a não ser raramente, por força divina apenas)."
Em seu livro " O que é Parapsicologia", página 113, diz que "outra das principais conclusões da Parapsicologia teórica é a confirmação de que não há comunicação natural entre os vivos e os mortos".
Nesse mesmo livro(p.116), diz que o "Milagre de Fátima" foi uma alucinação divina. "É o selo divino para confirmar que as alucinações eram verdadeiras, de origem sobrenatural."
E na página 109 diz que as profecias da Bíblia têm sido "cientificamente" provadas. Diz este: "Trata-se de Deus, é fenômeno sobre-humano."
Que tem a dizer sobre tudo isso um parapsicólogo que estime de alguma forma a ciência? Primeiro que tem que esclarecer que o Padre Quevedo ao dizer que "a Parapsicologia teórica" tem rechaçado o Espiritismo, só está expressando sua opinião particular. Como bem assinala Rogo:"Atualmente não há opiniões reconhecidas em geral na Parapsicologia sobre a sobrevivência após a morte."
Segundo, sua insistência de que "Deus", "a Virgem" e a "Ordem Sobrenatural", têm se manifestado abertamente, e que isto está "cientificamente" demonstrado, é mais uma asserção teológica e apressada, que científica. Em nenhum de seus livros encontramos nem sequer as razões mínimas para conter ditas informações tão categóricas. No entanto, disse-nos que estão "provadas", e nada menos que pela ciência!
Da mesma forma, outras muitas conjecturas, as quais costumam passar como "princípios" e "leis" sobre como deve atuar o ectoplasma, os limites da percepção extra-sensorial, etc., não nos parecem estar fundadas na razão e em firme documentação.
Este problema aponta para a presunção do "Caçador de Enigmas" de se considerar o único estudioso da parapsicologia. Mas já na época em que ele chegou ao Brasil, existiam estudiosos profundos sobre Parapsicologia, caso do Professor Hernani Guimarães Andrade, engenheiro e escritor, pesquisador incansável que, inclusive - e sendo citado por inúmeros artigos, além dos próprios, em revistas especializadas do exterior - ampliou o campo de análise dos estudos Parapsicológicos ao formular a disciplina de Psicobiofísica (atualmente aceita por centros de excelência e pesquisa, como a tradicional USP, por exemplo). Dentre vários prêmios de reconhecimento por seu trabalho (discreto, sem apelação, como cabe a todos os pesquisadores sérios), recebeu o “Diplôme de MEDAILLE D’OR”, concedido pelo Conselho Superior da “ORDRE DE L’ÉTOILE CIVIQUE” “Union des Elites Françaises”, fundada em 1929 e consagrada pela Academia Francesa, em reconhecimento pelos trabalhos científicos no campo da Parapsicologia
Ainda hoje atuante, em seus 87 anos de idade, o Professor Hernani Guimarães Andrade mantêm rico intercâmbio com os maiores centros de pesquisa das Universidades da Europa e da América, recebendo publicações e artigos sobre os quais freqüentemente é solitado a opinar. É amigo pessoal do Dr. Ian Stenvenson e de pesquisadores como Karlis Osis. Mateve contato com o criador da Parapsicologia, Joseph Banks Rhine, da Universidade de Duke, e foi um dos mais atuantes divulgadores do seu trabalho no Brasil. O Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofísicas por ele fundado em 1963 foi tão bem aceito pela comunidade psi internacional que o famoso pesquisador e membro da "Society for Psychical Research" de Londres, Mister Guy Lyon Playfair entagiou durante três anos junto ao IBPP.
O Sr. Hernani é o autor da teoria do Modelo Organizador Biológico - MOB, que ele apresentou mais de vinte anos antes de que o biólogo britânico Rupert Sheldrake fizesse o mesmo com a sua teoria dos Campos Morfogenéticos, que guarda grande similaridade com a teoria do pesquisador brasileiro.
Convicto da realidade da continuidade da vida após a morte, ou seja, da existência do espírito - o que nosso querido padre nega - e da possibilidade de comunicação dos chamados mortos com os vivos, Guimarães Andrade foi o primeiro a fazer pesquisas sistemáticas, dentro dos mais rigorosos critérios metodológicos, de fenômenos paranormais pelo Brasil. Seu três livros, "Morte, Renascimento, Evolução"; "Espírito, Perispírito e Alma" e "Psi Quântico", juntamente com o valioso "Parapsicologia Experimental", publicado pela primeira vez em 1967, e o bem documentado livro "Poltergeist, Algumas de suas ocorrências no Brasil", de 1989, constituem marcos do pensamento e pesquisa Parapsicológica no Brasil.
Podemos citar, igualmente, a atuação do Professor Henrique Rodrigues, engenheiro eletrônico e Parapsicólogo. Conferencista internacional, membro ativo de diversas universidades e instituições que se atêm ao estudo da Parapsicologia, como a Universidade Kennedy, de Buenos Aires, a Sociedade Espanhola de Parapsicologia e a Sociedade Italiana de Metapsíquica, só para citar algumas delas. Foi ele - e não o nosso orgulhoso protagonista das noites de domingo, - o único parapsicólogo estrangeiro convidado oficialmente para apresentar suas teses e inventos na ex-União Soviética, no Museu Arqueológico de Moscou e no Auditório Hermilton de Leningrado. Foi laureado em 1975 no Congresso Internacional de Parapsicologia, em Gênova, Itália, com o "PRÊMIO ERNESTO BOZZANO". É autor do livro "A Ciência do Espírito" e de inúmeros artigos.
