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domingo, 30 de março de 2014

Para conhecer a História: A Operação Condor, na América Latina de ontem, se espalhou pelo mundo, hoje




Carlos Antonio Fragoso Guimarães

A "Operação Condor" constituiu-se em uma união político-militar de governos ditatoriais de direita, na América Latina, com o incentivo dos Estados Unidos durante a era Lyndon Johnson, Richard Nixon e Gerald Ford. Objetivava reprimir violentamente quaisquer ação de resistência ou questionamento dos seus desmandos. Funcionou explicitamente nas décadas de 70 até meados dos anos 80, mas ainda está atuante, como veremos, de modo menos visível, mas muito mais insidioso.

As pesquisa indicam que cerca de 30.000 pessoas foram vítimas diretas da Operação Condor, sem contar os inúmeros desaparecidos políticos e famílias inteiras desestruturadas no período. Várias foram as vítimas de renome da Operação Condor, do vice-presidente cassado do Chile a, tudo indica, os ex presidentes Jango e Juscilino Kubitschek (veja-se o documentário Paulo Henrique Fontenelle, Dossiê Jango e os filmes Estado de Sítio e Missing, o Desaparecido, ambos do cineasta franco-helênico Costa Gravas). Existe mesmo um documentário (pouco divulgado, devido à resistência das forças reacionárias que ainda dominam a mídia brasileira), chamado Condor, de Roberto Mader, e que pode ser visto no Youtube:

Condor



Vejamos agora, os indícios de que a Operação Condor foi bem retrabalhada pela potencia militar atual e é ainda utilizada, de forma adaptada, para desestruturar governos pelo mundo inteiro:


EUA operam hoje nos moldes da Operação Condor, diz jornalista norte-americano

A afirmação é do jornalista investigativo John Dinges, uma referência internacional sobre as atividades da Operação Condor na América Latina.


Fonte: Carta Maior

Arquivo

O jornalista investigativo John Dinges, uma referência internacional sobre a Operação Condor, assunto sobre o qual escreveu para o Washington Post e para a revista Time, afirma que, após os atentados de 11 de setembro, as operações clandestinas ordenadas ou consentidas pelos presidentes George Walker Bush e por Barack Obama repetiram o mesmo formato do terrorismo de Estado exercido na década de 1970 pelo grupo do qual Brasil, Chile, Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia faziam parte.
 “Quando leio as notícias sobre sequestros de suspeitos em qualquer lugar do mundo que são levados a centros de detenção clandestinos no Egito, na Polônia ou em algum país da Ásia, onde são torturados por especialistas que chegam dos Estados Unidos, parece que estou vendo a Operação Condor outra vez em uma escala maior, com mais recursos do que há 40 anos”, compara Dinges durante uma entrevista exclusiva concedida à Carta Maior.
Em 1975, o chefe da polícia secreta chilena, Manuel Contreras, voltando de uma viagem aos Estados Unidos, coordenou a primeira reunião da Condor em Santiago de Chile, onde participaram dois enviados brasileiros com aval do ditador Ernesto Geisel e do então chefe do SNI (Serviço Nacional de Informações), João Baptista Figueireido (ver abaixo: Reprodução/documento disponível no Centro de Documentação e Arquivo para os Direitos Humanos - Paraguai)
“A ideia que o Contreras tinha era criar uma Interpol contra as organizações guerrilheiras, contando com o mesmo tipo de coordenação usadas pelas policias para atuar rapidamente. Isto supunha sequestrar, torturar e, se fosse o caso, matar, mas com uma diferença em relação à Interpol: tudo feito sem ordem judicial e fora do Estado de Direito e contra o Estado de Direito. Ao fim e ao cabo, é o mesmo que está acontecendo atualmente com as operações secretas na Guerra ao Terror, que viola o Estado de Direito nos países onde opera. Quando leio notícias de como a NSA (Agência Nacional de Segurança) interceptava comunicações da presidenta Dilma Rousseff, isto repete a maneira de operar nos anos da Condor, quando a CIA entregava aparelhos de Télex e uma rede de rádios FM aos agentes dos países sul-americanos e assim podia espiar seus próprios sócios.
Sempre aqueles que dominam tecnologicamente as comunicações jogam com vantagem. Isso acontecia nos anos 70 e se repetiu agora, claro que a NSA não organizou sabotagens terroristas contra Dilma. Essa diferença é importante ressaltar”.
Dinges observa que, ao completarem 50 anos do golpe contra o presidente João Goulart, a revisão histórica dos fatos constata a influência norte-americana no Brasil, desde a queda de 31 de março de 1964 até a cumplicidade com a ditadura de Médici e a desestabilização das democracias que continuavam de pé, como a uruguaia e a chilena, vistas com receio por Washington e por Brasília.

