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quinta-feira, 27 de agosto de 2020

O Genial Bertold Brecht sobre a conscientização contra o opressão e o cinismo dos poderosos naturalizando o sofrimento e a desigualdade, em comentário de Dora Incontri



Do Canal Paz e Bem, de Mauro Lopes, vemos a educadora Dora Incontri sobre a compaixão e a luta contra a opressão a partir da conscientização crítica-social pela arte, partindo de poemas do dramaturgo alemão Bertold Brecht:


"Hoje, dois poemas geniais de Bertold Brecht, ainda na série de poesias engajadas, relacionando-as com a nossa situação de milhares de mortes no Brasil."

A Prece de Cáritas narrada e comentada por Dora Incontri


Do Canal Paz e Bem, Boas Palavras para um Bom Dia:


Hoje, em Boas palavras para um bom dia, a mais conhecida e talvez mais bonita oração espírita, Prece de Cáritas, que nos aproxima de um Deus acolhedor.

terça-feira, 25 de agosto de 2020

Militarismo de uso político à favor de uma minoria já poderosa e religião sem espiritualidade, mas sedenta de poder, são duas bolas de ferro amarradas nos pés da humanidade. Texto de Laurez Cerqueira



Religião e militarismo sempre conviveram de mãos dadas, na manutenção da ordem que interessa aos poderosos. Uma controla o corpo e a outra a mente


Fundamentalistas obscurantistas contra a menina de dez anos estuprada e engravidada pelo tio (Foto: Reprodução)


 O desarmamento do mundo e o fim do militarismo poderiam ser uma utopia para o período pós-pandemia. O mundo gastou US$ 1,73 trilhão com Forças Armadas, em 2019. Somente os Estados Unidos gastaram US$ 684,6 bilhões, 39% do valor global, segundo o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos. Se esse imenso volume de recursos gasto na indústria da morte fosse sendo reduzido ano a ano e investido na indústria da vida, em Educação e saúde, combate à fome e à pobreza extrema, certamente a humanidade começaria a se livrar das misérias medievais.


