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domingo, 27 de julho de 2014

Leonardo Boff sobre o maléfico "deus" Mercado transformado em único e soberano eixo social



As ameaças da Grande Transformação


Parte I

Textos de Leonardo Boff

A Grande Transformação consiste na passagem de uma economia de mercado para uma sociedade de mercado. Ou em outra formulação: de uma sociedade com mercado para uma sociedade só de mercado. Mercado sempre existiu na história da humanidade, mas nunca uma sociedade só de mercado. Quer dizer, uma sociedade que coloca a economia como o eixo estruturador único de toda a vida social, submetendo a ela a política e anulando a ética. Tudo é vendável, até o sagrado.
Não se trata de qualquer tipo de mercado. É o mercado que se rege pela competição e não pela cooperação. O que conta é o benefício econômico individual ou corporativo e não o bem comum de toda uma sociedade. Geralmente este benefício é alcnaçado às custas da devastação da natureza e da gestação perversa de desigualdades sociais. Nesse sentido a tese de Thomas Piketty em O capital no século XXI é irrefutável.
O mercado deve ser livre, portanto, recusa controles e vê o Estado como seu grande empecilho, cuja missão, sabemos, é ordenar com leis e normas a sociedade, também o campo econômico e coordenar a busca comum do bem comum. A Grande Transformação postula um Estado mínimo, limitado praticamente às questões ligadas à infra-estrutura da sociedade, ao fisco, mantido o mais baixo possível e à segurança.Tudo o mais deve ser buscado no mercado, pagando.
O gênio da mercantilização de tudo penetrou em todos os setores da sociedade: a saúde, a educação, o esporte, o mundo das artes e do entretenimeno e até grupos importantes das religiões e das igrejas. Estas incorporaram a lógica do mercado: a criação de uma massa enorme de consumidores de bens simbólicos, igrejas pobres em espírito, mas ricas em meios de fazer dinheiro. Não raro no mesmo complexo funciona um templo e junto a ele um shopping. Enfim, se trata sempre da mesma coisa: auferir rendas seja com bens materiais seja com bens “espirituais”.
Quem estudou em detalhe este processo avassalador foi um historiador da economia, o húngaro-norte-americano Karl Polanyi (1886-1964). Ele cunhou a expressão A Grande Transformação, título do livro escrito antes do final da Segunda Guerra Mundia em 1944. No seu tempo a obra não mereceu especial atenção. Hoje, quando suas teses se vem mais e mais confirmadas, tornou-se leitura obrigatória para todos os que se propõem entender o que está ocorrendo no campo da economia com repercusão em todos os âmbitos da atividade humana, não excluida a religiosa. Desconfia-se que o próprio Papa Francisco tenha se inspirado en Polaniy para criticar a atual mercantilização de tudo, até do ser humano e órgãos.
Essa forma de organizar a sociedade ao redor dos interesses econômicos do mercado cindiu a humanidade de cima a baixo: um fosso enorme se criou entre os poucos ricos e os muitos pobres. Gestou-se uma espantosa injustiça social com multidões feitas descartáveis, consideradas óleo gasto, não mais interessante para o mercado: produzem irrisoriamente e consomem quase nada.
Simultaneamente a Grande Transformação da sociedade em mercado criou também uma iníqua injustiça ecológica. No afã de acumular, foram explorados de forma predatória bens e serviços da natureza, devastando inteiros ecossistemas, contaminando os solos, as águas, os ares e os alimentos, sem qualquer outra consideração ética, social ou sanitária.
Um projeto desta natureza, de acumulação ilimitada, não é suportado por um planeta limitado, pequeno, velho e doente. Eis que surgiu um problema sistêmico, do qual os economistas deste tipo de economia, raramente se referem: foram atingidos os limites fisico-químicos-ecológicos do planeta Terra. Tal fato dificulta senão impede a reprodução do sistema que precisa de uma Terra, repleta de “recursos” (bens e serviços ou ‘bondades’ na lingugem dos indígenas).
A continuar por esse rumo, poderemos experimentar, como já o estamos experimentando, reações violentas da Terra. Como é um Ente vivo que se autoregula, reage para manter seu equilíbrio afetado através de eventos extremos, terremotos, tsunamis, tufões e uma completa desregulação dos climas.
Essa Transformação, por sua lógica interna, está se tornando biocida, ecocida e geocida. Destrói sistematicamente as bases que sustentam a vida. A vida corre risco e a espécie humana pode, seja pelas armas de destruição em massa existentes seja pelo caos ecológico, desaparecer da face da Terra. Seria a consequência de nossa irresponsabilidade e da total falta de cuidado por tudo o que existe e vive.
Parte II
Analisamos no artigo anterior, as ameaças que nos traz a transformação da economia de mercado em sociedade de mercado com a dupla injustiça que acarreta: a social e a ecológica. Agora quermos nos deter em sua incidência no âmbito da ecologia tomada em sua mais vasta acepção, no ambiental, social, mental e integral.
Constatamos um fato singular: na medida em que crescem os danos à natureza que afetam mais e mais as sociedades e a qualidade de vida, cresce simultaneamente a consciência de que, na ordem de 90%, taisdanos se tributam à atividade irresponsável e irracional dos seres humanos,mais especificamente, àquelas elites de poder econômico, político, cultural e mediático que se constituem em grandecorporações multilaterais e que assumiram por sua conta os rumos do mundo. Temos, com urgência, fazer alguma coisa que interrompa este percurso para o precipício. Como adverte a Carta da Terra: “ou fazemos uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros, ou arriscamos a nossa destruição e a da diversidade da vida”(Preâmbulo).
A questão ecológica, especialmente após o Relatório do Clube de Roma em 1972 sob o título “Os Limites do Crescimento” tornou-se tema central da política, das preocupações da comunidade científica mundial e dos grupos mais despertos e preocupados pelo nosso futuro comum.
O foco das questões se deslocou: do crescimento/desenvolvimento sustentável (impossível dentro da economia de mercado livre) para a sustentação de toda a vida. Primeiro há que se garantir a sustentabilidade do planeta Terra, de seus ecossistemas, das condições naturais que possibilitam a continuidade da vida. Somente garantidas estas pré-condições, se pode falar em sociedades sustentáveis e em desenvolvimento sustentável ou de qualquer outra atividade que queira se apresentar com este qualificativo.
A visão dos astronautas reforçou a nova consciência. De suas naves espaciais ou da Lua se deram conta de que Terra e a Humanidade formam uma única entidade. Elas não estão separadas nem juxtapostas. A Humanidade é uma expressão da Terra, a sua porção consciente, inteligente e responsável pela preservação das condições da continuiade da vida. Em nome desta consciência e desta urgência, surgiu o princípio responsabilidade (Hans Jonas), o princípio cuidado (Boff e outros), o princípio sustentabilidade (Relatório Brundland), o princípio interdependência, o princípio cooperação (Heisenberg/Wilson/Swimme/Morin/Capra)e o princípio prevenção/precaução (Carta do Rio de Janeiro de 1992 da ONU), oprincípio compaixão (Schoppenhauer/Dalai Lama) e o princípio Terra (Lovelock e Evo Morales).
A reflexão ecológica se complexificou. Não se pode reduzi-la apenas à preservação do meio ambiente. A totalidade do sistema mundo está em jogo. Assim surgiu uma ecologia ambiental que tem como meta a qualidade de vida; uma ecologia social que visa um modo sustentável de vida e uma sobriedade compartida (produção, distribuição, consumo e tratamento dos dejetos); uma ecologia mental que se propõe erradicar preconceitos e visões de mundo, hostis à vida e formular un novo design civilizatório, à base de princípios e de valores para uma nova forma de habitar a Casa Comum; e por fim uma ecologia integral que se dá conta que a Terra é parte de um universo em evolução e que devemos viver em harmonia com o Todo, uno, complexo e perpassado de energias que sustentam a vitalidade da Terra e carregado de propósito.
Criou-se destarte uma grelha teórica, capaz de orientar o pensamento e as práticas amigáveis à vida. Então se torna evidente que a ecologia mais que uma técnica de gerenciamento de bens e serviços escassos representa uma arte, uma nova forma de relacionamento com a vida, a natureza e a Terra e a descoberta da missão do ser humano no processo cosmogênico e no conjunto dos seres: cuidar e preservar.
Por todas as partes do mundo, surgiram movimentos, instituições, organismos, ONGs, centro de pesquisa, cada qual com sua singularidade: quem se preocupa com as florestas, quem com os oceanos, quem com a preservação da biodiversidade, quem com as espécies em extinção, quem com os ecossistemas tão diversos, quem com as águas e os solos, quem com as sementes e a produção orgânica. Dentre todos estes movimentos cabe enfatizar o Greenpeace pela persistência e coragem de enfrentar, sob riscos, aqueles que ameaçam a vida e o equilíbrio da Mãe Terra.
A própria ONU criou uma série de instituições que visam acompanhar o estado da Terra. As principais são o PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), a FAO (Organização das Nações Unidas para a alimentação e a agricultura), a OMS (Organização Mundial para a Saúde), aConvenção sobre a Biodiversidade e especialmente o IPPC (Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas) entre outras tantas.
Esta Grande Transformação da consciência opera uma complicada travessia, necessária para fundar um novo paradigma, capaz de transformar a eventual tragédia ecológico-social numa crise de passagem que nos permitirá um salto de qualidade rumo a um patamar mais alto de relação amistosa, harmoniosa e cooperativa entre Terra e Humanidade. Se não assumirmos esta tarefa o futuro comum estará ameaçado.

