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segunda-feira, 28 de junho de 2010

Existe realmente o tal "déficit" na Previdência? E podemos confiar nos planos de saúde?




segunda-feira, 28 de junho de 2010 | 05:34

O governo mente. A Previdência brasileira não tem déficit. Ao contrário, seu superávit é espantoso. Confira aqui:

Nogueira Lopes

O governo vive a alegar que a Previdência está em déficit e por isso não pode reajustar condignamente as aposentadorias e pensões. Mas não existe déficit, nunca existiu. Quem faz essa espantosa revelação é a Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Anfip).

Todo ano, os auditores divulgam um importante trabalho, denominado Análise da Seguridade Social, e desmontam essa mentira do déficit da Previdência Social. O mais recente levantamento da Anfip mostra, por exemplo, que de 2000 a 2008 houve superávit total de R$ 392,2 bilhões, pois esta foi a diferença entre o total das receitas da Seguridade Social e o total das despesas.

Ainda segundo os auditores fiscais da Receita, no primeiro semestre de 2009 a Previdência teve superávit de R$ 20,04 bilhões, ou seja, arrecadadas todas as receitas de custeio e pagas todas as despesas com assistência social, previdência e saúde, sobrou todo este dinheiro.

Os planos de saúde não tomam jeito

Estimulada pela inércia da tal Agência Nacional de Saúde, a ganância dos planos de saúde chegou a tal ponto que foi criado um Plantão Judiciário no Fórum do Rio, 24 horas (inclusive finais de semana e feriados), exclusivamente para resolver problemas relativos a atendimento médico negado pelas seguradoras, que inclusive acabam de ganhar do governo um novo reajuste dos preços das mensalidades.

Se você ou alguém que conheça tiver necessidade de uma cirurgia de emergência ou colocação de prótese, e o plano de saúde não quiser liberar a cirurgia, recorra a esse Plantão Judiciário. Serão fornecidas todas as orientações de como proceder e, se for necessário, eles mesmos farão contato com o hospital e o plano para solucionar o problema.

Anotem os telefones, coloquem na memória dos celulares: (21) 3133-4144 e 2588-4144. E vamos fazer pressão para que esse tipo de Plantão Judiciário seja criado em todo o país.

Como medir a riqueza de uma nação?

Diante da realidade da previdência e dos planos de saúde no Brasil, devemos lembrar o grande intelectual escocês Adam Smith, que viveu no século XVIII e é considerado o pai da Economia moderna. “A riqueza de uma nação se mede pela riqueza do povo e não pela riqueza dos governantes”, dizia ele. E de lá para cá, nada mudou.

quinta-feira, 24 de junho de 2010



O "déficit" fabricado da Previdência

quarta-feira, 23 de junho de 2010 | 13:57

Análise do jornalista Hélio Fernandes, blog do jornal Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro

O “déficit” (inexistente) da Previdência e os juros de Meirelles
Ao contrário do que todos dizem, a Previdência tem SUPERÁVIT altíssimo, e não poderia ser de outra maneira. Acontece que usam o dinheiro da aposentadoria para as maiores extravagâncias, não sobra para as verdadeiras finalidades.

E não foi apenas no governo que está acabando, e sim em todos os outros que enganaram o cidadão-contribuinte-eleitor. E quem paga tudo? O trabalhador.

Meirelles não esconde que logo no início de julho, haverá outro crescimento de juros. Mais 0,75%, repetição do último aumento. Meirelles é homem de palavra, garantiu ao FMI (e ao Consenso de Washington) que faria isso, não demora a fazer.

E Lula? Não se incomoda nem sabe de nada, não quer compromisso ou comprometimento a partir de agora.

sábado, 19 de junho de 2010

Cristãos contra cristãos: a cruzada Albigense e o genocídio dos Cátaros



Monumento dedicado às inocentes vítimas da brutalidade religiosa, na cidade de Minerve, França.

A Igreja Romana contra os Cátaraos: A cruzada Albigense, cristãos contra cristãos...




A Igreja de Roma e o Movimento "Herético" dos Cátaros


Carlos Antonio Fragoso Guimarães


"On entend par fanatisme, une folie religieuse, sombre et cruelle; c'est une maladie qui se gagne comme la petite vérole."