Esse assunto não é novidade. Já foi revirado pelo avesso ao longo da história do pensamento, porém, parece que se transformou em tabu. Não se fala mais nisso, é muito pouco comentado mesmo em círculos restritos de intelectuais e acadêmicos.
A Idade Média durou mil anos e deixou para os séculos futuros heranças que impedem a humanidade de evoluir para sociedades capazes de conviver em paz, em harmonia, construídas com concórdia, verdade e fraternidade, sentimentos unificadores do ser humano. Evoluímos em muitos aspectos, mas o ódio, pai da violência, persiste, com seu dedo em riste. Nada justifica as cercas físicas, territoriais, as guerras, as cercas morais, a opressão em nome de crenças vazias.
Religiosos obscurantistas ainda hoje tentam invadir hospital para impedir que uma criança de 10 anos, engravidada por um tio, faça aborto autorizado pela justiça. Negam a ciência no combate à pandemia do Covid-19, assim como negam os avanços, por exemplo, da astronomia, da física e da genética, em pleno século XXI.
Na Câmara do Distrito Federal, o religioso deputado Rafael Prudente conseguiu aprovar um projeto de lei proibindo a nudez nas manifestações artísticas. Não se sabe até agora como ficarão, por exemplo, as obras do escultor Ceschiatti, distribuídas pelos palácios de Brasília, com exuberante erotismo, como “Contorcionista”, no hall do Teatro Nacional, a estátua da Justiça, com suas avantajadas mamas, na frente do Supremo Tribunal Federal, “As Irmãs”, no Itamaraty, e outras obras, agora sob censura.  Esse senhor não poderia ir a uma tribo de índios recém contatados, nem, por exemplo, visitar o museu do Louvre, em Paris, ver telas de Rafael Sanzio, esculturas de Michelangelo, enfim, por ser uma pessoa de mentalidade medieval.
Impérios religiosos transnacionais foram criados, apoiados em crenças tenebrosas, moral opressiva, bárbara, com suas histórias manchadas de sangue, por práticas de torturas, mortes e perseguições a quem ousasse ou ouse, ainda hoje, discordar das imposições de igrejas.
Religião e militarismo sempre conviveram de mãos dadas, na manutenção da ordem que interessa aos poderosos. Uma controla o corpo e a outra a mente. Aqui foi assim, quando os portugueses atracaram as naus nas praias do sul da Bahia, os índios estavam nus, nas areias brancas, em perfeita harmonia com a natureza.
As primeiras providências dos navegantes foram celebrar uma missa, catequizar, instalar o deus único e a culpa no coração dos índios, para que, com medo do pecado, aceitassem a dominação. Taparam as genitais dos índios com roupas. Para dominar, as religiões vão direto ao sexo, proíbem. Escravizados, açoitados, torturados, os índios viram nações inteiras serem exterminadas e até hoje são mortos para tomarem-lhes as terras onde sempre viveram.
O mundo gasta centenas de bilhões de dólares dos contribuintes com academias militares e armas, para atacar o "inimigo externo e interno", ensinar a matar, lançar bombas incendiárias sobre escolas, famílias indefesas, como os Estados Unidos fizeram no Vietnam, e também para varrer do mapa cidades com bombas atômicas, como em Hiroshima e Nagasaki, como os mesmos Estados Unidos fizeram na Segunda Guerra Mundial e tantas outras atrocidades praticadas pelo militarismo.
Impedem a democracia de prosperar com mentiras e golpes, implantam a ferro e fogo regimes ditatoriais, torturam, matam, perseguem, privam de liberdade quem pensa diferente, todas essas barbaridades em nome da ordem.
Guardadas as devidas exceções, as academias militares têm formado monstros assassinos com dinheiro público e têm os Estados Unidos como referência de militarismo. Um país que nasceu com a mão no coldre, pronto para matar.
O governo Bolsonaro anunciou que vai tirar R$ 242 bilhões da educação e da saúde e anunciou que vai dar às Forças Armadas (indústria da morte) R$ 9,2 bilhões para comprar armas, em plena devastadora pandemia. Num momento em que, segundo o IBGE, o Brasil aumentou a pobreza, chegando a 52,5 milhões de pessoas passando o dia com R$ 7,70.
Deu aos militares R$ 26,5 bilhões de bonificação, um reajuste de 73%, com acréscimo anual. A União bancou R$ 121,2 mil, em 2019, para cada aposentado das Forças Armadas, 17 vezes o de aposentados do INSS, quase o dobro da despesa por servidor público (R$ 71.600 mil) e (R$ 6.900 mil) para os aposentados do setor privado.
No governo Bolsonaro, o aumento de gastos com o Ministério da Defesa é maior que os dos ministérios da Educação, Saúde, Agricultura e Relações Exteriores. A maior parte dos gastos é com a folha de pagamento dos militares.
Leon Tolstoi, na sua magnífica obra Guerra e Paz, dizia que todas as formas de violência são igualmente más. Não só a guerra, mas todas as formas de compulsão inerentes ao Estado são criminosas. Dizia ele que o verdadeiro cristão deve abster-se de participar das funções do Estado e que a ordem social só poderá melhorar quando todos os homens e mulheres tiverem aprendido a amar-se uns aos outros.
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domingo, 23 de agosto de 2020

Espiritualidade que desperta e transforma x a religião que conforma, aliena e adestra: O jurista e professor Alysson Mascaro sobre a afirmação de Karl Marx "a religião é o ópio do povo"... em vídeo...



"O homem faz a religião...."  

Quem nunca ouviu a frase segundo a qual a religião seria o ópio do povo? Você sabia que quem a formulou foi Marx? Mas o que, afinal, ele quis dizer com essa afirmação?