Parte III

Promessas de outro tipo de Transformação

Para pormos em curso outro tipo de Grande Transformação que nos devolta a sociedade com mercado e elimine a deletéria sociedade unicamente de mercado, precisamos fazer algumas travessias improstergáveis. A maioria delas está em curso mas elas precisam ser reforçadas. Importa passar:

-do paradigma Império, vigente há seculos para o paradigma Comunidade da Terra;

-de uma sociedade industrialista que depreda os bens naturais e tensiona as relações sociais para uma uma sociedade de sustentação de toda a vida;

-da Terra tida como meio de produção e balcão de recursos sujeitos à venda e à exploração para a Terra como um Ente vivo, chamado Gaia, Pacha Mama ou Mãe Terra;

-da era tecnozoica que devastou grande parte da biosfera para a era ecozoica pela qual todos os saberes e atividades se ecologizam e juntas cooperam na salvaguarda da vida.

-da lógica da competição de se rege pelo ganha-perde e que opõem as pessoas para a lógica da cooperação do ganha-ganha que congrega e fortalece a solidariedade entre todos.

-do capital material sempre limitado e exaurível, para o capital espiritual e humano ilimitado feito de amor, solidariedade, respeito, compaixão e de uma confraternização como todos os seres da comunidade de vida;

-de uma sociedade antropocêntrica, separada da natureza, para uma sociedade biocentrada que se sente parte da natureza e busca ajustar seu comportamento à logica do processo cosmogênico que se caracteriza pela sinergia, pela interdependência de todos com todos e pela cooperação.

Se é perigosa a Grande Transformação da sociedade de mercado, mais promissora ainda é a Grande Transformação da consciência. Triunfa aquele conjunto de visões, valores e princípios que mais congregam pessoas e melhor projetam um horizonte de esperança para todos. Essa seguramente é a Grande Transformação das mentes e dos corações a que se refere a Carta da Terra. Esperamos que se consolide, ganhe mais e mais espaços de consciência com práticas alternativas até assumir a hegemonia da nossa história.

Há um documento acima citado a Carta da Terra por seu alto valor de inspiração e gerador de esperança. Ela é fruto de uma vasta consulta dos mais distintos setores das sociedades mundiais, desde os povos originários, das tradições religiosas e espirituais até de notáveis centros de pesquisa. Foi animada especialmente por Michail Gorbachev, Steven Rockfeller, o ex-primeiro ministro da Holanda Lubbers, Maurice Strong, sub-secretário da ONU e Mirian Vilela, brasileira que, desde o início coordena os trabalhos e dirige o Centro na Costa Rica. Eu memo faço parte do grupo e tenho colaborado na redação do documento final e de sua difusão por onde posso.

Depois de 8 anos de intensos trabalhos e de encontros frequentes nos vários continentes, surgiu um documento pequeno mas denso que incorpora o melhor da nova visão nascida das ciências da Terra e da vida, especialmente da cosmologia contemporânea. Ai se traçam princípios e se elaboram valores no arco de uma visão holística da ecologia, que podem efetivamente apontar um camino promissor para a humanidade presente e futura. Aprovado em 2001 foi assumido oficialmente em 2003 pela UNESCO como um dos materiais educativos mais inspiradores do novo milênio.