Voltaire


Durante a imersão da Europa, pelo colápso cultural da Civilização Greco-Romana, na estagnação intelectual e sedimentação do poder feudal na Idade Média, e apesar dos rígidos padrões de controle do pensamento e da reflexão pela estrutura eclesiástica, surgiram ainda vozes que se levantavam contra o abuso e a arrogância do poder da Religião de Roma, vestígio do intento de Constantino de transformá-la no braço espiritual do Império.

Ainda haviam pontos isolados de luzes e de pensamento, que, como centelhas dispersas, vez por outra se juntavam. Estes movimentos conheciam boa parte da tradição espiritual do ocidente, ecos do pensamento de Heráclito, Pitágoras e Platão, e procuravam recuperar a pureza do cristianismo primitivo, sem as pesadas roupagens da ritualísitica e dos dogmas romanos. Entre as mais famosas dessas correntes rebeldes, predecessoras da Reforma Protestante e do movimento de liberdade de consciência, base da sepração moderna entre Igreja e Estado, temos o movimento da Igreja Cátara, que reprensentou de fato - por sua proposta quse socialista, e da responsabilidade individual - uma séria ameaça à hegemonia da Igreja Católica. Outro movimento, porém de alcance menor e menos "subversivo", mas não menos potencialmente renovador, parece ter sido o da Ordem dos Templários, contemporâneo dos Cátaros e, de início, apoiada pela própria Igreja de Roma.

Antes de nos voltarmos a estas duas, temos de precisar o que foi e como se fez o poderio da Igreja Romana na Europa.

A Ascensão da Igreja Católica Romana

O movimento cristão - de início, um movimento emergido no seio do judaísmo na palestina, e logo espalhado por outras regiões do Império, Ásia Menor e Norte da África - deitou raízes em vários quadrantes, de onde surgiram vários grupos com suas próprias tradições interpretativas da mensagem de Jesus. As comunidades da Ásia Menor, da Grécia, de Alexandria e de Roma formavam Igrejas independentes, ainda que mantivessem contato umas com as outras. Porém, devido à sua localização, a comunidade de Roma tinha um certo destaque, que seria ainda mais reforçado quando Constantino reconheceu e oficializou o Cristianismo, tendo em mente, entre outras, a utilizá-lo como cimento espiritual do Império. Logo após, porém, Constantino dividiu o Império em duas partes, a do Ocidente, com capital e Roma, e a do Oriente, em Constantinopla. A Igreja igualmente teria duas cabeças principais, uma em Roma, tendo por língua oficial o Latim, e outra em Constantinopla, tendo por língua oficial a mesma que já vinha sendo a língua geral desde o início do Império, o Grego (que também foi a língua em que foram escritos e traduzidos os primeiros livros cristãos). Roma teria o Bispo, chamado posteriormente de Papa, e Constantinopla, de Patriarca.

O que, de início, começou como uma religião dos oprimidos do império, indo dos povos colonizados, passando pelos escravos e grande maioria de plebeus, constituía, apesar da perseguição oficial do Império, uma crescente comunidade no sentido lato do termo, um comunismo autêntico, gerado pela compreensão da dor mútua e da partilha de ideais de igualdade e fraternidade. Porém, os dominados passaram a ser muito mais numerosos que os dominantes e, com a entrada destes, por interesses políticos diante da transformação do Império, os dominadores acabaram tornando-se novamente preponderantes e passaram a exigir que o Cristianismo abrigasse práticas e detalhes dos antigos cultos pagãos. Daí os sacerdotes católicos com seus altares, missais, estolas, mitras, etc. O fator político-econômico passou a moldar o Cristianismo oficializado, tendo seus aspectos originais sido deturpados pela simbiose Cristianismo de Constantino/religião pagã.

Ao longo do século V, porém, a Igreja Romana viveu sérias ameaças à sua sobrevivência e, por volta de 490, a situação tornou-se desesperadoramente precária, isto porque, com a mudança da maior parte das pessoas para Constantinopla, a ex-grande cidade ficava à mercê das invasões bárbaras do norte da Europa.
E a igreja de Roma estava ainda muito longe de ter a hegemonia do poder espiritual na cristandade dentro e fora do Império, processo inevitavelmente ligado à implosão ocidental deste - agravada pelo fato de Constantino haver transferido a corte de Roma para Constantinopla.

