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sexta-feira, 30 de abril de 2021

Polícia Federal, agora aparelhada pela extrema direita, intima Sônia Guajajara por críticas à política indigenista do governo Jair Bolsonaro

 

PF intimou a líder indígena e coordenadora executiva da Apib, Sônia Guajajara, no âmbito de um inquérito sobre difamação aberto a pedido da Funai. Segundo a Apib, a intimação visa criminalizar o movimento indígena através de uma perseguição política e racista promovida pelo governo Jair Bolsonaro

Coordenadora Executiva da Articulação dos Povos indígenas do Brasil (Apib), Sonia Guajajara

Coordenadora Executiva da Articulação dos Povos indígenas do Brasil (Apib), Sonia Guajajara (Foto: Jane de Araújo


247A Polícia Federal intimou a líder indígena e coordenadora executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Sônia Guajajara, no âmbito de um inquérito sobre difamação aberto a pedido da Fundação Nacional do Índio (Funai). Para a Apib, a intimação tenta criminalizar o movimento indígena através de uma perseguição política e racista por parte do governo Jair Bolsonaro. A intimação foi feita no último dia 26 de abril.

Na ação, a Funai acusa Sônia Guajajara de fazer acusações difamatórias contra o governo federal na série Maracá", exibida pela internet no ano passado, que abordava os direitos dos povos indígenas e as violações contra os povos durante a pandemia da Covid-19. 

"Os discursos carregados de racismo e ódio do governo estimulam violações contra nossas comunidades e paralisa as ações do Estado que deveriam promover assistência, proteção e garantias de direitos. E agora, o governo busca intimidar os povos indígenas em uma nítida tentativa de cercear nossa liberdade de expressão, que é a ferramenta mais importante para denunciar as violações de direitos humanos. Atualmente mais da metade dos povos indígenas foram diretamente atingidos pela Covid-19, com mais de 53 mil casos confirmados e 1059 mortos", disse a Apib em nota, de acordo com reportagem do jornal O Globo

No texto, a Apib critica diretamente a Funai e ressalta que o Supremo Tribunal Federal (STF) já reconheceu as denúncias feitas pela entidade contra a política indigenista do governo Bolsonaro. “O órgão cuja missão institucional é proteger e promover os direitos dos povos do Brasil acusa a Apib de difamar o Governo Federal com a web-série “Maracá”, que denuncia violações de direitos cometidas contra os povos indígenas no contexto da pandemia da Covid-19. Denúncias essas que já foram reconhecidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) através da ADPF 709", diz a Apib. 

"Não irão prender nossos corpos e jamais calarão nossas vozes. Seguiremos lutando pela defesa dos direitos fundamentais dos povos indígenas e pela vida!", finaliza a Apib. 

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quinta-feira, 29 de abril de 2021

Com uma mídia venal e golpísta e uma elite reativa e vampira que abre espaços para um Bolsonaro, tem-se a prova de que o Brasil se tornou uma idiocracia?, por Jean D. Soares

 


O Brasil se tornou uma idiocracia?

por Jean D. Soares

Em 2006, um bem humorado diretor estadunidense lançou Idiocracia ou Terra de idiotas, uma distopia que conta a história de um experimento militar de hibernação que dá errado. Graças a esse erro, 500 anos depois, um dos militares hibernados, um bibliotecário do exército sem nenhuma relevância para a Força, acorda do experimento esquecido. Nesse período, os humanos inteligentes optaram por não ter filhos, os menos inteligentes reproduziam-se indiscriminadamente e as gerações mostraram-se cada vez mais burras. Graças a um acidente, esse bibliotecário comum irá despertar em meio a uma população estúpida, anti-intelectual e alienada. O bibliotecário tido como criminoso por não ter registros acaba, por um conjunto de peripécias, como um político renomado responsável por supostamente resgatar o mundo de uma grave crise agrária e econômica.

Evidentemente esse roteiro não coincide com o da atual política brasileira, mas nos dá o que pensar. Isso porque qualquer um que repare nas tomadas de decisão de uma figura secundária do Exército que foi alçada a posição máxima da república, irá notar o quanto ações estúpidas de um idiota passaram a ter um índice de aprovação considerável, ainda que cada vez mais em xeque, por uma parcela relevante – e por vezes instruída – da população. Não estamos numa idiocracia, de certo, mas estamos diante de uma grave crise econômica e de saúde pública, para não falar na regressão das políticas em áreas cruciais como a ciência, a educação, a agricultura, o meio ambiente. E as batalhas de comunicação travadas pelo governo muitas vezes são vencidas apelando para o que há de pior e mais vil: desvios para falas desconexas, ofensivas ou debochadas. Ainda que creditemos essa vontade de regressão aos setores historicamente retrógrados, devemos nos prevenir de nos consolar com o ato de encontrar culpados. Julgar só não resolve. Para não sucumbirmos à ameaça de nos transformarmos num grande experimento militar de longa duração, será preciso rever o país a sério, desmobilizar a militarização da política em curso, encontrar inteligências capazes de fazer pactos que protejam as pessoas e o país de interesses idiocráticos. Será preciso fazer política a sério e institucionalmente para além dos interesses pessoais.

