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domingo, 26 de maio de 2013

Pastor consciente mostra como outros, mercadores midiáticos, fazem para extorquir dinheiro dos fiéis

O lúcido, coerente e muito equilibrado pastor Ed René Kivitz mostra como fazem os "pastores" midiáticos para seduzir novos futuros dizimistas e fieias quando as táticas da Culpa (do pecado) e do medo (do inferno ou da "ira" de Deus) falham: o estímulo da ganância econômica... 

Veja o vídeo abaixo.


Pastor ultra direitista e torturador no regime militar se sente ofendido ao ter seu passado divulgado




Política

Bahia
O torturador ofendido

O pastor Átila Brandão, destacado agente da repressão na ditadura, tenta calar um jornalista que lembra seu passado
por Leandro Fortes — publicado 24/05/2013 15:00, última modificação 26/05/2013 09:21

De Salvador



Censura. O agora evangélico (direita) conseguiu na Justiça retirar da internet um artigo revelador do jornalista Emiliano José.


  Nas manhãs de sábado, o pastor Átila Brandão, líder máximo da Igreja Batista Caminho das Árvores, faz uma exaltada pregação na TV Aratu, retransmissora do SBT na Bahia. É uma mistura de ignorância, oportunismo e preconceito. Exemplo: o ser humano é inteligente por falar e não por pensar. Outro: o anticristo será um homossexual nascido de uma prostituta. Não se assuste, o pastor tem a solução contra o mal. Além do apego ao Evangelho e à Bíblia, Brandão acredita-se destinado a presidir o Brasil.

  Infelizmente, a estratégia para derrotar o coisa-ruim via Palácio do Planalto corre sérios riscos. Atualmente, torturador de palavras e consciências, Brandão destacou-se nos anos 70 por outro tipo de barbárie, bem mais grave. Teve passagem marcante pelo aparato de repressão da ditadura.
  Denunciado pelo ex-deputado e jornalista Emiliano José, o pastor perdeu a fleuma religiosa e ressuscitou seu velho estilo, consagrado nos anos de chumbo. Então oficial da Polícia Militar da Bahia, Brandão comandou espancamentos contra estudantes em Salvador entre 1968 e 1973. Em um prazo de três meses, o evangélico fez um boletim de ocorrência, registrou uma queixa-crime e abriu duas ações judiciais contra José. Seu objetivo principal é censurar o jornalista por causa do artigo intitulado “A premonição de Yaiá”. Publicado em fevereiro passado no jornal A Tarde e disponível na internet, o texto trata de uma história assustadora.

  Com base em um depoimento gravado, o ex-deputado relata um momento na vida de Maria Helena Rocha Afonso, conhecida como Dona Yaiá, mãe do preso político Renato Afonso de Carvalho, ex-militante do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário. Segundo Dona Yaiá, em 1971, após sentir terrível angústia no peito, decidiu por conta própria pegar um táxi e visitar o filho, então com 23 anos, preso no quartel da PM dos Dendezeiros, na chamada cidade baixa. Carvalho havia sido preso no Rio de Janeiro em fevereiro daquele mesmo ano por agentes da repressão e levado ao quartel da Polícia do Exército da Rua Barão de Mesquita, um dos mais cruéis centros de torturas do regime. Por dois dias, ficou pendurado em um pau de arara. Foi espancado e submetido a choques elétricos e afogamentos. Depois, enfrentou um fuzilamento simulado. Como, ainda assim, não entregou ninguém, seu assassinato parecia iminente.

  Graças a um pedido do pai, Orlando de Carvalho, e da interferência de Dom Eugênio Salles, à época arcebispo do Rio de Janeiro, o militante foi salvo e transferido a Salvador. Sob custódia da PM baiana, achou que a fase das torturas havia passado. Engano absoluto. O militante do PCBR, hoje um respeitado professor de História na capital da Bahia, reencontrou no quartel dos Dendezeiros um velho desafeto, o capitão Átila Brandão.
  Três anos antes, em 1968, Carvalho havia integrado um movimento para expulsar Brandão da Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia onde ambos estudavam. Em companhia de outros militantes do movimento estudantil baiano, acusava o policial militar de ser um dos muitos agentes infiltrados pela ditadura no campus, estratégia comum naqueles tempos. Diversos estudantes identificaram o então tenente Brandão como comandante de tropas da PM que durante manifestações de rua contra o regime liderava com brutalidade desmedida a repressão aos manifestantes.

  À frente de uma equipe de torturadores, Brandão encontrou Carvalho em um dos porões do quartel, mas não quis conversa sobre o passado. Assim que o viu, disparou socos, chutes e xingamentos, tática normalmente usada antes das sessões de choques elétricos e afogamentos. O PM queria saber se o estudante conhecia um grupo de militantes do PCBR preso no Paraná pelo Exército. Quando estava prestes a montar o pau de arara e ligar a máquina de eletrochoques, o oficial foi interrompido por um soldado. Dona Yaiá havia passado pelas sentinelas e, resoluta, estava no corredor em frente ao porão onde o filho era torturado.

  Segue o relato de Dona Yaiá, reportado por José, sobre a premonição naquele fevereiro de 1971: “Soube que o soldado entrou, cochichou no ouvido de Átila, e ele, irritado, mandou parar tudo, juntar o pau de arara e o resto, e se retirou. Cessou a tortura. Quando Renato saiu da sala, eu o abracei, perguntei-lhe se estava tudo bem, ele disse sim, mas pediu para que avisasse o advogado Jaime Guimarães. Queriam voltar a torturá-lo. Fiz o que Renato pediu. Não voltou a ser torturado”.
  Brandão nega tudo, apesar das evidências. Entre elas, o documento número 45/69 da agência baiana do antigo Serviço Nacional de Informações datado de 13 de outubro de 1969, em que ele é citado reiteradas vezes como agente da repressão. O nome do ex-PM está na ficha montada pelo SNI sobre Rosalindo Souza, militante do PCdoB, morto e desaparecido na Guerrilha do Araguaia, em 1973. Assim como Carvalho, o guerrilheiro estava entre os estudantes que pediram a expulsão do policial militar da Faculdade de Direito em 1968.

  O pastor reagiu à divulgação do artigo, à repercussão na Bahia e, claro, às ameaças a suas antigas pretensões eleitorais. Em 2006, foi candidato ao governo pelo PSC, partido do deputado Marco Feliciano, de São Paulo, com quem divide as mesmas opiniões homofóbicas. Em 2012, apoiou ACM Neto à prefeitura de Salvador e ganhou, como prêmio, a nomeação de um filho, Átila Brandão de Oliveira Júnior, para o cargo de assessor especial da subchefia de gabinete do prefeito do DEM. Júnior era diretor da Faculdade Batista Brasileira, um dos negócios do pai. 

