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quarta-feira, 30 de junho de 2021

Indícios crescentes de corrupção no desgoverno militarizado de Bolsonaro: Emails comprovam que governo Bolsonaro negociou oficialmente com empresa que denunciou propina de US$ 1 por dose

 

Emails comprovam que o Ministério da Saúde do governo de Jair Bolsonaro negociou oficialmente a venda e propina para a aquisição de vacinas com representantes da Davat Medical Supply

Ministro da Saúde da Índia, Harsh Vardhan, segura ampola da Covaxin
16/01/2021
REUTERS/Adnan Abidi

Ministro da Saúde da Índia, Harsh Vardhan, segura ampola da Covaxin 16/01/2021 REUTERS/Adnan Abidi (Foto: Reuters)

247 - Emails mostram que o Ministério da Saúde do governo de Jair Bolsonaro negociou oficialmente venda de vacinas com representantes da Davat Medical Supply. Um representante da empresa afirmou nesta terça-feira (29) ao jornal Folha de S.Paulo que recebeu pedido de propina de US$ 1 por dose em troca de assinar contrato. No total, Jair Bolsonaro pretendia lucrar com US$2 bilhões gerados com o esquema de corrupção.

Segundo a reportagem, as mensagens da negociação foram trocadas entre Roberto Ferreira Dias, diretor de Logística do ministério, Herman Cardenas, que aparece como CEO da empresa, e Cristiano Alberto Carvalho, que se apresenta como procurador dela.

O próprio Dias envia um email em que menciona uma reunião ocorrida sobre o tema. Ele é apontado como o autor do pedido de propina —sua exoneração do Ministério da Saúde foi anunciada na noite de terça (29) após as revelações. 

Um dos emails foi trocado às 8h50 do dia 26 de fevereiro deste ano, por meio do endereço funcional de Dias, "roberto.dias@saude.gov.br", e "dlog@saude.gov.br" —"dlog" é como o departamento de logística é chamado.

Na conversa, Cardenas informa da oferta de 400 milhões de doses da vacina Astrazeneca, citando Luiz Paulo Dominguetti Pereira como representante da empresa. "Fico no aguardo para ajudar a obter vacinas para seu país", diz.

Dominguetti disse ao jornal Folha de S.Paulo que jantou na noite anterior àquela manhã com Roberto Dias no restaurante Vasto, no Brasília Shopping, em Brasília, quando ouviu, segundo ele, o pedido de propina de US$ 1 por dose de vacina negociada.

Vídeo-análise imperdível de Bob Fernandes: Corrupção - Bolsonaro, como na fábula do Rei, está nu. Não mandou investigar crimes na compra da vacina Covaxin... E tem ainda mais

 


Vídeo do Canal do analista político Bob Fernandes:



CRÉDITOS Direção Geral: Bob Fernandes Direção Executiva: Antonio Prada Produção: Daniel Yazbek Edição: Yuri Rosat Arte e Vinhetas: Lorota Música de abertura e encerramento: Gabriel Edé Imagem adicional: Congresso em Foco Reportagens: Destrinchando o Esquema das Vacinas (Nada Novo no Front) https://nadanovonofront.com/2021/06/2... Anatomia da corrupção: os atos e discursos do governo para viabilizar e legalizar a Covaxin (Agência SportLight) https://agenciasportlight.com.br/inde... Este vídeo é produção do canal de Bob Fernandes. Vídeos novos todas terças e quintas, sempre, e demais postagens a qualquer momento necessário.

domingo, 27 de junho de 2021

Frentes progressistas antecipam atos e movimentos públicos contra Bolsonaro

 

Manifestações foram remarcadas para 03 de Julho após denúncia de superfaturamento na compra de vacinas na CPI da Pandemia

Foto Rede Brasil Atual

Jornal GGN A Campanha Fora Bolsonaro definiu novas manifestações para o próximo dia 03 de julho, por conta das últimas denúncias envolvendo o presidente Jair Bolsonaro e a CPI da Pandemia, em andamento no Senado Federal.

“A luta de massas é o elemento decisivo para que seja aberto o processo de impeachment do Bolsonaro. Com o ato do dia 3 de julho, queremos mandar um recado para o presidente da Câmara Arthur Lira, que está sustentando um governo sem condições políticas”, afirma João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e da Frente Brasil Popular, em entrevista ao site Brasil de Fato.