Do Canal TV Boitempo:



sexta-feira, 21 de agosto de 2020

A direita autoritária, sempre golpista, na ala católica contrária a Francisco já quer um novo papa que seja (ultra) conservador


A direita católica já quer um novo Papa

Dois livros de idêntico título, lançados na Europa, sugerem renúncia de Bergoglio e especulam até sobre seus possíveis sucessores. Conservadores não admitem pontífice crítico ao capitalismo, plebeu nos hábitos e terceiromundista
Por Bernardo Barranco V., no La Jornada | Tradução: Antonio Martins
A direita conservadora, em particular a anglo-saxã, quer que o pontificado de Jorge Bergoglio chegue ao fim. Dois livros com o mesmo título – The next Pope – publicados por esta corrente ambicionam criar uma atmosfera de fim de pontificado e buscar desde já o sucessor de Francisco. É compreensível o alarme midiático da direita pela saúde frágil de Benedito XVI, considerado o verdadeiro Papa, em contraposição a Francisco, o Papa terceiromundista, o pontífice de um surpreendente progressismo católico. Esta direita, com tendências a cisma, luta por uma hermenêutica de continuidade de João Paulo II e Bento XVI. Não tolera as rupturas de um pontificado latino-americano plebeu, ainda que este apoie-se no Concílio Vaticano II. Depois de sete anos, Francisco deve ser substituído ou eliminado. Por isso, a direita estadunidense, talvez imbuída da atmosfera eleitoral dos Estados Unidos, arma um clima antecipado de conclave sucessório.
O primeiro livro foi escrito pelo reconhecido historiador George Weigel; o segundo, pelo jornalista Edward Pentin, correspondente em Roma do National Catholic Register e colaborador habitual da rede de TV conservadora EWTN. Este último teve a audácia de propor candidatos para um hipotético conclave que afaste do cargo um pontífice de 83 anos que goza de ótima saúde e pleno domínio de seu poder pontifício. O texto é uma provocação – pois o Papa está vivo – e, portanto, uma proposta editorial desleal. Trata-se de um ataque político disfarçado à liderança de Francisco, cujo fim do pontificado pretende-se antecipar. O precedente da renúncia de Bento XVI sugeriria que não é preciso esperar necessariamente a morte de um Papa para eleger um sucessor. Francisco poderia decidir, também, converter-se em emérito. Como no filme da Netflix, Dois Papas, Bergoglio poderia tornar-se o grande eleitor do próximo Papa. Em uma entrevista, o autor do livro afirmou: é possível que possa renunciar e há muitas teorias a estes respeito. Uma assegura, sempre segundo Pentin, que Francisco esperaria primeiro que Bento morra. Bergoglio tentaria indicar o cardeal filipino Luis Antonio Tagle. Outros creem muito pouco provável que Bergoglio renuncie, em especial porque mantém planos de reformar a igreja.