Pouco antes da transferência, entre 384 e 399, com o apóio oficial, o bispo de Roma já era denominado papa, mas isto não significava muito pois sua condição oficial, em termos de cristandade, era bem diferente do que passou a ser alguns séculos mais tarde quando passou a desempenhar o papel de líder e cabeça suprema do cristianismo ocidental - Os gregos e outras comunidades do leste europeu e da África e Ásia jamais aceitaram esta condição, no que resultou no cisma entre as Igrejas Católica Romana e Católicas Ortodoxas no século XI. Na verdade, até o século V o papa era uma figura que representava apenas uma função centralizadora de interesses velados do colégio eclesiástico romano, que já possuia e investia pesado em uma supremacia teológico-política. Mas esta era apenas uma escola dentre muitas outras linhas do cristianismo, todas lutando por manterem-se vivas e adotarem livremente seus pontos de vista a respeito da mensagem do Cristo. A Igreja de Roma, sob pressão de Constantino, que a rigor, continuava sendo um crente dos cultos a Mitra e do Dol Invictus, cuja festa máxima era comemorada no solstício de inverno, no dia 25 de dezembro, lutava desesperadamente para sobressair-se dentre as demais, combatendo uma grande variedade de pontos-de-vista teológicos diferentes dos seus. A pesar de encravada no coração do Império, de início a Igreja de Roma não possuia moralmente maior autoridade que outras, como, por exemplo, a Igreja Grega ou a Igreja Celta. E sua autoridade não era maior que a de outras correntes cristãs ainda mais distantes, do leste e o oeste de Roma.

Se a Igreja de Roma quisesse sobreviver à derrocada do Império (na verdade, sendo uma tentativa de manter alguma coisa deste) que se esfacelava diante das invasões bárbaras e, ainda, criar uma hegemonia sobre todo o pensamento cristão, exercendo uma grande autoridade e poder, ela necessitaria do apóio de um reino forte e de uma poderosa figura secular que pudesse representá-la resgatando um pouco da mística do Império dos Césares, impondo grande reverência e respeito. Daí que, para que o mundo cristão evoluísse segundo a doutrina romana, a Igreja Católica deveria ser disseminada, implementada e imposta por meio da força secular - uma força suficientemente poderosa para enfrentar e finalmente exitirpar o desafio das outras escolas cristãs.

Por volta de 486, um rei bárbaro, o rei franco-merovíngeo Clóvis, tinha expandido extraordinarimente a extensão de seus domínios, anexando reinos e principados adjacentes e vencendo várias tribos rivais. Cidades importantes passaram a fazer parte de seu reino, como Troyes, e Amiens, nas regiões da Gália. Em pouco mais de 10 anos de conquistas, Clóvis era o chefe mais poderoso da Europa Ocidental. E foi em Clóvis que a Igreja Católica tinha achado um campeão para seus interesses. E foi através de Clóvis que a Igreja Católica finalmente iria conseguir estabelecer uma supremacia que não foi seriamente questionada - devido à "Santa" Inquisição - na Europa por mais de mil anos.

O pacto estabelecido entre Clóvis e a Igreja assegurou um triunfo político para ambas as partes. Ao primeiro assegurava legitimidade numa época em que os ideais cristãos suplantavam os pagãos, e à segunda era assegurada sua sobrevivência, consolidando-a como igual, em condições, à Igreja Ortodoxa Grega, de Constantinopla (muito influente por conta do Império Romano do Oriente, vivo e palpitante até o século XV). Isto faria a Igreja de Roma estabelecer-se como a suprema autoridade espiritual - com base na força militar do reino franco-merovíngeo - na Europa Ocidental.

A conversão e o batismo de Clóvis marcariam o nascimento de um novo Império Romano, pretensamente cristão, baseado na Igreja de Roma e administrado, ao nível secular, pelo reino franco e pela linhagem merovíngea - posteriormente traída e derrubada pela própria Igreja.

