Páginas

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Apenas a renovação do perceber e do pensar podem criar um Ano Novo




O Ano Novo só será realmente Novo se renovarmos nossas ideias e, com elas, nosso mode de agir ante as velharias de um sistema impessoal, utilitarista, quantitativo e cada vez mais mecanicista, resgatando o humano, o cuidado e a gratuidade, buscando a solidariedade e não a só competitividade.


Carlos Antonio Fragoso Guimrães

domingo, 23 de dezembro de 2012

Augusto dos Anjos: Vozes de uma Sombra



Segue a transcrição de um poema em tudo idêntico ao estilo de Augusto dos Anjos, escrito, quem diria, depois de morto, sob a psicografia de Francisco Cândido Xavier e parte do livro Parnaso de Além-Túmulo. Veja-se a profundidade do texto, falando da evolução da alma desde ignotas eras até o augusto desconhecido do futuro...



VOZES  DE  UMA  SOMBRA

                                                 I   

Donde venho? De era remotíssimas
Das substâncias elementaríssimas
Emergindo das cósmicas matérias. 
Venho dos invisíveis protozoários,
Da confusão dos seres embrionários,
Das células primevas, das bactérias. 

Venho da fonte eterna das origens,
No turbilhão de todas as vertigens,
Em mil transmutações, fundas e enormes;
Do silêncio da mônada invisível,
Do tetro e fundo abismo, negro e horrível,
Vitalizando corpos multiformes. 

Sei que evolvi e sei que sou oriundo
Do trabalho telúrico do mundo,
Da Terra no vultoso e imenso abdômen;
Sofri, desde as intensas torpitudes
Das larvas microscópicas e rudes,
A infinita desgraça de ser homem. 

Na Terra, apenas fui terrível presa,
Simbiose da dor e da tristeza,
Durante penosíssimos minutos;
A dor, essa tirânica incendiária,
Abatia-me a vida solitária
Como se eu fora bruto entre os mais brutos. 

Depois, voltei desse laboratório,
Onde me revolvi como infusório,
Como animálculo medonho, obscuro,
Te atingir a evolução dos seres
Conscientes de todos os deveres,
Descortinando as luzes do futuro. 

E vejo os meus incógnitos problemas
Iguais a horrendos e fatais dilemas,
Enigmas insolúveis e profundos;
Sombra egressa de lousa dura e fria,
Grita ao mundo o meu grito que se alia
A todos os anseios gemebundos: —

“Homem! Por mais que gastes teus fosfatos
Não saberás, analisando os fatos,
Inda que desintegres energias,
A razão do completo e do incompleto,
Como é que em homem se transforma o feto
Entre os duzentos e setenta dias. 

A flor da laranjeira, a asa do inseto,
Um estafermo e um Tales de Mileto,
Como existiram, não perceberás;
E nem compreenderás como se opera
A mutação do inverno em primavera,
E a transubstanciação da guerra em paz;

Como vivem o novo e obsoleto,
O ângulo obtuso e o ângulo reto
Dentro das linhas da Geometria;
A luz de Miguel Ângelo nas artes,
E o espírito profundo de Descartes
No eterno estudo da Filosofia. 

Porque existem as crianças e os macróbios
Nas coletividades dos micróbios
Que fazem a vida enferma e a vida sã
Os antigos remédios alopatas
E as modernas dosagens homeopáticas
Produto da experiência de Hahnemann. 

A psíquico-análise freudiana
Tentando aprofundar a alma humana
Com a mais requintadíssima vaidade,
E as teorias do Espiritualismo
Enchendo os homens todos de otimismo,
Mostrando as luzes da imortalidade. 

Como vive o canário junto ao corvo
O céu iluminado, o inverno torvo
Nos absconsos refolhos da consciência;
O laconismo e a prolixidade
A atividade e a inatividade,
A noite da ignorância e o sol da Ciência. 

As epidermes e as aponevroses,
As grandes atonias e as nevroses,
As atrações e as grandes repulsões,
Que reunindo os átomos no solo
Tecem a evolução de pólo e pólo,
Em prodigiosas manifestações;

Como os degenerados blastodermas
Criam a descendência dos palermas
No lupanar das pobres meretrizes,
Junto dos palacetes higiênicos
Onde entre gozos fúlgidos e edênicos
Cresce a alegre progênie dos felizes. 

