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sábado, 27 de fevereiro de 2016

A busca pelo entendimento da existência e do homem, tal como este historicamente se fez, em "A Lógica da Criação", uma canção forte e bela de Oswaldo Montenegro



  Esta é uma canção forte... Bela, mas forte.... Uma das mais filosóficas... certamente, a mais filosófica da Oswaldo Montenegro.... As imagens são do filme Solidões, do mesmo Oswaldo Montenegro... Toca em questionamentos que ao menos as pessoas mais sensíveis já fizeram (respostas há, as mais diversas e adversas).... Mas tudo no Universo segue um caminho cada vez mais complexo e rico. O homem, ao contrário, por seus interesses e sua visão limitada de mundo, segue por atos e palavras um caminho inverso...

  Alguma lógica existe, mas nos escapa em grande parte...  E o que nos escapa ou nos posiciona em cheque em nossos atos e escolhas, é difícil aceitar... Se não nos destruirmos, se nos vermos como irmãos, aos poucos, talvez, o denso véu comece a dissipar... Infelizmente, hoje, o egoísmo e a narcisismo, em expressões como o retorno do fascismo e da mediocridade midiaticamente cultivada, representa um retrocesso nesse caminhar.... O homem cria estruturas, paradigmas, ideologias que oprimem, que modelam comportamentos e depois atribuem a um outro Ser as mazelas que ele mesmo criou para a si mesmo abater, magoar, alienar...

  Convém notar, contudo ( como o vídeo também desponta ) que muito do obscuro, do erro e do "pecado" não foi Deus quem fez, mas o Homem quem o cria, que disso tira vantagem, que vai contra, da divina Natureza, suas Leis, buscando escravizar, maltratar, dizimar, controlar e alienar... No final, boa parte de nossa escuridão advém da mesquinharia humana que chega a pintar uma concepção antropomófica, Malafáica e mesquinha,espelhada em si próprio, de Deus...

  Boas reflexões...

   Carlos Antonio Fragoso Guimarães



Letra de A Lógica da Criação

Oswaldo Montenegro


O mérito é todo dos santos
O erro e o pecado são meus
Mas onde está nossa vontade
Se tudo é vontade de Deus?

Apenas não sei ler direito
A lógica da criação
O que vem depois do infinito
E antes da tal explosão?

Por que que o tal ser humano
Já nasce sabendo do fim?
E a morte transforma em engano
As flores do seu jardim

Por que é que Deus cria um filho
Que morre antes do pai?
E não pega em seu braço amoroso
O corpo daquele que cai

Se o sexo é tão proibido
Por que ele criou a paixão?
Se é ele que cria o destino
Eu não entendi a equação

Se Deus criou o desejo
Por que que é pecado o prazer?
Nos pôs mil palavras na boca
Mas que é proibido dizer

Porque, se existe outra vida,
Não mostra pra gente de vez
Por que que nos deixa nos escuro
Se a luz ele mesmo que fez?

Por que me fez tão errado
Se dele vem a perfeição?
Sabendo ali quieto, calado
Que eu ia criar confusão

E a mim que sou tão descuidado
Não resta mais nada a fazer
Apenas dizer que não entendo
Meu Deus como eu amo você!

Grato à +Angélica Maia pela transcrição da letra!