livro de Pentin, que tem por subtítulo Os principais cardeais candidatos, foi editado pela Sophia Institute Press, uma instituição conservadora. Em mais de 700 páginas, oferece os perfis de 19 supostos candidatos a papa. A justificativa é explícita: trata-se de chegar ao conclave com a maior informação possível dos candidatos. A obra é uma detalhada compilação de informações sobre cada um dos cardeais que se apresentariam para uma nova era pós-franciscana. O texto reflete uma visão bastante obcecada sobre o estado da igreja. Em Roma, circulou o rumor de que a investigação dos 19 papáveis propostos foi fruto de minuciosas investigações do FBI e dos registros da CIA. Mostraria o interesse e impaciência do governo de Donald Trump por deslegitimar um líder internacional antagônico aos interesses atuais da Casa Branca.
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Pentin aponta diversos candidatos, mas predominam os conservadores. E é claro que há, na lista, vários ultraconservadorres, como o cardeal norte-americano Raymond Burke e o guineano Robert Sarah, que se distinguiram por oposição aberta às posturas de Francisco. Poucos são progressistas – como o mencionado Tagle, cardeal emérito de Manila e atual Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos e presidente da Caritas Internacional. Também figuram personagens ao centro, como o secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, que teria o suposto inconveniente de ligação estreita com Francisco. Praolin mantém perfil baixo, é italiano e condescendente com a beligerante ala conservadora. Tem 65 anos e seria capaz de produzir um consenso entre as alas em disputa. Homem de aparato e diplomático, jamais foi, porém, bispo de diocese – ou seja, não tem “perfil pastoral”. Pentin excluiu de sua lista quatro dos seis cardeais de peso, que assessoram atualmente Francisco. São eles Reinhard Marx, arcebispo de Munique e ex-presidente da conferência episcopal alemã; Oswald Gracias, arcebispo de Mumbai; Giuseppe Bertello, presidente da Pontifícia Comissão para o Estado da Cidade do Vaticano e Óscar Maradiaga, arcebispo de Tegucigalpa, Honduras.
O atual colégio de cardeais que elegeria o novo papa parece equilibrado. Nele, 66 dos eleitores (54%) foram nomeados por Francisco, 40 por Bento XVI e 16 por João Paulo II. O papa argentino criou 88 cardeais, muitos não elegíveis por idade. Francisco privilegiou o Terceiro Mundo: 17 países têm pela primeira vez um cardeal. O Colégio Cardinalício também é menos europeu – estes constituem 41% – e, em seu conjunto, os prelados têm menos experiência burocrática no funcionamento do Vaticano.
Francisco é alvo de severos questionamentos na Europa e Estados Unidos, onde se busca minar sua autoridade e abrandar suas reformas. Nos ataques, estão envolvidos também políticos, governos e empresas que anseiam por um Papa a seu gosto.
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segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Sobre o aborto no caso da menina estuprada pelo tio e a reação do fanatismo hipócrita que desumaniza! Por Dora Incontri