  Nas ações judiciais, Brandão acusa o jornalista de “pau mandado” e “papagaio de pirata”. Para calá-lo, pediu uma indenização de 2 milhões de reais e a retirada do artigo “A premonição de Yaiá” do site do ex-deputado, com multa diária de 10 mil reais, no caso de desobediência. Em 13 de maio, a juíza Marielza Brandão Franco, em decisão liminar, mandou retirar o texto, a esta altura reproduzido em centenas de sites pela internet, da página de José e reduziu a multa diária a 200 reais. “Esta é a primeira tentativa clara de cercear minha liberdade em 35 anos de carreira jornalística”, lamenta o ex-deputado.

  Enquanto aguarda a decisão final do Tribunal de Justiça sobre as ações, o jornalista coleciona apoios de entidades de defesa de direitos humanos e reúne novos documentos sobre a participação do ex-capitão da PM na repressão durante a ditadura. Brandão deverá ser um dos primeiros convocados pela Comissão Estadual da Verdade, a ser instalada nos próximos dias, em Salvador, pelo governador petista Jaques Wagner. Também deverá ser convidado a falar na Comissão da Verdade da Assembleia Legislativa, também instalada recentemente.

  Em 25 de abril, em depoimento ao Grupo Tortura Nunca Mais da Bahia, Carvalho havia confirmado a exatidão do conteúdo tanto do relato da mãe, Dona Yaiá, quanto do artigo do ex-deputado. Na terça-feira 21, a CartaCapital o professor afirmou ter reconhecido o capitão Brandão no instante em que ele entrou na sala onde o haviam colocado para ser torturado, no quartel dos Dendezeiros. “Ele também me reconheceu, da Faculdade de Direito, tanto que me chamou de Renato, e não de ‘Joel’, meu nome de guerra no PCBR.”


 No fim do ano passado, em um evento para empresários evangélicos, Brandão confessou a uma plateia na qual estava o deputado federal Anthony Garotinho que antes de ser cristão era um advogado corrupto e corruptor, além de cidadão “pronto para matar alguém”. Portava sempre uma pistola calibre 45 com dois carregadores cheios de balas. O pastor não respondeu aos pedidos de entrevista da revista. Segundo uma secretária da Igreja do Caminho das Árvores, ele estava em viagem.

sábado, 25 de maio de 2013

Paula Fernandes, Espiritualidade e "Amor Além da Vida"




  Paula Fernandes é uma das poucas artistas da área da chamada  "música sertaneja" de quem, de fato, gosto, ao lado de Renato Teixeira e Almir Sater. Ela possui uma voz suave e, em boa parte de suas canções, um bom gosto raros nas peças que compõe. 
   Algumas de suas canções, as mais pessoais e intimistas, são bem espiritualizadas (e por isso mesmo, e por ser espírita, a cantora recebeu a néscia agressividade de fundamentalistas evangélicos), como esta, belíssima e lírica, inspirada na imortalidade da alma e chamada "Amor Além da Vida"....




domingo, 19 de maio de 2013

Que época estranha é a nossa....



Que época estranha a nossa em que a gratuita beleza do campo e a natural música dos pássaros são tão facilmente trocadas por prédios frios, ruas ruidosas e caixões altos mas vazios de poesia e generosidade....

Carlos Antonio Fragoso Guimarães

O tecnicismo mecanicista impessoal dizimando o ambiente pessoal e natural



Segue abaixo, para reflexão, excelente texto de Leonardo Boff:



Só um Deus nos poderá salvar


19/05/2013




 A crise de nossa civilização técnico-científica exige mais que explicações históricas e sociológicas. Ela demanda uma reflexão filosófica que desemboca numa questão teológica. Quem o viu claramente foi Martin Heidegger (1889-1976), antes mesmo que tivesse surgido o alarme ecológico. Numa famosa conferência em 1955 em Munique “Sobre a questão da técnica”na qual estavam presentes Werner Heisenberg e Ortega y Gasset, ele tornou claro o risco que o mundo natural e a humanidade correm quando se deixam absorver totalmente pela lógica intrínseca deste modo de pensar e de agir: intervem e manipula o mundo natural até às suas últimas camadas para tirar benefícios individuais ou sociais. A cultura técnico-científica penetrou de tal forma na nossa autocompreensão que já não podemos entender a nós mesmos nem viver sem essa muleta que introjetamos em nosso próprio ser e estar-no-mundo.

 Ela representa a convergência de duas tradições da filosofia ocidental: a platônica de cunho idealista, transfigurada pela incorporação cristã, e a aristotélica, mais empírica, que está na base da ciência. Elas se fundiram no século XVII a partir de Descartes e fundaram a moderna tecno-ciência moderna, o paradigma dominante.

 O interesse desse modo de ver é como são as coisas, como funcionam e como nos podem ser úteis. Não é o milagre de que as coisas são, confrontadas com o nada. Separamo-nos do mundo natural para entrar profundamente no mundo artificial. Perdemos a relação orgânica com as coisas, as plantas, os animais, as montanhas e com os próprios seres humanos. Tudo se transforma em instrumento para alguma finalidade. Não vemos o ser humano, como pessoa, portadora de um propósito, mas a sua força de trabalho, seja física seja intelectual que pode ser explorada.

 Se algo pode ser feito, será feito sem qualquer justificação ética. Se podemos desintegrar o átomo não há porque não faze-lo e construir uma bomba atômica. Se podemos lançá-la sobre Hieroshima e Nagasaki quem o impedirá? Se posso manipular o código genético, não há limite moral ou ético que o possa coibir. E fazemos as experiências que acharmos interessantes e úteis para o mercado e para certa qualidade de vida.

 Heidegger nos adverte que esta tecno-ciência criou em nós um dispositivo (Gestell), um modo de ver que considera tudo como coisa ao nosso dispor. Colonizou todos os espaços e subjugou todos os saberes. Transformou-se num motor que se acelerou de tal forma que já não sabemos como pará-lo. Tornamo-nos reféns dele. Ele nos dita o que fazer ou deixar de fazer.

 Neste ponto Heidegger aponta o altíssimo risco que corremos como natureza e como espécie. A tecno-ciência afetou as bases que sustentam a vida e criou tanta força destrutiva que nos pode exterminar a todos. Os meios já foram construídos e estão aí à nossa disposição. Quem segurará a mão para não deslanchar um armagedon natural e humano? Essa é a questão magna que nos deveria ocupar como pessoas e como humanidade e menos o crescimento e as taxas de juros.

 A resposta tentada por Heidegger é uma Kehre, uma ”Volta” que signfica uma revira-Volta. Este é o propósito final de todo o seu pensamento, como o revelou numa carta a Karl Jaspers: ser um zelador de museu que tira a poeira sobre os objetos para que se deixem ver. Como filósofo se propunha (pena que usa uma linguagem terrivelmente complicada) remover o que encobre o habitual e o cotidiano da vida. Pela sofisticação técnico-científica ele ficou esquecido, abstrato ou enrijecido.

