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sábado, 25 de junho de 2011
O porquê da divisão humana do tempo
Leofranc Holdford-Strevens, em seu livro "Pequena história do tempo" (Lisboa, 2008, ed. Tinta da China), demonstra que as diferentes civilizações, culturas e povos mediam ou dividiam o tempo não por terem achado a fórmula que define o processo de transformação do agora em passado, dando espaço ao que virá, mas porque precisavam compartimentar o intervalo entre o dia e a noite; entre os ciclos das estações e entre o nascimento e a morte, tudo isso em função das exigências sociais.
As diversas, quase infindáveis - e muito diferentes entre si - fórmulas de divisão do tempo nada mais são que construções artificiais e quase sempre aribtrárias do homem, um meio de reduzir a passagem do tempo a elementos que possam ser usados para pressionar o homem a trabalhar.
As diferentes unidades de tempo servem para cristalizar relações ideológicas de poder , servindo mais às necessidades econômicas que ao crescimento interno das pessoas, pouco levando em consideração que o tempo psicológico é bem diferente do físico-cronológico.
Carlos Antonio Fragoso Guimarães
sábado, 18 de junho de 2011
A evolução moderna: da vida à máquina
O ganho do mundo e a perda da alma
Carlos Antonio Fragoso Guimarães
Hoje se tem tanta pressa com o único objetivo de se ter mais pressa...
Conquista-se partes do espaço externo, mais nos afastamos do interno e perde-se a Terra, devastada e explorada...
Temos televisões de alta-definição e soberbos sons (a cada semana ultrapassados) em nossas salas
Ao mesmo tempo desconhecemos nossos vizinhos e não sabemos mais dizer sequer um bom dia
Nos orgulhamos do racionalismo e de elementos técnicos e ainda assim estamos cada vez mais vazios...
Acreditamos em propaganda de pasta de dentes porque aparecem supostos "experts" dizendo que elas são as melhores... Preferimos que os médicos consertem "a máquina" sem que tenhamos quaisquer responsabilidades em saber como ela funciona (nem achamos que podemos saber)...
Somos tão inteligentes assim?
Reflexão sobre o sonhar
Segue um texto do historiador e filósofo uruguaio Eduardo Galeano sobre o Direito de Sonhar:
Tente adivinhar como será o mundo depois do ano 2000. Temos apenas uma única certeza: se estivermos vivos, teremos virado gente do século passado. Pior ainda, gente do milênio passado.
Sonhar não faz parte dos trinta direitos humanos que as Nações Unidas proclamaram no final de 1948. Mas, se não fosse por causa do direito de sonhar e pela água que dele jorra, a maior parte dos direitos morreria de sede.
Deliremos, pois, por um instante. O mundo, que hoje está de pernas para o ar, vai ter de novo os pés no chão.
Nas ruas e avenidas, carros vão ser atropelados por cachorros.
O ar será puro, sem o veneno dos canos de descarga, e vai existir apenas a contaminação que emana dos medos humanos e das humanas paixões.
O povo não será guiado pelos carros, nem programado pelo computador, nem comprado pelo supermercado, nem visto pela TV.
A TV vai deixar de ser o mais importante membro da família, para ser tratada como um ferro de passar ou uma máquina de lavar roupas.
Vamos trabalhar para viver, em vez de viver para trabalhar.
Em nenhum país do mundo os jovens vão ser presos por contestar o serviço militar. Serão encarcerados apenas os quiserem se alistar.
Os economistas não chamarão de nível de vida o nível de consumo, nem de qualidade de vida a quantidade de coisas.
Os cozinheiros não vão mais acreditar que as lagostas gostam de ser servidas vivas.
Os historiadores não vão mais acreditar que os países gostem de ser invadidos.
Os políticos não vão mais acreditar que os pobres gostem de encher a barriga de promessas.
O mundo não vai estar mais em guerra contra os pobres, mas contra a pobreza. E a indústria militar não vai ter outra saída senão declarar falência, para sempre.
Ninguém vai morrer de fome, porque não haverá ninguém morrendo de indigestão.