O calendário deliberado neste sábado (26) também prevê mobilizações durante a entrega do pedido de impeachment unificado, definida para a próxima quarta-feira (30) em Brasília. Na quinta-feira (1) será realizada uma plenária nacional da campanha.

O processo de mobilização progressista ganhou força após a denúncia de um suposto esquema de corrupção na compra da vacina Covaxin entre o Ministério da Saúde e a empresa Precisa Medicamentos. Na última sexta-feira, o deputado Luis Miranda (DEM-DF) afirmou que o nome citado por Bolsonaro como responsável pelo esquema pela compra com preço superfaturado é o do deputado Ricardo Barros (PP-PR).

Luto e luta pelos 500 mil vitimados pela Covid e pelo descaso e ganância!, por Dora Incontri

 

Choro pelos mais de 500 mil


Forged roses isolated on a white background

Luto e luta pelos 500 mil! Por Dora Incontri

Mais uma vez, a dor é tanta, que só consigo transformá-la em poesia. Pelos que se foram!

Choro os 500 mil
E deploro os que não choram.
Choro a orfandade de quem ficou
E denuncio quem riu.
Choro os entubados, os enterrados
Os enlutados e os desgovernados
E grito contra quem ironiza
Quem vampiriza
Quem não se compadece
De quem padece…

Choro o Brasil vergado
Pela tirania vergastado
Pela soberania ajoelhada
Pela crueldade declarada!

Choro pelo chorinho emudecido
Pelo canto estarrecido
Pela arte ferida
Pelo barateamento da vida!

Choro pela risada calada
Pela fome espalhada
E clamo contra o cinismo deslavado
Contra o empresário acumpliciado
E contra o político acovardado!

Choro pelos que não voltam mais
Choro pela destroçada paz
Dos que não verão mais seus pais
E sacudo os adormecidos
Os que se fazem desentendidos
E defendem seu próprio capataz!

Choro tanto que as lágrimas estão secas
Oro tanto que as preces estão presas
E a morte apenas continua sua ação
Sem medida, sem contenção
Amparada pelos seus defensores
Semeando covas e dores…

Choro pelos mais de 500 mil
Que apenas ao terminar esse poema triste
Já serão outros tantos
A gerar mais prantos…

E berro, me desespero, me enraiveço
Porque as trevas estão no comando
E não há quem pare tanto desmando
E não há quem mostre um novo começo.

Os maus estão fortes
Plantando mortes.
Os bons estão fracos
Chorando seus mortos.

Mas já se agita a nação!
Haja vida que pulse
Haja coração
Que se empunhe e lute!

Das lágrimas façamos um mar
Um tsunami de transformação!
Para não chorarmos mais meio milhão!

Dora Incontri – Graduada em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero. Mestre e doutora em História e Filosofia da Educação pela USP (Universidade de São Paulo). Pós-doutora em Filosofia da Educação pela USP. Coordenadora geral da Associação Brasileira de Pedagogia Espírita e do Pampédia Educação. Diretora da Editora Comenius. Coordena a Universidade Livre Pampédia. Mais de trinta livros publicados com o tema de educação, espiritualidade, filosofia e espiritismo, pela Editora Comenius, Ática, Scipione, entre outros.

Luis Nassif escreve sobre o xadrez dos jogos de poder das elites em torno do impeachment de Bolsonaro (que ajudaram a eleger) visando emplacar um candidato deles (e do golpe de 2016) para 2022

 

  "Nos próximos meses, no embalo das novas formações políticas, visando o pós-bolsonarismo, ficarão mais nítidas as diferenças entre a centro-esquerda progressista e a centro-direita liberal. Ambas tratarão de avançar em discursos sociais. A diferença é que a centro-direita se limitará a demonstrações de bom mocismo, preservando a extraordinária concentração de renda no país, a continuação do desmanche do Estado e a privatização de estatais estratégicas."

Do Jornal GGN:



Dois episódios recentes, fundamentais, ditarão os cenários políticos futuros: as últimas pesquisas, mostrando a probabilidade de Lula ser eleito no 1o turno; o escândalo Biontech-Covaxim, expondo as relações políticas e de negócios entre a família Bolsonaro (representada por Flávio) e o Centrão (representado pelo líder do governo Ricardo Barros.

Entenda.

Peça 1 – a economia, o momento e o futuro

A pesquisa reflete o momento, os desastres continuados de Bolsonaro no combate à pandemia, seus arroubos e a permanência da crise econômica.