Os lombricóides mínimos, os vermes,
Em contraposição com os paquidermes,
Assombrosas antíteses no mundo;
É o gigante e germe originário,
Os milhões de corpúsculos do ovário,
Onde há somente um óvulo fecundo. 

A alma pura do Cristo e a de Tibério,
Vaso de carne podre, o cemitério,
E o jardim rescendendo a perfumes;
O doloroso e tetro cataclismo
Da beleza louçã do organismo,
Repleto de dejetos e de estrumes. 

As coisas sustanciais e as coisas ocas,
As idéias conexas e as loucas,
A teoria cristã e Augusto Comte;
E o desconhecido e o devassado,
E o que é ilimitado e o limitado
Na óptica ilusória do horizonte. 

Os terrenos povoados e o deserto,
Aquilo que está longe e o que está perto;
O que não tem sinal e o que tem marca;
A funda simpatia e a antipatia,
As atrofias e a hipertrofia,
Como as tuberculoses e a anasarca. 

Os fenômenos todos geológicos,
Psíquicos, científicos, sociológicos,
Que inspiram pavor e inspiram medo;
Homem! Por mais que a idéia tua gastes,
Na solução de todos os contrastes,
Não saberás o cósmico segredo. 

E apesar da teoria abstrusa
Dessa ciência inicial, confusa,
A que se acolhem míseros ateus,
Caminharás lutando além da cova,
Para a Vida que eterna se renova,
Buscando as perfeições do Amor em Deus.”

À luz dessa dourada ignorância,
E com certezas lógicas, numéricas,
Notava as pestilências cadavéricas
Iguais à carne angélica da infância,

A sutilez do arminho que se veste,
A coroa aromática das flores,
Irmanadas aos pútridos fedores
De emanações pestíferas da peste!

Extravagância e excesso jamais visto,
De idéia que esteriliza e desensina,
Loucura que igualava Messalina
À pureza lirial da Mãe do Cristo.

Assim vivi na presunção que via,
Dos cumes da Ciência e do saber,
Os princípios genéricos do ser,
No pantanal da lama em que eu vivia.

Vi, porém, a matéria apodrecer,
E na individualidade indivisível
Ouvi a voz esplêndida e terrível
Da luz, na luz etérica a dizer:

II

“Louco, que emerges de apodrecimentos,
Alma pobre, esquelético fantasma
Que gastaste a energia do teu plasma
Em combates estéreis, famulentos...

Em teus dias inúteis, foste apenas
Um corvo ou sanguessuga de defuntos,
Vendo somente a cárie dos conjuntos,
Entre as sombras das lágrimas terrenas.

Vias os teus iguais, iguais aos odres
Onde se guarda o fragmento imundo,
De todo o esterco que apavora o mundo
E os tóxicos letais dos corpos podres.

E tanto viste os corpos e as matérias
No esterquilínio generalizados,
E os instintos hidrófobos, danados,
Em meio de excrescências e misérias,

Que corrompeste a íntima saúde
Da tua alma cegada de amargores,
Que na Terra não viu os esplendores
E as ignívomas luzes da virtude.

Olhos cegos às chamas da bondade
De Deus e à divinal misericórdia,
Que espalha o bem e as auras da concórdia
No coração de toda a Humanidade.

Descansa, agora, vibrião das ruínas,
Esquece o verme, as carnes, os estrumes,
Retempera-te em meio dos perfumes
Cantando a luz das amplidões divinas.”


III

Calou-se a voz. E sufocando gritos,
Filhos do pranto que me espedaçava,
Reconheci que a vida continuava
Infinita, em eternos infinitos!

sábado, 22 de dezembro de 2012

Natal: a atualidade da Eterna Criança, segundo Leonardo Boff

Quadro de Sandro Botiticelli - Madona ensinando o menino Jesus

Texto de Leonardo Boff

O Natal representa sempre oportunidade de voltarmos ao cristianismo originário. Em primeiro lugar, existe a mensagem de Jesus: a experiência de Deus como Pai com características de mãe, o amor incondicional, a misericórdia e a entrega radical a um sonho: o do Reino de Deus. Em segundo lugar, existe o movimento de Jesus: daqueles que, sem aderir a alguma confissão ou dogma, se deixam fascinar por sua saga generosa e radicalmente humana e o tem como uma referência de valor. Em terceiro lugar, há as teologias sobre Jesus, já contidas nos evangelhos, escritos 40-50 anos após sua execução na cruz.