Idiocráticos são os que acreditam que quanto pior, mais fácil de governar; quanto menos CPFs, mais barata a mão de obra. quanto menos dignidade, mais gente implorará pelo que comer. Eles ofendem qualquer cidadão que defenda um regime democrático. Precisamos reunir as inteligências disponíveis para construir um país capaz de se blindar de vez dessas aventuras idiocráticas, numa revisão semelhante àquela feita após a Segunda Guerra Mundial em países que sofreram com os assombros do autoritarismo. Será necessária a coragem de rever nosso passado recente, de planejar um futuro audacioso e de agir no presente com generosidade, racionalidade e precisão para que essas figuras assombrosas e hibernadas não retornem de seus experimentos querendo se fazer soar como o messias democrático da vez.

Jean D. Soares é doutor em filosofia e desenvolve projetos de convivência em espaços públicos.

Este artigo não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

segunda-feira, 26 de abril de 2021

Xadrez dos tempos incertos na expressão das falhas do neoliberalismo na pandemia e da busca do antibolsonarismo, por Luis Nassif

 

"A mídia passou dez anos plantando ódio, surfando na exploração dos sentimentos bizarros da opinião pública, em movimento emulado de Rupert Murdoch. A brasa acesa explodiu no “mensalão”, mas refluiu nos anos seguintes, graças a habilidade de Lula em enfrentar a crise de 2008. Voltou com a Lava Jato, resultando no impeachment devido à extensão do golpe – juntando mídia, Supremo, lobistas, influencia externa -, à incapacidade de Dilma Rousseff em enfrentar a conspiração e à grande participação do Supremo – com o companheiro Gilmar Mendes impedindo a posse de Lula como Ministro de Dilma." - Luis Nassif



Ontem, em uma live privada, o ex-embaixador Marcos Azambuja sintetizou os tempos atuais em dois movimentos: a complexidade e a rapidez. Em outros tempos, tudo era muito mais simples e lento. Havia tempo para a correção dos erros. E havia filtros nas informações.

Foi uma live instigante com um sábio. Azambuja tem amplo conhecimento que vai além da visão geopolítica.

Pego esses pontos que ele apontou e acrescento análises pessoais. Vamos trabalhar em cima desses conceitos para montarmos o nosso xadrez.

Peça 1 – rapidez

A Internet não apenas ampliou o universo de informações. Tornou muito mais rápida a disseminação das informações e, consequentemente o conjunto de eventos deflagrados pela sua circulação. Ou seja, acelerou a história.

Esse é um ponto relevante, que aponto há anos aqui.

Confira-se o marketing montado para Joao Dória Jr., emulando Donald Trump. Em pouco tempo tornou-se conhecido. E em tempo ainda mais rápido, sua imagem cansou. Foi eleito governador devido ao antipetismo, mas não venceu na capital – onde o grau de conhecimento sobre ele era maior.

Esse ponto é essencial para analisar o mundo contemporâneo. Não apenas há rapidez na construção e desconstrução de imagens de pessoas, mas também das ondas da opinião pública. Qualquer cochilo e as ondas se invertem.

A mídia passou dez anos plantando ódio, surfando na exploração dos sentimentos bizarros da opinião pública, em movimento emulado de Rupert Murdoch. A brasa acesa explodiu no “mensalão”, mas refluiu nos anos seguintes, graças a habilidade de Lula em enfrentar a crise de 2008. Voltou com a Lava Jato, resultando no impeachment devido à extensão do golpe – juntando mídia, Supremo, lobistas, influencia externa -, à incapacidade de Dilma Rousseff em enfrentar a conspiração e à grande participação do Supremo – com o companheiro Gilmar Mendes impedindo a posse de Lula como Ministro de Dilma.

Esse movimento de ódio e de subversão das leis e dos conceitos atingiu o ápice com o bolsonarismo.

Menos de cinco anos depois, inverte-se o ciclo, a Lava Jato murchou e há uma multidão de cultivadores do ódio pulando rapidamente do barco que afunda e tornando-se, para as câmeras, liberais desde criancinha.

Quem não entendeu, ficou de calças na mão. É significativo o discurso constrangedor do Ministro Luis Roberto Barroso, na seção do Supremo Tribunal Federal que consumou a condenação do ex-juiz Sérgio Moro. Repetiu a cantilena que era homem bom, só fazia o certo, e quem condena os “pecadilhos” da Lava Jato é a favor da corrupção. Os mesmos bordões que, em outros tempos, garantiram a popularidade do candidato a líder da patuleia jurídica soaram como o sujeito que entra em um missa de corpo presente de bermudas.

Repare a rapidez na alternância de visões tão radicalmente opostas: Moro, de herói a vilão; Barroso, de iluminista que ouvia a voz do povo, a exibicionista que tenta por todos os caminhos ser ouvido pelo povo. Arrisca-se a perder popularidade até entre seu público preferencial – a ralé do judiciário (por tal, entendam-se os magistrados com menor grau de informação).

Peça 2 – a complexidade

Um levantamento rápido dos fatores que determinam essas mudanças de onda mostrará o fator complexidade.

De um lado, os ventos internacionais, desde aqueles de ciclo mais longo – a desmoralização do ultraliberalismo no mundo -, até os imprevistos – a derrota de Donald Trump devido aos efeitos da pandemia. Mais ainda, depois de séculos o pêndulo do poder mundial retorna para o Oriente e o Brasil torna-se dependente de fornecedores de vacina. No meio do caminho, ocorre uma ampla desorganização do mercado de informações permitindo o advento da ultradireita, montada sobre algoritmos e Fakenews.