Há um conjunto de fatores pela frente, com vistas a 2022, cujos desdobramentos são de difícil aferição:

Recuperação relativa da economia – aumento das commodities, recuperação relativa da ociosidade da indústria poderão melhorar os indicadores de PIB. Por outro lado, permanece o enorme exército de desempregados.

Inflação em alta – a inflação está sendo pressionada pela soma de alta internacional das commodities e desvalorização cambial. Os últimos movimentos, de apreciação do câmbio poderá reduzir um pouco a pressão. Mas a elevação dos preços comprimiu as margens das empresas. Por isso, é pouco provável que a apreciação do câmbio se reflita sobre os preços.

Alta nos juros – a irracionalidade da política de metas inflacionárias levou o Banco Central a promover nova rodada de alta de juros, com impacto na recuperação da economia .

Efeitos da vacinação – em tese, deveria reduzir a incidência do Covid-19. Mas há sinais claros de entrada da terceira onda da pandemia, em um momento em que parcela pequena da população foi completamente vacinada.

Crise energética – a partir do segundo semestre haverá racionamento de energia ou, nos dizeres do governo, racionalização do consumo da energia. Haverá impacto óbvio nas tarifas de luz, impactando o Índice de Preços ao Consumidor Ampliado e, também, o custo de produção das empresas.

Há uma probabilidade menor de recuperação da economia. Mas há que se considerar que qualquer melhoria, por mais discreta que seja, muda relativamente os humores do eleitorado.

Os próximos movimentos políticos se darão em torno desse jogo de dados sobre o potencial eleitoral de Bolsonaro.

Peça 2 – a crise da Bharat Biotech

A sucessão de escândalos em torno da vacina, obrigará as instituições a tomarem posição. Bolsonaro está se tornando insustentável. O que o mantém são apenas os cálculos em relação a 2022, pela dificuldade de se avaliar os desdobramentos do que vier a acontecer.

1. Se Bolsonaro é mantido no cargo, chegará a 2022 como uma ameaça de continuidade. Essa perspectiva reforçará a ideia do pacto em torno de Lula, afastando a viabilidade da terceira via.

Pelo contrário, se Bolsonaro cai, há dois movimentos subsequentes.

2. O primeiro, a tentativa do Partido Militar de se recompor em torno do vice-presidente Hamilton Mourão. Impressiona pelo eventual potencial golpistas, jamais por fôlego político.

3. A segunda, a tentativa de empinar a candidatura de um terceira via, da centro-direita autoritária, com probabilidade de ser Ciro Gomes.

Uma terceira possibilidade – menor – seria o bom senso baixar em um país e se manter a ideia de um pacto mais amplo, ensaiado a partir do encontro de Fernando Henrique Cardoso e Lula.

Peça 3 – as disputas políticas

Nos últimos meses, esvaíram-se os últimos ecos da Lava Jato. Sérgio Moro foi jogado no lixo da história sem choro nem vela. Deltan Dallagnol, que um dia julgou se tornar mais popular que Lula, não provoca comoção nem em seu antigo exército de robôs vingadores. No TRF-3, as últimas eleições afastaram de cargos de comando os principais desembargadores avalistas de Sérgio Moro. No Supremo, Luiz Edson Fachin queda e Luis Roberto Barroso se cala, esboçando alguma ação apenas na defesa do voto eletrônico. Mas o Supremo, como um todo, avança para segurar os esbirros autoritários de Bolsonaro.

Em todo esse movimento, foi mantido incólume a espinha dorsal da corrupção brasileira, o Centrão, a mais espúria força política do período pós-Constituinte. O grupo assumiu postos relevantes no governo FHC, quando houve a crise da energia, no governo Lula, depois do “mensalão”. E, quando extirpado do governo Dilma, promoveu o impeachment. 

Ontem, a CPI confirmou o que o GGN vem antecipando há semanas: o papel do Centrão e do líder do governo, deputado Ricardo Barros (PP-PR) no caso Covaxin-Biotech, talvez o maior escândalo da história da República, devido ao envolvimento direto do presidente da República no episódio.

Leia “O Xadrez de como o jogo das vacinas chegou ao centro da corrupção brasileira”.