O professor Henrique comunga das mesmas opiniões que seu colega Hernani Guimarães Andrade, como também o fazem o Dr. Alberto Lyra e o engenheiro Clóvis Nunes e os Psicólogo Pierre Weil, isso para citar apenas os estudiosos da Parapsicologia no Brasil, deixando de fora os nomes dos pesquisadores internacionais como Stanislav Grof, Elizabeth Kubler-Ross, Raymond Moody, Abraham Maslow, James Fadiman, Stanley Krippner, Kalis Osis, Charles Tart, etc., isso sem contar os nomes de pesquisadores conhecidos do início do século, como William James, Charles Richet, Ernesto Bozzano ( um dos maiores e mais extraordinários pesquisadores de fenômenos Psi do século XX, professor da universidade de Turim e autor de livros extraordináriois, como Metapsíquica Humana e A Crise da Morte entre muitos outros ) e o discreto apoio de Carl Gustav Jung.
Atualmente, no exterior, os estudos de Experiências Próximas da Morte (Near Death Experiences) - que, aliás, a própria Rede Globo, no mesmo programa dominical, frequentemente apresentava em matérias especiais - (* *Atenção: : no dia 23 de dezembro de 2001, o programa Fantástico apresentou uma reportagem de uma série de pesquisas feitas por médicos e cientistas na Holanda sobre as experiências próximas da morte. Para ver a reportagem de capa "A Linha da Vida" clique aqui. É necessário o programa Real Player para vê-lo, e que pode ser adquirido gratuitamente, em sua versão básica, aqui), com nomes como Raymond Moody Jr e Karlis Osis (1919-1997) de estados alterados de consciência (Alterated States), com Stanislav Grof e Charles Tart e, no Brasil, com Pierre Weil, e os estudos de regressão de memória de Morris Netherton traziam novo reforço ao posicionamento dos Parapsicólogos mais espiritualistas e aos espíritas.
O fato é que as tentativas de nosso superstar - e reconhecemos sua inteligência brilhante, muito acima da média, perspicácia e notável saber - esbarrou diante de estrelas de grandeza ainda maior que a sua, e, para seu desgosto, de espíritas bastantes competentes nas áreas da Medicina, Psiquiatria e Psicologia.
Não foram poucas as discurssões entre o "caçador de enígmas" e outros parapsicólogos (sintomaticamente não reconhecidos como tais pelo citado parapsicólogo jesuíta) e com psicólgos, muitos dos quais espíritas, em que ele se saiu muito mal, frequentemente partindo de uma atitude de deboche para a franca agressivida, mas isto, é claro, não é divulgado pela mídia comercial, especialmente agora que a mais poderosa delas o tem como contratado, e muito menos é de interesse da ala mais conservadora da Igreja, que, aliás, voltou a estar atuante nos últimos anos, gozando do "revival" da popularidade - antes ameaçada pelo avanço dos evangélicos - pelos movimentos da Renovação Carismática, Encontro de Casais e de Jovens e outros, ao par do declínio de popularidade da Igreja Progressista (mais intelectualmente madura e aberta à troca civilizada de idéias, mas que exigia uma consciência da responsabilidade pessoal que a ala atual atenuou) com nomes veneráveis como Leonardo Boff (este já desligado da Igreja em virtude das sanções impostas por ela às suas idéias, em especial à Teologia da Libertação) e Frei Betto, pessoas que não têm o costume de menosprezar o trabalho alheio e que pregam o entendimento fraterno entre os homens. Hoje, porém, se pode mostrar um sapo com a boca costurada na televisão, desde que se possa causar o efeito desejado na população, como o fez nosso "Parapsicólogo" em seu primeiro programa, misturando uma inócua superstição popular com parapsicologia... Enfim, algo que acabou sendo uma piada feita para impressionar, mas de gosto questionável.
De fato, a presença de Quevedo na mídia, sob as bênçãos de parte da Igreja, é apenas um ponto da volta da intolerância religiosa que sempre vem à tona em épocas de crise político/econômica, onde as instituições religiosas, cada uma se dizendo a dona da verdade, na sua margem mais fundamentalistas, se propõem a solucionar parte do problema por se julgarem as intermediárias entre os homens sofredores e os céus. Pesquisas recentes, como a levada em João Pessoa, pelo Programa de Iniciação Científica do CNPq/UFPB, demonstram que os católicos participantes de certos movimentos recentes da Igreja, como o da Renovação Carismática, tendem a ser mais conservadores, resistentes à outros credos e serem mais exclusivistas que os católicos não-carismáticos (c.f. PEREIRA DO NASCIMENTO & GUERRA SOBRINHO in "Resumos do III ENCONTRO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UFPB", Editora Universitária, João Pessoa, 1995, p. 75), o que justifica o retorno de movimentos ultraconservadores e radicais católicos, como a reacinária TFP (Tradição, Família e Propriedade) e, lógico, a freqüente presença de pessoas como Pe. Quevedo, ácidos combatentes do espiritismo, em especial na mídia, onde se sentem muito bem, por sinal, enquanto personalidades como Guimarães Andrade e Henrique Rodrigues (e muitos outros mais que não são citados aqui, não por não serem reconhecidos, mas pelos limtes que este artigo impõe) preferem se dedicar às pesquisas e à sobriedade, reconhecidas nos centros universitários, mas que não são muito simpáticas à mídia comercial convencional.

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