Fernando Brito manda uma resposta Tijolaço à Globo e aos Marinhos




Enviei o seguinte e-mail à Globo, da mesma forma que recebi sua notificação.
Senhor João Roberto Marinho.
Recebi com atraso, por ter sido feita por e-mail “fale conosco” e se desviado para a caixa de “spam”, a comunicação de Vossa Senhoria. Com o noticiário sobre a notificação a outros blogs, pedi para verificar e a mesma, encontrada, foi imediatamente publicada, a guisa de direito de resposta que este blog não se recusou, não se recusa e não se recusará a conceder, de plano, a qualquer pessoa.
Assim, creio ter sido atendido o “pedido de retificação” feito por V. Sa. e, a seguir, como solicitado, em cada matéria, será colocado um link para a publicação integral da missiva enviada.
Bem assim, fica desde já o blog à disposição para qualquer esclarecimento que deseje o senhor oferecer à opinião pública, embora com microscópico alcance perto do império de comunicação que V.Sa. dirige.
Quanto à relação entre a mansão citada e a Família Marinho, certamente não há de desconhecer V. Sa. que foi noticiada pela prestigiosa Bloomberg, em 7 de março de 2012, sob o título “Brazil’s Rich Show No Shame Building Homes in Nature Preservese nos seguintes termos:
Heirs to Roberto Marinho, who created Organizacoes Globo, South America’s biggest media group, built a 1,300-square-meter (14,000-square-foot) home, helipad and swimming pool in part of the Atlantic coastal forest that by law is supposed to be untouched because of its ecology.
E, a seguir, na mesma reportagem:
Modernist Home
That’s the case with the Marinho media family. The Marinhos broke environmental laws by building a 1,300-square-meter mansion just off Santa Rita beach, near Paraty, says Graziela Moraes Barros, an inspector at ICMBio.
Without permits, the family in 2008 built a modernist home between two wide, independent concrete blocks sheathed in glass, Barros says. The Marinho home has won several architectural honors, including the 2010 Wallpaper Design Award.
The Marinhos added a swimming pool on the public beach and cleared protected jungle to make room for a helipad, says Barros, who participated in a raid of the property as part of the federal prosecutors office’s lawsuit against construction on the land.
“This one house provides examples of some of the most serious environmental crimes we see in the region,” Barros says. “A lot of people say the Marinhos rule Brazil. The beach house shows the family certainly thinks they are above the law.”
Ao que se tenha notícia, o referido texto, em publicação internacional de renome e alcance não mereceu a preocupação que, como é de seu direito, foi manifestada sobre este blog, de representar ” ofensa ao notificante e aos demais integrantes da família Marinho”.
Assim como nas inúmeras republicações que tal texto recebeu, total ou parcialmente, no UOL/Folha (Revista acusa família Marinho e Camargo Correa de construir mansões em áreas de preservação, em 18 de março do mesmo ano) ou a CartaCapital, de 15 de março, (RJ: Milionários destroem mata nativa com mansões).
As demais conexões partiram, claro, da razoável compreensão, ante a inação descrita (mormente de uma imensa empresa de comunicação, que monitora continuamente sua imagem pública)  de que a ligação entre a proprietária formal da casa – a Agropecuária Veine e de sua controladora Vaincre LCC – seria, de fato, uma ligação com quem lhe foi apontado como proprietário real e, mesmo dispondo de todos os meios para fazê-lo, não esclareceu que, como afirma em seu texto, que “a casa em questão e as empresas citadas na matéria não pertencem, direta ou indiretamente, ao notificante ou a qualquer um dos demais integrantes da família Marinho”.
Aliás, se me permite tratá-lo como colega jornalista  – e foi em O Globo que dei meus primeiros passos na profissão, em 1978 – tomo a liberdade – quem sabe a ousadia – de sugerir que as emissoras de TV, rádio, sites e jornais de suas Organizações, então, produzam, com os meios abundantes e o profissionalismo que reconheço em seus colaboradores, uma apuração sobre quem, afinal, é o proprietário ou usufrutuário daquela joia arquitetônica que, desafortunadamente, invadiu área de preservação ambiental e privatizou uma praia antes pública, em  que pese ser remota.
Sei que o tema ambiental é caro às suas Organizações e cito como exemplo a reportagem Construções irregulares avançam em 25 ilhas de Paraty, em O Globo, quando a referida construção já havia sido repetidamente multada e tinha ordem até de demolição mas que, certamente num lapso, não foi uma das irregularidades abordadas.
É uma imperdível oportunidade de sanear aquela omissão, naturalmente involuntária.
Creio que se estará, assim,  prestando um serviço público de alta relevância ao revelar quem, afinal, se oculta sob uma agropecuária para empreender uma edificação de altíssimo luxo. Este blog se comprazerá de aplaudir a ação cidadã das Organizações Globo em mostrar ao povo brasileiro quem, de fato, se aproveita daquele templo no paraíso.
Sempre à disposição para qualquer pedido de esclarecimento, fica um e-mail onde se poderá fazer de imediato qualquer contato que, com prazer e interesse público, será aqui imediatamente atendido. 
Permita-me, à guisa de conclusão, citar um ditado gaúcho – convivi muito com um deles e absorvi seus traços de honra e dignidade: “a luta não nos quita a fidalguia”.
Atenciosamente,
Fernando Brito, editor do Tijolaço.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Critica inteligente à ditadura do Capital(ismo) em trecho do filme alemão Edukators (os Educadores), de 2004




  Segue trecho do filme Alemão Edukators, de 2004, talvez necessário para um Brasil cada vez mais midiaticamente imbecilizado, com a onda do fascismo contagiando a muitos.... Espero que este trecho ajude a trazer um pouco mais de luz nesta onda de trevas da ideologia do capital golpista que se espalha feito câncer nos acríticos midiáticos nacionais....


quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Guilherme Boulous sobre o Capitalismo do 1% mais rico