 Ao fazer isso o que se revela então? Nada a não ser aquilo que nos rodeia e que constitui o nosso ser-no-mundo-com-os outros e com a paisagem, com o azul do céu, com a chuva e com o sol. É deixar ver as coisas assim como elas são; elas não nos oprimem mas estão, tranquilas, conosco em casa. Foi buscar inspiração para esse modo de ser nos pre-socráticos particularmente em Heráclito, que viviam o pensamento originário antes de se transformar com Platão e Aristóteles em metafísica, base da tecnociência.

 Mas suspeita Hiedegger que seja tarde demais. Estamos tão próximos do abismo que não temos como voltar. Na sua última entrevista ao Spiegel de 1976 publicada post-mortem diz: “Só um Deus nos pode salvar”. A questão filosófica sobre o destino de nossa cultura se transformou numa questão teológica: Deus vai intervir? Vai permitir a autodestruição da espécie?

 Como teólogo cristão direi como São Paulo: "a esperança não nos engana”(Rm 5,5) porque “Deus é o soberano amante da vida”(Sb 11,26). Não sei como... Apenas espero.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

O Consumismo e as cumbucas pós-modernas




Texto de Mustafá Ali Kanso

Muitos colegas de trabalho, clientes, alunos e até familiares elogiaram minha aquisição, citando todas as inegáveis vantagens dessa “maravilha da tecnologia”:

·         Além de telefone é máquina fotográfica;
·         É também computador,
·         Possibilita o acesso à internet,
·         Possui GPS integrado,
·         Pode carregar e-books, ler e enviar e-mails,
·         Etc., etc., etc.
·          
Ficando cada vez mais surpreso com minha inteligência e meu senso de oportunidade por tê-lo comprado. (Hoje vejo que a inteligência e o senso de oportunidade foi de quem me vendeu o aparelho).

De fato fiquei muito feliz com a compra naquela ocasião.

Fui órfão dos “Pocket-PCs” por muito tempo e quando pude aliar telefone ao computador numa única gerigonça portátil, fácil de carregar pelos aeroportos da vida, tornando-se tábuas de salvação em intermináveis horas de espera em “check ins” por esse mundo afora, comecei a ter fé nos tecnólogos de plantão.
Sem perceber que eu tinha sido fisgado vivi o sonho durante um semestre.

Em agosto de 2011 o mesmo aparelho ainda figurava em minha aljava e meus antigos admiradores transformaram-se em meus inquisidores:

- Ainda com o mesmo aparelho?
- Não vai trocar?
- Já chegou o novo modelo, sabia?
- Deixa de ser pão-duro!

E assim por diante.

Eu nem cogitava trocar de aparelho.

Afinal o pobrezinho estava praticamente novo e atendia todas as minhas necessidades.
Quando manifestei essa ideia de gente comedida – que só compra coisas que realmente necessita – quase fui crucificado.

A lição do pós-modernismo é simples:
- Mantenha seu status a qualquer preço.

Afinal a imagem de pessoa “antenada” que eu havia conquistado não tinha preço!
Em verdade tinha preço, sim! – e era muito alto.

Ora, dane-se!  Afinal eu “podia” comprar um aparelho novo!  Eu trabalhava para isso. Para me proporcional esse conforto.

O fato de que o antigo continuasse atendendo minhas necessidades era apenas um detalhe. Eu poderia vendê-lo, doá-lo, etc.

- Afinal, o novo modelo era mais bonitinho e tinha uma tela 0,25 polegadas maior!
Com esses e outros pensamentos, confesso que quase sucumbi à tentação – mesmo percebendo a sutil armadilha do consumismo:

- Tentado fazer com que eu preenchesse com coisas materiais um vazio que não poderia nunca ser preenchido com coisas materiais.

Eu sabia que o telefone era apenas a ponta do iceberg. Teria o carro zero, a moto, o trailer, o barco, a casa de praia, a casa de campo, a casa da montanha, a casa da serra, a casa do bosque…

De repente entendi por que meu vizinho trabalhava muito, fazendo o que não gostava, para comprar tantas coisas que não precisava:

- Ele queria muito impressionar um monte de pessoas que não conhecia!

Acho que devido a esse exemplo de obsessão e infelicidade que grassava ao meu lado eu não me conformava com a ideia:

Por que estourar meu cartão de crédito para comprar coisas que eu não preciso?
Sem tantas contas para pagar eu posso trabalhar menos. Ter mais tempo para descansar, curtir a família e os amigos.

Ser um pouco mais livre e  ter um pouco mais de vida, afinal!

Para concluir,

Uma releitura de uma das fábulas de Louis Pauwels,  de como as antigas tribos caçavam os macacos que compunham parte de seu cardápio:

Eles amarravam nos coqueiros preferidos desses primatas algumas cumbucas, todas cheias de pistaches.

No entanto, a abertura de cada cumbuca era estreita o suficiente para permitir a passagem de apenas uma das mãos – e esta – sempre estando aberta.

Uma vez que o animalzinho fechasse sua mão sobre a prenda, o punho assim cerrado ficaria preso no estrangulamento da cumbuca, aprisionando, por sua vez, o próprio animal.
Evidentemente se o animal abrisse a mão, ele escaparia facilmente. No entanto, seu instinto não o permitia.

E assim, ficava o infeliz aprisionado à cumbuca, gritando, forçando suas amarras, sem abrir sua mão e, portanto, sem conseguir escapar de seu destino.

Por vezes eu flagro boa parte da humanidade nessa mesma situação:

- Sendo prisioneira de seus pertences.

E nas palavras de Pauwels:

“- É necessário apalpar, examinar os frutos-armadilhas, depois afastarmo-nos com rapidez. Satisfeita a curiosidade, convém dirigir imediatamente a nossa atenção para o mundo em que estamos, recuperar a nossa liberdade e a nossa lucidez, retomar o caminho sobre a Terra dos Homens da qual fazemos parte.”

domingo, 12 de maio de 2013

O Trevoso Coronel Ustra

Segue o vídeo sobre a reação de um dos mais cruéis militares torturadores da ímpia Ditadura Militar que desgraçou o Brasil de  1964 a 1985 (com efeitos nocivos até hoje):


Mais vergonhoso, agora, é ver gente que não conhece história, filhinhos de papai, criados pela mídia, e que não não lêem, a não ser a sujíssima Veja, e não pensam, mas assistem e acreditam na Rede Globo, defendendo este e outros criminosos e sonhando com uma nova era da sórdida Direta exploradora, privatista, subserviente aos poderosos externos....


Da Agência Brasil:

EX-MEMBRO DO DOI-CODI DIZ QUE CORPOS DE MILITANTES ERAM EXIBIDOS COMO TROFÉUS

10/05/2013  
Luciano Nascimento
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O ex-sargento do Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna do 2º Exército em São Paulo (DOI-Codi-SP) Marival Chaves disse à Comissão Nacional da Verdade que viu corpos de militantes políticos sendo expostos como uma espécie de troféu de guerra. A declaração ocorreu na mesma sessão em que a Comissão da Verdade tomou o depoimento do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-comandante do DOI-Codi-SP, entre 1970 e 1974.