Logo depois, uma pandemia acelera o fim do ultraliberalismo, estimula os conceitos de   cooperação, de solidariedade, recupera a relevância dos Estados nacionais e das políticas públicas.

O que parecia interminável – a era do neoliberalismo – esgotou-se à medida em que a pandemia espalhava a pobreza e ao mesmo tempo ampliava a riqueza dos bilionários, bem como expunha o risco das disrupções políticas, devido à superexploração dos trabalhadores. Especialmente, consolidou a noção clara de que o combate ao inimigo dependeu substancialmente dos Estados nacionais e da municipalidade.

No Brasil, ocorreu a o mesmo processo complexo. Primeiro, valeram-se das ondas subterrâneas para tirar Lula das eleições. Sobe Bolsonaro espalhando ódio e destruição.

Em um mundo chacoalhado pelas incertezas, há um fator tipicamente nativo: a falta de caráter institucional dos homens públicos, mídia, juízes e políticos. São capazes de caminhar do radicalismo mais odiento para se tornarem humanistas e legalistas desde criancinhas, ficando prontos para retornar ao ninho original se as circunstâncias mudarem.

Agora, dependem de Lula para tirar Bolsonaro. E o STF vai se curvando às ondas, como um bambu ao vento. Se amanhã cair Bolsonaro, muda novamente o quadro e se tentará repetir o modelo do delenda Lula.

Além disso, a rapidez com que se criam e se destroem nomes, somadas ao desmonte do sistema partidário, criaram a ilusão dos robôs políticos, criados por algoritmos. Vale para o animador de auditório, para o ex-Ministro que destruiu o programa Mais Médicos, mas que resistiu a Bolsonaro, para o presidente do Senado de fala bonita e vazia, para o governador que trouxe vacinas, para o outro governador, que é mais educado.

Ao mesmo tempo, os movimentos das marés erodiram os principais sustentáculos institucionais: um STF que se rendeu ao exibicionismo e a imprevisibilidade dos julgamentos; uma mídia que se desmoralizou agindo como partido político; um Congresso que foi invadido por hordas de bárbaros plantados pela ação deletéria anterior do grande pacto da direita contra o PT, com o Supremo, mídia e Lava Jato.

O reinado da ultradireita no poder desgastou-se rapidamente. Em pouco tempo foi destruída a imagem dos principais agentes da nova desordem, Bolsonaro e os militares, atropelados pela pandemia e pela incapacidade de definir políticas públicas minimamente eficientes.

O grau de imprevisibilidade pode ser medido por questões objetivas.

O que teria acontecido com o governo Bolsonaro se houvesse Ministros competentes na área econômica e de saúde, e o presidente fosse um pouco mais esperto, para não embarcar no negacionismo?

Peça 3 – as forças determinantes

Nessa quadra da história, pode-se identificar alguns fatores relevantes, mas é impossível definir o desfecho.

A pandemia trouxe para primeiro plano conceitos que foram soterrados nos anos de predomínio do ultra liberalismo as elites. E trouxe à tona as fragilidades da socialdemocracia. Ao se curvar ao pensamento econômico hegemônico do liberalismo, a socialdemocracia cometeu inúmeras concessões, que acabaram comprometendo seu papel como alternativa de poder – abrindo espaço para a ultradireita.

Em artigo recente, Paul Krugman aponta as fragilidades do governo Obama com semelhanças inevitáveis com o período Lula-Dilma.

Obama começou seu governo com altos índices de aprovação pessoal, mas não conseguiu apoio público para suas políticas.  Nem mesmo para o Obamacare, o programa que instituiu um mínimo de dignidade nas políticas de saúde do país obteve boa aceitação.  Agora, as políticas de pleno emprego de Biden obtêm aceitação inédita, inclusive nas manifestações dos republicanos nas redes sociais.

O mesmo ocorreu com as políticas públicas dos governos petistas. Quando começou o desmonte, com exceção da educação, houve poucas manifestações de apoio, ou o entendimento de que se tratavam de direitos que estavam sendo retirados.

Ajudaram no fortalecimento da imagem de Biden a ideia de que apenas um conservador branco poderia vencer um novo New Deal, diz Krugman. E também a desmoralização do Partido Republicano quando embarcou na nau da ultradireita.

Mas o fator principal foram as mudanças trazidas pela pandemia. Apoiar os pobres e desempregados deixou de ser visto como pecado fiscal.

O diagnóstico de Krugman sobre Obama é semelhante ao do período Lula:

“Uma coisa impressionante sobre os anos de Obama, em retrospecto, foi a deferência dos democratas para com as pessoas que não compartilhavam de seus objetivos. O governo Obama cedeu aos banqueiros que advertiram que qualquer coisa que soasse populista minaria a confiança e às repreensões do déficit exigindo austeridade fiscal”.

“E junto com essa deferência vinha a timidez, uma relutância em fazer coisas simples e populares, como dar dinheiro às pessoas e tributar corporações. Em vez disso, a equipe de Obama tendeu a favorecer políticas sutis que a maioria dos americanos nem percebeu”.