“Eu acredito que a participação do Brasil na queda de Salvador Allende, talvez, não estou em condições de afirmar algo definitivamente, foi até maior do que a dos Estados Unidos, apesar de tudo o que Richard Nixon e Henry Kissinger fizeram a favor do golpe de Pinochet”.
Goulart pode mudar a história
Dinges respeita escrupulosamente as regras do jornalismo investigativo: “nosso trabalho se baseia fundamentalmente em documentos, as entrevistas têm sua importância, a interpretação é necessária, mas o essencial é contar com documentos”.
No mês passado, a Justiça argentina, por meio do procurador Miguel Angel Osorio, abriu um processo sobre a morte suspeita do presidente João “Jango” Goulart em sua estada na província de Corrientes em 6 de dezembro de 1976, a que seus familiares atribuem um possível envenenamento por parte de agentes dela Condor.
A Procuradoria argentina resolveu iniciar sua investigação depois de ser informada sobre uma mensagem secreta, do III Corpo do Exército brasileiro, com representação na fronteira com Argentina, em que se solicitava seguir o “subversivo” Goulart e outros brasileiros refugiados no país vizinho, vários dos quais ainda estão desaparecidos.
“Não li esse documento do III Corpo do Exército, se você puder me enviar, eu agradeceria, aparentemente é um papel realmente importante porque motivou a Procuradoria de Buenos Aires a iniciar um processo. Sinceramente eu não concordo com a hipótese de que Goulart tenha sido envenenado, não conheço nenhuma evidência sólida”, afirma Dinges.
Autor de um livro referência, “Os anos do Condor, uma década de terrorismo internacional no Cone Sul” Dinges comenta que o Brasil, único país da região que proíbe que a Justiça abra processos contra criminosos de Estado, ainda é um “capítulo aberto da Condor que me desperta muita curiosidade. Eu suspeito que possam surgir elementos muito importantes dos arquivos já abertos, ainda que os militares escondam o mais importante para eles, e que também pode haver informações que sejam obtidas pela Comissão da Verdade”.
"Se pudéssemos provar documentalmente que Goulart foi assassinado, ou se pudéssemos obter provas de que havia um plano para assassiná-lo, teríamos elementos de peso para revisar nossa perspectiva geral sobre o Plano Condor”, argumenta.
Dinges marca uma fronteira entre interpretação e dados: “não podemos confundir nossa perspectiva dos acontecimentos, do que realmente aconteceu”. Então, ele desenvolve uma teoria provisória em que liga as mortes do ex-ministro do governo de Salvador Allende, Orlando Letelier, assassinado em Washington em 1976 e do ex-senador uruguaio Zelmar Michellini, ambas ocorridas naquele mesmo ano em Buenos Aires.
“O Plano Condor tinha um inimigo bem claro, que era a coordenação de organizações guerrilheiras, entre as quais estavam o ERP argentino, os Tupamaros do Uruguai, o ELN da Bolívia e o MIR do Chile. Sabemos que Orlando Leteilier era um homem moderado, mas matinha boa relação com o MIR e que Zelmar Milechillini também conversava com os Tupamaros, ainda que ele não participasse da luta armada”.
“O segundo inimigo, que também era importante para a Condor, ainda que se saiba menos sobre isso, eram os dirigentes moderados, como Michellini, como Letelier, porque eles causavam muito  desgaste com suas denúncias internacionais, graças a seus contatos diplomáticos e com setores progressistas da Europa e dos Estados Unidos. Eu suponha que nesta mesma lista de dirigentes moderados pudessem estar o ex-presidente Goulart, o ex- presidente Juscelino Kubistcheck,  e também o ex-presidente chileno  Eduardo Frei, que era um homem de centro-direita, democrata-cristão, mas que incomodava Pinochet e por isso mandou matá-lo”.
“É muito prematuro dar como certo que Goulart e Kubitscheck foram assassinadoa. Eu não tenho em minha posse nenhum documento que sequer insinue isso, o que também não me impede de estar interessado em saber mais. É importante se aprofundar nesses casos, já me falaram deles. Se algo fosse descoberto sobre Goulart, que faleceu fora do Brasil, aí sim seria uma revelação explosiva que modificaria algumas ideias que temos até agora sobre a Condor”.
A pista uruguaia 
Seis anos atrás João Vicente Goulart declarou a este repórter que, segundo informações não confirmadas, em 1976, o repressor Paranhos Fleury viajou a Montevidéu onde se encontrou com o chefe do escritório da CIA, Frederick Latrash, e eles conversaram sobre Jango, que morreria poucos meses depois em circunstâncias não esclarecidas.
“Eu conheço muito bem a história de Latrash, antes de ir para o escritório da CIA no Uruguai, tinha trabalhado no Chile, nesses anos, a CIA fazia os trabalhos mais sujos. Lembro do assassinato do general Scheineider, em Santiago. Eles estavam envolvidos diretamente, foi uma operação desastrosa do ponto de vista técnico, porque permitiram que armas chegassem a grupos radicais de direita que agiam selvagemente”, lembra.
“Eu sei muito bem o que a CIA fez no Chile, e conheço alguma coisa que fizeram no Cone Sul, ainda que nunca tivesse conhecimento de uma ligação de Latrash com um possível plano contra Goulart. Isto me parece muito pouco provável. Porque depois da desastrosa operação contra Schneider no Chile, a CIA tirou uma lição, a de não se envolver diretamente nos crimes. E eu não acredito que seja realista que a CIA participasse de uma ação para matar Goulart, se é que esta ação existiu. Agora, a CIA recebia muita informação de tudo o que acontecia na Condor, e os relatórios chegavam rapidamente. Isto significa que não se pode descartar que Latrash tenha se reunido com gente dos serviços brasileiros para conversar sobre vários assuntos no escritório de Montevidéu. O que descarto ou acredito ser impossível é que a CIA tenha atuado diretamente contra Goulart. Isso me parece impossível”, conclui Dinges.
Tradução: Daniella Cambaúva 