Em apenas cinco anos, a metade mais pobre da humanidade perdeu 38% de sua riqueza. Os lucros dos bancos não param de crescer. É a isso que chamam de “austeridade” — ou “ajuste fiscal”…

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Por Guilherme Boulos - no Outras Palavras
Uma economia para o 1%. Com esse título, a organização não governamental britânica Oxfam lançou no mês passado um estudo sobre as desigualdades no mundo. Pela primeira vez na história o 1% mais rico superou em renda e patrimônio os 99% restantes. Os dados basearam-se no Relatório anual de 2015 do banco Credit Suisse.
O estudo mostra que a metade mais pobre da humanidade (3,6 bilhões de pessoas) viu sua riqueza cair 38% nos últimos cinco anos, perda de US$1 trilhão. E se apropriou de apenas 1% do aumento da riqueza global desde 2000. Enquanto isso, o 1% mais rico abocanhou a maior parte deste incremento.
A riqueza da metade mais pobre equivalia em 2010 à dos 388 homens mais ricos do mundo. Nos últimos anos, essa indecência só se agravou: as 3,6 bilhões de pessoas mais pobres agora têm o mesmo que 62 membros do Clube dos bilionários.
Os resultados são alarmantes. Mostram que, desde o estouro da crise em 2008, a desigualdade tem aumentado incrivelmente. Enquanto as políticas de “austeridade” achatam a renda dos trabalhadores e atacam os sistemas de seguridade social, o lucro dos bancos bate recordes, assim como os ganhos de altos executivos.
Quem viu o lucro do Bradesco avançar 14% no ano passado, em plena recessão, não deveria estranhar os resultados apresentados pela Oxfam. No entanto, o relatório foi seguido de ruidosa chiadeira. Os defensores da ordem foram a campo tentando desqualificar os dados do Credit Suisse por sua metodologia. Alegaram, principalmente, que o uso do conceito de riqueza líquida (renda e patrimônio, com subtração das dívidas) distorcia os resultados.
Vale pontuar que, semanas atrás, quando o mesmo Credit Suisse fez um duro prognóstico da recessão brasileira apontando-a como a pior da história, não vimos nenhum articulista da direita nacional fazer suas ponderações “metodológicas”.
De toda forma, a própria Oxfam se encarregou de responder o questionamento sobre a riqueza líquida, afirmando que “os 50% mais pobres são, na maioria, pessoas lutando para sobreviver com pouca ou nenhuma riqueza para apoiá-los. Apesar desse número incluir aqueles em dívida –riqueza negativa, mas com algum patrimônio– é importante notar que esses são a exceção e não a regra”.
Além disso, foi alegado que, se excluídas as dívidas do cálculo, haveria uma mudança na distribuição da riqueza global e os números não seriam tão chocantes. Isso não é verdade, diz a Oxfam, “já que excluindo a dívida dos 10% mais pobres, a fatia da riqueza do 1% mais rico se modifica pouco, passando de 50,1% para 49,8%”. Ou seja, as desigualdades mundiais não se resolveriam com alteração metodológica.
Há quem prefira atacar os dados a deparar-se com a realidade. Compreensível. Afinal não deve ser fácil para os amantes da ordem reconhecer que seu sistema meritocrático da “oportunidade para todos” desandou numa plutocracia onde 1% tem mais que todos os 99% restantes.
O capitalismo fracassou em suas promessas. O mundo de hoje é muito mais desigual que o do século passado. Nem todos os perfumes da Arábia, nem o cinismo do discurso neoliberal conseguirão maquiar esta realidade.
Aí está Bernie Sanders, pré-candidato democrata à Presidência dos Estados Unidos. Aí está o “Podemos”, na Europa. E o fortalecimento de diversos movimentos populares mundo afora. Será difícil silenciá-los ante a profundidade do abismo que separa o 1% da maioria trabalhadora.

Bob Fernandes e o jogo de meias-verdades, mentiras e deformações da mídia empresarial

"Como é natural, manchetes e atenção total para o caso. Por isso é útil se ver também o que não se quer percebido, desventrado.

Nas redes sociais, fúria no bando do moralismo caolho e ignaro. À menção de investigação para demais campanhas e formas de pagamento, brotam ódio, ignorância.

Espanto, perplexidade quando se vê o passivo, o passado de muitos dos que escrevem, ou bradam contra a corrupção e festejam panelas de ocasião."




Segue vídeo (e sua transcrição textual), onde o equilibrado e lúcido analista político Bob Fernandes, da TV Gazeta, comenta o que está por trás do jogo de cena midiático dos últimos dias envolvendo João Santana com um alvo preciso: Lula e o PT...