Os meninos de rua não vão ser tratados como se fossem lixo, porque não vão existir meninos de rua.
Os meninos ricos não vão ser tratados como se fossem dinheiro, porque não vão existir meninos ricos.
A educação não vai ser um privilégio de quem pode pagar por ela.
A polícia não vai ser a maldição de quem não pode comprá-la.
Justiça e liberdade, gêmeas siamesas condenadas a viver separadas, vão estar de novo unidas, bem juntinhas, ombro a ombro.
Uma mulher - negra - vai ser presidente do Brasil, e outra - negra - vai ser presidente dos Estados Unidos. Uma mulher indígena vai governar a Guatemala e outra, o Peru.
Na Argentina, as loucas da Praça de Maio vão virar exemplo de sanidade mental, porque se negaram a esquecer, em tempos de amnésia obrigatória.
A Santa Madre Igreja vai corrigir alguns erros das Tábuas de Moisés. O sexto mandamento vai ordenar: "Festejarás o corpo". E o nono, que desconfia do desejo, vai declará-lo sacro.
A Igreja vai ditar ainda um décimo-primeiro mandamento, do qual o Senhor se esqueceu: "Amarás a natureza, da qual fazes parte".
Todos os penitentes vão virar celebrantes, e não vai haver noite que não seja vivida como se fosse a última, nem dia que não seja vivido como se fosse o primeiro.
segunda-feira, 13 de junho de 2011
Nunca falta dinheiro para a Guerra....
Espantoso o fosso entre o discurso dos países ditos desenvolvidos (e, entre estes, da atual única super-potência, os EUA) sobre a busca da paz ao tempo em que gastam enormes somas de dinheiro para a guerra, desde a pesquisa de material bélico mais destrutivo à propaganda e recrutamento de pessoal para treinamento para a mais absurda das violências. A indústria da morte sempre rende poder político e dinheiro a uma elite sórdida.
Sobre isso, repasso artigo escrito pelo deputado federal Brizola Neto, sobre o tema, extraído de seu Blog: Tijolaço.com
Só não há dinheiro para a paz
A edição eletrônica da revista The Economist publicou o gráfico sobre os gastos militares no mundo.
Embora o resultado não seja novidade, continua sendo espantoso assim mesmo. Entre os 18 maiores orçamentos militares do mundo, os EUA, sozinhos, gastam mais que todos os 17 outros.
São US$ 700 bilhões, que correspondem a 4,8% do PIB do país. É quase seis vezes o que gasta a China (e mais que o dobro em percentagem do PIB).
Perto dos níveis americanos, em matéria de fatia do PIB destinada a gastos militares, só está a Rússia, que tem problemas de conflitos internos e, sobretudo, a pesada herança de equipamentos e efetivos do exército soviético, que outrora rivalizava com o americano.
O Brasil, como você pode observar, fica – ainda bem! - lá no final da proporção entre PIB e gastos militares. Ficamos acima apenas do Canadá – que não é referência nessa matéria – e da Alemanha e japão, dois países que, como herança da 2ª Guerra, foram praticamente desmilitarizados.
Agora você imagine esta montanha de recursos, num mundo de paz, sendo usada em favor do desenvolvimento humano, do fim da miséria e da sustentabilidade ambiental.
Imagine, imaginar não custa nada…
Sou um nada que traz o universo na alma
Carlos Antonio Fragoso Guimarães
Antes de vir ao mundo, eu ja era algo...
Um sonho do tempo em um tempo que se sonhava
Agora sou realidade de outra era, de um contra-tempo que se desencanta por não saber cantar...
O mundo aprendeu a calcular, e na quantidade que impessoaliza viciou-se em acumular sem aprender a compartilhar...
Se não mais se pode sonhar, d'onde o fluir de esperanças?
Melhor ser abatido ao voar que reduzido a um pássaro amestrado.
Ser igual a tantos não me faz ser mais, me faz ser menos
É erro ser diferente por diferente ver e diferente pensar?
Viver é criar beleza e sentido, doar pode ser mais prazeroso quanto ganhar...