As comunidades subjacentes a cada um dos evangelhos, elaboraram suas interpretações sobre a vida de Jesus, sua prática, seu conflito com os as autoridades, sua experiência de Deus e sobre o significado de sua morte e ressurreição. No entanto, cobrem sua figura com tantas doutrinas que se torna difícil saber quem foi realmente o Jesus histórico que viveu entre nós. Por fim, existem as Igrejas que tentam levar avante o legado de Jesus, uma delas, a católica, com a reivindicação de ser a única verdadeira guardiã de sua mensagem e a exclusiva intérprete de seu significado. Tal pretensão torna praticamente impossível o diálogo ecumênico e a unidade das igrejas a não ser mediante à conversão.

Hoje tendemos a dizer que Jesus não pode ser apropriado por nenhuma Igreja. Ele pertence à humanidade e representa um dom que Deus ofereceu a todos, de todos os quadrantes.

Tomando como referencia a Igreja Católica, notamos que em sua milenar história, duas tendências, entre outras menores, ganharam grande curso. A primeira se funda muito na culpa, no pecado e na penitência. Sobre tais realidades paira o espectro do inferno, do purgatório e do medo.

Efetivamente, podemos dizer, que o medo foi um dos fatores fundamentais na penetração do cristianismo, como o mostrou J. Delumeau em seu clássico “O medo no Ocidente” (1978). O método no tempo de Carlos Magno era: converta-te ou serás passado ao fio da espada. Lendo os primeiros catecismos feitos na América Latina como o primeiro de Frei Pedro de Córdoba “Doctrina Cristiana” (1510 e 1544), vê-se claramente esta tendência com apelo explícito ao medo. Começa-se com a descrição idílica do céu e depois a terrificante do inferno “onde estão todos os vossos antepassados, pais, mães, avós e parentes…e para onde vós todos ireis se não vos converterdes”. Podemos imaginar a confusão que isso criava na cabeça dos aztecas e outros ao ouvir que seus pais, mãe, parentes e todas as pessoas que amavam, estavam sofrendo no inferno.Setores da atual Igreja manejam ainda hoje as categorias do medo e do inferno.

Outra tendência, mais contemporânea, e penso, mais próxima de Jesus, põe a ênfase na compaixão e no amor, na justiça original e no fim bom da criação. Entende que a história da salvação se dá dentro da história humana e não como uma alternativa a ela. Daí surge um perfil de cristianismo mais jovial, em diálogo com as culturas e com os valores modernos pois neles vê também a presença do Espírito Santo que chega sempre antes do missionário.

A festa do Natal se liga a esta última tendência do Cristianismo. O que se celebra é um Deus-menino, que choraminga entre a vaca e burrinho, que não mete medo nem julga ninguém. É bom que os cristãos voltem a esta figura. Arquetipicamente ele representa o “puer aeternus” a eterna criança que, no fundo, nunca deixamos de ser.

Uma das melhores discípulas de C. G. Jung, Marie-Louise von Franz, analisou em detalhe este arquétipo em seu livro “Puer Aeternus” (Paulinas 1992). Essa figura possui certa ambiguidade. Se colocamos a criança atrás de nós, ela deslancha energias regressivas de nostalgia de um mundo que passou e que não foi totalmente superado e integrado. Continuamos, de certa forma, infantis.
Mas se colocamos a criança eterna à nossa frente então ela suscita em nós renovação de vida, inocência, novas possibilidades de ação que correm em direção do futuro.

Pois estes são os sentimentos que queremos alimentar neste Natal no meio de uma situação sombria da Terra e da Humanidade. Sentimentos de que ainda teremos futuro e que podemos nos salvar porque a Estrela é magnânima e o “puer” é eterno e porque ele se encarnou neste mundo e não permitirá que afunde totalmente. Nele se manifestou a humanidade e a jovialidade do Deus de todos os povos. Tudo o mais é vaidade.