João Santana, marqueteiro do PT, preso. Prisão temporária, que vence nessa quinta, 25. Se tornada preventiva, sem prazo pra acabar, se terá pistas dos rumos da investigação.

Esse é um jogo de sombras. Há um alvo, verdades, meias verdades, e mentiras. Em relatório, delegados da Policia Federal informaram ao juiz Moro:

-Os valores referentes ao trabalho de João Santana desde 2006 totalizam 171 milhões, 552 mil...


Concluíram os delegados: "Não há, isso deve ser ressaltado, indícios de que tais pagamentos estejam revestidos de ilegalidades".

Em despacho, Moro disse:

-Ao que tudo indica os recursos foram declarados.

É óbvio o jogo de meias verdades, verdades, ou mentiras, ainda que o governo simule crer nesse relatório...

Afinal, Santana está preso.

Como é natural, manchetes e atenção total para o caso. Por isso é útil se ver também o que não se quer percebido, desventrado.

Nas redes sociais, fúria no bando do moralismo caolho e ignaro.

À menção de investigação para demais campanhas e formas de pagamento, brotam ódio, ignorância.

Espanto, perplexidade quando se vê o passivo, o passado de muitos dos que escrevem, ou bradam contra a corrupção e festejam panelas de ocasião.

Muitos, muitas, são ou foram marqueteiros, assessores, conselheiros etc. Conhecem os bons, mas também os maus hábitos desse vasto mundo.

Mundo com portas de ir e vir entre o jornalismo e a comunicação corporativa e politica.

Em campanhas, assessorias, agências de intermediação de informações e de aconselhamento, não poucas vezes o trabalho é exatamente pontificar sobre a corrupção, o Caixa II... dos adversários.

O espanto se dá quando marqueteiros, assessores, conselheiros, ou ex, surgem pontificando sobre corrupção. A alheia, a dos adversários. Jamais sobre a que vivenciaram, ou da qual se aproveitaram, se aproveitam.

Esse mundo, evidente, não é e não funciona só assim. Mas foi, é muitas vezes também assim. Hipócrita, cínico.

Não só assim, é claro, mas também assim se forma, ou se deforma, a opinião pública.

Esse é um jogo de sombras. Em busca do futuro, pode esconder o passado. Pode expor o presente. Como pode camuflar o presente.









quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Como a mídia (poderosa nas mãos de famílias e políticos de direita) cria midiotas acríticos e fanáticos da "Lava Jato", em texto do jornalista Osvaldo Bertolino

  "Doutor Sérgio Moro. É assim que muitos incautos pelas ruas se referem ao juiz que comanda a ação persecutória que recebeu o nome de “Operação Lava Jato”. Há um culto ao doutor no Brasil, especialmente nas camadas médias, envolvidas por lances patéticos da mídia para divertir o público, como se neles não estivesse hipotecado nosso futuro como nação. Cria-se, desse modo, legiões de incautos, cegos e fanatizados, sem a menor noção do que há por baixo de um tapete cuidadosamente vigiado pelos setores dominantes da sociedade."

Como a mídia cria os fanáticos da “Lava Jato”

Como a mídia cria os fanáticos da “Lava Jato”