Créditos da foto: Arquivotar para o Índice






Para conhecer a História: A Gênese do Golpe Militar, que só foi bom para os interesses dos Estados Unidos e a continuidade de uma elite nacional a estes subordinada, como antes o fora a Portugal



Segue excelente artigo de Flávio Tavares sobre as raízes e interesses do Golpe Militar de 1964, extraído do site do Estadão:


Embaixador dos EUA pediu dinheiro, adido militar e armas para apoiar o golpe
Diálogo entre o embaixador em Brasília Lincoln Gordon e John Kennedy ocorreu no primeiro dia de gravação de conversas com o presidente na Casa Branca, e graças a isso ficou registrado
28 de março de 2014 | 15h 05
Por Flávio Tavares, no site do Estadão.
A década de 1960 foi um tempo de aberta conspiração político-militar na América Latina. Os Exércitos pareciam destinar-se a preparar golpes de Estado, não a defender a integridade territorial. O Brasil estava nesse cenário. Além disso, a inflação galopante gerada pela construção de Brasília agravara a miséria rural do Nordeste e, desde a posse de João Goulart, em 1961, a reforma agrária ocupava o debate político.
A reforma era uma bandeira da Aliança para o Progresso (o programa dos Estados Unidos para barrar a influência da Revolução Cubana), mas os conservadores brasileiros a repeliam, vendo nela “a alavanca do comunismo”. A Guerra Fria, com o mundo dividido em áreas de domínio dos EUA e da União Soviética, exacerbava as paixões políticas e assustava todos. Entre civis e militares, esquerda e direita se enfrentavam numa disputa cega.
Nesse contexto se desenvolve a conspiração que desemboca no golpe de Estado.
Fui o último jornalista a estar com João Goulart no Palácio do Planalto, na tarde de 1.º de abril de 1964. Testemunhei seus derradeiros momentos, já em fuga da Capital. Acompanhei seus acertos e desacertos como governante, tal qual (desde a posse em 1961) tinha convivido com civis e militares envolvidos nas tramas da conspiração. Presenciei a sessão do Congresso, de apenas 3 minutos, na madrugada de 2 de abril, em que o senador Auro Moura Andrade declarou “vaga a Presidência da República”, sem qualquer debate ou votação.
Depois, como colunista político em Brasília, tentei penetrar nos desvãos do movimento que levou ao golpe e me fiz perguntas. Seria a revanche de 1961, quando os ministros militares não permitiram a posse do vice-presidente Goulart (por considerá-lo “pró-comunista”) e foram derrotados pela mobilização iniciada pelo governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola? A conspiração se nutriu das provocações da extrema esquerda, em que o deputado Francisco Julião (com dinheiro de Cuba) armava guerrilhas contra o próprio Jango, assustando ainda mais a direita? Ou tudo ardeu pela propaganda subliminal que o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipes) do coronel Golbery do Couto e Silva incutiu na população e nos quartéis sobre o “perigo comunista”, através dos textos e filmes de Rubem Fonseca?
Afinal, por que um golpe, se a inflação debilitava o governo e já havia três candidatos à eleição presidencial de 1965?
Em 1976, a historiadora norte-americana Phyllis Parker descobriu nos arquivos dos EUA os primeiros documentos “secretos” sobre a Operação Brother Sam – o deslocamento da frota naval dos EUA a 31 de março de 1964, rumo a Santos, em apoio ao general Olímpio Mourão Filho. Surgem, aí, as entranhas da conspiração. A cada 10 anos, os EUA liberam novos documentos e, assim, pôde-se reconstruir a participação de Washington nos preparativos e na execução de tudo, como revelo, agora, no livro 1964 – O Golpe.