Por que essas pessoas fanáticas não estavam na porta do estuprador, indignadas e revoltadas com tamanha brutalidade praticada contra uma criança de seus 6 aos 10 anos?
Jornal GGN:

O aborto no caso da menina estuprada – o fanatismo desumaniza!

por Dora Incontri

Uma coisa fica clara nesse episódio da menina de 10 anos, estuprada pelo tio, que tem o direito ao aborto – por lei (e ainda pelos dois motivos permitidos por lei ao aborto no Brasil, por estupro e por risco de vida): o fanatismo desumaniza, enceguece, embrutece as pessoas.
Quando elejo qualquer dogma ou mesmo princípio (supostamente moral), acima do ser humano, quando é mais importante nos agarrarmos a uma ideia do que a uma vida, ao sofrimento de alguém… então demonstramos que perdemos a capacidade de sentir empatia e compaixão, por causa de uma abstração qualquer, da rigidez de um pensamento que não vê mais a realidade.
Por que essas pessoas fanáticas, que gritavam palavras de ordem contra o aborto a se realizar nessa criança estuprada, ferida, abusada e contra os médicos que estavam ali cumprindo a lei e cumprindo seu dever ético, por que – pergunto eu em nome do próprio Deus que elas evocam – por que não estavam na porta do estuprador, indignadas e revoltadas com tamanha brutalidade praticada contra uma criança de seus 6 aos 10 anos? Vale mais um feto que ainda não se desenvolveu do que uma criança viva, concreta, já encarnada (para usar a linguagem espírita), que vai carregar pelo resto da vida esse trauma inominável, essa dor de ter sido violada em sua integridade, em sua infância, em sua inocência?
O fanatismo é irracional, é violento, é monstruoso – esse fanatismo que já acendeu fogueiras, provocou linchamentos, deflagrou guerras “santas” e é incapaz de enxergar o outro, o ser humano e valorizar o princípio máximo ensinado pelo mestre, que essas pessoas dizem seguir: amar ao próximo como a si mesmo! Quem é o próximo, nesse caso? É a menina estuprada… ela é vítima de uma sociedade misógina, violenta contra a mulher, desde o seu nascimento, uma sociedade que perdoa estuprador e culpabiliza a vítima; que se insurge contra o aborto e sacrifica crianças que já nasceram, matando-as nas favelas (quando são negras e pobres, claro).
O espiritismo condena o aborto como interrupção de uma vida que está se dando na encarnação de um espiritismo. Entretanto, no Livro dos Espíritos, alerta-se que se deve abortar, quando a mãe está em risco de vida. Então, o princípio não é absoluto. A lei brasileira permite nesse caso o aborto e no caso de estupro e a jurisprudência também tem permitido nos casos de bebês anencéfalos.
Entretanto, devemos alertar para o seguinte, assim como em outras tradições espirituais, há também os fanáticos antiabortistas espíritas, que consideram crime qualquer aborto e que defendem que a mulher continue sendo criminalizada por isso. E nesse (des)raciocínio, podem esses fanáticos espíritas invocar a chamada lei do carma para essa criança estuprada. Como se Deus ou qualquer lei do universo pudesse ensejar ou permitir um crime dessa natureza – um homem estuprar durante 4 anos uma criança indefesa. Quem faz isso está infringindo qualquer lei humana ou divina e a vítima não deveria passar por isso por qualquer lei humana ou divina. É um crime que é fruto de uma sociedade milenarmente patriarcal e violenta. Nada pode justificar tal ato.
Mas há os espíritas progressistas, que embora, por uma questão de entenderem a importância do processo da encarnação, possam ser pessoalmente contrários à prática do aborto, nem por isso serão a favor de que a mulher seja criminalizada por isso.
Nesse caso, entretanto, o da menina estuprada, qualquer impedimento ao seu justo desejo de se livrar de um feto que foi consequência de uma violência inominável e de um trauma de que ela provavelmente jamais vai se libertar completamente na vida, não pode ser objeto de qualquer dúvida. Nem para espíritas, nem para católicos, nem para evangélicos, nem para ateus. Trata-se de um ato de humanidade. Que essa menina seja acolhida, tratada terapeuticamente e que possa sobreviver com um mínimo de sanidade a toda essa violência sofrida.