Mas hoje duras mãos há que nos condicionam a ser dragões no vazio acumular
E, então, por querer ser gente, ser pessoa em um mundo impessoal, é que a Pessoa recorro
para dizer parte do tudo que existe no nada de mim:
"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."
Sobre o que dizem ser o fim do mundo...
Carlos Antonio Fragoso Guimarães
Não se espere uma ira divina, uma vigança da natureza ou um súbito ataque de agentes microbiológicos para nos sentirmos no fim do mundo. Basta para tanto perceber-se as atitudes destrutivas do homem contra o próprio homem e contra a natureza, em sua ganância imediatista, instrumental, bancária, plutocrática, tornando-se um ser frio, indiferente, instrumentalista... um meio-homem, já que é um cérebro sem coração que faz pouco do encanto, dos ideais, sonhos, anseios e utopias transformadoras...
Sobre isso, de modo mais direto e mais amplo, gostaria de expor o poema de João Cabral de Melo Neto, intitulado, muito à propósito, O Fim do Mundo:
"No fim de um mundo melancólico
os homens lêem jornais.
Homens indiferentes a comer laranjas
que ardem como o sol.
Me deram uma maçã para lembrar
a morte. Sei que cidades telegrafam
pedindo querosene. O véu que olhei voar
caiu no deserto.
O poema final ninguém escreverá
desse mundo particular de doze horas.
Em vez de juízo final a mim me preocupa
o sonho final."
O mal-estar na mudança do paradigma mecanicista-competitivo ao cooperativo-sistêmico
O extremo sentimento de mal-estar que muitas pessoas sentem diante dos complexos e trágicos problemas da atualidade tem levado à uma busca de um diálogo entre os vários núcleos do saber e da atividade humana. Ao mesmo tempo em que vivemos um sistema econômico que condiciona uma cultura de extrema competitividade e indidivualismo, também vemos as heróicas tentativas pela criação de instituições que busquem superar tais modelos. Por exemplo, temos a ONU e a Unesco como grandes organizações internacionais que buscam uma maneira conjunta de solucionar muitos dos atuais problemas humanos, sem falar nos movimentos de encontro inter-disciplinares e a busca pela ação cooperativa em todos os âmbitos; as cooperativas profissionais e de crédito; diversas ONGS (ou ao menos parte delas) com fins de assistência social e à ecologia; a medicina psicossomática e homeopática e a abordagem holística em psicoterapia, etc.
É a essa busca de uma visão de conjunto, uma visão do TODO - que possui características próprias independentes das características de suas partes constituintes, como o todo humano possui caractersíticas próprias da de seus órgãos e tecidos -, que se dá o nome de teoria da complexidade (Edgar Morin), teoria dos sistemas (Bertalanffy), ecologia profunda (Fritjof Capra) ou holismo (Jan Smuts).
Desde que Descartes cristalizou de modo definitivo a idéia da divisão da ciência em humanas e exatas (ou melhor, em Res Cogitans e Res Extensa, o que viria a se refletir em nossa divisão em corpo e mente, etc.), temos visto toda uma vasta gama de atitudes e comportamentos compatíveis com a idéia dominante do universo como um sistema mecânico casualmente emergido de um caldo de matéria de modo fortuito. No século XIX, Wundt, seguindo a tradição empirista britânica calcada na Física de Newton, atomizou a mente, reduzindo-a, ou melhor, tentando encaixá-la dentro dos parâmetros mecanicistas da ciência de sua época, haja vista o sucesso da física clássica e o grande respeito que lhe era dada. Para Wundt, como para muitos outros, a mente não passava de um epifenômeno (efeito) bioquímico, como a urina é um epifenômeno dos rins. Mas tal modelo reducionista não agradou a todos, e desde então muitas escolas, como a da Gestalt, por exemplo, em psicologia e em outras áreas têm tentando - enfrentando o paradigma mecanicista olímpico vigente nos meio acadêmicos - construir uma visão mais integrativa do ser humano.