Agora a deferência se foi. Wall Street claramente tem muito menos influência desta vez. Os consultores econômicos de Biden evidentemente acreditam que, se você construir uma economia melhor, a confiança cuidará de si mesma. (…)

E a velha timidez evaporou. Biden não está apenas crescendo, ele está ficando óbvio, com políticas altamente visíveis em vez de cutucões comportamentais. Além disso, essas políticas diretas envolvem fazer coisas populares. Por exemplo, os eleitores sempre disseram aos pesquisadores que as empresas pagam muito pouco em impostos. A equipe de Biden, estimulada pelo fracasso do corte de impostos de Trump , está disposta a dar ao público o que ele deseja”.

Cria-se, então, para um governo pós-Bolsonaro, as mesmas condições que, até agora, beneficiam Biden: uma recuperação estrondosa da economia, alimentada pelos gastos públicos, ajudando na consolidação das outras políticas.

Peça 4 – as peças do jogo Brasil

As seguintes ondas estão em crescimento no momento, não se podendo garantir que serão permanentes.

A Covid e o pós-guerra – desde o século 19 tem sido assim. O enorme poder do financismo dos bancos impõe uma ampla desregulação nas economias nacionais, em cima de teorias não comprovadas – a de que, beneficiando o capital, haveria um transbordamento dos países centrais para os periféricos, universalizando o crescimento econômico. O resultado é um aumento amplo das desigualdades, um desapontamento fatal com as democracias, resultando em radicalizações e guerras. Segue-se um grande conflito – no passado, a 2ª Guerra – que recoloca o bom senso nas políticas públicas e na cooperação internacional.

É possível que, nesses tempos cibernéticos, a 2ª Guerra tenha sido a luta contra o Covid-19. As tragédias humanitárias ajudaram a despertar sentimentos de solidariedade, retorno aos princípios humanistas. Vários dogmas econômicos estão sendo superados nos grandes centros, com reflexos sobre nós, da periferia. Obviamente é um movimento incipiente, que tem como grande obstáculo a subordinação quase total dos grupos de mídia aos interesses imediatos do capital financeiro.

Esse movimento tem o seguinte impacto sobre as políticas públicas:

Economia – Paulo Guedes se incumbiu de enterrar os últimos trunfos do ultra liberalismo pós-Temer. É incapaz de desenvolver políticas anticíclicas, foi incapaz de atuar sobre a pressão setorial de preços, não moveu uma palha para enfrentar a quebra de fornecimento de diversas cadeias produtivas. Preocupa-se exclusivamente com o negócio das privatizações. A pandemia escancarou a necessidade da recuperação das políticas públicas e do papel do Estado.

Federalismo – há um questionamento incipiente, mas consistente, de políticas públicas que afetam o país e que são montadas exclusivamente sob a ótica da Faria Lima. Haverá um fortalecimento das políticas estaduais e municipais.

Políticas sociais – há dois grupos abraçando políticas sociais inclusivas. De um lado, a esquerda lulista, com seu acervo de políticas públicas bem sucedidas. De outro, um bom mocismo que emerge de uma, digamos, direita 'progressista'. Ambos os lados defendem a inclusão, a redução das desigualdades, o fim dos preconceitos, a melhoria da educação. O que os diferencia é que a chamada direita progressista não admite o pobre no orçamento. É diferença relevante.

Presidenciáveis – só existem dois presidenciáveis de peso, Lula e Bolsonaro, e as respectivas contrapartes, o antilulismo e o antibolsonarismo. A sociopatia explícita de Bolsonaro tornou o antibolsonarismo o vetor mais relevante do atual momento político. Por outro lado, nem com algoritmos envenenados se conseguirá turbinar os diversos políticos nomeados “presidenciáveis” pela mídia.

Bolsonaro – por outro lado, Bolsonaro continua sendo o sujeito previsível de sempre. Acuado, parte para o ataque, ora brandindo ameaça de intervenção das Forças Armadas, mas utilizando corriqueiramente instrumentos do Estado para ameaçar opositores. A CPI da Covid levará a atuação política ao ponto de fervura, onde tudo é possível: Bolsonaro se arrastando até 2022; Bolsonaro tentando o golpe e sendo deposto; instauração do terrorismo no país, com os grupos bolsonaristas armados. Ainda mais agora, que a Polícia Civil e o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro mostraram as ligações diretas do Escritório do Crime com o próprio presidente da República – de acordo com reportagens do The Intercept.

Ao mesmo tempo, a revista Veja – controlada pelo Banco BTG Pactual – faz um levantamento das privatizações em curso, por Paulo Guedes, e a mídia corporativa se cala sobre as revelações das ligações Bolsonaro-milícias. Os negócios da privatização continuam sendo o maior fator de blindagem de Bolsonaro.

Aí entra a complexidade dos tempos atuais.

  1. Com Bolsonaro no jogo, a candidatura de Lula será um superimã, atraindo as limalhas da esquerda à direita
  2. Assim como Biden em relação a Trump, Lula 2 terá muito mais condições que Lula 1 de implementar políticas fiscais, sociais e de gastos públicos, que rompam definitivamente com o ultra liberalismo pós-Temer.
  3. Por outro lado, a estratégia de Lula será alargar o arco de alianças, atraindo setores do centro e do centro-direita e parte do empresariado industrial. O que significará abrandar políticas necessárias para romper com o passado ultraliberal.