Ele relatou ter visto a cena envolvendo os corpos de Antonio Carlos Bicalho Lana e Sônia Maria Moraes Angel Jones. O episódio, segundo ele, ocorreu no final de 1973, quando Chaves, que integrou o DOI-Codi até o início de 1974, trabalhava como analista de informações. Ele narrou que “o casal foi trazido para o DOI [Codi] depois de morto e mostrado para o público interno. Eles tinham perfurações na cabeça, nos ouvidos, em vários lugares”, disse Chaves, para quem o comando [a cargo do coronel reformado Brilhante Ustra], “era permissivo com este tipo de atitude”. 

Segundo Chaves, isto teria ocorrido também com Yoshitane Fujimori, outro militante cujo corpo também teria sido exposto dentro do destacamento. Chaves disse que quem estava em posição de comando “era o senhor da vida e da morte”, pois escolhia quem iria viver ou morrer.

Chaves, que já prestou dois depoimentos espontâneos à comissão, disse que Ustra, cujo codinome era Doutor Tibiriçá, participava das sessões de tortura e que durante sua passagem pelo DOI-Codi teria implantado dois centros clandestinos de tortura em São Paulo: um na Serra do Mar e outro na Estrada de Itapevi, na Rodovia Castello Branco.

Na Serra do Mar, de acordo com Chaves, foram mortos Antonio Carlos Lana e Sônia Angel Jones. Conforme relato do ex-sargento, algumas pessoas mortas no DOI-Codi tiveram os corpos jogados no Rio Avaré, em São Paulo.

Chaves disse, aos membros da Comissão da Verdade, que não participava das sessões de tortura e citou o sub-tenente Roberto Artone, também integrante do DOI-Codi e homem próximo a Ustra, como uma das pessoas do núcleo duro da estrutura de repressão. De acordo com ele, Artone poderia dar informações sobre desaparecidos políticos.

Antes de prestar depoimento, Chaves relatou ter recebido cartas com ameaças. Em seguida, entregou o material com as supostas ameaças. Logo após o depoimento, a Comissão da Verdade ouviu o vereador de São Paulo, Gilberto Natalini, que confirmou ter sofrido torturas enquanto esteve preso no DOI-Codi pelo coronel Ustra.
Edição: Carolina Pimentel

Obs: o conteúdo deste texto da Agência Brasil Notícias pertence à Creative Commons Atribuição 3.0 Brasil. Para reproduzir as matérias é necessário apenas dar crédito à Agência Brasil.


Legenda: PiG= Partido da inprensa Golpista

Um documentário sobre a Farsa do Golpe Militar de 1964, intitulado "O Dia que Durou 21 Anos" pode ser vista abaixo, com a partipação de estudiosos, historiadores e brasilianistas norte-americanos:





Os Santos e os insanos

Comparando-se gênios e mestres humildes e preocupados com o bem-estar social com midiáticos picaretas hipócritas, mercadores da fé, arrogantes capitalistas:


sexta-feira, 10 de maio de 2013

Mídia, Poder, manipulação e o que mais se esconde no caso Marco Feliciano e Marcos Pereira

   O texto a seguir, intitulado "O Caso Marco Feliciano: um paradigma na relação mídia-religião-política"  é de Magali do Nascimento Cunha. A pequena introdução ao mesmo e à autora deixamos a cargo do filósofo, ecologista e teólogo Leonardo Boff:

Magali do Nascimento Cunha é jornalista, doutora em Ciências da Comunicação, professora da Universidade Metodista de São Paulo e autora do livro A Explosão Gospel: Um Olhar das Ciências Humanas sobre o cenário evangélico contemporâneo (Ed. Mauad) publicou um estudo esclarecedor sob o titulo “O Caso Marco Feliciano:um paradigma na relação mídia-religião-políitca”. Ela desvenda, numa análise minuciosa, o jogo político que se esconde atrás da discussão da permanência ou não do Pastor Marco Feliciano na Comissão dos Direitos Humanos da Câmara Federal. Este texto ajudará a muitos a entender as causas ocultas da resistência dele e os objetivos políticos presumivelmente almejados pela bancada evangélica na Câmar dos Deputados. O texto pode ser encontrado em : midiareligiaopolitica.blogspot.com.br  -  

Leonardo Boff 

in 

leonardoboff.wordpress.com



  
O Caso Marco Feliciano: um paradigma na relação mídia-religião-política   

 Nestes meses de março e abril de 2013 temos lido, ouvido e assistido a um episódio sem precedentes no Congresso Nacional, que coloca em evidência a relação religião-política-mídia. Em 5 de março foi anunciada pelo Partido Socialista Cristão (PSC), a indicação do membro de sua bancada o pastor evangélico deputado federal Marco Feliciano (SP) como presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal (CDH). Foram imediatas as reações de grupos pela causa dos Direitos Humanos ao nome de Marco Feliciano, com a alegação de que o deputado era conhecido em espaços midiáticos por declarações discriminatórias em relação a pessoas negras e a homossexuais. 

O PSC se defendeu dizendo que seguiu um protocolo que lhe deu o direito de indicar a presidência dessa comissão, um processo que estava dentro dos trâmites da democracia tal como estabelecida no Parlamento brasileiro. Isto, certamente, é fonte de reflexões, em especial quanto ao porquê da defesa dos Direitos Humanos ser colocada pelos grandes partidos como “moeda de troca barata”, como bem expôs Renato Janine Ribeiro em artigo publicado no Observatório da Imprensa (n. 740, 2/4/2013). Soma-se a isto o fato de o deputado indicado e o seu partido não apresentarem qualquer histórico de envolvimento com a causa dos Direitos Humanos que os qualificassem para o posto.
O que tem chamado a atenção neste caso, e que é objeto desta reflexão, é a “bola de neve” que ele provocou a partir das reações ao nome do deputado, formada por protestos públicos da parte de diversos segmentos da sociedade civil, mais a criação de uma frente parlamentar de oposição à eleição de Feliciano, e pelo estabelecimento de uma guerra religiosa entre evangélicos e ativistas do movimento de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (LGBT), e entre evangélicos e não-cristãos. E esta bola de neve é produto de fatores que se apresentam para além da CDH, e a expõem como um elemento a mais no complexo quadro da relação entre religião e sociedade no Brasil. Pensemos um pouco sobre estes fatores; vamos elencar quatro pontos: 