Com poderosa eficiência, a fé católica foi imposta pela espada, e os traços das outras igrejas foram, a partir de então, afrontados pela força e irremediavelmente apagados (em parte) da história; com a sanção da Igreja, o reino franco expandiu-se para o leste, englobando a maior parte da França, Alemana e outros países modernos.

Dois séculos mais tarde, a Igreja já era suficientemente poderosa para achar que a linhagem merovíngea de Clóvis começava a ser um empecilho. Dagobert II, descendente de Clóvis, foi um rei forte que conseguiu domar a anarquia que, antes dele, começava a dominar o reino franco, restabelecendo a ordem, e reconhecendo os interesses políticos e, portanto, cada vez mais menos espirituais da Igreja. Tanto assim que ele parece ter abortado deliberadamente as tentativas desta de se expandir ainda mais. E, em virtude de se ter casado com uma princesa visigoda (cujo povo, apesar de declarar fidelidade a Roma, tinham um imensa simpatia por idéias consideradas "heréticas", ou seja, por interpretações da mensagem de Cristo não aceitas pela ortodoxia latina) havia adquirdo um imenso território, onde hoje é o Languedoc, região Sul da atual França e base dos futuros Cátaros. Dagobert parece ter adquirido algumas das tendências arianas que questionavam a autoridade da Igreja. Com tudo isso, não é de se extranhar que ele tenha obtido inúmeros inimigos políticos, entre eles seu chanceler, Pepino, o Gordo, que, alinhando-se com outros inimigos e com a Igreja, planejaram o assassinato de Dagobert e o extermínio da linhagem merovíngea.

Cabe salientar que, dois séculos após sua morte, Dagobert II foi canonizado, como uma forma de encobrir a traição visível da Igreja ao pacto que fizera com Clóvis.

Os Cátaros


Nas palavras da Igreja Romana, no século XII a região do Languedoc estava "infectada" pela heresia de um movimento considerado por ela como nocivo, chamado de catarismo pela Igreja de "a lepra louca do sul"(não suportava a Santa Madre Igreja qualquer concorrência ao seu domínio espiritual e político nem tolerava qualquer interpretação espiritual fora das instruções romanas).

Embora fosse sabido por todos, em especial nas regiões adjacentes ao Langedoc, que os adeptos dessa heresia fossem essencialmente pacíficos e muito estimados pela população local, tendo muitos nobres ente eles. Tal movimente se constituia, para os doutores do Vaticano, uma grave ameaça à autoridade romana, a mais grave que Roma encontraria nos três séculos seguintes, até a chegada de Martinho Lutero. Por volta de 1200, a popularidade do movimento era tal que havia realmente a possibilidade real de que o catolicismo romano fosse substituído, como forma predominante de cristianismo, no Languedoc, pelo catarismo que estava se irradiando para outras partes da Europa.
E, 1165 a Igreja havia condenando formalmente o catarismo na cidade de Albi, no Languedoc. Daí por que os conhecemos também por albigenses. Muitas de nossas informações sobre eles provêm de fontes eclesiásticas católicas, e criar um quadro correto dos cátaros a partir destes documentos é como compreender a resistência estudantil brasileira, no tempo da Ditadura, a partir dos relatórios dos militares e do DOI-CODI, ou compreender a Resistência Francesa, na Segunda Guerra Mundial, a partir dos relatórios da Gestapo.

Em geral, os cátaros acreditavam na doutrina da reencarnação e reconheciam Deus não como um princípio com traços antropomórficos puramente masculino, mas como tendo, igualmente, princípios femininos. Na verdade, Deus estava bem acima das limitações do entendimento humano (o que nos remete, em parte, à doutrina dos Druidas e Pitágoras e Platão). Tanto que os pregadores e professores das congregações cátaras, conhecidos como parfaits, eram de ambos os sexos. Sendo o ser humano ciração e filiação da divindade, as polaridades masculinas e femininas não seriam antagônicas, mas complementares, e, portanto, igualmente importantes.