Com a velocidade dos fatos, 2022 ficou mais distante. Ou seja, daqui até lá muita água irá correr antes das águas encontrarem o caminho dos rios.

De qualquer modo, nos próximos anos haverá um jogo mundial, similar ao do pós-guerra, visando a reconstrução da civilização perdida. Lula poderá ter papel decisivo nesse reconstrução, desde que ultrapasse os obstáculos ao anti-lulismo no país.

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domingo, 25 de abril de 2021

Vídeo do Meteoro Brasil: A máfia das Milícias, o Escritório do Crime de Adriano MAgaçhãs da Nóbrega e o envoivlmento do "Homem da Casa de Vidro"


 Vídeo do Canal Meteoro Brasil:

Uma nova reportagem do The Intercept mostra que o homem que escondeu o miliciano Adriano da Nóbrega nas semanas que antecederam ao seu assassinato pode ter tido acesso ao presidente da república. Em gravações, os criminosos se referem a Bolsonaro como "o cara da casa de vidro".


sexta-feira, 23 de abril de 2021

Um dia após a Cúpula do Clima - onde mentiu ao dizer que duplicou recursos para "ações de fiscalização" -, Bolsonaro corta R$ 240 milhões do Meio Ambiente

 

Depois de dizer que determinou a duplicação de recursos para "ações de fiscalização" contra o desmatamento, Bolsonaro sancionou o Orçamento de 2021 cortando verba da pasta do Meio Ambiente

Jair Bolsonaro e queimadas na Amazônia

Jair Bolsonaro e queimadas na Amazônia (Foto: Reuters)

247Um dia após discursar na Cúpula do Clima e prometer reduzir drasticamente o desmatamento no Brasil e as emissões de carbono, Jair Bolsonaro cortou recursos para a área ambiental nesta sexta-feira (23).

Setores responsáveis pelo combate à mudança climática e pelo controle de incêndios florestais terão, agora, menos recursos. Desta forma, o fomento a projetos de conservação do meio ambiente foi reduzido. A medida contraria uma das alegações feitas por Bolsonaro perante os líderes mundiais nesta quinta-feira (22): "determinei o fortalecimento dos órgãos ambientais, duplicando recursos para ações de fiscalização".

Interlocutores de Bolsonaro, segundo relata a Folha de S. Paulo, não esperavam o corte de verbas, e sim o aumento de recursos para a fiscalização ambiental em torno de R$ 115 milhões.

O corte foi determinado por Bolsonaro no ato da sanção do Orçamento de 2021. O ocupante do Palácio do Planalto cortou quase R$ 240 milhões da pasta do Meio Ambiente.

Integrantes da área econômica do governo Bolsonaro disseram que, até o momento, não foi apresentada nenhuma proposta para aumentar os recursos para a área ambiental. Quando, e se, um projeto do tipo for colocado em pauta, de acordo com o grupo, terá de ser discutido de onde tirar dinheiro para enviar à preservação ambiental.

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Depois de mentir na cúpula do clima, Bolsonaro na live rejeita críticas e volta a agir como mendigo perante a comunidade internacional

 

Em live semanal, Bolsonaro e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, voltaram a pedir dinheiro para enfrentar problema ambiental no Brasil preservação do ambiente

(Foto: divulgação)

247Jair Bolsonaro  disse em sua live desta quinta-feira (22) que as críticas feitas ao seu governo não se justificam e, ao lado do ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente), voltou a pedir recursos estrangeiros para a preservação ambiental.

Bolsonaro resolveu atacar outros países ao invés de admitir os graves problemas ambientais no Brasil e a devastação da Amazônia e do Pantanal durante seu  governo. 

"Não [se] justifica essa crítica absurda contra o Brasil. Está na cara que no fundo eu acho que [é] uma questão econômica que está em jogo", afirmou Bolsonaro, reforçando o discurso de seu governo de que as cobranças para que o Brasil seja um país menos poluente partem de interesses econômicos de outros países, que querem limitar a concorrência, especialmente no agronegócio, aponta reportagem da Folha de S.Paulo.

Ricardo Salles disse que, para que as metas anunciadas mais cedo por Bolsonaro sejam cumpridas, é preciso ajuda externa. A expectativa do governo brasileiro é receber US$ 1 bilhão.

"O primeiro passo que todas essas pessoas, empresas, governos etc que se dizem preocupados com a Amazônia podem fazer é avançar com recursos pra que a gente, imediatamente, passe a atuar tanto no campo do comando controle [operações de fiscalização], de maneira bastante efetiva, quanto na parte de ajuda às pessoas, econômica. Se vier ajuda, a gente vai fazer muito. Se não vier ajuda, nós vamos fazer com o nosso orçamento, que o presidente já reforçou que vai dobrar", disse Salles.