Na paranoia da Guerra Fria, ambos os lados se enfrentavam com fantasias, mentiras e (até) verdades. E tudo assustava. O embaixador dos EUA, Lincoln Gordon, assustou-se não só com a nacionalização das empresas americanas de eletricidade e telefones por Brizola no Sul ou com sua dura pregação “anti-imperialista” pelo rádio, mas também com a lei sobre a remessa de lucros das companhias estrangeiras. E, até, com o Plano Paulo Freire, que alfabetizava em 40 horas/aula. Na época, analfabeto não votava e o governo teria 20 milhões de novos eleitores na eleição de 1965.
A 30 de julho de 1962, Gordon leva pessoalmente ao presidente John Kennedy um terrorífico relato sobre “o avanço comunista” no Brasil. Nesse dia, a Casa Branca havia inaugurado a gravação das audiências e telefonemas presidenciais e tudo ficou registrado: o embaixador pede US$ 8 milhões para financiar candidatos nas eleições de governador ou parlamentares, e para o Ipes, “uma organização que temos lá”.
Após dizer que Jango pensa “num golpe branco” para manter-se no poder, pede um novo adido militar à embaixada, para “fortalecer os militares democratas simpáticos aos EUA” numa eventual ação militar contra Goulart. “O atual adido militar é muito burro”, exclama o embaixador, e sugere a nomeação do coronel Vernon Walters.
Em seguida, Walters chega ao Rio, recebido no aeroporto do Galeão por 13 generais brasileiros que serviram com ele na 2ª Guerra Mundial, na Itália. Seu mais íntimo amigo, porém, está ausente: o general Castelo Branco comanda o 4.º Exército no Recife e lhe manda um abraço através do general Ulhoa Cintra. O próprio Walters assim conta no livro de memórias Silent Missions. Daí em diante, Cintra será “o contato” dos conspiradores com a embaixada, como referem as mensagens de Gordon à Casa Branca e à CIA.
Conspiração. O assassinato de Kennedy (novembro de 1963) leva à Casa Branca a “linha dura” do vice Johnson e “tudo se facilita”, conta o próprio Walters. A 21 de março de 1964, o embaixador volta de Washington, após acertar detalhes do Contingency Plan, o plano militar a aplicar no Brasil, e informa que Castelo Branco “aceitou a chefia da conspiração”. “De todos os militares que nos procuram há dois anos e meio, ele é o mais idôneo”, enfatiza.
Dias 27 e 29, sob o impacto da crise na Marinha, provocada pela revoltosa assembleia dos marinheiros, Gordon informa que “comunistas ocupam postos vitais nas Forças Armadas”. Pede provisões urgentes de gasolina e armas para “grupos civis” em São Paulo e que os EUA “se comprometam diretamente” e enviem a frota naval, com porta-aviões, “em demonstração aberta de força, não secreta”.
“Sei o quão grave é a decisão de intervenção militar, mas devemos considerar que a derrota levará à comunização do Brasil”, escreveu. Sugere que as armas cheguem em submarino e sejam descarregadas à noite, ao sul de Santos, em Iguape ou Cananéia. Os conspiradores “castelistas” haviam planejado o golpe para fins de abril e o embaixador se surpreende com a rebelião de Minas. Mas logo após, em 31 de março, Washington confirma que a frota já ruma para Santos, com um porta-aviões, quatro destróieres com mísseis, duas escoltas e navios-tanque. Cerca de 110 toneladas de munição, mais gás lacrimogêneo, irão em dez aviões cargueiros diretamente a Campinas. Cinco petroleiros levarão gasolina e diesel de Aruba a Santos.
Nada disso foi preciso. Jango desistiu de qualquer resistência e, a 4 de abril, a frota naval voltou a Norfolk, de onde partira.
* Jornalista e escritor, é autor de “1964 – O golpe”.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Documentários históricos sobre o Golpe Militar de 1964: para manter a Memória Viva e evitar a alienação Fascista e um Novo Golpe com o apoio de uma Mídia Comprometida