A Hidrelétrica Itaipu-Binacional, a maior do gênero no mundo, tomou a sério as propostas da Carta da Terra e seus dois diretores Jorge Samek e Nelton Friedrich conseguiram envolver 29 municípios que bordeiam o grande lago onde vive cerca de um milhão de pessoas. Deram início de fato a uma Grande Transformação. Lá se realiza efetivamente a sustentabilidade e se aplica o cuidado e a responsabilidade coletiva em todos os municípios e em todos os âmbitos, mostrando que, mesmo dentro da velha ordem, se pode gestar o novo porque as pessoas mesmas vivem já agora o que querem para os outros.

Se concretizarmos o sonho da Terra, esta não será mais condenada a ser para a maioria da humanidade um vale de lágrimas e uma via-sacra de padecimentos. Ela pode ser transformada numa montanha de bem-aventuranças, possíveis à nossa sofrida existência e uma pequena antecipação da transfiguração do Tabor.

Para que isso ocorra, não basta sonhar, mas importa praticar.
Leonardo Boff escreveu com Jürgen Moltmann, Há esperança para a criação ameaçada? Vozes 2014.

sábado, 26 de julho de 2014

Ariano Suassuna e Rubem Alves juntos em 2011 e agora, em 2014



Ariano e Rubem, em 2011

Os amigos ontem, generosos em semear livros e pensamentos, agora se reencontram para, juntos, verem brotar as suas sementes....

Carlo Antonio Fragoso Guimarães


sexta-feira, 25 de julho de 2014

Ariano Suassuna sobre a Morte e a Vida




"Todos nós morremos e eu dança mesmo assim. 
A tarefa de viver é dura, mas fascinante. 
Agradeço a Deus o fato de viver.
 É com estas três palavras que eu danço:
Missão, vocação e festa".

Ariano Suassuna
(João Pessoa, 1927- Recife, 2014)





domingo, 20 de julho de 2014

As palavras de despedida de Rubem Alves


"Sou grato pela minha vida. Não terei últimas palavras a dizer. As que tinha para dizer, disse durante a minha vida. Recebi Muito. Fui muito amado. Tive muitos amigos. Plantei árvores, fiz jardins. Construí fontes, escrevi livros. Tive filhos, viajei, experimentei a beleza, lutei pelos meus sonhos. Que mais pode um homem desejar? Procurei fazer aquilo que meu coração pedia."

"Não tenho medo da morte, embora tenha medo do morrer. O morrer pode ser doloroso e humilhante, mas à morte, eis uma pergunta. Voltarei para o lugar onde estive sempre, antes de nascer, antes do Big Bang? Durante esses bilhões de anos, não sofri e não fiquei aflito para que o tempo passasse. Voltarei para lá até nascer de novo."
Rubem Alves (1933-2014)

O festejar como exuberância lúdica ante o reducionismo homogeneizante de uma razão impessoal

Segue texto de Leonardo Boff:

Festejar: é afirmar a bondade da vida




O tema da festa é um fenômeno que tem desafiado grandes nomes do pensamento como R. Caillois, J. Pieper, H. Cox, J. Motmann e o próprio F.Nietzsche. É que a festa revela o que há ainda de mítico em nós no meio da prevalência da fria racionalidade. Quando se realizou a Copa de futebol no Brasil no mes de junho/julho do corrente ano de 2014 irromperam as grandes festas, em todas as classes sociais, verdadeiras celebrações. Mesmo depois da humilhante derrota do Brasil frente à Alemanha, as festas não esmoreceram. Na Costa Rica, mesmo não sendo a campiã do mundo, mas mostraram excelente futebol, até o Presidente saíu à rua para celebrar. Não foi diferente na Colômbia.

A festa faz esquecer os fracssos, suspende o terrível cotidiano e o tempo dos relógios. É como se, por um momento, participássemos da eternidade, pois na festa não percebemos o tempo passar.

A festa, em si, está livre de interesses e finalidades, embora haja festas para negócios onde a festa se transforma em berber, comer e negociar. Mas na festa que é festa, todos estão juntos não para aprenderem ou ensinarem algo uns aos outros, mas para alegrarem-se, para estar aí, um-para-o-outro comendo e bebendo na amizade e na concórdia. A festa reconcilia todas as coisas e nos devolve a saudade do paraíso das delícias, que nunca se perdeu totalmente. Platão sentenciava com razão:”os deuses fizeram as festas para que pudéssem respirar um pouco”. A festa não é um só um dia dos homens mas também “um dia que o Senhor fez” como diz o Salmo 117,24. Efetivamene, se a vida é uma caminhada onerosa, precisamos, às vezes, parar para respirar e, renovados, seguir adiante.

A festa parece um presente que já não depende de nós e que não podemos manipular. Pode-se preparar a festa. Mas a festividade, vale dizer, o espírito da festa, surge de graça. Ninguém a pode prever nem simplemente produzir. Apenas nos podemos prepar interior e exteriormente e acolhê-la.

Pertence à festa mais social (bodas, aniversário) a roupa festiva, a ornamentação, a música e até a dança. Donde brota a alegria da festa? Talvez Nietszche encontrou sua melhor formulação:”para alegrar-se de alguma coisa, precisa-se dizer a todas as coisas: sejam benvindas”. Portanto, para podermos festejar de verdade precisamos afirmar positivamente a totalidade das coisas.:”Se pudermos dizer sim a um único momento então teremos dito sim não só a nós mesmos mas à totalidade da existência” ”(Der Wille zur Macht, livro IV: Zucht und Züchtigung n.102).

Esse sim subjaz às nossas decisões cotidianas, em nosso trabalho, na preocupação pela família, na convivência com os colegas. A festa é o tempo forte no qual o sentido secreto da vida é vivido mesmo inconscientemente. Da festa saimos mais fortes para enfrentar as exigências da vida.
Em grande parte, a grandeza de uma religião, cristã ou não. reside em sua capacidade de celebrar e de festejar seus santos e mestres, os tempos sagrados, as datas fundacionais. Na festa cessam as interrogações do coração e o praticante celebra a alegriade de sua fé em companhia de irmãos e irmãs que com eles partilham das mesmas convicções, ouvem a mesma Palavra sagrada e se sentem próximos de Deus.

Vivendo desta forma, a festa religiosa, percebemos de como é equivocado o discurso que sensacionalisticamente anuncia a morte de Deus. Trata-se de um trágico sintoma de uma sociedade saturada de bens materiais, que assiste lentamente não a morte de Deus, mas a morte do homem que perdeu a capacidade de chorar, de se alegrar pela bondade da vida, pelo nascer do sol e pela carícia entre dois namorados.