O desagrado ao modelo mecanicista - e da sua conseqüente visão de mundo - foi expresso de maneira clara por vários grandes cientistas em nosso século, como Albert Einstein, Werner Heisenberg, Niels Bohr e tantos outros. Vejamos esta passagem do físico Erwin Schrödinger, que de muitas maneiras lembra o humanismo existencialista de Soren Kierkegaard:
"O quadro científico do mundo real à minha volta é muito deficiente. Ele nos dá muitas informações factuais, coloca toda a nossa experiência numa ordem magnificamente consistente, mas mantém um silêncio horrível sobre tudo aquilo que está realmente próximo de nossas corações, de tudo aquilo que é realmente valioso e caro em nossas vidas, aquilo que realmente nos interessa. Este quadro não nos pode dizer nada sobre o valor do vermelho ou do azul, do amargo e do doce, dor física e prazer físico; nada sobre o belo e o feio, o bom e o mau. É incompetente para dizer qualquer coisa válida sobre Deus e a eternidade...
Assim, em suma, não pertencemos realmente a este mundo descrito pelo quadro científico. Não estamos realmente nele. Estamos fora dele. Somos como espectadores de uma peça que insiste em demonstrar que o mundo é uma máquina cega, onde aparecemos fortuitamente para, logo, desaparecer. Apenas nossos corpos parecem se enquadrar no quadro, sujeitos às leis que regem o quadro, explicados linearmente pelo quadro... Eu não pareço ser necessário como ser humano, ou como autor... As grandes mudanças que ocorrem neste mundo material, das quais eu me sinto parcialmente responsável, cuidam de si mesmas, segundo o quadro - elas são amplamente explicadas pela interação mecânica direta (...) Isso torna o mundo operacional para o entendimento pragmático. Permite que você imagine a manifestação total do universo como a de um relógio mecânico que, pelo o que sabe e crê a ciência, poderia continuar a funcionar do mesmo jeito sem que nunca tivesse havido consciência, vontade, esforço, dor, prazer e responsabilidade (...)"(Guimarães, 1996, p. 21, 22)
Este descontentamento e a intuição de que o "quadro racional-instrumental -ientíficista" é como uma janela que deixa ver apenas uma parte ínfima da realidade tem estimulado uma notável tentativa de se construir uma visão mais holísitica, humana, orgânica e ecológica da realidade. Afinal, as conseqüências de uma visão de mundo mecanicista são extraordinariamente nocivas, principalmente dentro de uma certa ideologia fascista de grande parte dos poderes político-econômicos da elite do Terceiro Mundo, o que traz um alto e muitas vezes impagável preço em termos de vidas humanas e recursos naturais.
Estamos começando a antever e a construir um modelo científico que se baseia no conceito de relação, que é muito mais amplo que o de análise, como o usado pela ciência normal, mas esta nova forma de pensar não nasce sem ser atacada pela antiga. Já não são somente as partes constituintes de um corpo ou de um objeto que são de fundamental importância para a compreensão da natureza desse objeto, mas o modo como se expressa todo esse objeto, e como ele se insere em seu meio.
As partes que constituem um sistema (seja uma célula, uma floresta ou uma sociedade de pessoas) têm um notável conjunto de características que se vêem no âmbito das partes, mas o sistema inteiro, o todo - o holos -, freqüentemente possui uma característica que vai bem além que a mera soma das características de suas partes. Por exemplo, sabemos que tanto o hidrogênio quanto o oxigênio são constituintes fundamentais no processo de combustão. Mas se juntamos esses elementos e formarmos a água, nós os usaremos para combater a combustão. O Todo não elimina as características das partes, mas estas, quando em relações íntimas, dão o substrato a uma nova forma, cujas características transcendem às das partes constituintes. A Ecologia é a ciências moderna que melhor pode demonstrar esta relação parte/todo em simbiose íntima.