Leonardo Boff escreveu O Sol da Esperança: Natal, Histórias, Poesias e Símbolos (Mar e Idéias, Rio 2007)

Jung e as imagens, os símbolos e os mitos como expressão da Psique



Carlos Antonio Fragoso Guimarães

Uma das mais interessantes descobertas de Carl Gustav Jung (1875-1961), mas que já era de conhecimento intuitivo dos simples, dos poetas, dos artistas, dos apaixonados, dos idealistas, é a de que a psique, nossa totalidade psicológica (que inclui as águas profundas daquilo de que não temos consciência) expressa-se imagisticamente, ou seja, expressa-se por símbolos e não mediante hipótese e linguagem discursiva, isto é, racional. A racionalidade foi uma conquista do ego para lidar com elementos físicos e com necessidades de interação com o meio, prevendo efeitos externos, mas a razão é facilmente plasmada ou deformada pela vontade ou falta de vontade, e pelo medo, desejo e anseios. É a partir da energia que surge destas imagens, geralmente carregadas de afetos e emoções, que se erguem as idéias posteriormente trabalhadas (bem ou mal) pelo ego racional. É mérito dele, Carl Jung,  contudo, ter unido as contribuição da psicologia e da antropologia para demonstrar, superando a própria psicanálise freudiana, a dimensão numinosa e profundamente terapêutica das imagens e símbolos.

As imagens e os símbolos, visuais, sonoros ou ideais,  são mais que produtos secundários e irrisórios da subjetividade. Nos dizeres de Mircea Eliade, 


"O pensamento simbólico não é uma área exclusiva da criança, do poeta ou do desequilibrado... Ela é consubstancial  ao ser humano; precede a linguagem e a razão discursiva. O símbolo revela certos aspectos da realidade - os mais profundos - que desafiam qualquer outro meio de conhecimento. As imagens, os símbolos e os mitos não são criações irresponsáveis da psique; elas respondem a uma necessidade e preenchem uma função: revelar as mais secretas modalidades do ser (...) Quando um ser historicamente condicionado, por exemplo um ocidental dos dias de hoje, deixa-se invadir por sua própria parte a-histórica (de seus anseios, desejos e imagens semi-inconscientes) - o que acontece com muito mais frequencia do que ele imagina -, não é necessariamente para regredir: inúmeras vezes ele reintegra as coisas simples que dão sentido à vida por estas imagens e símbolos e são estas que tentam reequilibrar o excesso de pragmatismo impessoal da vida moderna"


 Tudo o que realmente nos interessa não se pode expressar pela linguagem discursiva, como ocorre com a vida, as emoções, as esperanças, os devaneios. Recorremos, então, à metáfora, ao simbólico, ao alegórico. De um ponto de vista epistemológico, as imagens são a única realidade que apreendemos diretamente. Jung demonstrou que a linguagem simbólica, das imagens, é a que toca mais fundo e a mais facilmente percebida (ainda que conscientemente seja pouco compreendida) no processo de desenvolvimento da psique.



“Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo”.


Dom Hélder Câmara 
(1909-1999)

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Resgate da função e importância dos mitos autênticos


A linguagem e função das Imagens, Símbolos e Mitos

Texto de 

Carlos Antonio Fragoso Guimarães

   Da mesma forma como sonhamos individualmente e estes sonhos possuem elementos de nossa psicologia que apontam para etapas de nosso desenvolvimento pessoal, os mitos nascem do meio da coletividade e apontam para o estágio de desenvolvimento de uma sociedade.

  Freud e Jung demonstraram que a linguagem mais fundamental e própria de nosso psiquismo é fundamentalmente simbólica, imagética (o que não inclui somente imagens, mas representações conceituais e/ou sonoras atreladas a um sentimento ou ideia). Muitas vezes, a sabedoria intuitiva se expressa por imagens ou representações que incluem o que nos é conhecido, mas apresentados de algumas maneiras paradoxais, porque elas tenta, através das imagens e símbolos, apontar para alguma coisa ainda não conhecida ou vivenciada, mas que pode ser conhecida, pode ser vivenciada. Por isso, como diz Joseph Campbell, os mitos são, como os sonhos, expressões da sabedoria da vida, da vida humana. Frequentemente trazem temas universais que vestem roupagens das culturas locais, mas sempre se referindo a um enredo atemporal conhecido de quase todas as pessoas. Por isso, tanto um médico de São Paulo quanto um índio do Xingu podem ter sonhos ou gostarem de um conto que, tirando as diferenças superficiais das roupagens culturais, possuem uma mesma temática, que pode ser desde a jornada épica de um herói ao modo como se dá a paixão entre um homem e uma mulher, por exemplo.