Novamente nos socorre  Nietzsche que muito entendeu da verdade essencial do Deus vivo, sepultado sob tantos elementos envelhecidos de nossa cultura religiosa e da rigidez da ortodoxia das igrejas: a perda da jovialidade, isto é, da graça divina (jovialidade vem de Jupter, Jovis). É a consequência fundamental da morte de Deus (Fröhliche Wissenschaft III, aforismo 343 e 125).

Pelo fato de havermos perdido a jovialidade, grande parte de nossa cultura não sabe festejar. Conhece sim a frivolidade, os excessos do comer e beber, os palavrões grosseiros, e as festas montadas como comércio, nas quais há tudo menos alegria e jovialidade.

A festa tem que ser preparada e somente depois celebrada. Sem esta disposição interior corre o risco de perder seu sentido alimentador da vida onerosa que levamos. Hoje em dia vivemos em festas. Mas porque não sabemos nos preparar nem prepará-las. saimos delas vazios ou saturados quando seu sentido era de encher-nos de um sentido maior para levar avante a vida, sempre desafiante e para a maioria, trabalhosa.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Bob Fernandes e o sucesso da Copa e fracasso dos conspiradores





O "Povo"deu aulas de civilidade ao "topo" e à política com a Copa



No jornalismo, por questões de espaço, tempo e técnica, a realidade é fatiada. Em matérias e títulos distintos.

Cada reportagem trata de um assunto que se encerra em si mesmo... Isso é Copa, aquilo é política, isso é economia.

Na vida, na real, tudo é parte inseparável do todo.

As eleições estão ai. Páginas escritas nessa Copa deixam ensinamentos para a Política, e para o topo. Ensinam sobre quem soube jogar.

O Brasil recebeu 1 milhão de visitantes. Pesquisa do Datafolha diz: 83% dos estrangeiros aprovaram a Copa.

Os estrangeiros perceberam os altos custos, a desigualdade social, a insegurança... mas 95% querem voltar ao Brasil.

Impressionantes 95% disseram que a recepção a eles foi "ótima" ou "boa". Performance extraordinária em qualquer lugar do mundo.

Quem recebeu os visitantes foi um conjunto de instituições, e o coletivo de cidadãos que chamamos de "o povo brasileiro".

Note-se: num país onde 50 mil pessoas são assassinadas a cada ano, nada de grave aconteceu ao longo de um mês com esse 1 milhão de visitantes.

Disputas entre torcidas, farras homéricas Brasil afora, e foi no trânsito que dois argentinos, jornalistas, perderam a vida.

Espancamentos e prisões arbitrárias, assassinatos nossos de cada dia, se deram entre brasileiros... Aprendamos algo com isso.

Aprenderam sobre o Brasil bilhões de pessoas que acompanharam a Copa e as notícias.

Se os alemães souberam vender e comprar simpatia, quem recebeu bem 1 milhão de hóspedes também soube jogar.

Essa lição de maturidade coletiva deve se assimilada pela Política, e pelo topo.

Pelos que anunciaram e apostaram no caos. E por quem tenha sonhando em obter dividendos com a eventual glória alheia.

A eleição está ai. Virá a marquetagem, vendedores e vendedoras de fumaça.

Vai errar quem duvidar de novo da capacidade de entender, decidir e agir do chamado "povo brasileiro

domingo, 13 de julho de 2014

Venceu a Terra dos gênios na Copa



Na Copa do Mundo 2014, no Brasil, venceu o melhor time, da seleção mais afinada com os brasileiros. Venceu a terra de Bach, Beethoven, Brahms, Goethe e Karl Marx! Parabéns, Alemanha!

Obs.: O ponto negativo, mais uma vez, ficou por conta da elite branca fascista de direita que não respeitou a presidente democraticamente eleita e que será reeleita pela maioria...


sexta-feira, 11 de julho de 2014

Valeu a luta pela #Copa das Copas



Apesar de tudo, do grande susto e tristeza do dia oito de julho, tudo valeu!

Valeu.... Se o técnico foi incompetente ou os jogadores imaturos, ainda assim tivemos uma linda festa, apesar de uma mídia e uma elite deselegante e fascista, que tanto conspirara para o Caos e o fracasso do evento (e que tentaram retomar) .... E não vai ser a alegria de quem torceu contra que nos vai tirar os bons momentos que encantaram o mundo e fizeram o brasileiro ter orgulho de ser brasileiro...

Carlos Antonio Fragoso Guimarães



quarta-feira, 9 de julho de 2014

A derrota da Seleção, a Globo, a Mídia, os Cartolas e as raizes por trás do "inesperado"




A seguir, cinco pontos de vista, cinco olhares complementares sobre o sucesso da Copa das Copas e o insucesso da Seleção Brasileira, bem como o atual papel da mídia no evento:


I Texto


 Saudades de um bom futebol e de um bom jornalismo que não existem mais



de Ricardo Amaral

Fonte: http://jornalggn.com.br/noticia/saudades-do-bom-futebol-e-do-bom-jornalismo-por-ricardo-amaral


Sou de uma geração privilegiada. Tínhamos o melhor futebol do mundo, e jornais que buscavam sintonia com a alma do país, na vitória e na derrota. Hoje não temos uma coisa nem outra. Basta comparar como os jornais brasileiros se comportaram em dois momentos de dor nacional: as derrotas da Seleção na Copa de 1982 e na de 2014.
Dois contrastes: Jornalismo e sensibilidade na capa  do Jornal da Tarde, em 82. Escárnio e grosseria nas capas de ontem:


Em 82, fomos consolados pela crônica de Carlos Drummond de Andrade, elevada a capa de Esportes do Jornal Brasil e ilustrada por um Chico Caruso que não existe mais. Drummond lambia paternalmente as feridas de um país atônito, e nos convocava a retomar a vida:

Ontem, na capa do UOL,rancor e xenofobia sem sentido contra a Argentina; resumo do incontido desejo de vingança de uma mídia golpista contra a realização bem-sucedida da Copa no Brasil:

Minha geração conheceu o JT, o JB e Telê. Não vou chorar.