Da mesma forma, podemos dizer que as peças de um quebra-cabeças, quando separadas, nos dizem muito pouco ou nada do que seja o quebra-cabeças. Somente quando vemos as peças em seu conjunto, e, de um certo modo, de um nível em que elas deixam de ser vistas como peças, é que podemos compreender a mensagem do quebra-cabeças. Assim também, pensamos que o mecanicismo reducionista e fragmentador do paradigma newtoniano-cartesiano já deu o que tinha de dar. Achamos que após três séculos de ênfase na análise, está na hora de começarmos a construir um modelo que também estimule a síntese. Enquanto o mecanicismo científico vê o universo como uma imensa máquina determinística, o holismo, sem negar as características "mecânicas" que se apresentam na natureza, percebe o universo mais como uma rede de inter-relações dinâmicas, orgânica.
As origens do pensamento holístico, enquanto pensamento filosófico, podem se situar ainda na Antigüidade, com os pré-socráticos, especialmente com Heráclito. Posteriormente, teremos um eco desse pensamento com os estóicos e com os néo-platônicos, especialmente com Plotino, e, modernamente, com os Românticos, especialmente com Schelling e os idealistas alemães. Com a publicação do livro Holism and Evolution, em 1921, Jan Smuts pode ser considerado o teórico fundador do movimento holístico no século XX. Mas foi com a revolução extraordinária da Física das Partículas e, principalmente com a Teoria da Relatividade de Einstein, que o termo passou a ser aplicado com uma conotação mais paradigmática dentro da transformação conceitual da ciência.
Paulatinamente, primeiramente a partir da Física, foi se construindo um arcabouço intelectual que permitiu uma expansão da percepção científica para além das peças de relógio do modelo analítico cartesiano-newtoniano. Este novo arcabouço estabelece que:
• A Ciência, antes estritamente objetiva, torna-se epistêmica (voltada para o próprio processo intelectual de conhecer), já que as teorias revelam mais sobre a mente que a concebe que propriamente da realidade. Toda teoria é um modelo de explicação aproximada da realidade. Além do mais, desde que Heisenberg postulou seu Princípio da Incerteza, na Física das Partículas, e de que o observador influi na experiência, a questão de uma objetividade cartesiana clássica se tornou mais uma fantasia que realidade;
• Parte-se das partes simples, consideradas independentes, para partes em interação, em processo ou em rede. Não é apenas o conjunto de elementos isolados que formam o universo de fenômenos estudado pela ciência. Mas a interação, a RELAÇÃO que existe entre esses elementos. Aliás, é mais provável que os elementos sejam frutos da própria relação tanto quanto esta é fruto destes. Desta forma, a realidade é um processo de troca de informações entre todos os entes físicos, biológicos, psicológicos e sociais.
O físico norte-americano Brian Swimme fez uma síntese de alguns princípios fundamentais do holismo, ou do Paradigma Holístico:
a) se a natureza do átomo (aqui o encadeamento lógico advém das características atômicas) não é dada ou é posta à compreensão exclusivamente por ele, de forma isolada, mas por sua interação e seu comportamento em relação a todo seu Universo envolvente, então a realidade física consiste principalmente de relações, como a música que se compõe de relações de sons e rítimos - e não de notas isoladas, o que implica em superposições de complexificação crescente ou na criação de sistemas dinâmicos sempre mais amplos. Ou seja, nada pode existir sem que imponha e receba características fora de seu ambiente total (Gestalt);
b) a nossa ciência e a nossa interpretação sobre o que seja o mundo são resultantes de nossa própria ação e relação com o mundo que nos cerca e com as crenças e idéias que adotamos. O ideal da neutralidade e da objetividade científica é mais ficção que realidade;
c) além da análise que separa, a síntese que une é de fundamental importância na compreensão do mundo: conhecer algo implica em saber sua origem e finalidade. O universo parece possuir um sentido evolutivo;
d) a matéria não é algo morto, passivo ou inerte, já que é dotada de energia e parece evoluir segundo um plano criativo global; os elementos inanimados parecem se organizar segundo complexos sistemas de interação. Assim, o Universo está mais para uma rede de relações, uma realidade auto-organizante: um organismo em homeorresis.