  Como bem aponta o filósofo e historiador romeno Mircea Eliade, as imagens, símbolos e mitos apontam para aquele conteúdo profundo que é próprio da espécie humana: a capacidade de buscar sentido na vida e no mundo, e estes sãos os meios de nossa alma de expressar seus anseios, suas tendências de desenvolvimento (ou de estagnação). As imagens, símbolos e mitos são a linguagem figurada da alma e veículos de uma sabedoria só possível de ser "entendida" quando a aceitamos tal qual se nos apresentam para, assimiladas, poderem ser refletidas na alegoria de sua sabedoria sintética e poética, que ainda não foi deturpada pela racionalização ou pela seleção dos preconceitos de uma sociedade hiper-pragmática e voltada para as coisas externas como a nossa.

domingo, 16 de dezembro de 2012

NOAM CHOMSKY E AS 10 ESTRATÉGIAS DE MANIPULAÇÃO MIDIÁTICA





O lingüista e filósofo estadunidense Noam Chomsky elaborou a lista das “10 estratégias de manipulação” através da mídia:

1- A ESTRATÉGIA DA DISTRAÇÃO.

O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do dilúvio ou inundações de contínuas distrações e de informações insignificantes. A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir ao público de interessar-se pelos conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética. “Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar; de volta à granja como os outros animais (citação do texto 'Armas silenciosas para guerras tranqüilas')”.

2- CRIAR PROBLEMAS, DEPOIS OFERECER SOLUÇÕES.

Este método também é chamado “problema-reação-solução”. Cria-se um problema, uma “situação” prevista para causar certa reação no público, a fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja fazer aceitar. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o mandante de leis de segurança e políticas em prejuízo da liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para fazer aceitar como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos.

3- A ESTRATÉGIA DA GRADAÇÃO.

Para fazer com que se aceite uma medida inaceitável, basta aplicá-la gradativamente, a conta-gotas, por anos consecutivos. É dessa maneira que condições socioeconômicas radicalmente novas (neoliberalismo) foram impostas durante as décadas de 1980 e 1990: Estado mínimo, privatizações, precariedade, flexibilidade, desemprego em massa, salários que já não asseguram ingressos decentes, tantas mudanças que haveriam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas de uma só vez.

4- A ESTRATÉGIA DO DEFERIDO.

Outra maneira de se fazer aceitar uma decisão impopular é a de apresentá-la como sendo “dolorosa e necessária”, obtendo a aceitação pública, no momento, para uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro, porque o esforço não é empregado imediatamente. Em seguida, porque o público, a massa, tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que “tudo irá melhorar amanhã” e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isto dá mais tempo ao público para acostumar-se com a idéia de mudança e de aceitá-la com resignação quando chegue o momento.

5- DIRIGIR-SE AO PÚBLICO COMO CRIANÇAS DE BAIXA IDADE.

A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso, argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse um menino de baixa idade ou um deficiente mental. Quanto mais se intente buscar enganar ao espectador, mais se tende a adotar um tom infantilizante. Por quê? “Se você se dirige a uma pessoa como se ela tivesse a idade de 12 anos ou menos, então, em razão da sugestão, ela tenderá, com certa probabilidade, a uma resposta ou reação também desprovida de um sentido crítico como a de uma pessoa de 12 anos ou menos de idade (ver “Armas silenciosas para guerras tranqüilas”)”.

6- UTILIZAR O ASPECTO EMOCIONAL MUITO MAIS DO QUE A REFLEXÃO.

Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto circuito na análise racional, e por fim ao sentido critico dos indivíduos. Além do mais, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou enxertar idéias, desejos, medos e temores, compulsões, ou induzir comportamentos…

7- MANTER O PÚBLICO NA IGNORÂNCIA E NA MEDIOCRIDADE.

Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão. “A qualidade da educação dada às classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distância da ignorância que paira entre as classes inferiores às classes sociais superiores seja e permaneça impossível para o alcance das classes inferiores (ver ‘Armas silenciosas para guerras tranqüilas’)”.

8- ESTIMULAR O PÚBLICO A SER COMPLACENTE NA MEDIOCRIDADE.

Promover ao público a achar que é moda o fato de ser estúpido, vulgar e inculto…

9- REFORÇAR A REVOLTA PELA AUTOCULPABILIDADE.