O oportunismo da Lava Jato e Sérgio Moro de atuarem como atores políticos, acabou poupando o Centrão, com exceção do breve interregno da prisão de Michel Temer e da condenação de Eduardo Cunha. Nada aconteceu com Eliseu Padilha, Wellington Moreira Franco, Fernando Bezerra, Ricardo Barros.

Agora, o episódio liga o Centrão, articulado por Ricardo Barros, diretamente ao esquema Bolsonaro, representado por seu filho Flávio Bolsonaro. Ontem, a revista Veja mostrou que Flávio teve reunião virtual com o presidente do BNDES para interceder pelos donos da Precisa, a distribuidora de medicamentos por trás do escândalo Covaxim-Biontech.

O episódio pega a centro da corrupção política brasileira, com desdobramentos imprevisíveis. De qualquer modo, acendeu uma luz para iluminar o futuro. Daqui para frente, o desmanche do Centrão entra no foco de qualquer reforma política futura. E será peça central para a disputa em torno do impeachment de Bolsonaro.

Peça 4 – as disputas econômicas

O ponto central, para o pós-Bolsonaro, é a disputa econômica. O extraordinário poder acumulado pelo lobby financeiro levou  à tragédia atual. Valeram-se da crise do governo Dilma para impor o início do desmanche do Estado brasileiro, com a “ponte para o futuro”, a destruição de qualquer veleidade de estado social, com Lei do Teto, reforma da Previdência e reforma trabalhista e os obscuros negócios da privatização. E mantiveram intocado o controle do mercado sobre a política econômica

Nos próximos meses, no embalo das novas formações políticas, visando o pós-bolsonarismo, ficarão mais nítidas as diferenças entre a centro-esquerda progressista e a centro-direita liberal. Ambas tratarão de avançar em discursos sociais. A diferença é que a centro-direita se limitará a demonstrações de bom mocismo, preservando a extraordinária concentração de renda no país, a continuação do desmanche do Estado e a privatização de estatais estratégicas.

Haverá consenso apenas em relação às políticas de saúde, educacional e de renda básica.

Peça 5 – os prováveis atores políticos

O próximo tempo político provavelmente será ocupado por Lula e Ciro Gomes. O restante é perfumaria, Mandetta, Sérgio Moro, Dória, Huck.

Lula é o negociador nato, com todas as vantagens e desvantagens dessa posição. No grande pacto que pretende montar, como ficariam as relações com o mercado? Mudaria as políticas de câmbio e juros? Conseguiria implementar suas bandeiras de desenvolvimento social com as restrições monetárias e fiscais? A necessidade de manter a governabilidade permitiria reconstruir parte do estado social destruído? 

Tem a vantagem de um acervo de experiências bem sucedidas, e de experimentos mal sucedidos – com as lições de como corrigir erros. E, certamente, conseguirá reverter os maiores exageros do período Paulo Guedes, fortalecendo novamente as representações de trabalhadores, da indústria e do setor real.

Mas o grande pacto do passado – PT e PSDB – hoje é apenas simbólico, representado pelo encontro FHC-Lula, depois que o PSDB derivou irremediavelmente para a direita.

Ciro Gomes é um camaleão político de viés autoritário. Com exceção da idoneidade e do melhor preparo intelectual, é parecido com José Serra. Fareja determinadas bandeiras, de nicho ou mais amplas, e incorpora em seu discurso, sem se preocupar muito com a coerência.

Por exemplo, no auge dos abusos da Lava Jato, chegou a afirmar que, se sua casa fosse invadida, como foram as de tantas outras vítimas – inocentes ou não – da Lava Jato, receberia Moro à mala. Agora, vendo a bandeira do punitivismo sem dono, incorpora o moralismo exacerbado da Lava Jato, pretendendo herdar os lavajatistas órfãos.

No início do Real, tornou-se um defensor ultra-radical das políticas de câmbio e juros. Depois, se tornou um crítico visceral da política de câmbio e juros. Nos últimos tempos, de crítico severo de FHC tornou-se admirador.

Percebeu que o desenvolvimentismo estava órfão de candidatos e se aproximou dos principais pensadores. Depois, se tocou que a Terceira Via estava sem candidato e tratou de empinar seu papagaio em direção a ela e ao mercado. E, agora, soma seu caráter bélico a João Santana, marqueteiro especializado em destruir adversários e responsável pelos momentos mais ilegítimos da campanha de Dilma Rousseff e radicaliza um antipetismo anacrônico e iracundo.