1. A reconfiguração do lugar dos evangélicos na política 

Desde o Congresso Constituinte de 1986 e a formação da primeira Bancada Evangélica e seus desdobramentos, a máxima “crente não se mete em política” construída com base na separação igreja-mundo, um progresso da modernidade, foi sepultada. A máxima passou a ser “irmão vota em irmão”. 
Depois de altos e baixos em termos numéricos, decorrentes de casos de corrupção e fisiologismo, a bancada evangélica se consolidou como força no Congresso Nacional, o que resultou na criação da Frente Parlamentar Evangélica (FPE) em 2004, ampliada nas eleições de 2010 para 73 congressistas, de 17 igrejas diferentes, 13 delas pentecostais. Os parlamentares evangélicos não são identificados como conservadores, do ponto de vista sociopolítico e econômico, como o é a Maioria Moral nos Estados Unidos, por exemplo. Seus projetos raramente interferem na ordem social e se revertem em “praças da Bíblia”, criação de feriados para concorrer com os católicos, benefícios para templos. Basta conferir o perfil dos partidos aos quais a maioria dos políticos evangélicos está afiliada e os recorrentes casos de fisiologismo. 
Mais recentemente é o forte tradicionalismo moral que tem marcado a atuação da FPE, que trouxe para si o mandato da defesa da família e da moral cristã contra a plataforma dos movimentos feministas e de homossexuais, valendo-se de alianças até mesmo com parlamentares católicos tradicionalistas, diálogo impensável no campo eclesiástico. 
Os números do Censo 2010 são fonte para a demanda de legitimidade social entre os evangélicos, e certamente de conquista de mais espaço de influência. Estudos mostram que desde 2002, período da legislatura em que a FPE foi criada, a cada eleição, o número de evangélicos no Parlamento (Câmara e Senado) aumenta em torno de 30% do total anterior. A estimativa, mantido este índice, é de chegarem a 100 cadeiras em 2014, o que representaria em torno de 20% das 513 do Congresso, refletindo a representatividade dos evangélicos no Brasil revelada pelo Censo 2010. Este é um projeto cada vez mais nítido deste segmento social que certamente visa, como os demais grupos políticos, muito mais do que cadeiras no Congresso, mas também presidências de comissões e de ministérios relevantes (para além do único atual tímido Ministério da Pesca, sob a liderança do bispo da Igreja Universal do Reino de Deus Marcelo Crivela). 
A polêmica com Marco Feliciano deixa este projeto em evidência, já que não só uma presidência inédita de comissão foi alcançada, mas também maior visibilidade aos evangélicos na política e ao próprio PSC, que tem o nome “Cristão”, mas sempre se caracterizou como um partido de aluguel para quem desejasse candidatura independentemente de confissão de fé. Pelo fato de estar nas manchetes durante semanas, o PSC já prevê que Feliciano, eleito com 212 mil votos por São Paulo em 2010, se tornará um “campeão de votos” nas próximas eleições, podendo atingir um milhão de votos, e ainda alavancará a candidatura do pastor Everaldo Pereira (PSC/SP) a presidente da República. Aliado de Marco Feliciano, o pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo Silas Malafaia, figura sempre presente nas mídias, declarou: “Se o Feliciano tiver menos de 400 mil votos na próxima eleição, eu estou mudando de nome”.
Mais uma vez, é possível afirmar que a cada novo episódio, a relação evangélicos- política é dinâmica complexa que inclui disputas por poder e hegemonia no campo religioso, ambição dos políticos que veem no pragmatismo dos evangélicos fonte para suas barganhas de campanha, concorrência de grupos que competem por poder sociopolítico e econômico como as empresas de mídia, como veremos adiante. 

2. O conservadorismo de Marco Feliciano e de seus “soldados” 

A imagem dos “evangélicos” foi construída fundamentalmente com base na identidade de dois grupos de cristãos não-católicos: os protestantes de diferentes confissões que chegaram ao Brasil por meio de missões dos Estados Unidos, a partir da segunda metade do século XIX, e os pentecostais, que aportaram em terras brasileiras na primeira década do século XX, vindos daquele mesmo país. Esta imagem sempre mostrou ao Brasil um segmento cristão predominantemente conservador teologicamente, marcado por um fundamentalismo bíblico, um dualismo que separava a igreja do “mundo”/a sociedade e um anticatolicismo. 
Desta forma, não é surpresa que um pastor evangélico, no caso Marco Feliciano, reproduza em seus sermões modernos e de forte apelo emocional, uma abordagem teológica tão antiga como a que embasa a ideologia racista, por meio da leitura fundamentalista de textos do Gênesis que contêm a narrativa da descendência de Noé. 