Seu principal texto teológico era o Evangelho de João e um outro texto (talvez o mesmo Evangelho de João ou possivelmente aquele que conhecemos hoje como o envangelho apócrifo de Maria Madalena) que eles chamava de o Evangelho do Amor. Ao mesmo tempo, rejeitavam veementemente a autoridade da Igreja Católica e negavam a validade das hierarquias clericais, ou de intercessores oficiais entre Deus e o homem. Diziam eles que não encontravam em parte alguma dos Evangelhos justificação para a estrutura eclesial romana. No centro desta oposição residia um pincípio extremamente importante: a fé só é real se vivida e sentida como como uma experiência mística direta, sem passar por uma segunda mão. Além do mais, a única fé real era que que produzisse obras, e os cátaros ficaram famosos e adquiriram imensa popularidade pela ação social que promoveram no Languedoc, dando tratamento gratuito de saúde e educação a todos, e sendo tolerantes com membros de outros credos, inclusve judeus, que viviam em paz na região.

Em tal ênfase na experiência mística direta e aplicada em uma ética socialista vemos claramente a influência do neoplatonismo, em especial Plotino no pensamento cátaro, mas talvez seja mais correto ainda dizer que aqui provavelmente a influência mais direta veio do Cristianismo puro. Hoje diríamos que os cátaros buscavam vivenciar uma experiência de comunhão com Deus, ou uma experiência de transcendência, num domínio Transpessoal, que, antes, chamavamos de místicas. Esta experiência chamava-se gnosis, que em grego significa "conhecimento", e era privilegiada sobre todas as outras formas de credos e dogmas pelos cátaros. A ênfase na experiência direta com o transcendente, o transpessoal, tornava supérfluos padres, bispos e quaisquer outras autoridades eclesiásticas.

Assim, a Igreja, sentindo-se realmente ameaçada, tomou a iniciativa de formar uma Cruzada (a primeira dentro da Europa e contra irmãos cristãos ocidentais, já que cristãos orientais foram trucidados, com as bênçãos de Roma, junto com árabes e judeus nas estúpidas Cruzadas clássicas à Terra Santa) com o fim de extirpar de vez com a "heresia" cátara: a Cruzada Albigense.

Em 1209, um exército de mais de 30 mil homens, desceu do norte da Europa em direção ao Languedoc, no sul da França, para executarem uma das maiores carnificinas da história humana. Na guerra que se seguiu, a população tomou a espada e denfendeu com ênfase os cátaros contra o despotismo católico.

Diz-nos o professor Hermínio C. Miranda que:

"Na verdade, a calamidade que se abatera sobre a região atingia em cheio também os católicos (locais). E não apenas aqueles que davam certa cobertura aos 'heréticos' e os respeitvam e até tinham por eles claras simpatias. Em repetidas oportunidades, a população lutou (e morreu) unida, contr o inimigo comum - independentes de preferências religiosas. Aliás, como temos visto, o povo convivia muito bem com os cátaros, tinha entre eles amigos e parentes e deles recebia atenção, ensinamentos, assistência social, religiosa e tratamento de saúde, fossem ou não croyants" (MIRANDA, 2002, p 240).


Igualmente interessante é a observação do escritor H. G. Wells no volume II de História da Civilização, à página 380:

"E é assim que vemos o espetáculo de Inocêncio III a pregar uma cruzada contra esses desafortunados sectários e a permitir o alistamento de todos os desclassificados, vagabundos e desordeiros da época, na obra de levar o fogo e a espada, a violência e o rapto e todos os ultrajes concebíveis aos mais pacíficos súditos do rei da França. As descrições das crueldades e abominações dessa cruzada são de leitura bem mais terrível do que qualquer narração dos martírios dos cristãos pelos pagãos e possuem, além disso, o acrescido horror que lhes vem de as sabermos indiscutivelmente verdadeiras".


A região do Languedoc, porém, era independente da França, tendo mais ligaçãos com a Espanha. A cruzada, anexando toda a região à França, além das barbridades crueis contra pessoas de bem, revoltou ao extremo toda a população local, incluindo os católicos, que lutaram ao lado e a favor dos cátaros. Assim, quando finalmente o temido e odiado líder militar da cruzada, Simon de Montfort – o mesmo cujo nome inspirou um dos sites mais agressivos e conservadores de católicos intolerantes, na internt -, foi finalmente abatido (conta-se, quando uma pedra de catapulta lançado por uma guarnição feminina da resistência lhe esmagou a cabeça), toda a cidade de Tolosa (atual Toulouse) explodiu de alegria. Uma canção popular da época, em lingua Occitana, ou "Oc", muito parecida com o português - daí Languedoc, ou língua de oc - assim comemorava:

Montfort
Es mort
Es mort
Es mort!
Viva Tolosa
Ciotat Gloriosa
Et Poderosa!
Tornan lo paratge et l'onor!
Monfort
Es mort!
Es mort!
Es mort!