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Bolsonarismo, hipocrisia e fundamentalismo conservador: livro explica fenômeno dentro das igrejas evangélicas




Em "E a verdade os libertará", Ricardo Alexandre propõe um novo olhar à discussão pública acerca da dinâmica entre política, religião e sociedade
Jornal GGN:
Jornalista vencedor do Prêmio Jabuti lança livro sobre a relação entre o bolsonarismo e a igreja evangélica
Uma reflexão sobre a igreja evangélica brasileira e o fenômeno chamado bolsonarismo. Essa é a proposta do livro E a verdade os libertará, lançamento da Editora Mundo Cristão, escrito pelo jornalista e vencedor do Prêmio Jabuti, Ricardo Alexandre. Ao longo de 16 capítulos, o escritor lança mão de uma extensa e qualificada pesquisa jornalística para oferecer aos leitores uma experiência instigante da primeira à última página.
Desde antes do período de ascensão de Jair Bolsonaro em 2017, passando pelas campanhas e eleições presidenciais de 2018, até os 500 primeiros dias de governo, Ricardo analisa as conexões entre o fenômeno político do bolsonarismo e o movimento evangélico — uma de suas principais bases eleitorais —, e elucida os eventos que culminaram na eleição presidencial. Contudo, conforme aponta Ricardo, o personagem principal do livro não é Bolsonaro, mas, sim, a igreja evangélica brasileira e seu papel nos desdobramentos históricos em questão.
Para não desqualificar os oponentes ideológicos como se fossem “inimigos da pátria” ou de Deus, e para deixar claro que se busca discutir ideias e não pessoas, em E a verdade os libertará o jornalista faz referências a personalidades com diferentes opiniões políticas, umas mais à direita, outras mais à esquerda. Por abordar questões que abrangem o ambiente religioso e temas concernentes à fé, ele recorre a teólogos de diferentes vertentes. O resultado é uma argumentação responsável, contundente e respeitosa, oferecendo ao leitor as bases para a reflexão, o debate e à troca de opiniões.
“Este livro não foi escrito para convencer o leitor a pensar como eu penso. […] Meu desejo é que algumas (quem sabe todas) as reflexões propostas aqui possam abençoar o leitor e enriquecer esse debate, que é, e precisa ser, muito maior e mais amplo.” (P. 11)
Novidade da Mundo Cristão, E a verdade os libertará vem ao encontro da iniciativa da editora de disponibilizar obras que contextualizam a realidade do Brasil e do mundo, que ajudam os leitores a estabelecerem diálogos entre diferentes grupos, tanto dentro quanto fora da igreja, a fim de que possam colaborar para o bem comum.
Além do livro, Ricardo Alexandre também criou uma série de 25 podcasts sobre tópicos que não estão necessariamente nas 256 páginas de seu livro, mas que podem aprofundar o entendimento sobre o assunto. Os podcasts podem ser ouvidos no Spotify, clique aqui para conferir.
FICHA TÉCNICA
Título: E a verdade os libertará
Subtítulo: Reflexões sobre política, religião e bolsonarismo
Autor: Ricardo Alexandre
Editora: Mundo Cristão
ISBN: 9786586027358
Páginas:  256
Formato: 14 x 21
Categoria: Cristianismo e Sociedade
Preço: R$ 44,90 (físico) R$ 33,90 (e-Book)
Link de Pré-VendaAmazon e E-commerce Editora Mundo Cristão
Sinopse: Desde junho de 2013, com as famosas manifestações de rua, passando pelos escândalos de corrupção revelados pela Operação Lava Jato, o impeachment da presidente Dilma Rousseff e a eleição do presidente Jair Bolsonaro, o grau de polarização na igreja e na sociedade só fez aumentar. Amizades antes duradouras e relações familiares outrora consistentes abalaram-se e parecem longe de voltar à normalidade. A eleição do presidente Jair Bolsonaro, em parte, pode ser atribuída ao apoio de parcela considerável do eleitor evangélico. Que razões motivaram essa tão acentuada inclinação política? Ricardo Alexandre, jornalista consagrado, investigou as raízes desse movimento e a evolução da figura pública de Jair Bolsonaro, desde as primeiras aparições como capitão de artilharia do Exército até sua atuação à frente do governo federal. Cristão, Ricardo valeu-se também das Escrituras como referência para avaliar a ação política do presidente da República e propor novos caminhos à igreja e à sociedade brasileira.
Sobre o autor: Ricardo Alexandre, jornalista com mais de 25 anos de experiência, atuou em alguns dos principais grupos de comunicação do país. Foi repórter e colunista de O Estado de S. Paulo e diretor de redação de revistas das editoras Abril e Globo. É também consultor e curador de eventos culturais, além de autor de cinco livros, dentre os quais Nem vem que não tem, biografia do cantor Wilson Simonal que lhe rendeu em 2010 o prêmio Jabuti. Seu site oficial é ricardoalexandre.jor.br.

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sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Contra a Democracia, a luta corrupta "contra a corrupção" dos que não são neoliberais. Por Ricardo Manoel de Oliveira Morais



É interessante notar (e também lamentar) que sempre que uma determinada forma de “luta contra a corrupção” toma corpo na história republicana do Brasil, acaba-se com a república, mas nunca com a corrupção. A corrupção, aliás, parece se aprofundar.

A luta corrupta contra a corrupção

Do site Justificando:


Terça-feira, 11 de agosto de 2020

A luta corrupta contra a corrupção

Imagem: Fotógrafo/Agência


Por Ricardo Manoel de Oliveira Morais

É interessante notar (e também lamentar) que sempre que uma determinada forma de “luta contra a corrupção” toma corpo na história republicana do Brasil, acaba-se com a república, mas nunca com a corrupção. A corrupção, aliás, parece se aprofundar.