Também não é surpresa que Marco Feliciano conduza sua reflexão teológica por meio de bases que justifiquem a existência de um Deus Guerreiro e Belicoso, que tem ao seu redor anjos vingadores, que destrói do Titanic a John Lenon ou aos Mamonas Assassinas, continuando o que já fazia com os povos africanos herdeiros do filho de Noé, e que, nesta linha, certamente fará aos que assumem e apregoam o homossexualismo. Menos surpreendente é ainda que o líder religioso reaja a quem lhe faz oposição ou tenha posição diferente da sua classificando-o como agente do diabo e assim foram sinalizadas a própria formação anterior da Comissão de Direitos Humanos e celebridades como o cantor Caetano Veloso. 
Quem se surpreende com o que Feliciano diz e com o apoio que ele recebe de diversos segmentos evangélicos desconhece o DNA deste grupo. Não há nada de novo aqui. O que há é maior visibilidade pela projeção que a mídia religiosa e não-religiosa têm dado a este discurso. Em 2010, por exemplo, o pastor estadunidense Pat Robertson, dono de um canal de televisão, declarou que o trágico terremoto no Haiti naquele ano era consequência de um pacto dos haitianos com o diabo no passado para se tornarem independentes da França. A declaração de Robertson, amplamente veiculada, provocou manifestações contrárias em todo o mundo. As palavras de Marco Feliciano no Brasil de 2013 são apenas o eco da mesma teologia. 
Há algo novo, sim, neste processo, relacionado à articulação dos apoios a Feliciano que coloca em evidência o conservadorismo, antes atribuído mais diretamente aos evangélicos, que reflete uma tendência forte na sociedade brasileira de um modo geral. 
É nesse contexto que o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), suplente da CDH, afirmou que se sente como “irmão” do presidente da comissão. “Como capitão do Exército, sou um soldado do Feliciano”, declarou Bolsonaro, em matérias divulgadas pelas mídias em 27 de março, e acrescentou: “A agenda antes era outra, de uma minoria que não tinha nada a ver. Hoje, representamos as verdadeiras minorias. Acredito no Feliciano, de coração. Até parece que ele é meu irmão de muito tempo. Não sinto mais aquele cheiro esquisito que tinha aqui dentro e aquele peso nas costas. Aqui, era uma comissão que era voltada contra os interesses humanos, contra os interesses das crianças e contra os interesses da família. Agora, essa comissão está no caminho certo. Parabéns, Feliciano”. 
O deputado Bolsonaro tem um histórico de posicionamentos racistas e de conflito com ativistas sociais e militantes de movimentos gays. Em novembro de 2011, ele chegou a pedir, da tribuna da Câmara, à presidente Dilma Rousseff para que ela assumisse se gostava de homossexuais. Em março do mesmo ano, respondeu que “não discutiria promiscuidade” ao ser questionado em um programa de TV pela cantora Preta Gil sobre como reagiria caso o filho namorasse uma mulher negra.
No campo das igrejas, o já citado pastor Silas Malafaia, conhecido por polêmicas midiáticas desde a campanha presidencial de 2010, se alistou nas fileiras do deputado Feliciano e se tornou seu árduo defensor e colaborador desde o início da controvérsia da presidência da CDH. Até a Igreja Católica, explícita em suas posições quanto à ampliação de direitos civis de homossexuais, mas clássico “inimigo” dos evangélicos, é colocada por Feliciano na lista de aliados. Em entrevista à TV Folha-UOL (2/4/2013), o deputado explicitou: “Tenho alguns contatos com algumas pessoas da CNBB, mas com os grandes líderes do movimento católico não tive contato até porque quase não tenho tempo. Acredito que, nesse momento, todos eles me conhecem até porque o que eu sofro hoje de perseguição dado ao movimento LGBT, a Igreja Católica sofre isso no mundo todo. Inclusive, o novo papa, o papa Francisco, na Argentina quase foi linchado por esse grupo. Então, nós temos algumas coisas que, acredito, nos fazem pensar igual.(…) Eu fiquei feliz por termos ali um papa que ainda é bem ortodoxo, é bem conservador e que prima por aquilo eu acredito também, que a família é a base da sociedade. Aliás, a família é antes da sociedade”.
Estas alianças estão produzindo efeitos até na qualidade do discurso de Marco Feliciano. Os benefícios proporcionados pela aproximação com lideranças mais experientes ficam evidentes nas mudanças no discurso do deputado como: “Só saio da presidência da CDH morto” para “Só saio da presidência da CDH se os deputados condenados pelo julgamento do mensalão, José Genoíno e João Paulo Cunha, deixarem a Comissão de Constituição e Justiça”. Com isso, Feliciano atraiu para si a simpatia da mídia que se fartou na cobertura do julgamento do Superior Tribunal de Justiça e de segmentos conservadores, que, embora não concordem com seu nome na presidência da CDH, querem “a cabeça” dos condenados. Feliciano usa uma controvérsia ética para justificar a controvérsia de sua própria eleição – a CDH como moeda de troca partidária.
Alianças do religioso com o não-religioso formando exércitos que marcham em defesa da moral e dos bons costumes – em defesa da família – não é algo novo no Brasil, mas é bastante novo no espaço político que envolve os evangélicos e suas conquistas na esfera pública. Em matéria na Folha de São Paulo, de 7/4/2013, o diretor do instituto de pesquisa Datafolha, Mauro Paulino, declarou que o discurso de Feliciano atinge preocupações de parte da população: “Entre os brasileiros, 14% se posicionam na extrema direita. As aparições na imprensa dão esse efeito de conferir notoriedade a ele.” Isto significa que apesar dos tantos slogans divulgados em manifestações presenciais e nas redes sociais – “Feliciano não me representa” – Feliciano, Bolsonaro e tantos outros são eleitos e ganham espaço e legitimidade. Portanto, há quem se sinta representado, sim, não somente do ponto de vista da popularidade mas do peso das articulações ideológicas em curso na sociedade brasileira. 

3. Inimigos, um componente do imaginário evangélico 

Exércitos precisam de inimigos. A teologia de um Deus Guerreiro e Belicoso sempre esteve presente na formação fundamentalista dos evangélicos brasileiros, compondo o seu imaginário e criando a necessidade da identificação de inimigos a serem combatidos. Historicamente a Igreja Católica Romana sempre foi identificadas como tal e sempre foi combatida no campo simbólico mas também no físico-geográfico. Da mesma forma as religiões afro-brasileiras também ocupam este lugar, especialmente, no imaginário dos grupos pentecostais. 
Periodicamente, estes “inimigos” restritos ao campo religioso perdem força quando ou se renovam, como é o caso da Igreja Católica, a partir dos anos de 1960, ou quando aparecem outros que trazem ameaças mais amplas. Assim foram interpretados os comunistas no período da guerra fria no mundo e da ditadura militar. Há também um imperativo imaginário de se atualizar os combates, quando a insistência em determinados grupos leva a um desgaste da guerra. Durante o processo de redemocratização brasileira nos anos 80, o espaço que vinha sendo conquistado pelo Partido dos Trabalhadores, interpretado como nítido representante do perigo comunista, foi reconhecido como ameaça e campanhas evangélicas contra o PT reverberaram de forma religiosa o que se expunha nas trincheiras da política. 
Com o enfraquecimento do ideal comunista nos anos 90 e com o PT chegando ao poder nacional com o apoio dos próprios evangélicos, a força das construções ideológicas estadunidenses abriu lugar à atenção à ameaça islâmica e houve algum espaço entre evangélicos no Brasil para discursos de combate ao islam. No entanto, como esta ameaça está bem distante da realidade brasileira – não se configura um inimigo tão perigoso nestas terras -, emerge, mais uma vez, o imperativo de se atualizar os combates. Não mais catolicismo, nem comunismo, não tanto islamismo… quem se configuraria como novo inimigo? Desta vez, um inimigo contra a religião e seus princípios, contra a Bíblia, contra Deus, contra o Brasil e as famílias: o homossexualismo. 
Declarações de Marco Feliciano na mídia noticiosa expressam bem este espírito belicoso: “É um assunto tão podre! Toda vez que se fala de sexo entre pessoas do mesmo sexo ninguém quer colocar a mão, porque é podre. Por causa disso, um grupo de 2% da população – os gays – consegue se levantar e oprimir uma nação com 90% de cristãos, entre católicos e evangélicos, e até pessoas que não têm religião, mas que primam pelo bem-estar da família, pelo curso natural das coisas” (Rede Brasil Atual, 1/3/2013). “Existe uma ditadura chamada (…) “gayzista”. Eles querem impor o seu estilo de vida e a sua condição sobre mim. E eles lutam contra a minha liberdade de pensamento e de expressão. Eles lutam pela liberdade sexual deles. Só que antes da liberdade sexual deles, que é secundária, tem que ser permitida a minha liberdade intelectual. A minha liberdade de expressão. Eu posso pensar. Se tirarem o meu poder de pensar, eu não vivo. Eu vegeto e morro”. (TV Folha-UOL, 2/4/2013). 
Consequência da eleição de inimigos e do combate a eles é o discurso de que há uma perseguição a quem se faz contrário, promovida pelo maior inimigo de Deus, Satanás. Esta ideia está claramente presente em afirmações de Feliciano como: “Eu morro, mas não abandono minha fé”; “A situação está tomando dimensões muito estranhas. É assustador, estou me sentindo perseguido como aquela cubana lá. Como é o nome? A Yoani Sánchez”; “Se é para gritar, tem um povo que sabe o que é grito. [...] Nós (evangélicos) sabemos qual é o poder da nossa fé.” 
A insistência da mídia noticiosa em enfatizar a guerra Feliciano-homossexuais, com o lado “inimigo” representado por um deputado, na mesma condição do primeiro, Jean Wyllys (PSOL/RJ), ativista do movimento LGBT, só faz reforçar a reconstrução do imaginário evangélico da guerra aos inimigos e da perseguição consequente. Isso tem gerado manifestações diversas de apoio a Feliciano entre evangélicos dos mais diferentes segmentos e ações como a da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB), realizada em Brasília neste abril, que aprovou uma moção de apoio a Feliciano, aprovada em votação simbólica por unanimidade. Feliciano agradeceu o apoio dizendo que “nunca houve uma comissão com tanta oração. Os pastores estão orando pela minha vida e pela comissão. Venceremos esta batalha”. 
Há ainda uma explosão de postagens em nas mídias digitais, em especial nas redes sociais. Por exemplo, uma montagem com foto de Marco Feliciano com uma faixa presidencial tem sido veiculada por usuários do Facebook, e, na primeira semana de abril já havia superado a marca de 65 mil compartilhamentos. A campanha pede que favoráveis à candidatura do pastor à presidência da República em 2014 compartilhem a imagem para demonstrar força nas redes sociais: “Campanha urgente: Marco Feliciano presidente do Brasil”, diz o texto.
Uma segunda imagem com comparações entre Marco Feliciano e Jean Wyllys também veiculada no Facebook, já havia superado 100 mil compartilhamentos em meados de abril, registrando mais de 7,5 mil comentários. Na imagem, há dados sobre o número de votos de cada um dos deputados, além de comparações entre as bandeiras políticas defendidas por cada um deles. A imagem quando compartilhada revela declarações pessoais de quem “curtiu” com texto que manifesta apoio ao pastor Feliciano: “Eu sou cristão, a favor da democracia, da vida e da família brasileira. Marco Feliciano me representa”. 
A declaração de Silas Malafaia à Folha de São Paulo (7/4/2013) sobre a repercussão do caso entre os evangélicos e simpatizantes reflete bem este espírito: “Quero agradecer ao movimento gay. Quanto mais tempo perderem com o Feliciano, maior será a bancada evangélica em 2014″. 
Toda e qualquer análise e ação em torno da presença dos evangélicos nas mídias e na política não pode ignorar esta dimensão do imaginário da necessidade da criação de inimigos e da consequente perseguição. Isto é característico de religiões numericamente não-majoritárias, sendo portanto, fruto, entre outros aspectos, do caráter minoritário da presença evangélica em terras brasileiras. 