Fazer o indivíduo acreditar que é somente ele o culpado pela sua própria desgraça, por causa da insuficiência de sua inteligência, de suas capacidades, ou de seus esforços. Assim, ao invés de rebelar-se contra o sistema econômico, o individuo se auto-desvalida e culpa-se, o que gera um estado depressivo do qual um dos seus efeitos é a inibição da sua ação. E, sem ação, não há revolução!

10- CONHECER MELHOR OS INDIVÍDUOS DO QUE ELES MESMOS SE CONHECEM.

No transcorrer dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência têm gerado crescente brecha entre os conhecimentos do público e aquelas possuídas e utilizadas pelas elites dominantes. Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o “sistema” tem desfrutado de um conhecimento avançado do ser humano, tanto de forma física como psicologicamente. O sistema tem conseguido conhecer melhor o indivíduo comum do que ele mesmo conhece a si mesmo. Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os indivíduos do que os indivíduos a si mesmos.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O Significado do Natal Sepultado pelos interesses do Capital Neoliberal



   A melhor mensagem de Natal não é aquela associada ao consumismo, nem à neurose das aparências, mas sim aquela que sai da alma que, por pelo menos uma hora, relembra do esquecido aniversariante e, mais ainda, do seu exemplo no silêncio de nossos corações  que, sensibilizado, se abre aos corações daqueles que a vida nos deu por acompanhantes no caminhar comum da existência...

Carlos Antonio Fragoso Guimarães

domingo, 9 de dezembro de 2012

Leonardo Boff: Oscar Niemeyer, a Veja Online e o Escaravelho


Texto de Leonardo Boff, sobre a imbecilidade direitista da Revista Veja, na pessoa do seu colunista Reinado Azevedo. Publicado em 09/12/2012



Com a morte de Oscar Niemeyer aos 104 anos de idade ouviram-se vozes do mundo inteiro cheias de admiração, respeito e reverência face a sua obra genial, absolutamente inovadora e inspiradora de novas formas de leveza, simplicidade e elegância na arquitetura. Oscar Niemeyer foi e é uma pessoa que o Brasil e a humanidade podem se orgulhar.

E o fazemos por duas razões principais: a primeira, porque Oscar humildemente nunca considerou a arquitetura a coisa principal da vida; ela pertence ao campo da fantasia, da invenção e do lúdico. Para ele era um jogo das formas, jogado com a seriedade com que as crianças jogam.

A segunda, para Oscar, o principal era a vida. Ela é apenas um sopro, passageira e contraditória. Feliz para alguns mas para as grandes maiorias cruel e sem piedade. Por isso, a vida impõe uma tarefa que ele assumiu com coragem e com sérios riscos pessoais: a da transformação. E para transformar a vida e torná-la menos perversa, dizia, devemos nos dar as mãos, sermos solidários uns para com os outros, criarmos laços de afeto e de amorosidade entre todos. Numa palavra, nós humanos devemos aprender a nos tratar humanamente, sem considerar as classes, a cor da pele e o nível de sua instrução.

Isso foi que alimentou de sentido e de esperança a vida desse gênio brasileiro. Por aí se entende que escolheu o comunismo como a forma e o caminho para dar corpo a este sonho, pois, o comunismo, em seu ideário generoso, sempre se propôs a transformação social a partir das vítimas e dos mais invisíveis. Oscar Niemeyer foi um fiel militante comunista.

Mas seu comunismo era singular: no meu modo de ver, próximo dos cristãos originários pois era um comunismo ético, humanitário, solidário, doce, jocoso, alegre e leve. Foi fiel a esse sonho a vida inteira, para além de todos os avatares passados pelas várias formas de socialismo e de marxismo.
Na medida em que pudemos observar, a grande maioria da opinião pública mundial, foi unânime na celebração de sua arte e do significado humanista de sua vida. Curiosamente a revista VEJA de domingo, dedica-lhe 10 belas páginas. Outra coisa, porém, é a revista VEJA online de 7 de dezembro com um artigo do blog do jornalista Reinado Azevedo que a revista abriga.

Ele foi a voz destoante e de reles mau gosto. Até agora a VEJA não se distanciou daquele conteúdo, totalmente, contraditório àquele da edição impressa de domingo. Entende-se porque a ideologia de um é a ideologia do outro. Pouco importa que o jornalista Azevedo, de forma confusa, face às críticas vindas de todos os lados, procure se explicar. Ora se identifica com a revista, ora se distancia, mas finalmente seu blog é por ela publicado.