Todo o território da região ao redor de Toulouse e Carcassonne foi pilhado e as cidades e vilarejos arrasados sem dó nem piedade. Foguerias imensas eram acessas e nelas, homens, mulheres e jovens eram assados em uma selvageria e sede de morte sem igual. Em algumas cidades, mais de 400 pessoas morreram desta forma "cristã" em uma única noite. Esta febre fanática constituia o fervor cruzados, pois foi prometido pelo Papa que todos os que participassem da "Santa Cruzada" por 40 dias e demonstrassem eficácia contra a heresia teriam não só seus pecados perdoados, como ainda obteriam benefícios materiais legítimos pelo saque. Só na cidade de Beziers, por exemplo, 15 mil homens mulheres e crianças foram exterminadas, muitos até mesmo dentro de igrejas. Quando um oficial perguntou a um representante espiritual do papa Inocêncio III, o cínico Arnaud Amaury, arcebiso de Narbonne, como ele iria reconhecer um herege dos crentes verdadeiros, a resposta foi: "Mate-os todos. Deus reconhecerá os seus". Este ainda escreveu escreveu orgulhoso a Inocêncio III que "nem idade, nem sexo, nem posição foram poupados".... Depois os hereges maléficos eram os pobres cátaros....

Ainda assim, os inocentes cátaros e todos os que conviviam na região sofreram abusos indescritíveis. Mesmo assim, "como nos primeiros tempos do cristianismo, os cátaros continuavam a pregar suas idéias pelos campos, nos bosques, em esconderijos e em casas de um ou outro mais corajoso simpatizante e até nas cavernas, numa trágica simetria com as catacumbas freqüentadas pelos cristãos primitivos. Não se entregavam, não renegavam suas idéias, nem mesmo qundo se lhes oferecia a escolha final entre a vida e a fogueira, ou seja, entre a fé e a morte. A opção de todos - com ínfimas excessões, uma unanimidade - era pelo sacrifício supremo, sem um gemido, temor ou angústia" (MIRANDA, 2002, p. 252).

A guerra cruel durou cerca de quarenta anos. Quando terminou, toda a Europa caiu numa espécie de modorra e barbárie, e a Igreja se impôs, pelo espetáculo desumano que cometera, como a única legítima representante de Deus, exercendo poder até mesmo em assuntos civis e de estado, e para ques e evitasse um ressurgimento da novas ameaças ao domínio da Igreja, foi criado uma das mais crueis, vergonhosas e desumanas instituições da História: a "Santa" Inquisição, de triste memória, e que deu nomes de porte de um Torquemada. Oficialmente extinta, a Inquisição, porém, continua com outro nome: Congregação para a Defesa da Fé, tendo feito, no século XX, novas vítimas, entre elas Pierre Teilhard de Chardin e, mais recentemente, Leonardo Boff. O seu mais recente se consolidou na figura do Cardeal Joseph Ratzinger que, ironicamente, é o atual Papa Bento XVI. Ainda enção, não queimando mais corpos, ainda pode queimar obras e proibir idéias nas universidades católicas e nas editoras mantidas pela Igreja, usando ainda veículos impressos e outras mídias para anematizar que pensar diferente...