4. As transformações e as revelações na relação mídia-religião 

O histórico da presença evangélicas nas mídias não-religiosas no Brasil revela a hegemonia católica-romana que vem pouco a pouco sendo diminuída por conta do espaço que os evangélicos vêm conquistando na esfera pública. Enquanto católicos sempre apareceram para expressar sua fé nas datas clássicas do calendário religioso e para se manifestar sobre temas amplos, à exceção dos casos controversos inevitáveis como a pedofilia praticada por clérigos, cuidadosamente tratados, evangélicos tinham espaço garantido quando se tratava de escândalos de corrupção ou situações bizarras. 
Na última década, a expressiva representatividade dos evangélicos no país com o consequente declínio do catolicismo, e a ampliação de sua presença nas mídias e na política, torna este segmento não só visível mas um alvo mercadológico. As mídias passam a prestar a atenção no segmento e na lucratividade possível, em torno da cultura do consumo vigente. 
Um exemplo ilustrativo se dá quando um personagem, por vezes protagonista, por vezes coadjuvante, como o pastor Silas Malafaia, que assume o papel da pessoa controvertida em todo este contexto e constrói sua imagem midiática como “aquele que diz as verdades”, é convidado para uma conversa com o vice-diretor das Organizações Globo, João Roberto Marinho (PINHEIRO, Daniela. Vitória em Cristo. Revista Piauí, n. 60, set 2011). Aí é possível identificar o patamar em que se encontra o segmento evangélico nas mídias. Segundo depoimento do pastor depois da conversa, Marinho teria alegado precisar conhecer mais o mundo dos evangélicos já que a emissora teria percebido que Edir Macedo não seria “a voz” dos protestantes no Brasil. O pastor Malafaia ganhou, então, trânsito em um canal destacado de comunicação e teve várias aparições no programa de maior audiência da Rede Globo, o Jornal Nacional. 
Além do contato com Malafaia, as Organizações Globo, por meio da gravadora Som Livre, já contrataram grandes nomes do mercado da música evangélica que têm, a partir daí, espaço garantido na programação da Rede Globo. A Globo tirou da Rede Record, em 2011, o evento de premiação dos melhores da música evangélica, tendo criado o Troféu Promessas. A Rede Globo é também, a partir de 2011, patrocinadora de eventos evangélicos como a Marcha para Jesus e de festivais gospel. Noticiário inédito do mundo evangélico tem ganhado espaço na Rede, como por exemplo, a matéria sobre a reeleição de José Wellington Bezerra à presidência da Convenção Geral das Assembleias de Deus veiculada em matéria de 1’44 no Jornal da Globo, de 1’52 na Globo News, em 11 de abril, além de nota na CBN e no portal G1. 
Neste contexto, o caso Marco Feliciano tem sido amplamente tratado pela grande mídia. Feliciano já foi entrevistado por todos os grandes veículos de imprensa e já participou dos mais variados programas de entretenimento – de talk-shows a games. Foi tratado com simpatia na entrevista de Veja e defendido pelo jornalista Alexandre Garcia em comentário na Rádio Metrópole (5/4/2013) com o argumento de “liberdade de opinião”. Fica nítido que estes veículos não desprezam a dimensão do escândalo e da bizarrice relacionada ao caso, somada à atraente questão da homossexualidade que mexe com as emoções e paixões humanas e expõe a vida íntima de celebridades, como o caso da cantora Daniela Mercury que veio à tona na trilha desta história. 
No entanto, o amplo espaço dado para que Feliciano e seus aliados exponham seus argumentos e sejam exibidos como simpáticos bons sujeitos revela que estas personagens ganham um tratamento bastante afável em comparação à execração imposta a outras em situações críticas da política brasileira, como a que envolveu os parlamentares do PT. Não temos aqui apenas os evangélicos como um segmento de mercado a ser bem tratado, mas, retomando a constatação de que Feliciano, Malafaia e Bolsonaro representam uma parcela conservadora da sociedade brasileira, é possível que haja uma identidade entre estes líderes e quem emite e produz conteúdos das mídias. Afinal, é a mesma mídia que constrói notícias sobre crimes protagonizados por crianças e adolescentes de forma a promover uma “limpeza” das cidades por meio de campanha por redução da maioridade penal no Brasil, ou que veicula programas que trazem enquetes durante um noticiário sobre crimes urbanos que indagam: “Ligue XXX ou YYY para indicar qual pena merece o criminoso? XXX para prisão ou YYY para morte”. 
São transformações na relação mídia e religião, com efeitos políticos, que merecem ser monitoradas e esclarecidas, tendo em vista a complexidade das relações sociais, em especial no que diz respeito à religião, e que devem ser potencializadas no ano eleitoral que se aproxima. 
Um paradigma 
O caso Marco Feliciano pode ser considerado um paradigma pelo fato de ser a primeira vez na história em que os evangélicos se colocam como um bloco organicamente articulado, com projeto temático definido: uma pretensa defesa da família. Com a polarização estimulada pelas mídias entre o deputado Feliciano e ativistas homossexuais foi apagada a discussão de origem quanto à indicação do seu nome em torno das afirmações racistas e de seu total distanciamento da defesa dos direitos humanos.
Torna-se nítida uma articulação política e ideológica conservadora em diferentes espaços sociais – do Congresso Nacional às mídias – que reflete um espírito presente na sociedade brasileira, de reação a avanços sociopolíticos, que dizem respeito não só a direitos civis homossexuais e das mulheres, como também aos direitos de crianças e adolescentes, às ações afirmativas (cotas, por exemplo) e da Comissão da Verdade, e de políticas de inclusão social e cidadania. Nesta articulação a religião passa a ser instrumentalizada, uma porta-voz. 
A postagem de um pastor de uma igreja evangélica no Facebook reflete bem este espírito: “Devemos nos unir cada vez mais, já somos milhões de evangélicos no Brasil, fora os simpatizantes. Temos força, é claro que nossa força vem de Deus. Precisamos nos mobilizar contra as forças das trevas, que querem desvirtuar os bons costumes e a moral e, principalmente que querem afetar a honra da família. Se o meu povo que se chama pelo meu nome se humilhar e orar, não tem capeta que resista”. E as palavras de Marco Feliciano ecoam como profecia: “Graças a Deus permanecemos firmes até aqui. Chegará o tempo que nós, evangélicos, vamos ter voz em outros lugares. O Brasil todo encara o movimento evangélico com outros olhos”.
Nesse sentido é possível afirmar que os grupos políticos e midiáticos conservadores no Brasil descobriram os evangélicos e o seu poder de voz, de voto, de consumo e de reprodução ideológica. A ascensão de Celso Russomano nas eleições municipais de São Paulo, em 2012, já havia sido exemplar: um católico num partido evangélico, apoiado por grupos evangélicos os mais distintos. A eleição da presidência da CDH é paradigmática no campo nacional e ainda deve render muitos dividendos a Feliciano, ao PSC, à Bancada Evangélica e a seus aliados. O projeto político que se desenha, de fato, pouco ou nada tem a ver com a defesa da família… os segmentos da sociedade civil, incluindo setores evangélicos não identificados com o projeto aqui descrito, que defendem um Estado laico e socialmente justo, têm grandes tarefas pela frente.