Por Osvaldo Bertolino no blog O Outro Lado da Notícia
Doutor Sérgio Moro. É assim que muitos incautos pelas ruas se referem ao juiz que comanda a ação persecutória que recebeu o nome de “Operação Lava Jato”. Há um culto ao doutor no Brasil, especialmente nas camadas médias, envolvidas por lances patéticos da mídia para divertir o público, como se neles não estivesse hipotecado nosso futuro como nação. Cria-se, desse modo, legiões de incautos, cegos e fanatizados, sem a menor noção do que há por baixo de um tapete cuidadosamente vigiado pelos setores dominantes da sociedade.
Essa fanatização tem a finalidade de conter o crescente questionamento ao poder inflado dos setores ideologicamente dominantes, tendência que vem da Abolição, da Independência, da proclamação da República e da Revolução de 1930. O ciclo de governos Lula-Dilma deu mais um impulso nessa tendência ao engajar milhões de brasileiros que se multiplicavam à margem da sociedade organizada, sem cidadania e sem poder aquisitivo, ao universo político e econômico do país.
Povo empreendedor e criativo
Culturalmente, por mais que certos historiadores e antropólogos digam — corretamente, registre-se — que nossas antigas raízes coloniais e escravistas continuam crescendo, já mudamos muito. Somos hoje um povo empreendedor e criativo  na vida cotidiana; um povo informal, iconoclasta, sempre propenso a diluir hierarquias rígidas de status ou de função. Mas os “doutores” não estão dispostos a entregar a rapadura.
Um caso recente, que ganhou certa repercussão na mídia, explica porque figuras obscuras, como Sérgio Moro, de uma hora para outra são alçadas à condição de autoridade suprema, com direito a pisotear as leis e garrotear o Estado Democrático de Direito.
Trata-se do juiz  Antônio Merreiros, de São Gonçalo (RJ), que entrou na Justiça exigindo ser tratado por “senhor”, ou “doutor”, pelos porteiros do prédio onde mora e ganhou a causa. Se um porteiro tiver a pachorra de chamá-lo de “você”, terá de pagar multa de 100 salários mínimos. Merreiros (doutor Merreiros, desculpem) teria dito: “Doutor é uma palavra que significa pessoa formada e é assim que quero ser chamado.”
Origem no passado escravagista do país
Antes de prosseguir, é preciso esclarecer, embora sucintamente, o conceito de “doutor”. Segundo o doutor Cláudio Moreno, do site “Sua Língua”, só pode ser chamado assim aquele que cumpriu as etapas constantes no curso de doutorado, incluindo a defesa de uma tese original diante de uma banca composta por cinco outros doutores. Fora do mundo acadêmico, ainda segundo o doutor Cláudio Moreno, são também chamados de “doutores” os médicos e os advogados.
De acordo com ele, isso deve ser resquício do ensino colonial, quando os jovens brasileiros abonados iam à Europa estudar medicina e direito. Hoje em dia, em um ambiente em que historicamente pouca coisa acontece sem a marca da discriminação social “doutor” também é qualquer um com algum estudo ou cuja aparência sugira que pertence às classes dominantes. É o “doutor” usado por guardadores de carro, porteiros, vendedores dos semáforos.
Muitos desses “doutores” — os acadêmicos e os informais — agem como se o simples fato de ostentar símbolos de poder desobrigasse alguém de prestar contas, a si mesmo ou à sociedade, dos passos que executam. O doutor Sérgio Moro é um exemplo típico. Ele se enquadra naquela categoria de gente que se beneficia da fragmentação social — que tem origem no passado escravagista do país — para impor seu autoritarismo. Moro é daqueles que veem a grande massa de brasileiros pobres como seres primevos, por serem negros, índios, mestiços.
Escravidão até as barbas do século XX
Para eles, os brasileiros pobres devem ser despossuídos a ponto de não ter direito sobre seu próprio corpo e cuja vida deve ser definida pelo trabalho cruciante e pelos suplícios impostos pelos patrões. A submissão funciona como sucedâneo da lei — uma anomalia no Estado Democrático de Direito. Em um país que manteve a escravidão até as barbas do século XX — caso único no mundo — é, de certa forma, natural que esta ideologia esteja impregnada na carne dessa elite.