       Seguem alguns videos (documentários, reportagens e filmes completos, incluindo os do célebre diretor franco-helênico Costa Gravas) sobre o Golpe de 1964, a Ditadura Militar entre 64 e 85, a prática da tortura criminosa, desempenhada por agentes do Estado de Exceção ocorrida na época, e  o envolvimento dos Estados Unidos nos Golpes ocorridos na América Latina:

       1) Sobre a derrubada de um governos democrático e aceito pela população, assistam:

Jango - de Sílvio Tender (filme completo):




             O documentário Jango, que se tornou a maior bilheteria do gênero no Brasil, narra o governo de João Goulart enquanto presidente do Brasil(1961-1964). Lançado em março de 1984, o filme teve seu roteiro escrito por Maurício Dias e Sílvio Tendler, que também o dirigiu, enquanto a trilha-sonorafoi desenvolvida por Milton Nascimento e Wagner Tiso. A narração é de José Wilker. Link no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=1O4SZQZ-ikk

            2 ) Sobre o golpe a a muito possível eliminação de Jango por assassinato dentro das ações da chamada "Operação Condor", onde as ditaduras militares de extrema direita da América Latina estimulava a elminação dos líderes que podiam por em risco as atrocidades dos Regimes de Exceção:

Dossiê Jango - de Paulo Henrique Fontenelle (filme Completo)



        João Goulart morreu no exílio de causas naturais ou foi assassinado? Em torno desta questão mal resolvida (assim como ocorreu com a morte de Juscelino Kubtschek e a de Carlos Lacerda) e do mal que foi o golpe militar de 64, patrocinado e icentivado pelos EUA, para o desenvolvimento do Brasil é que é construido o documentário Dossier Jango, de Paulo Henrique Fontenelle, estreado em 2013 julho.Link para Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=K6a6fjZKjkw.

         3 ) Sobre o planejamento do Golpe Militar pelos Estados Unidos, o envolvimento do embaixador Lincoln Gordon, da CIA e de adidos militares norte-americanos moldando e patrocinando o golpe com os militares brasileiros:

O Dia que Durou 21 Anos - de Camilo Galli Tavaares (Documentário em 3 partes)





        O documentário O Dia que Durou 21 Anos apresenta documentos oficiais americanos e entrevista historiadosres, brasilianistas e sociólogos norte-americanos e brasileiros, mosntrando o envolvimento do governo Kennedy e Lindon Johnson no golpe de 64Link para o Yotube: https://www.youtube.com/watch?v=Y1RQgu31scM

          4) Sobre as atrocidades das ditaduras militares na América Latina e sua implantação com o envolvimento e incentivo norte-americano:

Estado de Sitio - de Costa Gravas


  


                      5) Sobre a prática de tortura no Brasil e na América Latina pelos agentes das ditaduras militares:

Brasil: Nunca Mais




Portal Brasil Nunca mais Disponibiliza processos de torturados:




Raro documentário, com participação de Dom Paulo Evaristo Arns sobre os anos de chumbo e o legado de atraso maldito dos militares e a composição do livro "Brasil: Nunca Mais"


Depoimentos para o Projeto Brasil Nunca Mais


6 ) Sobre os ASSASSINATOS efetuados por agentes da Repressão Dittorial:


Filme Batismo de Sangue, baseado no livro de Frei Betto:




Zuzu Angel, a história da Mãe que enfrentou os Militares e pagou com a própria vida:



Visão Panorâmica da Repressão durante a Ditadura Militar (1064-1985):



7) Sobre a resistência, especialmente de estudantes e intelectuais, às arbitrariedades da Ditadura Militar

Tempo de Resistência, de André Ristum, baseado no livro de Leopoldo Paulino





Sobre a sórdida Operação Condor, a aliança político-militar entre as ditaduras da América Latina para eliminar violentamente a resistência a seus regimes, veja o documentário Condor, de Roberto Mader (no Youtube em https://www.youtube.com/watch?v=HhTjM1dj4e8):



Missing - O Desaparecido - sobre a tortuna e ação da Operação Condor no Chile. Filme de Costa Gravas (completo, em espanhol)






domingo, 23 de março de 2014

Então, você foi à Marcha da Família do dia 22?


Segue texto de Eduardo Guimarães, que acompanhou e tentou entrevistas alguns dos participantes da Marcha Fascista:

Fascistas transformam centro de São Paulo em hospício

Fonte: Blog da Cidadania

Confesso que senti medo ao sair de casa no sábado para cobrir a Marcha da Família Fascista que ocorreu em São Paulo e que você, leitor, entre incrédulo e estupefato irá conferir no texto, nas fotos e no vídeo (ao fim do texto) que este post contém.
Meu medo tinha duas origens, uma subjetiva e outra objetiva. A subjetiva, por ver ocorrer de novo em meu país uma demonstração tão grande de selvageria, de egoísmo e de um desprezo surreal pela democracia. A objetiva, por medo de ser reconhecido pelos fascistas.
A necessidade de denunciar toda a loucura que sabia que encontraria, porém, falou mais alto.
Caminhei pelos corredores da estação do metrô próxima de casa como quem caminha para o cadafalso. Inconscientemente – depois me dei conta –, decidi passar primeiro na marcha antifascista que ocorreria na Praça da Sé.
Foi a forma que encontrei de postergar o sofrimento que me impus.
Na Sé, encontrei menos gente do que esperava – cerca de 300 pessoas. Porém, depois a marcha antifascista superaria a fascista em número.
A fauna antifascista era a esperada. Antigos militantes de esquerda, estudantes, black blocs, sindicalistas, intelectuais.
Se não fosse um episódio que me fez criar coragem para ir logo à marcha fascista, teria ficado até menos tempo. Não havia nada para ver lá que já não conhecesse e eu queria era novidade. Como dizem, o cachorro morder o homem não é notícia; notícia é o homem morder o cachorro.
Mas houve um episódio digno de nota, sim.
Uma mulher da marcha fascista foi até a marcha antifascista para provocar. Um estudante discursava contra a ditadura quando ela, aos berros, passou a acusar a manifestação adversária de querer transformar o Brasil em Cuba.
A confusão se formou. Tentaram dialogar com a mulher, mas ela estava enlouquecida. Começou a empurrar as pessoas e, aí, o tempo fechou. Quase foi linchada, mas mulheres e homens mais maduros a conduziram até a polícia militar, que a colocou numa viatura e a levou embora.
Vendo que dali em diante só seria dito naquela manifestação o racional, tomei o caminho da Praça da República para cumprir a missão que me impus.
Chego à República. Os malucos estão diante do Colégio Caetano de Campos. Muita polícia. Umas dez vezes mais do que na marcha antifascista. Depois descobriria que os fascistas convocaram a PM para ir em peso “protegê-los”.
Mais tarde, veria cenas de confraternização entre a PM e os organizadores da marcha fascista. Conversavam ao pé do ouvido e trocavam informações. Vi um oficial falando ao rádio e passando informações a um dos organizadores fascistas.
A primeira cena bizarra que vi na marcha fascista foi justamente a que justifica esse adjetivo para aquela gente. E quando digo que justifica, justifica mesmo. Confira por que na foto abaixo.
Quem segurava cartaz dizendo “Salve o fascismo era uma garota de cerca de vinte anos, magricela, alta, cheia de piercings no rosto. Travei com ela o seguinte diálogo:
– Vocês defendem o fascismo?
– Sim, defendemos o fascismo.
– O que é o fascismo?
Nesse momento, a garota me afastou com o braço, deu-me as costas e sumiu na multidão.
Caminho mais um pouco por aquele hospício e encontro um jovem de uns 30 anos, talvez. Sua manifestação você pode conferir na foto abaixo.
Novamente, cumpro a pena que me impus e vou falar com ele.
– Você pode me explicar essa questão da “intervenção militar”?
– Sim. Intervenção militar é garantida pela Constituição Federal. É um recurso para derrubada de presidente e é o que a gente está pedindo (…)
– Derrubar presidente é permitido pela Constituição?
– Sim, pela Constituição Federal.
– Tem algum artigo, alguma coisa…?
– Artigo primeiro e artigo, se não me engano, 42…
Reproduzo, abaixo, o artigo 142 da Constituição de 1988, ao qual o indivíduo se refere:
—–
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.
—–
Como se vê, não há nada, absolutamente nada nesse texto que autorize a derrubada de um governo pelas Forças Armadas. Muito pelo contrário: o texto constitucional diz que essas Forças devem defender os poderes constitucionais, não derrubá-los.
Vendo a falta de futuro também nessa conversa, vou à próxima.
Uma mulher de meia-idade segurava um cartaz interessante. Veja a foto:
Pergunto à portadora do cartaz dizendo “Saímos do Facebook. Hahaha” o que o seu movimento pretende. Resposta: “Eu pretendo acabar com o PT”.
Hospício é assim: cheio de complexos de Napoleão.
Vejo, ao lado, alguém que me parece menos delirante. Outro homem de meia-idade, mas parecendo um pouco menos alucinado. Vejamos o diálogo.
– O que seria “intervenção militar”?
– É, talvez, um governo militar…
– Mas intervenção quer dizer que eles vão intervir em alguma coisa.
– Se for necessário, sim (…)
– O senhor acha que alguma coisa assim aconteceria nos Estados Unidos, por exemplo?
– Não entendi…
– Por exemplo: se alguém quiser derrubar o governo dos Estados Unidos, o que acontece? Se um cidadão pegar e for pra rua e disser “Olha, vou derrubar o governo Obama”, o que acontece? Acho que vai pra Guantánamo, não?