Quanto ao Pastor Marcos Pereira, preso sobre inúmeras acusações de estupro, segue reportagem de Tiago Chagas retirada de  sites evangélicos, o Gospel+  e o Gnotícias, e divulgada em 09 de maio de 2013 :




  A prisão do pastor Marcos Pereira sob acusação de estupro na última terça-feira, 07 de maio, repercutiu no meio evangélico, e alguns pastores publicaram artigos diversos comentando o episódio.

  Para Waguinho, cantor e pastor da Assembleia de Deus dos Últimos Dias (ADUD) e aliado de Pereira, a prisão é uma retaliação: “Todo mundo que convive com o pastor sabe que ele é uma pessoa do bem. Isso tudo começou por causa daquele José Júnior, que trabalha ganhando R$ 80 milhões do governo, enquanto a gente ressocializa as pessoas por amor, sem ter nenhuma vantagem com isso. Nós sabemos quem é do mal, sabemos quem engana. Foi uma prisão feita já numa hora adiantada, para que acontecesse isso aqui, para que a imprensa soubesse. A principal intenção é o escândalo, é denegrir a imagem do pastor”, afirmou, criticando o maior adversário de Marcos Pereira, o ativista social José Junior, presidente do Afroreggae.

  Entretanto, a visão de Waguinho não foi compartilhada por outros pastores. Márcio de Souza, colunista do Gospel+, publicou em seu blog um artigo sobre o caso, e demonstrou estranheza por saber que entre os evangélicos, há pessoas que defendem Marcos Pereira.

  “Eu fico pasmo de saber como existe gente que ainda apoia esse camarada. Reportagens fantasiosas, acordos de rebeliões com final feliz e um show que culminou agora com a prisão do protagonista desse circo”, escreveu.

  Segundo Souza, o argumento que será usado pelos partidários de Marcos Pereira é inválido: “Agora as pessoas se levantarão e dirão que ele está sendo perseguido porque é servo de Deus. Servo de Deus não estupra ninguém, nem se aproveita da fraqueza do outro para se promover”, escreveu, antes de lamentar os danos que o escândalo pode causar à imagem da igreja como um todo: “O maior problema é que o testemunho desse cara desabona a todos os crentes idôneos que professam o Evangelho verdadeiro de Cristo no meio de quem ainda não teve uma experiência com o Senhor. As pessoas pensam logo que somos todos ‘farinha do mesmo saco’. Uma pena. Quero ver agora ficar gritando ‘Tei tei tei’ no xadrez”, resumiu.

  A preocupação do pastor Márcio de Souza não foi a mesma que o reverendo Hermes C. Fernandes demonstrou: “Estou profundamente envergonhado pela maneira como muitos irmãos têm reagido à prisão do pastor Marcos Pereira da Assembleia de Deus dos Últimos Dias, preso preventivamente na terça-feira à noite, investigado por seis estupros. A impressão que se passa é que a maioria está mais preocupada com o escândalo em si. Temem que respingue na reputação da igreja evangélica como um todo e, assim, mine ainda mais a sua credibilidade já tão desgastada junto à sociedade. Não vi ninguém demonstrar preocupação e compaixão pelas vítimas de alguém que se escondia por trás de uma posição eclesiástica para cometer abusos e estupros. Como estará o coração dessas pessoas?”, questionou no texto publicado em seu blog.

  Em seu blog, Fernandes ressaltou que Marcos Pereira tornou-se algoz de quem buscava refúgio em seu ministério: “O que um discurso moralista inflamado é capaz de esconder! Gente humilde e carente foi vítima de quem deveria protegê-la. Alguns prefeririam que tais coisas jamais fossem descobertas para que o escândalo fosse evitado e a igreja fosse poupada de mais um desgaste”, lamentou.

  Por Tiago Chagas, para o Gospel+