Em Psicologia, o pensamento holístico está fortemente presente nas abordagens humanistas, especialmente na Gestalt, e, muito mais, na Psicologia Transpessoal. Stanley Krippner, diretor do Centro de Estudos da Consciência, assim definiu os quatro princípios básicos do Paradigma Holístico:
1) a consciência humana ordinária (relativa à percepção corporal e do ego no estado de vigília) compreende apenas uma parte ínfima da atividade total do psiquismo humano;
2) a mente ou a consciência humana, ou o espírito humano, estende-se no tempo e no espaço, existindo em uma unidade dinâmica, ou melhor, em uma relação contínua com o mundo que ela observa;
3) o potencial de criatividade e intuição é mais global do que se imagina comumente, abrangendo todos os seres vivos;
4) o processo de evolução para níveis de maior complexificação e transcencdência é algo de muito valioso e importante - tendência à auto-atualização, segundo Maslow e Rogers.
O filósofo existencialista e psiquiatra alemão Karl Jaspers (1883-1969), discorrendo sobre a necessidade de se empreender reflexões sobre como se obter o melhor método em pesquisa científica, afirmava que na prática do conhecimento necessitamos de vários métodos simultaneamente, e enfatizava três grupos:
1. apreensão dos fatos particulares que implica na observação e descrição (análise) fenomenológica;Portanto, a abordagem holística não é nem analítica e nem é puramente sintética; ela se caracteriza pelo uso simultâneo desses dois métodos, que são complementares.
2. investigação das relações, onde explicar se refere ao conhecimento das conexões causais objetivas, vistas do exterior, enquanto compreender diz respeito à intuição interior:
3. percepção das totalidades, para não se cair no gravíssimo erro de se esquecer o Todo, no qual e pelo qual a parte subsiste.
A explicação da natureza e de todo o universo não pode ser mais puramente mecânica, pois está cada vez mais patente que existe um processo de síntese e de complexificação evolutiva que leva a criação de sistemas altamente dinâmicos, como os sistemas biológicos - logo, muito longe de serem máquinas sujeitas à segunda lei da termodinâmica clássica. Segundo Jan Smuts, o criador da moderna concepção holística, e que exerceu profunda influência em Alfred Adler, o primeiro grande discípulo dissidente de Freud, "o conceito mecanicista da natureza tem o seu lugar e a sua justificação apenas na estrutura mais ampla do holismo". Icluamos, porém, que a complexidade humana vai muito além do mecanicismo de Descartes, possuindo instâncias de racionalidade bem acima da racionalidade linear, ou, como dizia Pascal, "possuindo razões que a própria razão desconhece"
A pesquisadora e escritora Rose Marie Muraro, em seu livro"Textos da Fogueira", Ed. Letra Viva, 2000, assim se expressa sobre a atual atitude de questionamento epistemológico da ciência moderna:
(...) O mais revolucionário achado metodológico nessa área é a inclusão da subjetividade e da concretude como categorias epistemológicas maiores, ao lado da objetividade e da racionalidade, feita por muitas filósofas em vários países, entre elas Susan Bordo, Allison Jaggar e outras. O mais interessante a se notar é que essa revolução epistemológica se faz na mesma época em que, nas ciências exatas, começa a abalar-se o domínio da razão. Nelas, o irracional irrompe como o paradigma que ajuda a chegar perto das realidades científicas extraordinariamente complexas de um mundo tecnologicamente avançado. Isto acontece nas Teorias do Caos, das Catástrofes e da Complexidade. Neste início de século e de milênio, desmorona o dualismo simplista mente/corpo, razão/emoção, que foi a base do pensamento ocidental nesses últimos três mil anos e que serviu apenas como racionalização do exercício de poder expresso nas relações senhor/escravo, homem/mulher, opressor/oprimido, etc. Esta nova maneira de elaborar abre uma nova forma de pensar pós-cartesiana e pós-patriarcalCabe aqui igualmente uma transcrição de parte de um artigo do nosso querido teólogo e filósofo Leonardo Boff (publicado na Folha de São Paulo em maio de 1996, cuja íntegra poderá ser encontrada na Home Page do autor) sobre a nova visão holística, sistêmica ou ecológica que agora surge:
Se levada às suas últimas conseqüências, essa nova elaboração científico-epistemológica da realidade pode modificar a própria natureza da ciência. Como ela é hoje, por ser abstrata e generalizante, reforça o poder, que na sua estrutura mesma é abstrato e esmagador do humano. Uma ciência em que a subjetividade e o irracional enriqueçam o conhecimento pode desencadear um processo de reversão desse poder destrutivo, tornado-se uma ciência libertadora, e não escravizadora (Muraro, op. cit., p. 16).