O que seria o presidente Ciro? Em relação à economia manteria o desenvolvimentismo ou negociaria com o mercado? Qual seria reação teria se medidas suas fossem contidas pelo Supremo? A única certeza é que, pelo seu temperamento, jamais se abriria para a sociedade civil, movimentos sociais, associações empresariais, corporações públicas, fórum de prefeitos e governadores, já que é dono de convicções mutantes, porém inabaláveis em cada etapa da mudança.

Em suma, mesmo após o pesadelo Bolsonaro, há um longo caminho para a conquista da democracia e do pacto em torno de um projeto de desenvolvimento social.

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The Intercept Brasil: Como os irmãos Miranda colocaram o governo podre e hipócrita de Bolsonaro na berlinda e ressuscitaram a ideia do impeachment

  "É irônico assistir ao governo que prometeu acabar com a corrupção atacando os próprios aliados que denunciam a… corrupção. Luis Miranda não é uma pessoa confiável, mas os fatos apresentados por ele e seu irmão até aqui foram todos comprovados. A tese deles está fartamente documentada, enquanto a de Bolsonaro não é suportada nem por algum mísero indício."

Os fatos apresentados pela dupla são reais. Luis, deputado do DEM, tem potencial para ser o Pedro Collor de Bolsonaro.

Do The Intercept Brasil:

Foto: Najara Araújo/Câmara dos Deputados

Artigo de João Filho

O TEMPERAMENTO MANSO de Marcelo Queiroga deu lugar às grosserias típicas de Bolsonaro ao ser questionado por jornalistas. “Eu falei em que idioma? Eu falei em português. Não foi comprada uma dose sequer da vacina Covaxin”, garantiu o ministro na última quarta-feira. Mas era mentira. No site do Ministério da Saúde, a compra dos imunizantes indianos consta na contagem oficial de mais de 660 milhões de doses adquiridas pelo governo brasileiro. O próprio ministério informou ao Congresso sobre a compra de doses da Covaxin há pelo menos um mês.

O pedido de importação foi feito, mas o pagamento não chegou a ser efetuado porque havia uma pedra no meio do caminho. O servidor concursado do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda, responsável pela área de importação da pasta, se recusou a assinar um recibo que previa o pagamento antecipado pela importação. O valor altíssimo do contrato, o pagamento por antecipação para uma empresa sediada em um paraíso fiscal e as pressões que recebeu para autorizar a compra o levaram a suspeitar de corrupção e reportar os fatos ao Ministério Público Federal e ao presidente da República.

Apesar de estar no Ministério da Saúde antes da gestão Bolsonaro, Luis Ricardo é um bolsonarista legítimo e irmão do deputado bolsonarista Luis Miranda, do Democratas – um velho conhecido desta coluna. Fiéis ao bolsonarismo, o parlamentar e o servidor se encontraram pessoalmente com Jair Bolsonaro para alertá-lo sobre as graves suspeitas que poderiam prejudicar a imagem do governo. O presidente prometeu aos dois que encaminharia o caso à Polícia Federal. O problema é que não há nada que prove que ele tenha feito isso, muito pelo contrário. Tudo indica que não fez. O ex diretor-geral da PF afirmou não se lembrar de qualquer pedido do presidente nesse sentido. Até agora não há nada que comprove que a PF foi acionada por Bolsonaro, o que pode indicar haver crime de prevaricação.

Para piorar a situação, o próprio presidente esteve diretamente envolvido nessa operação obscura, tendo trocado mensagens e telefonado ao primeiro-ministro da Índia — algo que ele não fez em relação à aquisição de outras vacinas, segundo informou o relator Renan Calheiros. O candidato que se elegeu prometendo acabar com a corrupção nada fez diante de um caso de corrupção bem debaixo do seu nariz. Durante a pandemia, Bolsonaro insinuou em vários momentos que governadores e prefeitos desviavam verbas da Saúde. Quando se viu diante de um relato de corrupção, fingiu que não viu.

Luis Ricardo Miranda, servidor de carreira do Ministério da Saúde, diz ter avisado Bolsonaro sobre as pressões que sofreu para liberar a importação da Covaxin.