Notoriamente, VEJA se compraz em desfazer as figuras que melhor mostram nossa cultura e que mais penetraram na alma do povo brasileiro. Essa revista parece se envergonhar do Brasil, porque gostaria que ele fosse aquilo que não é e não quer ser: um xerox distorcido da cultura norte-americana. Ela dá a impressão de não amar os brasileiros, ao contrário expõe ao ridículo o que eles são e o que criam. Já o titulo da matéria referente a Oscar Niemeyer da autoria de Azevedo, revela seu caráter viciado e malevolente: ”Para instruir a canalha ignorante. O gênio e o idiota em imagens”. Seu texto piora mais ainda quando, se esforça, titubeante, em responder às críticas em seu blog do dia 8/12 também na VEJA online com um título que revela seu caráter despectivo e anti-democrático:”Metade gênio e metade idiota- Niemeyer na capa da VEJA com todas as honras! O que o bloco dos Sujos diz agora?” Sujo é ele que quer contaminar os outros com a própria sujeira de uma matéria tendenciosa e injusta.
O que se quer insinuar com os tipos de formulação usados? Que brasileiro não pode ser gênio; os gênios estão lá fora; se for gênio, porque lá fora assim o reconhecem, é apenas em sua terceira parte e, se melhor analisarmos, apenas numa quarta parte. Vamos e venhamos: Quem diz ser Oscar Niemeyer um idiota apenas revela que ele mesmo é um idiota consumado. Seguramente Azevedo está inscrito no número bem definido por Albert Einstein: ”conheço dois infinitos: o infinito do universo e o infinito dos idiotas; do primeiro tenho dúvidas, do segundo certeza”. O articulista nos deu a certeza que ele e a revista que o abriga possuem um lugar de honra no altar da idiotice.

O que não tolera em Oscar Niemeyer que, sendo comunista, se mostra solidário, compassivo com os que sofrem, que celebra a vida, exalta a amizade e glorifica o amor. Tais valores não cabem na ideologia capitalista de mercado, defendida por VEJA e seu albergado, que só sabe de concorrência, de “greed is good”(cobiça é coisa boa), de acumulação à custa da exploração ou da especulação, da falta de solidariedade e de justiça em nível internacional.

Mas não nos causa surpresa; a revista assim fez com Paulo Freire, Cândido Portinari, Lula, Dom Helder Câmara, Chico Buarque, Tom Jobim, João Gilberto, frei Betto, João Pedro Stédile, comigo mesmo e com tantos outros. Ela é um monumento à razão cínica. Segue desavergonhadamente a lógica hegeliana do senhor e do servo; internalizou o senhor que está lá no Norte opulento e o serve como servo submisso, condenado a viver na periferia. Por isso tanto a revista quanto o articulista revelam um completo descompromisso com a verdade daqui, da cultura brasileira.

A figura que me ocorre deste articulista e da revista semanal, em versão online, é a do escaravelho, popularmente chamado de rola-bosta. O escaravelho é um besouro que vive dos excrementos de animais herbívoros, fazendo rolinhos deles com os quais, em sua toca, se alimenta. Pois algo semelhante fez o blog de Azevedo na VEJA online: foi buscar excrementos de 60 e 70 anos atrás, deslocou-os de seu contexto (ela é hábil neste método) e lançou-os contra Oscar Niemeyer. Ela o faz com naturalidade e prazer, pois, é o meio no qual vive e se realimenta continuamente. Nada de surpreendente, portanto.

Paro por aqui. Mas quero apenas registrar minha indignação contra esta revista, em versão online, travestida de escaravelho por ter cometido um crime lesa-fama. Reproduzo igualmente dois testemunhos indignados de duas pessoas respeitáveis: Antonio Veronese, artista plástico vivendo em Paris e João Cândido Portinari, filho do genial pintor Cândido Portinari, cujas telas grandiosas estão na entrada do edifício da ONU em Nova York e cuja imagem foi desfigurada e deturpada, repetidas vezes, pela revista-escaravelho.
___________________________________________________________________
Oscar Niemeyer e a imprensa tupiniquim- Antonio Veronese

Crítica mesquinha, que pune o Talento, essa ousadia imperdoável de alçar os cornos acima da manada. No Brasil, Talento, como em nenhum outro país do mundo, é indigerível por parte da imprensa, que se acocora, devorada por inveja intestina. Capitania hereditária de raivosos bufões que já classificou a voz de Pavarotti de ruído de pia entupida; a música de Tom Jobim de americanizada; João Gilberto de desafinado e Cândido Portinari de copista…

Quando morre um homem de Talento, como agora o grande Niemeyer, os raivosos bufões babam diante do espelho matinal sedentos de escárnio.