E digo que “parece se aprofundar” porque os períodos que se seguem ao suposto “triunfo da lei” contra o “lamaçal da corrupção” são marcados pela ausência de transparência. Com isso, não seria prudente afirmar, de modo categórico, que a corrupção se aprofunda. Mas deixemos o “parecer” de lado, ao menos por enquanto. Examinemos, um pouco, alguns elementos cíclicos de nossa história mais ou menos recente. E quando digo cíclico é porque a “luta contra a corrupção” segue um padrão mais ou menos preestabelecido. Embora a noção cíclica da história tenha caído em desuso, cedendo a uma concepção progressista das famosas “linhas do tempo”, uma análise dos loopingshistórico-temporais podem apontar que o “legado” lavajatista não será nada além de um vácuo, apropriável pelo que se tem de pior na arena política. 

Antes de continuar o texto, gostaria de salientar que as incoerências apontadas nas formas corruptas de combate à corrupção não podem levar à falsa crença de que não se deve combater a corrupção. A tentativa de usurpação da coisa pública merece a repressão estatal. Por outro lado, faz parte do apontado “ciclo da corrupção” que a luta contra a corrupção assuma tonalidades hipócritas (para se dizer o mínimo), criando uma aura angelical em torno de indivíduos que corrompem a lei e esfacelam as instituições para “acabar com a corrupção”. E o mais trágico deste processo está no fato de que, quase sempre(e eu enfatizo o “quase sempre”), aqueles que menos sofrem com a degradação institucional cíclica são aqueles que provocaram este processo. 

De forma bastante resumida, eu descreveria o “ciclo do combate corrupto à corrupção” da seguinte forma: 1) inicialmente surgem certos fatos que, de efetivamente, podem ser classificados como atos de corrupção; 2) a partir disso, algumas vozes de uma suposta e elevada retidão moral passam a denunciar estas formas de corrupção como sendo sistêmicas; 3) os “arautos da moralidade”, tomados pela vontade de se apropriar de uma fatia do poder político, começam a dar eco a estas vozes; 4) este eco ganha uma força social, passando a intimidar a institucionalidade para que ela chancele este embate, o que leva a uma fratura da institucionalidade; 5) com o esfacelamento institucional e o fantasma da “corrupção sistêmica” a espreita, a sociedade se volta a uma saída messiânica associada a um “conservadorismo” pouco inteligente, nada empático e deliberadamente cego. A partir daí, o que resta de institucionalidade fica à mercê “de um soldado e um cabo”. 

Quanto à primeira parte do ciclo, os exemplos históricos se multiplicam.  Como aponta Wanderley dos Santos, em A democracia impedida, “A denúncia de corrupção sistêmica, outra coincidência propagandística associada a um e outro golpe, acompanha na verdade a política conservadora brasileira desde o retorno de Getúlio Vargas ao governo, em 1951, em vitória de eleições tão limpas quanto conseguiam sê-las nos anos 50”. Após um atentado frustrado à vida de Carlos Lacerda, a Força Aérea abre um inquérito militar para investigar este ato, conduzindo-o a partir de uma instância denominada “República do Galeão”. 

Neste momento, as vozes udenistas vociferavam moralidade, abrindo mão da soberania nacional sem qualquer pudor. Pedia-se ajuda aos EUA para resolver a situação. Dizia-se que o país se afundava em um mar de lama. A moralidade estava constantemente a serviço de um conservadorismo derrotado eleitoralmente. Paradoxalmente, um inquérito militar levou à intimidação de civis. Oficiais de alta patente demandaram a renúncia do presidente. O presidente perde a vida. Se havia ou não corrupção, nunca se descobriu. Mas o que havia de institucionalidade, começa a se corroer. 
Um outro exemplo do início do ciclo, com uma forte essência udenista, se deu com Aécio Neves. Este, denunciando a corrupção sistêmica do governo federal, se negava a aceitar uma derrota eleitoral. Enquanto pedia a recontagem dos votos, associava-se a nomes conhecidos da “República de Curitiba”. E claro, é impossível compreender esta trama sem fazer menção à Vaza Jato. Sob o pretexto de combate à corrupção, os arautos da moralidade trocavam informações com os EUA (soa familiar?), afrontavam a institucionalidade ao intimidarem as instâncias superiores e insuflavam a população contra o STF, seja por manifestações, seja por jejuns religiosos. Em suma, corrompiam para (supostamente) combater a corrupção. 