 

Reprodução/Twitter

A reação agressiva e atabalhoada do Planalto às acusações foi uma assinada de recibo daquelas. O secretário-geral da presidência, Onyx Lorenzoni, anunciou o início de uma caçada investigativa contra os denunciantes do esquema. Usar o poder para perseguir quem denuncia o bolsonarismo já virou um clichê do governo. Como nos esquecer do servidor do Ibama que perdeu o emprego depois de multar Bolsonaro durante uma pesca irregular? Coagir, ameaçar e perseguir não são práticas comuns de governos democráticos, mas a dos milicianos com os quais a família Bolsonaro conviveu amistosamente nas últimas décadas.

O governo insiste no fato de que a compra não foi concluída, o que o absolveria do caso. Mas não é assim que funcionam as leis. Para se configurar crime de corrupção passiva basta que haja a intenção. E, ao contrário das denúncias dos irmãos Miranda, nada do que o governo tem falado é sustentado pelos fatos.

‘Quanto mais se puxa o fio dessa história, mais as digitais da família Bolsonaro e dos militares aparecem nela’.

O caso entrou no radar da CPI da Covid, que ouviu os irmãos Miranda na última sexta-feira, 25 de junho. Lá eles confirmaram as suspeitas de corrupção e apresentaram provas documentais de tudo o que falaram. Ficou comprovado que o governo brasileiro topou pagar um ágio de 1.000% pelas vacinas em relação ao preço estipulado pelo próprio laboratório Bharat Biotech seis meses antes. Diferentemente da compra de todas as outras vacinas, a da Covaxin precisou de um intermediário, a Precisa Medicamentos, uma empresa investigada por suspeitas de corrupção em outras operações de venda de remédios. Foi com uma firma com esse histórico que o governo Bolsonaro tinha pressa em fechar a compra das vacinas.

O servidor relatou ter sido pressionado pelo alto escalão da pasta para assinar uma licença de importação das vacinas que autorizaria um pagamento antecipado de 45 milhões de dólares. O pagamento deveria ser feito para uma outra empresa, a Madison Biotech, que, segundo uma avaliação prévia dos senadores da CPI, trata-se de uma empresa de fachada sediada em Singapura, um paraíso fiscal.

Com auxílio de repórteres daquele país, o Intercept esteve no endereço dessa empresa e conversou com a responsável pelo escritório. Do lado de fora do prédio, não existe nada que indique ser um endereço pertencente a Madison Biotech. Uma mulher que chegou ao local disse não ser a dona da empresa, mas apenas uma “prestadora de serviços”. Ela confirmou o que os senadores da CPI já suspeitavam: a empresa não funciona no local e tudo indica ser de fachada.

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Soma-se a todas essas suspeitas o fato da Covaxin ser a menos eficaz e a mais cara das vacinas disponíveis do mundo. Enquanto o governo boicotava todas as vacinas das outras marcas, estranhamente se empenhava em trazer a Covaxin. A principal justificativa do governo para a demora para a compra das vacinas era o fato delas ainda não terem sido aprovadas pela Anvisa. A vacina indiana também não era, mas mesmo assim o governo demonstrou pressa em importá-la.

Quanto mais se puxa o fio dessa história, mais as digitais da família Bolsonaro e dos militares aparecem nela. Segundo a revista Veja, Flávio Bolsonaro abriu as portas do BNDES para Francisco Maximiano, o dono da Precisa. Maximiano também tem um histórico complicado. Recentemente ele esteve internado no Sírio Libanês, mas foi embora sem pagar, dando um calote de 90 mil reais, segundo o hospital.

A última sexta-feira foi o dia mais frutífero para a CPI e deu novos rumos às investigações. O desespero dos senadores governistas na sessão mostrou que o bolsonarismo sentiu o golpe. O deputado Luis Miranda disse aos senadores que, segundo o presidente, o “rolo”era coisa de um deputado. Temendo represálias, ele disse não se lembrar do nome. Depois de muito pressionado, Miranda cedeu e entregou o nome: Ricardo Barros, do Progressistas do Paraná, o líder do governo na Câmara, um daqueles políticos sempre dispostos a bajular o governo da vez. Um pouco antes, o servidor Luis Ricardo Miranda já havia informado o nome da funcionária que autorizou o pagamento da fatura: Regina Celia Silva Oliveira. Ela foi nomeada por Ricardo Barros em 2018, quando ele ocupava o cargo de ministro da Saúde. As peças vão se encaixando.

É irônico assistir ao governo que prometeu acabar com a corrupção atacando os próprios aliados que denunciam a… corrupção. Luis Miranda não é uma pessoa confiável, mas os fatos apresentados por ele e seu irmão até aqui foram todos comprovados. A tese deles está fartamente documentada, enquanto a de Bolsonaro não é suportada nem por algum mísero indício.