E por isso há entre os dois extremos sociais brasileiros uma desconfiança recíproca, uma indisposição a selar contratos sociais, uma oposição natural a qualquer tentativa de organização conjunta, nacional. A tradição brasileira é de rompimento violento desses tratados sempre que a direita se acha no direito de proteger suas benesses, suas maracutaias. Vem daí o inconsciente coletivo do país de que a política e a Justiça obedecem sempre a interesses minoritários e poderosos, de que Estado é sinônimo de opressão, de que pactos democráticos nunca favorecem o cidadão comum.
Em dois ou três séculos, pouco mudou na essência do modo como a elite e o povo se veem e se relacionam. Uns continuam abusando do seu poder inchado, sabotando a trama social existente no país e nutrindo ódios de classe. Outros continuam lutando com todas as forças pela sobrevivência. O pobre sentindo muita revolta por se perceber confinado na base da pirâmide social e o rico achando que a solução mais eficaz para erradicar a pobreza é o extermínio dos pobres.
Nunca se denunciou tanto
O mais revoltante, no entanto, é que brasileiro rico não teme a lei: ou ele salta a barreira ou passa por baixo, mas poucos se detêm na fronteira do direito. Tomemos como exemplo o resultado do noticiário da mídia, que certamente leva os incautos — os fanáticos da “Lava Jato” — a imaginar que logo o Brasil será um dos países mais honestos do mundo. Isso ocorre porque as redações publicam livremente as mais duras denúncias em relação a quaisquer denúncias.
Tomemos ainda a quantidade de comissões de inquérito no Congresso Nacional, com poderes equivalentes e recursos superiores aos da Justiça para convocar pessoas e requisitar informações, que se sucedem na investigação de tudo que se possa imaginar. E o Ministério Público, que dia sim, dia não, acusa alguém de alguma coisa. E ainda a Polícia Federal, que está sempre tocando operações com algum nome de meter medo: Anaconda, Albatroz, Lince, Vampiro, Farol da Colina, Satiagraha e assim por diante.
Levemos em conta, por fim, que vimemos em um mundo no qual parlamentares, promotores ou delegados de polícia têm facilidades inéditas para quebrar o sigilo legal que protege as contas bancárias, os telefonemas ou as declarações de imposto de renda das pessoas. Nunca se denunciou tanto, e nunca tantos foram denunciados. Conclusão: quem é que teria peito, num país como este, de fazer alguma coisa errada? A resposta é: cada vez mais gente. A prova disso está, precisamente, na própria quantidade de denúncias que a cada dia surgem no noticiário. O problema é que há denúncias e denúncias.
Dinheiro, relacionamentos e esperteza
Quando se mistura tudo no mesmo balaio de gatos, o resultado desse ambiente de inquisição geral, irrestrita e permanente, é que o delinquente envolvido de fato em delitos contra o erário ou a função pública tem aparição fugaz na primeira página dos jornais ou no noticiário da TV e do rádio — em contraste com a superexposição dos presos seletivos com base em acusações de fontes de quinta categoria surgidas em farsas como o “mensalão” e a “Operação Lava Jato”.
A seletividade dos chefes das investigações, mais o filtro da mídia, separam o joio do trigo. E aí joga-se o trigo na cadeia e libera-se o joio; com estômago firme, bons advogados e a ajuda da mídia o acusado com indícios de provas robustas acaba saindo vivo da confusão. Com o passar do tempo, seu caso vai sendo esquecido e a partir daí tudo se resume a aproveitar as vantagens incomparáveis que o sistema judicial brasileiro oferece aos acusados que dispõem de dinheiro, relacionamentos e esperteza. Possivelmente não existe no mundo civilizado um sistema judicial tão bem preparado para não fornecer justiça como o do Brasil.
A parceria de inquéritos malfeitos, promotores e delegados cujo desempenho é julgado pelo número de acusações que fazem e por suas aparições na mídia, e não pelas condenações baseadas na lei que conseguem, e tribunais que a própria legislação tornou paraplégicos só pode mesmo resultar nisso. Resumo da ópera: o caso já não é de esperar que a aplicação da justiça seja mais rápida; é pedir, simplesmente, que se torne possível. Que se repeite o Estado Democrático de Direito.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