II - Texto de Leonardo Boff


Deslumbramento, mídia e humilhação: o jogo Brasil e Alemanha


Fonte: http://leonardoboff.wordpress.com/2014/07/10/deslumbramento-e-humilhacao-o-jogo-brasil-e-alemanha/


  O jogo para as semi-finais entre Brasil e Alemanha do dia 8 de julho no grande estádio de Belo-Horizonte significou uma justa vitória da seleção alemã e uma arrasadora e vergonhosa derrota brasileira. Milhões estavam nas praças e ruas de todas as cidades. A atmofera de euforia dos brasileiros, a maioria enfeitados de verde-amarelo, as cores nacionais, não toleraria jamais, sequer por imaginação, semelhante humilhação. E ela caiu como um raio em céu azul.

  Vejo duas razões básicas que, em parte, explicam o resultado final de 7×1 gols em favor da Alemanha. Os alemães, bem como outros times europeus, renovaram as estratégias e as formas de jogar futebol. Investiram, a meu ver, em três pontos básicos: cuidadoso preparo físico dos jogadores para ganharem grande resistência e velocidade; em segundo lugar, preparar craques individuais que pudessem jogar em qualquer posição e correr todo o campo e por fim criar um grande sentido de conjunto. Excelentes jogadores que não pretendem mostrar sua performance individual mas sabem se integrar no grupo formando um grupo coeso, tornam-se fortes favoritos em qualquer competição. Não que sejam invencíveis, pois vimos que, jogando com os USA, a seleção alemã teve grande dificuldade em ganhar. Mas as referidas qualidades foram o segredo da vitória alemã sobre o Brasil.

  A grande questão foi a seleção brasileira. Criou-se quase como consenso nacional de que somos a pátria do futebol, que somos ganhadores de 5 copas mundiais, que temos o rei Pelé e craques excepcionais como Neymar e outros. Houve por parte da midia corporativa e das agências de apoio, a criação do mito do “Jogador da Copa”, elevado a herói e quase a um semi-deus. Esta atmosfera de euforia que atendia ao marketing das grandes empresas apoiadoras,, acabaram contaminando a mentalidade popular. Poderíamos perder, mas por pouco. Mas, para a grande maioria, a vitória era quase certa, ainda mais que os jogos estavam se realizando no próprio pais.

  Essa euforia generalizada não preparou a população para aquilo que é próprio do esporte: a vitória ou a derrota ou o empate. A maioria jamais poderia imaginar, nem por sonho, que poderíamos conhecer uma derrota assim humilhante. A vitória era celebrada por antecipação. Grave equívoco, em grande parte, induzido pela mídia do oba-oba e da euforia, orquestrada por uma famosa rede de TV e seus comentaristas.

  Mas houve também um penoso erro por parte da comissão técnica brasileira. Pelo nosso passado glorioso, ela julgou-se mestra a ponto de pretender ensinar aos outros como deve ser o futebol. Ficou sentada sobre as glórias do passado. Não se renovou. 

 Enquanto isso, em outros lugares, na Europa, especialmente na Alemanha e na Espanha mas também na América Latina como na Colômbia e em Costa Rica se desenvolvia uma nova compreensão do futebol, criaram-se novas táticas e formas de distribuir as posições dos jogadores em campo. Nada disso foi aproveitado pela comissão técnica brasileira, especialmente seu treinador Luis Felipe Scolari (chamado de Felipão). É uma figura paternal, severa e terna ao mesmo tempo, amada pelos jogadoras e, em geral, respeitada pelo público. Mas é teimoso e persistente em suas fórmulas, boas para o passado, mas inadequadas e questionáveis para o presente. Ele não se deu conta de que o mundo do futebol havia se transformado profundamente, embora tenha trabalhado fora do Brasil.

 Não conseguiu duas coisas que permitem entender o fracasso fragoroso da seleção brasileira. Scolari não desestimulou o tradicional e exacerbado individualismo dos jogadores. Cada qual quer mostrar sua boa performance, quer dar o seu show particular, até em vista de eventual contratação por grandes times estrangeiros. Em segundo lugar, não conseguiu criar um grupo coeso com espírito de grupo. Os jogos deveriam colocar  o ênfase no grupo e em seguida nas qualidades específicas de cada jogador. Deixou os jogadores dispersos. Criaram vácuos inadmissíveis no meio do campo. Não souberam marcar os principais craques do time adversário.

 Os alemães se deram conta desta fraqueza estrutural da seleção brasileira. Souberam explorá-la com habilidade. Nos primeiros minutos marcaram já o primeiro gol aos 29 minutos do primeiro tempo já era 5 a 0.

 Tal desastre futebolístico criou uma espécie de pane na seleção brasileira. Ficou totalmente desnorteada. Falatou-lhe a serenidade diante das dificuldades e deixaram-se tomar pela desorientação. O próprio treinador Felipão Scolari não soube fazer as substitiuições necessárias. Estas ocorreram apenas no segundo tempo.

 O jogo parecia uma disputa de um time suburbano e popular enfrentando uma seleção de nîvel internacional. Isso não era o futebol que sempre conhecíamos, cujos dirigentes não quiseram aprender nada dos outros, fechados em sua arrogância. Perdemos por causa de arrogantes e ignorantes.

 Tivéssemos 11 Neymares em campo sem um grupo coeso e ordenado, o resultado não seria tão diferente. Perdemos porque jogamos mal e jogamos mal porque não soubemos nos apropriar do novo que se ensaiou fora do Brasil. E não formamos um grupo articulado e versátil.

 Sinto, pessoalmente, grande pena dos “brasileirinhos”  que com entusiasmo torceram pela seleção, como bem escreveu o jornalista André Trigueiro. A maioria agora se sente órfã. Aqui, nesse país pluridiverso, com uma população hospitaleira e lúdica, para ela quase nada funciona bem nem a saúde, nem a educação, nem o transporte e nem a segurança. Tirando o carnaval, não somos bons em quase nada, dizem. Mas pelo menos somos bons no futebol. Isso dava ao simples povo o sentido de auto-estima. Agora nem mais podemos apelar para o futebol. Por muitos e muitos anos esta terça-feira sinistra de 8 de julho de 2014 com 7 gols a 1 para a Alemanha nos acompanhará como uma sombra funesta. Mas o povo que suportou já tantas adversidades saberá dar a volta por cima. Ele detem uma resiliência histórica como poucos.

  Espero apenas uma coisa: que a elite que, na abertura, vergonhasamente vaiou a Presidenta com palavrões indizíveis não volte a envergonhar o Brasil diante do mundo, quando ela entregar a taça ao vencedor. Como tais elites não costumam  frequentar  os estádios e têm pouco compromisso com o Brasil mas muito mais com seus privilégios serão capazes de renovar este  ato despudorado. Elas apenas mostrariam como se comportam diante do povo e do seu próprio país:com soberano desdém, pois sofrem por não viver em Miami ou em Paris e se sentirem condenadas a  viver acumulando aqui no Sul do mundo.