Luis Miranda parece ter gostado de encarnar esse personagem de bolsonarista justiceiro que não teme denunciar aliados para salvar o Brasil da corrupção. Tem dado longas entrevistas, diz não ter medo das ameaças do governo, e apareceu para depor na CPI vestindo um colete à prova de balas e com uma bíblia na mão. É um personagem que tem tudo para ser o Pedro Collor de Bolsonaro. O senador tucano Tasso Jereissati afirmou que o caso tem potencial para o impeachment do presidente. O governo tem uma grande base de apoiadores, não será uma tarefa fácil. Mas os governistas nunca estiveram tão acuados como agora. O impeachment ainda é uma possibilidade remota, mas foi colocada em cima da mesa.

 

sexta-feira, 25 de junho de 2021

Vídeo análise de Bob Fernandes: Bolsonaro é acusado de silenciar sobre corrupção em contrato de compra da vacina Covaxin

 

Do Canal do analista político Bob Fernandes:



CRÉDITOS Direção Geral: Bob Fernandes Direção Executiva: Antonio Prada Produção: Daniel Yazbek Edição: Yuri Rosat Arte e Vinhetas: Lorota Música de abertura e encerramento: Gabriel Edé Este vídeo é uma produção do canal de Bob Fernandes. Vídeos novos todas terças e quintas, sempre, e demais postagens a qualquer momento necessário.



GGN: Está cada vez mais difícil descolar a cumplicidade e ação dos militares no Covaxingate de Bolsonaro

 Deputado Miranda tenta eximir Pazuello, mas seus subordinados militares foram os "centralizadores" da compra superfaturada (ou seja, com corrupção) de vacinas menos testadas que as da Pfizer, Astrazeneca-Oxford Fiocruz, Butantan e outras, mas mais cara e menos usada que estas

Do Jornal GGN:


Foto: Agência Brasil

Jornal GGN – O deputado federal Luis Miranda (DEM) concedeu uma entrevista bombástica à CNN Brasil na quarta-feira (23), falando sobre o Covaxingate – a escandalosa compra bilionária da vacina Covaxin pelo Ministério da Saúde, com vários indícios fortes de corrupção e participação direta do Presidente da República.

Quem assistiu, viu Miranda transitar entre a motivação pessoal para por a boca no trombone – já que seu irmão é o servidor o Ministério que foi pressionado para acelerar a importação das vacinas superfaturadas em 1000% – e a tentativa de eximir o general Eduardo Pazuello de culpa, ao mesmo tempo em que dava o benefício da dúvida a Jair Bolsonaro.

Disse o deputado Miranda que ao tomar conhecimento de cheiro de corrupção na compra das vacinas, levou o irmão servidor a Jair Bolsonaro em 20 de fevereiro. Bolsonaro viu os documentos e se convenceu de que havia mesmo algo de “muito estranho” no ar, e prometeu acionar a Polícia Federal. Não há nenhuma evidência de que Bolsonaro não tenha prevaricado na questão. A Polícia Federal não tem registro oficial de inquérito sobre o tema.

Pelo contrário, cinco dias após o encontro sigiloso, o Ministério anunciou à imprensa o contrato para 20 milhões de doses da Covaxin, que chegaria a partir de março, mesmo sem autorização da Anvisa para ser inoculada na população. Antes disso, aliás, o próprio Bolsonaro – que rejeitou a Pfizer e a Coronavac em 2020, com argumentos que não param em pé – despendeu esforços junto ao primeiro-ministro indiano para concretizar as negociações o quanto antes.

Em torno daqueles dias em que a vacina foi anunciada, segundo Miranda, Pazuello caiu do Ministério da Saúde. Não antes de tomar conhecimento do Covaxingate, pela boca do próprio deputado. Miranda afirma que foi dentro de um avião que iria receber outras vacinas em São Paulo, que ele revelou ao então ministro as suspeitas em torno da compra da vacina mais cara que o governo Bolsonaro já contratou, e no menor espaço de tempo, e a única com uma empresa atravessadora que exigiu pagamento antecipado para uma vacina que sequer tinha aval para ser inoculada nos brasileiros.