– Não sei… Não sei o que aconteceria lá, porque lá a democracia é pra valer, né?
– Lá não pode pregar “intervenção militar”, certo?
Já estava começando a me sentir meio maluco, também. Porém, a preocupação diminuiu porque aquele bando de doidos decidiu marchar. Conforme foram deixando a praça, começam os berros: “Fora, PT! Fora, PT!”.
Menos mal. Fora PT, fora Dilma, fora Lula é direito deles pedir.
Ou não?
Seja como for, pareceu-me menos maluco do que os diálogos que acabara de travar. Contudo, o surrealismo não tinha terminado.
Alguns metros mais e vejo uma cena ainda mais inusitada: dois rapazes de batina começam a rezar e logo a multidão toda abandona o “fora, PT” e se junta a eles.
Aproximo-me dos “padres” para saber se eram mesmo religiosos ou se estavam apenas fantasiados.
– Vocês são padres mesmo?
– Seminaristas.
(…)
– Vocês apoiam a “intervenção militar”?
– Se for a solução.
– Vocês apoiam um golpe militar?
– Se for a solução, mas não chamaria um golpe. Chamaria (…) de parar o governo para voltar ao início, aonde começou o erro.
(…)
— Mas você, um religioso… Você ficou sabendo de torturas, de assassinatos que a ditadura cometeu?
– Infelizmente fiquei sabendo, sim. Mas tem contrapartes (…)
– Mas você apoia que o Estado brasileiro torture pessoas, mate…
– Jamais.
– Mas foi o que aconteceu. Foi isso que a primeira marcha fez.
– Não foi cem por cento e não foi a marcha (…)
– Mas foi uma ditadura que durou vinte anos, em que mulheres foram estupradas diante dos maridos…
– O senhor está olhando só o lado negativo (…)
Sem entender como pode haver algo positivo em um regime que torturava, estuprava e assassinava pessoas, troco mais algumas palavras de cortesia e me mando de perto de quem, talvez, fosse o mais maluco, ali…
Enquanto tento fugir do hospício por alguns momentos para recuperar o fôlego – ou a razão – a tropa enlouquece de vez. Para de rezar e começa a berrar: “Ô Dilma, safada! Ô Dilma, Safada!”.
Juro que saí correndo. Ultrapassei a manifestação e dela me afastei até que não estivesse tão próxima. Sentei-me em uma mureta, pus o rosto entre as mãos, respirei fundo e disse a mim mesmo: você vai até o fim.
E lá fui eu.
Mas precisava de um pouco de sanidade. Via que as pessoas às portas dos comércios que não tinham fechado pareciam embasbacadas vendo aquele bando de doidos. Escolhi uma senhora e uma jovem à porta do metrô Anhangabaú que, aparentemente, estavam juntas.
Já orava por não ouvir mais maluquices. Não sei se Deus estava na manifestação, mas Ele me ouviu.
– O que vocês acham da proposta de uma “intervenção militar” no Brasil?
– Intervenção militar no Brasil – repete a senhora, fazendo um ar grave.
– É o que eles estão pedindo. Estão pedindo uma “intervenção militar”, ou seja, igual à que foi feita em 1964, quando os militares derrubaram o Jango Goulart.
– É, e eles governaram o Brasil, né?
– Por vinte anos…
– Não, isso não! Não!
A jovem entra na conversa: “Isso é um absurdo”.
Resolvi ficar com o pouco de lucidez que tinha. Dali, parei a entrevista e fui caminhando calmamente para a praça da Sé, junto com os fascistas. Mas sem falar com mais ninguém.
Quando chegamos à Sé, sinto-me culpado. Estava ali para ouvir os doidos. Tinha que prosseguir.
Tentei fazer mais algumas entrevistas, mas ao chegarem lá os fascistas pareceram ter ficado mais arredios.
Naquele momento, começa uma correria. Fui atrás. Os PM’s cercaram uma loja de eletrodomésticos onde manifestantes antifascistas se abrigaram. Pelo que pude entender, em meio à confusão, tinham ido devolver provocações e começou uma briga.
A PM controla logo a confusão. Volto para perto do protesto fascista, que agora jazia aos pés da Catedral da Sé.
Aproximo-me de uma senhora com o rosto pintado de verde e amarelo. Começo a falar, mas ela não responde. Fica me olhando longamente. De repente, começa a gritar e apontar para mim: “Blogueiro do PT! Blogueiro do PT! Cuidado, blogueiro do PT!”.
Fiquei sem ação por alguns segundos, mas logo notei três homens corpulentos que comentaram algo entre si e começaram a caminhar em minha direção. Eram enormes. Um deles, completamente careca. Não tinham cara de quem vinha pedir autógrafo.
Comecei a me afastar lentamente. Dei as costas à manifestação e apressei o passo. Olho para trás e vejo os três homens ainda vindo em minha direção. E também apressando o passo. Começo a correr. Olho para trás e eles estão correndo também.
Chego à escadaria do metrô antes deles. Ao passar pelos seguranças, eles desistem. Desço afobado a escadaria e passo como um raio pela catraca.
Estou no trem. Escrevo no Facebook a perseguição. Ainda contaminado pelos psicopatas, achei que se me pegassem na saída do metrô pelo menos as pessoas saberiam onde e como eu fora trucidado.
Enquanto me dirijo para casa, a frase que escrevi após ser perseguido no hospício em que os fascistas transformaram São Paulo não me sai da cabeça: que merda é essa que estão fazendo com o nosso país?
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Assista, abaixo, ao vídeo do hospício São Paulo