Não discuto a liberdade da imprensa. Mas a pergunta que se impõe é como um cidadão, com a dimensão internacional de Oscar Niemeyer, (sua morte foi reverenciada na primeira página de todos os grandes jornais do mundo) pode ser chamado, por um jornalista mequetrefe, num órgão de imprensa de cobertura nacional, de metade-gênio-metade idiota? Isso após sua morte, quando não é mais capaz de defender-se, e ainda que sob a desculpa covarde, de reproduzir citação de terceiros…
O consolo que me resta é que a História desinteressa-se desses espasmos da estupidez. Quem se lembra hoje dos críticos da bossa nova ou de Villa-Lobos? Ao talent, no entanto, está reservada a reverência da eternidade.

Antonio Veronese (mideart@gmail.com)
••••••••••••••••••
Meu caro Antonio,
Que beleza o seu texto, um verdadeiro bálsamo para os que ainda acreditam no mundo de amanhã nascendo do espírito, da fé e do caráter dos homens de hoje!

Não é toda a imprensa, felizmente. Há também muita dignidade e valor na mídia brasileira. Mas não devemos nos surpreender com a revista semanal. Em termos de vileza, ela sempre consegue se superar. Ela terá, mais cedo ou mais tarde, o destino de todas as iniquidades: a vala comum do lixo, onde nem a história se dará o trabalho de julgá-la.

Os arquivos do Projeto Portinari guardam um sem número de artigos desta rancorosa revista, assim como de outras da mesma editora, sobre meu pai, Cândido Portinari e outros seus companheiros de geração. Sempre pérfidos, infames e covardes, como este que vem agora tentar apequenar um grande homem que para sempre enaltecerá a nossa terra e o nosso povo.

Caro amigo, é impossível ficar calado, diante de tanta indignidade.
Com o carinho e a admiração do
Professor João Candido Portinari (portinari@portinari.org.br)

*Leonardo Boff é filósofo, teólogo, escritor e comisionado da Carta da Terra.

sábado, 8 de dezembro de 2012

A realidade da "grande" Mídia, em quadrinhos

Era uma vez, em um país muito interessante, um determinado setor que exercia as funções de um quarto poder, não oficial, mas real. Este poder tinha seus próprios interesses e, com o tempo, chegou a desenvolver toda uma estrutura muito eficaz de tratamento da realidade. Esta estrutura foi denominada de:


Enquanto isso, nas noites de domingo, seis milhões são pagos a um ex-jogador que tenta emagrecer para alavancar certa audiência em constante queda livre....

O conteúdo de programas e de certos dizeres jornalísticas de uma platinada emissora são exibidos tendo muito em mente um determinado jeito de entender o público televisivo:

Já uma determinada publicação semanal correu como pode para pouco divulgar certas ligações escusas:


Voltando um pouco às origens e aos traços de caráter de certa organização familiar e hereditária, que se refastela em uma concessão pública de comunicação:


Muito mais recentemente, enquanto todo o mundo civilizado rendia homenagens mais do que merecidas a Oscar Niemeyer, a toda arrogante Revista Veja, por meio de seu colunista ultra-reacionário e membro da Opus Dei Reinaldo Azevedo, o chamava de "meio-idiota" devido ao posicionamento de esquerda do arquiteto. Mas isto é apenas uma amostragem do grau de imbecilidade desta revista...


Enquanto isso, o retrato fiel do modelo diretor da determinada Vênus Platinada fica, a cada eleição, mais claro


O resultado é que a educação é cada vez mais enfraquecida ou transformada em mercadoria e o resultado não poderia ser outro senão:


Contudo, sempre existe uma parcela da população que não se deixa enganar facilmente. E se sei de tudo isso,  então


e também concordo com


e isto porque, com ela, aprendemos que


texto e concepção de

Carlos Antonio Fragoso Guimarães