Segundo Miranda, Pazuello fez uma cara inesquecível de “decepcionado”, como quem admitia que o governo Bolsonaro não conseguiu manter a retidão moral que tanto pregou e continua pregando desde a campanha. Pazuello teria insinuado que já tinha consciência disso e que este, aliás, seria o motivo de sua “expulsão” do Ministério. Miranda tratou Pazuello como um herói que não conseguiu lutar contra interesses empresariais corruptos e por isso foi sacado da cadeira de ministro.

Menos de 24 horas depois de Miranda narrar essa história em rede nacional, o Estadão publica reportagem explicando que o irmão servidor estava na ponta da contratação da Covaxin, no setor que assina a nota fiscal e acompanha a importação. Mas quem negociou mesmo os contratos suspeitos foram militares subordinados a Pazuello.

Braço-direito de Pazuello, Élcio Franco, ex-secretário-executivo do Ministério, mandou uma carta a 16 secretarias e diretorias da Pasta avisando que ele concentraria todas as tratativas referentes a compra de vacinas. Isso aconteceu menos de um mês do contrato com a Covaxin ser anunciado pelo Ministério da Saúde. Hoje, o atual ministro, Marcelo Queiroga, acossado pelo escândalo, diz que o governo não comprou nenhuma dose da Covaxin. Uma contradição, já que a imprensa noticiou que Queiroga estuda uma forma de cancelar o contrato urgentemente.

Além de Élcio Franco, Luis Ricardo Miranda, o irmão do deputado Miranda e servidor concursado do Ministério da Saúde, disse às autoridades que sofreu pressão fora do comum para acelerar a importação da Convaxin por parte de outros dois militares: o coronel Marcelo Pires, ex-diretor de Programa do Ministério e o tenente-coronel Alex Lial Marinho, ex-coordenador-geral de Aquisições de Insumos Estratégicos para Saúde. Eles foram nomeados por Pazuello e exonerados quando Queiroga assumiu a Pasta, assim como aconteceu com Franco. Hoje, Franco é investigado oficialmente pela CPI da Covid no Senado.

Questionado pela CNN sobre o motivo de Pazuello ter escondido todas essas informações da CPI, em seu depoimento no começo de junho, Miranda passou o pano para o general de novo: disse que Pazuello tem “amor à própria vida e à República, porque um caso deste abala todas as estruturas”.

Se Miranda está certo, no mínimo, os militares do governo sabiam de coisas que preferiram empurrar para debaixo do tapete.

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quarta-feira, 23 de junho de 2021

Governo Bolsonaro-militares superfatura compra de vacina indiana Covaxin da Bharat Biotech em mais de 1.000%, bem mais cara entre as demais vacinas e comprada sem aval da Anvisa e por intermédio de uma empresa privada, o que constitui corrupção

 

Escândalo de corrupção pode fragilizar ainda mais o governo, no momento em que Jair Bolsonaro (apoiado por gente tão baixa quanto ele) mostra total descontrole emocional

(Foto: ABr)

247 – No momento em que Jair Bolsonaro demonstra total descontrole emocional, um escândalo de corrupção na compra de vacinas pode fragilizar ainda mais o seu desastroso governo. "Documentos do Ministério das Relações Exteriores mostram que o governo comprou a vacina indiana Covaxin por um preço 1.000% maior do que, seis meses antes, era anunciado pela própria fabricante. 

Telegrama sigiloso da embaixada brasileira em Nova Délhi de agosto do ano passado informava que o imunizante produzido pela Bharat Biotech tinha o preço estimado em 100 rúpias (US$ 1,34 a dose). 

Em dezembro, outro comunicado diplomático dizia que o produto fabricado na Índia 'custaria menos do que uma garrafa de água'. Em fevereiro deste ano, o Ministério da Saúde pagou US$ 15 por unidade (R$ 80,70, na cotação da época) – a mais cara das seis vacinas compradas até agora", aponta reportagem de Julia Affonso, publicada no jornal Estado de S. Paulo.

"A ordem para a aquisição da vacina partiu pessoalmente do presidente Jair Bolsonaro. A negociação durou cerca de três meses, um prazo bem mais curto que o de outros acordos. No caso da Pfizer, foram quase onze meses, período em qual o preço oferecido não se alterou (US$ 10 por dose). Mesmo mais barato que a vacina indiana, o custo do produto da farmacêutica americana foi usado como argumento pelo governo Bolsonaro para atrasar a contratação, só fechada em março deste ano", aponta a repórter.

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