E se em 64 Lacerda não teve qualquer pudor em colocar toda a institucionalidade nas mãos dos militares na esperança de sair vencedor nas próximas eleições, o mesmo se deu com Aécio. Aécio, frustrada a tese da “fraude eleitoral”, resolveu dar eco ao combate à corrupção, colocando a sua integridade a prova em um processo de impedimento. Vale ressaltar que nem sua integridade nem a institucionalidade sobreviveram. Moro também fez parte deste processo de corrosão. Diria que ele já vem colhendo os frutos de sua integridade abalada. No entanto, ainda é um pouco cedo para futurologias. Sabemos como os udenistas e os militares corromperam a institucionalidade em 64. Mas e hoje?

Descreveria que não há (ainda) algo como os atos institucionais. No entanto, a sociedade já vem fazendo as suas Marchas da Família com Deus pela Liberdade. Não sei se Deus está lá. Muito menos a liberdade. Mas sim, há uma estética fascista. Há um forte messianismo (“a culpa não é minha, eu votei no Aécio”; “somos todos cunha”; “fechados com Bolsonaro”). Há um conservadorismo pouco inteligente (afinal, não se pode dizer que arriscar a própria vida em meio à pandemia seja uma atitude lá muito genial). Há uma total ausência de empatia. Há uma cegueira deliberada (não importam as ligações com as milícias, com esquadrões da morte, com esquemas de desvio de dinheiro público).  Quanto à ausência dos atos institucionais, acredito que eles não existem formalmente. No entanto, os milicianos que compõem governo já vêm evidenciando o que pensam da institucionalidade, principalmente quando se negam a aceitar “julgamentos políticos” (o que não fizeram quando Collor e Dilma eram Presidentes). 

Quando enumerei os pontos do ciclo da corrupção, mencionei que ao final a corrupção se aprofunda. Pois bem. Deixemos de lado a questão do Regime Militar de 64 (hoje em dia é importante especificar de qual regime falamos, pois podemos estar nos referindo do Regime Militar de 19). Já existem muitos estudos sobre os escândalos de corrupção neste período ditatorial, escândalos que a cegueira deliberada de alguns não os permitem ver. Não existem mais estudos porque ocorreram “queimas de arquivo”. No entanto, como ainda resta alguma publicidade no que diz respeito aos atos do atual governo e alguns vazamentos a jato, vemos o que não queremos: os “paladinos da moralidade” corromperam para acabar com a corrupção. 

Interessante paradoxo: a corrupção está na luta contra a corrupção. Há uma forte semelhança com a anedota do filho que questiona o pai sobre pena de morte. Diz o filho: “pai, se matarmos todos os bandidos, o mundo seria melhor?”. O pai responde: “provavelmente não meu filho, já que sobrariam só os assassinos”. 

Mas o que isso quer dizer? Para esta pergunta apenas tenho algumas pistas. Um juiz acertar a ordem de operações policiais midiáticas com o órgão de acusação é um ato de corrupção. Um procurador da república ocultar uma cooperação internacional e recusar que a cúpula de sua instituição tenha acesso a dados investigativos são atos de corrupção. Um juiz opinar sobre a capacidade de uma procuradora em proceder interrogatórios e sugerir a sua troca é um ato de corrupção. Um juiz vazar conversas sigilosas é um ato de corrupção. Um juiz compor um governo que ele ajudou a eleger ferindo a lei é um ato de corrupção. A grande mídia defender que o lavajatismo avançou no combate à corrupção, desconsiderando os atos de corrupção deste “movimento”, é um ato de corrupção. 

Sobre o atual governo e sua “luta contra a corrupção”, acho que os seus atos falam por si, assim como dos 30% de cegos deliberados existentes no que sobrou da 6ª República.


Ricardo Manoel de Oliveira Morais é doutor em Direito Político pela UFMG. Mestre em Filosofia Política pela UFMG. Bacharel em Direito (FDMC) e em Filosofia (FAJE). Professor.