O acarajé de Moro, o Sonho da Democracia e o Pó das Elites

"O sonho da ordem não é doce. As elites brasileiras não sonham com a democracia. Nem mesmo operam sob seus parâmetros. Têm um sonho próprio, cujo desejo revelado é a acumulação de status, de benesses e de capital. E este sonho que não se sonha junto tem caráter exclusivista: está todo mundo proibido de participar. É um sonho de poder e é privativo, do qual deriva uma ordem que exclui e marca uma diferença que se consagra por si."




O acarajé, o sonho e o pó


Dia da Baiana de Acarajé
por Rogerio Dultra dos Santos, no Democracia e Conjuntura
No acarajé vai pimenta, vatapá e camarão. Pelo menos. Nos olhos dos outros a pimenta é sempre refresco. No acarajé é essencial. Não queira experimentar o acarajé quem não está acostumado aos temperos da Bahia. Dá indigestão. É igual a questionar eleição vencida. É como uma droga: depois do sabor e da euforia, pode vir a depressão e o caos. A emenda sai pior que o soneto.
É bom cuidar dos temperos, portanto. No vatapá, o leite de coco é abundante, mas o camarão é seco. A preparação é essencial. Afobação é a receita do fracasso. Se não tiver estudado, se não souber o andamento do processo, não invente. Vai ter sempre um baiano para dizer que você fez errado. E a vergonha não será alheia. Será sua.
Sonhar é mais fácil do que fazer um acarajé funcionar de acordo com as expectativas.
No começo, o sonho é doce. Existe o sonho da democracia e existe o sonho da ordem. O sonho democrático implica em pluralismo, aceitação das diferenças, ganhar e perder. O sonho da ordem são outros quinhentos. A ordem sonhada é só sua. Qualquer um outro é intruso. Enquanto no sonho da democracia todos podem participar, no sonho da ordem só quem pode meter a mão é você.
O sonho da ordem não é doce. As elites brasileiras não sonham com a democracia. Nem mesmo operam sob seus parâmetros. Têm um sonho próprio, cujo desejo revelado é a acumulação de status, de benesses e de capital. E este sonho que não se sonha junto tem caráter exclusivista: está todo mundo proibido de participar. É um sonho de poder e é privativo, do qual deriva uma ordem que exclui e marca uma diferença que se consagra por si.
Sonho que se sonha sozinho pode ser amargo. Não deixa de ser um sonho inebriante, que seduz alguns dos explorados, sob a promessa de que, tornados semelhantes temporários, sonhem virarem iguais em um dia perdido no firmamento. Mas um sonho que não se sonha junto é de difícil extração. Demanda muita violência, mídia paga, reportagens sem fim, uma justiça venal e uma articulação que pode enganar muitos por algum tempo, mas não a todos o tempo inteiro.
E quando o artifício se esgota, lá pela vigésima terceira vez que é utilizado, aparece o povo, em romaria.
Aparece o negro, o nordestino, retorna o acarajé, cobrando o experimento. Aparecem até as forças do candomblé e acusam a blasfêmia. E o sonho de um só é o destino de um só: se torna perdido em pensamento.
Na real, a universidade do interior não ajudou. Não permitiu, nele, concatenar direito e democracia, constituição e processo, acusação com prova. Ficou tudo confuso, desde o começo, naquela faculdade do caipira, naquela vida sem luz.
E com a cabeça afundada em nós, o pai peão com sede de poder, e mesmo sem saber orar, o filho pródigo veio mostrar o seu olhar, para a globo lhe dar a paz e a fama de seu sonho sonhado a só.
Mas, por mais que rezasse, e força tarefa fizesse, não vinha nada.
Ou melhor: vinha das minas geraes o pó. Mas o pó desfazia o sonho e o sonho se desfazia com o pó e com o acarajé. Então o pó era varrido para debaixo do tapete toda vez que se espalhava pelo ambiente. E o acarajé, mastigado sem dó, era expelido em golfadas pela polícia política descontrolada.
Até onde iria o sonho?
Que a democracia poderia se perder a custa de suas aventuras, não importava. Afinal, o sonho se sonhava só. Sem povo, sem voto, sem jurisdição.
Até onde ir? Era a pergunta que, no fundo, não queria responder. Porque aí o sonho fatalmente acabaria.
E não restaria povo, democracia, país. Não restaria porque sonhar.
Restaria somente o pó.
E o seu olhar não bastaria para redimir toda a ignorância, e toda a violência, e a barbárie que uma vida escura e medíocre causara a todo um país. E o acarajé seria apenas uma triste lembrança, um regurgitar medonho do que nunca poderia ter sido.

Os abusos de Sérgio Moro, midiaticamente apoiados, demostram que não há mais garantias constitucionais no Brasil dos golpistas


Não há mais garantias constitucionais no Brasil





Por Weden (extraído do Jornal GGN)
A prisão do empresário João Santana é só mais um capítulo da interrupção das garantias constitucionais no Brasil para quem não participa da frente de retomada do poder montada pelo PSDB (representante de certos setores empresariais e financistas), magistrados, agentes da Polícia Federal e Ministério Público, com o apoio estratégico e definitivo de bilionárias corporações de mídia. Não é novidade. Os poderes discricionários só atacam seus inimigos e os infiéis.
Mais esta vítima do estado de exceção estará preso sem julgamento por quanto tempo o poder abusivo quiser, sem qualquer resguardo da lei. Desde o fim da ditadura em 1985, não imaginávamos que poderíamos voltar a este estágio.
Longas prisões sem julgamento; tortura psicológica em cadeias; prisões sem mandado; perseguição política a um ex-presidente (como o fora em outra época a Jango e Juscelino); tentativa de intimidação a advogados, vitimados por calúnias e difamações; relações promíscuas entre Ministério Público e bilionárias corporações empresariais (as mídias); juízes em conluio com fins partidários e golpistas; ameaças, chantagens, extorsões, vazamentos de informação criminosos e escutas clandestinas.
Não há mais nada que falte acontecer para que seja caracterizado o estado de exceção no Brasil, já plenamente em vigor. E é assustador que o Procurador Geral da República o alimente; que o Supremo Tribunal Federal o acoberte; que o Ministro da Justiça o apoie; e que uma presidente da República, em estado de lassidão, não reaja. De qualquer forma, a história os cobrará.
O Brasil vive o pior momento desde o AI-5. Voltamos à barbárie jurídica.