Menção honrora merece a seleção alemã que foi discreta na celebração e não se prevaleceu sobre uma vitória tão deslumbrante. E o povo brasileiro soube  entender esta atitude  e  lhe reconheceu a dignidade na vitória aplaudindo-a, pois se mostrou realmente melhor.


III -Texto de Luis Nassif


A Globo e as raízes do subdesenvolvimento do futebol brasileiro


Fonte:http://jornalggn.com.br/noticia/a-globo-e-as-raizes-do-subdesenvolvimento-do-futebol-brasileiro


Os bravos jornalistas da CBN foram rápidos no gatilho: os 7 x 1 da Alemanha comprovam que a presidente Dilma Rousseff é “pé frio”.

Pé frio é bobagem, é buscar culpar alguém. Não é o que dizem de Galvão Bueno?

Como são analistas sofisticados, da política e da economia, poderiam afirmar que Dilma talvez seja culpada - assim como Lula, Fernando Henrique Cardoso e outros presidentes - por não ter entrado na batalha pela modernização do futebol brasileiro.

Poderiam ter avançado mais no diagnóstico. Explicado que a maior derrota do futebol brasileiro – e latino-americano em geral – estava no fato de que a maioria absoluta dos seus jogadores serem de times europeus, da combalida Espanha, da Alemanha, Inglaterra e França.


Ali estaria a prova maior do subdesenvolvimento do futebol brasileiro, um mero exportador de mão-de-obra para o produto acabado europeu, campeonatos riquíssimos mesmo em períodos de crise.

Mas a questão principal é quem colocou na copa da árvore o jabuti do subdesenvolvimento futebolístico brasileiro.


Se quisessem aprofundar mais, poderiam mostrar conhecimento e erudição esportiva reportando-se a uma tarde de julho de 1921, em Jersey City,  quando surgiu o primeiro Galvão Bueno da história, o locutor J. Andrew White, pugilista amador, preparando-se para narrar a luta história de Jack Dempsey vs George Carpentier para a Radio Corporation of America (RCA). 61 cidades tinham montado seus “salões de rádio” para um público estimado em centenas de milhares de ouvinte.

O que era apenas um hobby de radio amadores, tornou-se, a partir de então, o evento mais prestigiado nas radio transmissões.

Se não fosse cansar demais os ouvintes da CBN, os brilhantes analistas poderiam historiar, um pouco, a importância das transmissões esportivas para o que se tornaria o mais influente personagem do século no mercado de opinião: os grupos de mídia.

Mostrariam como foram criadas as redes, desenvolvidas as grades de programação, planejados os grandes eventos, como âncoras centrais da audiência.

Depois, avançariam nos demais aspectos dos grupos de mídia.

Num assomo de modéstia, reconheceriam que, em um grupo de mídia, a relevância do jornalismo é diretamente proporcional à audiência total; e a audiência depende fundamentalmente desses eventos âncora. Por isso mesmo, foi o futebol que garantiu o prestígio e a influência do jornalismo.

Não se vá exigir que descrevam a estratégia da Globo para tornar-se o maior grupo de mídia do Brasil e da América Latina. Mas se avançassem lembrariam que os eventos consolidadores foram o carnaval carioca e o futebol, pavimentando o caminho das novelas e do Jornal Nacional.

Algum entrevistado imprevisto, especialista em segurança, ou na sociologia do crime, poderia lembrar que, para conseguir o monopólio de ambos os eventos, a grande Globo precisou negociar, numa ponta, com os bicheiros que dominavam a Associação das Escolas de Samba do Rio; na outra, com os cartolas que desde sempre dominavam a CBF (Confederação Brasileira de Futebol), desde os tempos em que era CDB (Confederação Brasileira dos Desportos).

Para não pegar mal para a Globo, diria que a grande emissora foi vítima do anacronismo da sociedade brasileira, que a obriga a entrar no pântano sem se sujar.

Aos ouvintes ficariam as conclusões mais pesadas.

Graças ao submundo dos bicheiros e cartolas, a Globo venceu a competição na radiodifusão.
E graças à Globo, bicheiros e cartolas conquistaram um enorme poder junto à superestrutura do Estado brasileiro, um extraordinário jogo de ganha-ganha em que o sistema bicheiros-Globo e cartolas-Globo ganharam uma expressão política inédita e uma blindagem excepcional. Ainda mais se se considerar que o primeiro setor vive da contravenção e o segundo está mergulhado até a raiz do cabelo nos esquemas internacionais de lavagem de dinheiro, através do comércio de jogadores.

Aí a matriz de responsabilidades começa a ficar um pouco mais clara.

Um especialista em direito econômico poderia analisar o abuso de poder econômico na compra de campeonatos e os prejuízos ao consumidor, com a Globo adquirindo a totalidade dos campeonatos e transmitindo apenas parte dos jogos.

Para tornar mais ilustrativo o episódio, poderia se reconstituir a tentativa da Record de entrar no leilão e a maneira como a Globo cooptou diversos clubes, adiantando direitos de transmissão para impedir o avanço da concorrente. Ou, então, as tentativas de dirigentes mais modernos de se livrar do jugo da CBF. E como todos foram esmagados pelo poder financeiro da aliança CBF-Globo.

De degrau em degrau, de episódio em episódio, se chegaria ao busílis da questão, o bolor fétido que emana da CBF e que até hoje impediu que, no país do maior público consumidor, aquele em que o futebol é a maior paixão popular, o evento que mais vende produtos, mais galvaniza a atenção, não se consiga desenvolver uma economia esportiva moderna.

Completado o raciocínio, o distinto público da CBN entenderia os motivos do Brasil ser um mero exportador de jogadores, os clubes brasileiros serem arremedos de clube social, o fato de grandes investidores jamais terem ousado investir no evento esportivo de maior penetração no mundo, de jamais termos desenvolvidos técnicas em campo à altura do talento dos jogadores brasileiros.

A partir dai, ficaria claro as razões do subdesenvolvimento brasileiro e, forçando um pouco a barra, até a derrota de 7 x 1 para a Alemanha.


IV - Texto de Juca Kfouri, do UOL Esportes


Aécio ama a CBF



Juca Kfouri 


Aécio Neves é amigo de José Maria Marin e o homenageou, escondido, no Mineirão.