O governo Bolsonaro estima, segundo interlocutores, que o aumento de recursos para a fiscalização ambiental —anunciada nesta quinta pelo presidente brasileiro na Cúpula do Clima— ficará em torno de R$ 115 milhões. Os recursos devem ser utilizados, entre outras finalidades, para custear o emprego da Força Nacional nas ações de combate ao desmatamento —proposta criticada por ambientalistas.​

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Luis Nassif Nassif entrevista o ministro do STF Gilmar Mendes com foco, entre outros temas, nos abusos da Lava Jato e na pressão de extremistas de direita contra a Democracia. Programa da TV GGN

 



Do Canal TV GGN:

"No Brasil, quase tivemos uma ditadura que não vinha do Executivo, mas vinha desse grupelho (da Lava Jato)! De gente que não sabia nem falar 'conjuge', mas era um risco para a democracia."

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, é o entrevistado de Luis Nassif na TVGGN. Em pauta: a pressão permanente da mídia sobre os ministros do Supremo Tribunal Federal; as ameaças à democracia e aprendizado institucional deixados pela operação Lava Jato; o papel do STF na crise sanitária e muito mais. APOIE O JORNALISMO DO GGN: PIX: administrativo@jornalggn.com.br SEJA MEMBRO DO CANAL: www.youtube.com/tvggn​​ APOIE VIA CATARSE: www.catarse.me/jornalggn

The New York Times diz que Bolsonaro não pode ser levado a sério na questão ambiental

 

Em artigo de destaque na cobertura do jornal para a Conferência do clima, NYT analisa a aparente virada do governo Bolsonaro no tema ambiental: “A reviravolta e a demanda por dinheiro à vista foram recebidas com ceticismo entre diplomatas estrangeiros no Brasil e ambientalistas”

(Foto: ABr | Reuters)

247 - Em reportagem de destaque na cobertura preparatória para a Conferência do Clima, o New York Times sentencia no título: “Promessa de Bolsonaro de proteger a Amazônia é recebida com ceticismo”. O texto é assinado pelos jornalistas Manuela Andreoni e Ernesto Londoño.

Na reportagem, os jornalistas constatam: “A reviravolta e a demanda por dinheiro à vista foram recebidas com ceticismo entre diplomatas estrangeiros no Brasil e ambientalistas, que argumentam que o único déficit real do Brasil é de vontade política.”

Leia a íntegra da reportagem do NYT (aqui na versão original):

Enquanto o governo Biden reúne a comunidade internacional para conter o aquecimento global em uma cúpula sobre mudança climática nesta semana, o Brasil se compromete a desempenhar um papel crítico, chegando ao ponto de prometer acabar com o desmatamento ilegal até 2030.

Há um problema: o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, quer que a comunidade internacional prometa bilhões de dólares para pagar pelas iniciativas de conservação.

E os doadores estão relutantes em fornecer o dinheiro, já que o Brasil sob a administração Bolsonaro tem se ocupado fazendo o oposto da conservação, destruindo o sistema de proteção ambiental do país, minando os direitos indígenas e defendendo as indústrias que impulsionam a destruição da floresta tropical.

“Ele quer dinheiro novo sem restrições reais”, disse Marcio Astrini, que dirige o Observatório do Clima, uma organização de proteção ambiental no Brasil. “Este não é um governo confiável: não na democracia, não no coronavírus e muito menos na Amazônia.”

Por dois anos, Bolsonaro pareceu incomodado com sua reputação de vilão ambiental.

Sob a supervisão de Bolsonaro , o desmatamento na floresta amazônica, de longe a maior do mundo, atingiu o nível mais alto em mais de uma década. A destruição, que foi impulsionada por madeireiros limpando terras para pastagem de gado e para operações de mineração ilegais, gerou indignação global em 2019, quando enormes incêndios florestais ocorreram por semanas.

O governo Trump fez vista grossa ao histórico ambiental do Brasil no governo de Bolsonaro, um aliado próximo do ex-presidente americano.

Depois que a Casa Branca mudou de mãos em janeiro, os Estados Unidos começaram a pressionar o Brasil para conter o desmatamento, juntando-se à União Europeia, Noruega e outros para alertar que a piora de sua reputação prejudica o potencial econômico do país.

“Queremos resultados concretos”, disse Todd Chapman, embaixador dos Estados Unidos no Brasil, a um grupo de líderes empresariais brasileiros no início deste mês. “Madeireiros e mineradores ilegais, toda essa atividade ilegal, por que você quer pagar a conta disso?”

Logo após a posse do presidente Biden, altos funcionários de seu governo começaram a se reunir com o ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro, Ricardo Salles, em um esforço para buscar um terreno comum antes da reunião climática deste mês.

As reuniões a portas fechadas foram vistas com apreensão pelos ambientalistas, que desconfiam profundamente do governo Bolsonaro. As negociações geraram campanhas frenéticas de ativistas que pretendem alertar as autoridades americanas para não confiarem no governo brasileiro.

Os americanos também precisavam acalmar as penas que haviam se agitado durante a campanha presidencial. Depois que Biden declarou durante um debate que buscaria arrecadar US $ 20 bilhões para salvar a Amazônia, Bolsonaro se irritou, chamando isso de uma "ameaça covarde contra nossa integridade territorial e econômica".

Mesmo assim, o presidente brasileiro adotou um tom muito mais conciliatório em uma carta de sete páginas que enviou a Biden no início deste mês.

“Temos diante de nós um grande desafio com o aumento das taxas de desmatamento na Amazônia”, escreveu Bolsonaro na carta de 14 de abril, que argumenta que a reputação do Brasil como malfeitor ambiental é imerecida.