Uma visão libertadora
"A ecologia integral procura acostumar o ser humano com esta visão global e holística. O holismo não significa a soma das partes, mas a captação da totalidade orgânica, una e diversa em suas partes, mas sempre articuladas entre si dentro da totalidade e constituindo esta totalidade. Esta cosmovisão desperta no ser humano a consciência de sua funcionalidade dentro desta imensa totalidade. Ele é um ser que pode captar todas estas dimensões, alegrar-se com elas, louvar e agradecer aquela Inteligência que tudo ordena e aquele Amor que tudo move, sentir-se um ser ético, responsável pela parte do universo que lhe cabe habitar, a Terra. Ela, a Terra, é, segundo notáveis cientistas, um superorganismo vivo, denominado Gaia, com calibragens refinadíssimas de elementos físico-químicos e auto-organizacionais que somente um ser vivo pode ter. Nós, seres humanos, podemos ser o satã da Terra, como podemos ser seu anjo da guarda bom. Esta visão exige uma nova civilização e um novo tipo de religião, capaz de re-ligar Deus e mundo, mundo e ser humano, ser humano e a espiritualidade do cosmos. O cristianismo é levado a aprofundar a dimensão cósmica da encarnação, da inabitação do espírito da natureza e do panenteísmo, segundo o qual Deus está em tudo e tudo está em Deus. Importa fazermos as pazes e não apenas uma trégua com a Terra. Cumpre refazermos uma aliança de fraternidade/sororidade e de respeito para com ela. E sentirmo-nos imbuídos do Espírito que tudo penetra e daquele Amor que, no dizer de Dante, move o céu, todas as estrelas e também nossos corações. Não cabe opormos as várias correntes da ecologia. Mas discernirmos como se complementam e em que medida nos ajudam a sermos um ser de relações, produtores de padrões de comportamentos que tenham como consequência a preservação e a potenciação do patrimônio formado ao longo de 15 bilhões de anos e que chegou até nós e que devemos passá-lo adiante dentro de um espírito sinergético e afinado com a grande sinfonia universal".
domingo, 5 de junho de 2011
Oração de um Ateu - de Miguel de Unamuno
Nas ânsias de busca de sentido à existência, a presença da busca da transcendência de toda a humanidade, ânsia que existe mesmo entre os céticos, como nesta oração do filósofo espanhol Miguel de Unamuno:
Ouve meus rogos Tu, Deus que não existes,
e em Teu nada recolhe estes meus lamentos!
Tu, que aos pobres homens nunca deixas
sem consolo de engano. Não resistes
ao nosso rogo, e o nosso anelo viste.
Quando mais Te afastas de minha mente;
mas recordo os doces conselhos
com que minh’alma acalentou certa vez noites tão tristes.
Quão grande és, meu Deus! Tu és tão grande,
que não és mais senão Idéia; é muito estreita
a realidade por muito que se expande
para abarcar-Te.
Sofro eu por Tua causa,
Deus não existente, pois se tu fosses de fato realidade,
também eu existiria de verdade.
sábado, 4 de junho de 2011
O Ser derrotado pela ganância do ter
"Para a ganância, toda a natureza é insuficiente."
Sêneca, século I d. C.
Refletia o filósofo francês Gabriel Marcel que parte da valorização do ter, do acumular coisas e aparentar com isso felicidade e poder, em detrimento do Ser, que é a vivência da alegria de amar, ser amado e partilhar, se deve ao desenvolvimento da mentalidade COISIFICANTE surgida do cientificismo e tecnicismo em um contexto capitalista. Com isso:
“O próprio mundo tende a aparecer como simples campo de manipulação e exploração e às vezes como escravo adormecido”, disse Marcel.