O pensamento de Umberto Eco nestes tempos de eficaz manipulação midiática, promovendo ódios e caos






"No ensaio “A Nova Idade Média”, Eco prevê que a televisão deixaria de ser uma janela aberta para o mundo, e passaria a falar de si mesma, "em um labirinto de metalinguagem e eventos-encenação". Para o telespectador, o mundo só acontece se aparecer na tela." - Luis Nassif

O pensamento de Eco nesses tempos de desordem


Texto de Luis Nassif, extraido do  Luis Nassif Online



Dia desses encontrei um velho conhecido, empresário bem informado do setor imobiliário. Estava assustado com a informação de que o terrorismo do Oriente Médio já tinha conseguido cargos relevantes no governo e era questão de tempo para dar o golpe.
Tempos atrás fui a um jantar, presente uma juíza de direito que jurava de pés juntos que os comunistas dominavam a revista Veja e o Jornal Nacional.
Ontem encontrei no shopping um senhor egípcio, há 40 anos no Brasil, e espantado com a facilidade com que o seu meio – classe média alta – engolia as maiores fantasias.
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Morto dias atrás, o filósofo italiano Umberto Eco foi um estudioso dos meios de comunicação de massa. Certamente faria do Brasil atual um excelente laboratório.
Um dos primeiros fenômenos analisados por ele foi o da televisão recriando a realidade de acordo com seus scripts e sua dramaturgia (veja, a propósito, o excelente ensaio de Wilson Ferreirahttp://migre.me/t3Tjo).
No ensaio “A Nova Idade Média”, Eco prevê que a televisão deixaria de ser uma janela aberta para o mundo, e passaria a falar de si mesma, "em um labirinto de metalinguagem e eventos-encenação". Para o telespectador, o mundo só acontece se aparecer na tela.
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Eco encontra muito pontos em comum dos tempos atuais com a Idade Média, a era das trevas que se seguiu ao desmonte do Império Romano.
As mudanças globais implicaram na substituição do entendimento global, da informação sistematizada, da hierarquia nas informações pela instabilidade, a mutabilidade, a ausência de estruturas.
Ocorre um desmonte das instituições similar ao desmanche do Império Romano.
Eco comparava esse caos ao labirinto medieval - diferente do labirinto clássico grego, no qual o fio de Ariadne é a solução para se encontrar o caminho de volta. O labirinto medieval é maneirista, como múltiplas ramificações de uma árvore, permitindo múltiplas interpretações onde o jogo que encanta é "o prazer em se perder e abandonar as noções de verdade, fidelidade ou originalidade". Não importa a verdade, mas as maneiras de interpreta-la.
O discurso medieval era composto por grandes monólogos, repletos de citações de autoridades, "mantendo o mesmo léxico, a mesma retórica, o mesmo argumento". Como explica Wilson, era a forma como o medieval reagia à desordem e à dissipação cultural da decadência do Império Romano.
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Hoje em dia, prossegue Eco, esse recurso ao trololó se repete sob a roupagem da “falácia referencial”. "Através de maneirismos, bricolagens, pastiches etc. produzem-se novas significações através da repetição. Se na Idade Média a repetição da “Autorictas”, hoje é escondida sob a pátina das diferentes opiniões, métodos e do monopólio econômico e midiático", diz Wilson.
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No final de sua vida, Eco passou a considerar a Internet como "como uma semiose selvagem e perigosa", com informações excessivas  e sem hierarquia, onde a criação de novas significações transformou-se em replicações, como na autorictas medieval.
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De fato, até alguns anos atrás a hierarquização da informação produzia uma ordem, muitas vezes falsa mas, enfim, ordem. Na fase inicial, o advento das redes sociais e dos blogs permitiu o contraponto às verdades estabelecidas da velha mídia.
Com o tempo, o opinionismo expandiu-se, liquidando com qualquer hierarquia. Não vale mais o carteiraço, a exposição de currículos para fortalecer a opinião. Pelo contrário, o populismo desvairado investe contra qualquer tentativa de hierarquizar as opiniões.
Ao mesmo tempo, o oportunismo irresponsável dos jornais abriu espaço para um discurso delirante da ultra-direita, esfumaçando ainda mais o cenário turvo das informações. Em vez de filtro para o caos da Internet, os grupos de mídia se transformaram em potencializadores das pirações da rede.
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Tudo isso acontece em um quadro de dissolução dos partidos sociais, de perda de controle das corporações públicas sobre a base, de corrosão inédita do poder presidencial, de fim de ciclo dos grupos de mídia, de falta de perspectivas da oposição.
Os otimistas costumam argumentar que é do caos que nasce a luz. Os pessimistas diriam que é do caos que nasce mais caos.
Inegavelmente, o Brasil entra na fase mais complexa da sua história, período de terremotos universais, de caos global das democracias, sem um fio condutor. O espaço está sendo ocupado por uma nova geração, sem passado, ocupando o lugar de uma velha geração que recusou-se a ver o futuro.
A falta de figuras referenciais, para conduzir a transição, é o que mais assusta nesses tempos de caos.