Enfrentar esse desafio, acrescentou o líder brasileiro, exigirá um “investimento maciço”.

Para começar, disse Salles em uma entrevista em março, o governo ficaria feliz em receber os US $ 20 bilhões propostos por Biden, considerando a soma “proporcional aos desafios que temos na Amazônia”.

Se a comunidade internacional se manifestar, disse Salles, “vamos alinhar uma série de ações que podem trazer resultados rápidos”.

O novo compromisso do Sr. Bolsonaro de lutar contra o desmatamento - o que efetivamente restabelece um compromisso do governo brasileiro que seu governo havia abandonado - também ocorre quando seu governo é assolado por uma crise econômica e de saúde cada vez mais profunda devido à pandemia Covid-19, que continua matando milhares dos brasileiros a cada dia.

A reviravolta e a demanda por dinheiro à vista foram recebidas com ceticismo entre diplomatas estrangeiros no Brasil e ambientalistas, que argumentam que o único déficit real do Brasil é de vontade política.

Diplomatas europeus e britânicos vêm trabalhando há meses para pressionar o governo Bolsonaro a se comprometer com a proteção do meio ambiente antes da cúpula do clima das Nações Unidas em novembro.

Suely Araújo, ex-chefe do Ibama, principal agência de proteção ambiental do Brasil, disse que o governo tem acesso a centenas de milhões de dólares que poderiam ser gastos em esforços de conservação em curto prazo.

Eles incluem um fundo para os esforços de proteção da Amazônia que a Noruega e a Alemanha congelaram em 2019 depois que o governo de Bolsonaro criticou alguns dos projetos e desmontou as salvaguardas para garantir que o dinheiro fosse usado de forma eficaz.

“A ousadia do governo em pedir recursos no exterior é gritante”, disse Araújo. “Por que ele não usa o dinheiro que está aí?”

Organizações ambientais e indígenas expressaram profundo ceticismo sobre a declarada disposição de Bolsonaro de lutar contra o desmatamento e alertaram os doadores internacionais para se absterem de dar ao governo brasileiro dinheiro que temem ser usado para minar a proteção ambiental.

Nas últimas semanas, ambientalistas deram o alarme e celebridades - incluindo o cantor brasileiro Caetano Veloso e o ator americano Leonardo DiCaprio - assinaram uma carta que transmitia “profunda preocupação” com as negociações.

Não há sinais de que o governo Biden esteja considerando se oferecer para financiar os esforços de desmatamento em uma escala significativa, o que exigiria o apoio do Congresso.

Jen Psaki, a secretária de imprensa da Casa Branca, disse na semana passada que os Estados Unidos não esperam anunciar um acordo bilateral com o Brasil na cúpula do clima desta semana.

“Queremos ver um compromisso claro para acabar com o desmatamento ilegal, medidas tangíveis para aumentar a fiscalização efetiva do desmatamento ilegal e um sinal político de que o desmatamento ilegal e a invasão não serão tolerados” , disse ela a repórteres na semana passada.

A Sra. Psaki acrescentou que os Estados Unidos acreditam que é “realista para o Brasil atingir uma redução real no desmatamento até o final da temporada de incêndios de 2021” na Amazônia, que normalmente começa por volta de agosto.

Especialistas dizem que há poucos motivos para otimismo.

O plano de orçamento anual que o governo Bolsonaro recentemente apresentou ao Congresso inclui o menor nível de financiamento para agências ambientais em duas décadas, de acordo com uma análise do Observatório do Clima.

Depois que o vice-presidente do país, Hamilton Mourão, anunciou a primeira meta do governo para a redução do desmatamento no início deste mês, especialistas apontaram que atingir a meta deixaria o Brasil até o final de 2022 com um nível de desmatamento 16 por cento superior ao de Bolsonaro herdado em 2019.

O governo Bolsonaro está apoiando um projeto de lei que daria anistia aos grileiros, uma medida que abriria uma área da Amazônia pelo menos do tamanho da França para um desenvolvimento amplamente não regulamentado. Outra iniciativa que está pressionando no Congresso facilitaria a obtenção de licenças ambientais por empresas e abriria caminho para operações de mineração legais em territórios indígenas.

E existe uma profunda desconfiança em relação ao Sr. Salles entre ambientalistas e funcionários públicos no campo. Um oficial sênior da polícia federal na Amazônia acusou recentemente o ministro de obstruir uma operação de aplicação da lei contra madeireiros ilegais.

Os líderes do setor privado estão entre os mais preocupados com o desempenho do governo em relação ao meio ambiente. Embora a China compre quase um terço das exportações do Brasil, os americanos são investidores cruciais em empresas cujas cadeias de abastecimento são vulneráveis ao desmatamento.

Em carta aberta, os chefes de dezenas de grandes empresas brasileiras, incluindo o frigorífico JBS e o banco Itaú, instaram o governo a estabelecer metas mais ambiciosas de redução das emissões de carbono.

“Qualquer trabalho que reduza o desmatamento ilegal beneficia a iniciativa privada”, disse Marcello Brito, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio, que estava entre os signatários. “O que temo é um boicote do mercado.”

Essa é uma perspectiva que Chapman, o embaixador americano, ressaltou.