A conseqüência do isso é a frustração e o desamparo existencial em um mundo desencantado, pois aquele que possui sempre quer possuir mais e mais o vazio nunca parece ser preenchido. Ao contrário, ao lado da posse surge a escravidão do cuidar do possuído, sujeito ao desgaste a à impermanência que o faz escapar, criando temores e ansiedades, tornando a pessoa paranóica, nervosa, violenta. Assim, "aflição e ganância são tão indissoluvelmente enlaçadas quanto amor e matrimônio deveriam ser" (Ann Kent).
Se pensarmos a ganância individual sendo multiplicada pelo poder das corporações (chamadas de "pessoas" jurídicas, como bancos, indústrias, conglomerados multinacionais), vemos o mal desta patologia social elevado de modo exponencial atingido o mundo inteiro.
"A ganância do ter não só engoliu o ser e a convivência pacífica, mas até privou a maior parte dos homens do ter o indispensável para concretizar o desejo de acumular nas mãos de uns poucos o que a todos pertence." (autor desconhecido)
Carlos Antonio Fragoso Guimarães, 04/06/2011
sexta-feira, 3 de junho de 2011
$ servindo a Deus e a Mamon (ou servindo ao deus mamon) $
O mercado financeiro das Pequenas Igrejas, Grandes Negócios Pentecostais S/A abre agora uma nova categoria de exploração da fé: o dízimo em débito automático!
Saiu na Folha:
Não é por falta de criatividade que as igrejas deixarão de arrecadar dinheiro dos seus fiéis. Maior exemplo de inovação é o missionário R.R.Soares, líder da Igreja Internacional da Graça, que acaba de lançar uma nova modalidade de coleta de dízimo, por meio de débito automático em conta-corrente.
Segundo Soares divulgou em seu programa na Band, o membro da igreja poderá fazer suas doações mensalmente de forma mais prática. Para isso o fiel deve preencher um cadastro nos sites da igreja e passar seus dados bancários.
É o doador, afirma Soares, quem decide quanto quer doar. Quem se cadastrar, diz ele, ganha "um brinde de Jesus", sem dizer o que é.
O missionário garante ainda que, se por acaso o doador não tiver saldo num determinado mês para dar o dízimo automático, ele não será debitado e "o fiel não será incluído no SPC ou no Serasa". A doação mensal voltará a ser debitada no mês seguinte, sem acumular a que não foi paga.
Para criar o "dízimo em conta corrente", a Igreja Internacional da Graça firmou parceria com Itaú, Banco do Brasil e Bradesco.
"Heaven Card"
Além do dízimo automático, o pastor R.R.Soares também lançou o cartão de crédito da Igreja Internacional da Graça de Deus. Entre outras vantagens, o cartão permite pagar as compras "em até 40 dias, financiar no crédito rotativo e fazer saques de emergência no Brasil e exterior".
Segundo a igreja, o cartão "é mais uma forma de você contribuir com as ações e obras sociais da igreja". Além da Internacional da Graça, a Universal e a Mundial também aceitam o pagamento de dízimos e doações por meio de cartão de crédito e débito. As operações são legais.
Romildo Ribeiro Soares, 64, é cunhado de Edir Macedo (casado com a irmã de Macedo, Maria Magdalena) e co-fundador da Igreja Universal do Reino de Deus. Deixou o parente por suposta divergência no final dos anos 70 e criou sua própria igreja em 1980.
Sua igreja tem negócios com várias emissoras, de quem compra horários, e também é proprietária de uma operadora de TV paga, cujos pacotes não oferecem nenhum canal que exiba cenas de violência, erotismo ou tenha linguajar chulo.
Folhaonline
Agora a pergunta que não quer calar: O Todo Poderoso Criador do Universo necessita tanto assim do "vil metal"? Não seria melhor e mais seguro doar um cheque nominal cruzado ao próprio Criador ou a Jesus?