Deu-se mal porque o que escondeu em sua página na internet, Marin mandou publicar na da CBF.

Aécio também é velho amigo de baladas de Ricardo Teixeira e acaba de dizer que o país não precisa de uma “Futebras”, coisa que ninguém propôs e que passa ao largo, por exemplo, das propostas do Bom Senso FC.

Uma agência reguladora do Esporte seria bem-vinda e é uma das questões que devem surgir neste momento em que se impõe um amplo debate sobre o futuro de nosso humilhado, depauperado e corrompido futebol.

Mas Aécio é amigo de quem o mantém do jeito que está.

Não está nem aí para os que reduziram nosso futebol a pó.




V - Texto de Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania

Em defesa da Seleção






A overdose de opiniões sobre “A” derrota parece ter praticamente esgotado o assunto, até por ação de uma patética uniformidade opinativa oriunda do medo de divergir e da “necessidade” psicótica de grande parte dos brasileiros de se autoflagelar com requintes de crueldade.



Desde o ano passado muitos descobriram que a censura oficial dos anos de chumbo foi substituída por um ímpeto censor diferente, do qual o pior efeito é a autocensura dos que temem danos à própria imagem se divergirem do consenso momentâneo que se estabelece sobre várias questões.



Foi assim durante as manifestações de junho de 2013. Posso garantir ao leitor que muitos dos que sabiam que aquele movimento só serviria para desgastar Dilma Rousseff – e para mais nada –, de forma ignóbil fizeram mais do que se calar: aderiram ao que achavam ser errado.



Como sei disso? Muitos amigos me recomendaram que não contestasse o que, então, desfrutava de apoio quase unânime no país – cerca de 80% dos brasileiros chegaram a apoiar aquilo. Fizeram-me inúmeras ponderações sobre “suicídio imagético”.



Hoje, para os que se calaram sobre aquele movimento de massas ficou tão fácil criticá-lo quanto, para os que o defenderam de forma irreversível, ficou difícil voltar atrás e reconhecer o erro de avaliação.



Isso, porém, não muda o fato de que a grande maioria percebeu que aquele movimento resultou em nada, se se desconsiderar o prejuízo a um único partido político.

Cumpre-me, pois, nadar de novo contra a corrente dizendo o que penso do “vexame” da Seleção e – para os que substituíram o complexo de vira-lata pelo de ameba – “do Brasil”. Vou, aqui, defender a Seleção.

Mas, antes, faço algumas outras considerações.

A quantidade de cretinices que se leu e ouviu nos últimos dias deve superar a de estrelas em uma noite de firmamento límpido. A pior dessas cretinices foi compararem Brasil e Alemanha como sociedades. A segunda pior foi atribuírem a derrota “vexaminosa” ao governo Dilma.

Comecemos pela segunda: se o desempenho de uma seleção de jogadores de futebol for mérito ou demérito de governos, então o melhor de todos os governos brasileiros deve ter sido o do ditador Emílio Garrastazu Médici, durante o qual o Brasil sagrou-se tricampeão com um magnífico futebol.

Mas a comparação entre o bem-estar social do povo germânico e do tupiniquim é muito pior. A história germânica remonta a uns 4 mil anos. Precisa dizer mais?

Chegaram a comparar a saúde, a educação e até a quantidade de prêmios Nobel que o povo alemão conquistou. Por que? Por causa do futebol…

Se futebol fosse medida de desenvolvimento social os pentacampeões deveriam ser os alemães, não os brasileiros. A nossa hegemonia nesse esporte ao longo do século XX e na primeira década do século XXI – com a conquista do penta, em 2002 – decorre, inclusive, de nosso subdesenvolvimento.

A valorização do futebol, no Brasil, é um dos passivos do país. Este que escreve não torce por nenhum time de futebol e sempre se desesperou com o verdadeiro transe deste povo que esse esporte desencadeia.

Porém, minha opinião sempre foi a de que realizar uma Copa por aqui nada tem que ver com o tempo, a atenção e os recursos exagerados que o brasileiro despende com um simples esporte.

A Copa de 2014 está sendo a nossa grande oportunidade de mostrar ao mundo que o Brasil é um excelente roteiro turístico e, além disso, de que somos capazes de realizar, com brilho, um grande evento internacional.

Isso sem falar na montanha de dinheiro que o país está ganhando com a Copa, em um nível de lucratividade que supera em muito os custos.

Então, vamos à defesa da Seleção. Não são necessários muitos neurônios para entender por que ocorreu o “desastre” desportivo. E este não se deveu, apenas, a nenhum dos jogadores brasileiros em campo, com exceção do goleiro, ter disputado uma Copa.

É claro que foi uma aposta extremamente ousada de Felipão convocar uma equipe virgem em Copas do Mundo, mas a Copa das Confederações insinuava que aquela equipe poderia brilhar, de novo, em outra competição internacional.

Mas é claro que não foi só isso – aliás, a inexperiência em Copas poderia ter sido superada.

A juventude e a inexperiência dos jogadores, porém, foram fatores que se exacerbaram devido a outros fatores, ou melhor, devido à literal sabotagem que a Seleção sofreu por parte da mídia brasileira e de grupos políticos.

Alguns profetas dos fatos ocorridos agora se gabam de terem “acertado” ao criticarem a Seleção e, como “prova” disso, esfregam a derrota fragorosa nos rostos de quem não quis se juntar à uma verdadeira matilha de lobos que tratava de desmotivar aqueles jovens.

Seria normal haver críticas contra a Seleção, mas o espalhafato dos protestos violentos, a apatia da torcida, a frieza inicial da população com a Copa, tudo isso pressionou emocionalmente uma equipe imatura.

Imagine, leitor, quantas foram as noites em que aqueles garotos sonharam… Ou melhor, imagine quantos pesadelos eles tiveram com o desastre que se materializou. Sabiam muito bem que teriam que conquistar o povo brasileiro, ineditamente indisposto com o esporte que ama.

Mesmo vendo os problemas – sobretudo o da inexperiência e o do emocional da Seleção –, quem não queria o desfecho que sobreveio tinha OBRIGAÇÃO de combater o derrotismo e a pressão psicológica disparados sem piedade contra aqueles garotos assustados.

Ao longo da competição, a equipe mais criticada pela mídia foi, de longe, a nossa. Chega a ser ridículo que alguém se jacte de ter “avisado”. Ora, quem não “avisou”? A mídia em peso “avisou”. O tempo todo. Sem parar. Dia e noite.