“Se as coisas não vão bem, não se trata do que acontece com o governo americano, mas do que acontece com o mundo”, disse. “Muitas empresas nos Estados Unidos agora, seus acionistas estão exigindo uma resposta.”

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terça-feira, 20 de abril de 2021

Bob Fernandes: Governo anti-ambiental de Bolsonaro e Ricardo Salles derruba e queima florestas e vai à Cúpula do Clima mendigar dinheiro

 

Do Canal de Bob Fernandes:


CRÉDITOS Direção Geral: Bob Fernandes Direção Executiva: Antonio Prada Produção: Daniel Yazbek Edição: Yuri Rosat Arte e Vinhetas: Lorota Música de abertura e encerramento: Gabriel Edé Este vídeo é do canal de Bob Fernandes. Vídeos novos todas terças e quintas, sempre, e demais postagens a qualquer momento necessário.


Hipócritas usam nome de Deus para sustentar a morte, disse Gilmar sobre argumentos religiosos em prol do bolsonarismo-morismo e do mercado da fé na pandemia

 Para lembrar que espiritualidade não é religião e que esta última pode ser instrumento político:




Usam nome de Deus para sustentar a morte, diz Gilmar sobre argumentos religiosos


Jornal GGN – O Supremo Tribunal Federal (STF) volta a decidir, na quinta dia 08, se libera ou não cultos e missas presenciais durante a pandemia. Até então, o ministro Nunes Marques votou pela liberação e Gilmar Mendes divergiu, votando por permitir que estados e municípios proíbam os atos religiosos.

A sessão foi suspensa após a leitura do voto de Gilmar, marcado por duras críticas à possibilidade de abrir mão do dever de proteção de Estado e negar a proteção coletiva da saúde. “A Constituição Federal de 1988 não parece tutelar um direito fundamental à morte”, ironizou.

Segundo Gilmar, o que está sendo feito é “tomar o nome de Deus” para “sustentar o direito à morte”. Anteriormente, no último sábado, Nunes Marques liberou as celebrações religiosas presenciais.

Em seu voto, Gilmar Mendes ainda lembrou que se não fosse a postura tomada pelo Supremo, desde o início da pandemia, o cenário do país estaria pior. “Às vezes o poço parece que não tem fundo”, disse.

“Cristãos estão dispostos a morrer”, diz AGU

Horas antes, em sua manifestação, o Advogado-Geral da União (AGU) do governo Bolsonaro, André Mendonça, fez uma espécie de pregação, fugindo do teor jurídico, e carregado de defesa religiosa. “Sem vida em comunidade não há cristianismo”, disse Mendonça.

A ação discutida pelo Supremo é se estados e municípios podem proibir os atos religiosos, como missas e cultos. Mas se trata daqueles realizados presencialmente. Não se discute ou impede a possibilidade de esses eventos serem feitos virtualmente.

Mas, para o AGU, os “cristãos” estão conscientes dos riscos de transmissão do vírus. “Não estamos tratando de um debate sobre vida e morte. Todo cristão sabe e conhece os riscos dessa doença e sabe que precisa tomar cuidados e cautelas diante dessa enfermidade. Não se trata de uma discussão política. Todos nessa discussão defendemos a vida.”

Ainda assim, segundo ele, “os verdadeiros cristãos estão sempre dispostos a morrer para garantir a liberdade de religião e de culto”. Há pouco no cargo, André Mendonça é pastor.

Em resposta às manifestações do AGU, Gilmar criticou o advogado, lembrando que até semanas atrás ele ocupava o cargo de ministro da Justiça e tinha “responsabilidades insticionais, inclusive de propor medidas”.

“Eu poderia ter entendido que S. Exa. teria vindo agora para a tribuna do Supremo de uma viagem a Marte e ele estava descolado de qualquer responsabilidade institucional, com qualquer assunto no Brasil”, arrebatou o ministro ao advogado-geral.

“Fé também salva vidas”, diz PGR

Em seguida, manifestou-se o procurador-Geral da República, Augusto Aras, que também defendeu que os cultos e missas devem ser permitidos, exigindo somente medidas preventivas. Segundo ele, a liberdade religiosa é cláusula pétrea.

De forma contraditória, contudo, fugindo também do teor judicial, Aras disse que “estado é laico, mas as pessoas não são” e que a fé “também salva vidas”. “Onde a ciência não explica, a fé traz a justificativa que lhe é inerente”, continuou, sem embasamento jurídico.

Também se manifestou no Plenário da Corte o advogado Luiz Gustavo Pereira da Cunha, representando o PTB, que é contra o fechamento dos templos religiosas. De forma similar à Mendonça e Aras, o advogado escapou dos argumentos judiciais e concluiu sua defesa lendo um trecho da Bíblia.

Em tom de ameaça eclesiástica, disse aos ministros “que hoje votarão pelo fechamento da casa do Senhor” que Deus os perdoe, mencionando versículo: “Então ele ergueu seus olhos para o céu e disse: ‘Pai, perdoa-lhes, pois eles não sabem o que fazem’.”

“Está havendo um certo delírio nesse contexto geral. É preciso que cada um de nós assuma as suas responsabilidades”, confrontou Gilmar sobre essas manifestações. Após seu voto, o ministro do STF, Luiz Fux, suspendeu a sessão, que será retomada hoje (08).