As arbitragens questionáveis e o desfalque de dois jogadores importantíssimos acabaram com o pouco de equilíbrio emocional que havia.

É óbvio que uma equipe com jogadores tão valorizados no mercado mundial de futebol não deveria ter sofrido aquela derrota, naquele nível de contundência. O que aconteceu nada tem que ver com o futebol brasileiro, que um ano antes brilhara na Copa das Confederações.

Aliás, a mídia previa sucesso dentro de campo e vexame fora, por conta da organização do evento. Ocorreu o contrário.

Após o primeiro jogo da Seleção na Copa deste ano, reclamaram providências da Comissão Técnica para contornar o problema emocional que já naquele jogo foi visto, com o gol contra de Marcelo. Ok, mas não disseram como fazer isso.

Alguém saberia dizer como se faz para acalmar garotos que nunca disputaram uma competição como essa e que passaram os últimos 12 meses vendo o clima de guerra no país contra a Copa, sem falar na avalanche de desqualificações?

Se alguém tem alguma culpa, é Felipão. Infelizmente, essa é a verdade.

Escalar uma equipe cem por cento inexperiente – o goleiro Júlio Cezar não atenua esse déficit –, foi uma temeridade. Ainda mais sabendo de quantos interesses políticos havia em que o fracasso sucedesse dentro e fora de campo.

E, por fim, como a burrice entrou em campo de forma tão acintosa, logo aparece aquele argumento estúpido sobre quanto ganham os jogadores – como se só craques brasileiros fossem bem pagos, como se no mundo inteiro os craques não ganhassem fortunas.

Ora, nossos jogadores bem pagos não roubam ninguém. Ganham muito porque dão muito lucro. Simples assim. E merecem ganhar, pois a disputa para chegar aonde chegaram é imensa, incomensurável.

Tudo isso me leva a uma única conclusão: não conseguiram sabotar a organização da Copa, mas conseguiram sabotar a Seleção. Quem sabotou? Os partidos políticos e os grupos de mídia que contavam com essa derrota em campo para lograrem uma vitória nas urnas.

Será que se darão bem?

domingo, 6 de julho de 2014

Filme de Jorge Furtado, O Mercado de Notícias, expõe a parcialidade e sujeira da chamada grande mídia


texto de Carlos Antonio Fragoso Guimarães - UFCG

  O cineasta Jorge Furtado fez um filme-documentário sobre a atividade e pensamento de alguns dos maiores jornalistas do país e compara seus dizeres, em contraste, com a parcialidade e tendenciosidade  da grande imprensa nacional, controlada pelas mãos e interesses de algumas poucas famílias (Marinhos, Civitas, Macedos, Mesquitas, Frias, Asaads, etc.). A obra intitula-se O Mercado de Notícias, um documentário sobre jornalismo. O cineasta, que entrevistou comentaristas, jornalistas e professores, entre eles Bob Fernandes, Luis Nassif, Jânio de Freitas e Paulo Moreira Leite, disponibilizou várias das entrevistas no Youtube. Isto na parte documental do filme, que possui também um história.

  O roteiro do filme, que divide espaço com a parte documental, segue a ideia de uma peça teatral escrita no século XVII por Ben Jonson (1572-1634), que fez uma sátira ao modo como o jornalismo, então uma atividade recente, já manipulava notícias, por vezes com claro viés político. Trechos da peça servem de ligação entre uma entrevista e outra com os jornalistas convidados. Furtado mostra, assim, ao mesmo tempo, a atualidade do texto de Jonson e de como a  "grande mídia" (entenda-se, em especial, a Globo, a Abril, a Folha, o Estadão) no Brasil se enquadra perfeitamente na sátira e crítica originais. Segundo a jornalista Norma Curi, em artigo para o Observatório da Imprensa, com a "peça e depoimentos entrecortados, parece que Ben Johnson é contemporâneo, vive aqui ao lado".

 O infame caso da"bolinha de papel" jogada em José Serra na campanha de 2010 e que se transformou, por parte da própria grande mídia interessada no sucesso do candidato do PSDB, em um quase atentado terrorista. A destruição e de vidas no caso sensacionalista (e falso) da Escola Base e muitos mais casos de tendenciosidade da mídia são citados no documentário, bem como o seu papel no incentivo ao Golpe de 64 além da discussão das questões dos interesses entre fonte-repórter-edição, especialmente envolvendo políticos e a justiça.

 Que forças estão por trás ou no controle das agências de notícias? Quais as influências e interesses por trás das pautas e edições?

  A questão da parcialidade e dos perigos de uma imprensa que se faz e se apresenta como "acima do bem e do mal" quando, na verdade, possui profundos interesses e ligações com setores dominantes da sociedade é bem dissecada no documentário (e na peça de Jonson). Muitas vezes o discurso de "da liberdade de imprensa" é usado para defender posicionamentos bastante retrógrados e visivelmente tendenciosos (casos de repórteres ou apresentadores de TV que são punidos após pautarem notícias que vão contra as "ordens" e interesses de seus veículos de comunicação são bem conhecidos).



  Aqui segue o breve artigo de Nassif sobre a obra de Furtado e alguns dos videos citados, com especial destaque à entrevista do próprio Luis Nassif, que desmonta o processo de manipulação das notícias com viés político, na grande imprensa brasileira:


O jornalismo brasileiro no documentário de Jorge Furtado
dom, 06/07/2014 – 11:41 – Atualizado em 06/07/2014 – 11:43
Jornal GGN – O cineasta Jorge Furtado, conhecido por obras como Ilha das Flores, decidiu explorar, no documentário O Mercado de Notícias, o papel do jornalista, a história e o futuro da imprensa nativa. Tudo sob a ótica de figuras renomadas, como Renata Lo Prete, Paulo Moreira Leite, Luis Nassif, Fernando Rodrigues, Jânio de Freitas, José Roberto de Toleto, entre outros. 
O documentário de uma hora e meia tem estreia marcada no Brasil para agosto, mas a equipe de Furtado começou, há algumas semanas, a disponibilizar na internet as entrevistas na íntegra, algumas gravadas ainda em 2012. 
Nos vídeos, cada entrevistado fala um pouco de sua trajetória pessoal, faz uma crítica à função do jornalismo na sociedade, e projeta os desafios da profissão em meio a um período que soa como uma crise para alguns, ou uma revolução, para outros.
vídeo 1: Bob Fernandes sobre a corrupção no Brasil
vídeo 2 com Paulo Moreira Leite
video 3: Luis Nassif

Video 4: Filme Completo