Tendo sedimentado seu total controle na Europa ocidental, a Igreja dominante constituia-se em uma instituição poderosa econômica, política e militarmente. Equiparava-se a um gigantesco feudo, e sua organização impunha uma violenta censura e controle espiritual e intelectual (ou crer ou morrer), submissão total à autoridade eclesiástica, etc. Em brutal e explícita oposição ao socialismo humanista dos primeiros cristãos, a Igreja de Roma punha-se com toda a violência que dispunha contra todos os que questionassem a legitimidade cristã de tais atitudes.
Um dos movimentos que mais tinha certas ligações com os cátaros era a Ordem dos Templários, criado na Terra Santa, e que representavam uma associação militar cristã, oficialmente protetora das peregrinações religiosas e responsável pela guarda e câmbio de bens, mas igualmente aberta ao estudo e discussão de assuntos místicos. Mas este é uma outra história, e aconselho o leitor a clicar nos links abaixo para ler mais sobre ambas as ordens:

Os Cátaros

A Ordem dos Templários


Bibliografia:


Michael Baignet, Richard Leigh e Henry Lincoln, cujo livro O Santo Graal e a Linhagem Sagrada, Editora Nova Fronteira, 1997, serviu de inspiração e motivação para esta página

Hermínio C. Miranda, em seu excelente livro "Os Cátaros e a Heresia Católica" faz um fabuloso e cativante resumo de quase tudo o que já foi escrito sobre o catarismo. Editora Lachâtre, 2002.

Graham Simmas, Marylin Hopkins e Tim Wallace-Murphy retomam a temática de O Santo Graal e a Linhagem Sagrada em seu excelente livro "Rex Deus", aprofundando as motivasções políticas da Igreja na perseguição aos cátaros e aos templários. Editora Imago, 2002.
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quarta-feira, 16 de junho de 2010

Lula agiu corretamente ao sancionar o reajuste dos aposentados




O presidente Lula agiu corretamente ao sancionar o reajuste de 7,7%

José Carlos Werneck


O presidente Lula agiu corretamente ao sancionar o reajuste de 7,7 por cento, aos aposentados e pensionistas da Previdência Social. Para tomar tão sábia e inteligente decisão, o presidente da República teve de contrariar os arautos do Apocalipse, como o comprometido Arnaldo Jabor e todo o neoliberalismo pró-agiotagem da Rede Globo e do Grupo Abril, e os embaixadores da tragédia, que o cercam e afirmavam que o reajuste, aprovado pelo Congresso Nacional irá quebrar a Previdência.
Posso, desde já, afirmar, com toda certeza, que acontecerá justamente o contrário. Com milhões de brasileiros ganhando um pouco melhor a Economia do País vai crescer. Mais gente irá às compras, dívidas serão pagas, o Governo vai arrecadar mais, empregos formais serão criados, mais contribuições serão feitas à Previdência. Enfim a Economia vai girar.

Não adianta o País exibir belos índices para o FMI e para os banqueiros internacionais e haver tantos brasileiros ganhando mal e passando por sérias dificuldades.

Dar aumento de salários, principalmente aos mais pobres é redistribuir riqueza. É democratizar o capitalismo. É melhorar o padrão de vida do povo. É fazer o País crescer e principalmente

Nivelar por cima


Só os agiotas e os fazendários é que gostam de ver o povo na miséria para se aproveitar, principalmente, dos menos favorecidos. Aos usurários interessa sempre que nossa cruel desigualdade social e nossa perversa distribuição de renda sejam mantidas.

Lula ao sancionar o aumento dos aposentados, voltou a ser o Lula do passado. O homem que se preocupava e tinha compromissos com o povo e ouvia com atenção o clamor das ruas.

Quanto a veto do fim do fator previdenciário, o assunto merece mais atenção e estudos detalhados. Essa criação hedionda, que, aliás, não foi idéia de Lula, contraria e violenta todos os princípios de direito adquirido. Deve vigir somente para aqueles que começarem a contribuir agora para à Previdência e nunca para os que já pagaram de acordo com as leis vigentes, na ocasião em que entraram para o mercado de trabalho. Sei que para tratar desse tema não haverá tempo hábil para atual presidente..Mas é assunto que merece ser tratado,com a atenção e respeito,por quem for eleito para o próximo período de Governo,pois foi um verdadeiro calote naqueles que pagaram corretamente suas contribuições previdenciárias e foram surpreendidos com uma quebra unilateral das regras do jogo.

Presidente, a Previdência não vai quebrar, pode estar certo disso. Ela vai crescer e o senhor verá isso ainda nos poucos meses, que lhe restam no atual Governo. Tenha certeza que o Brasil vai exibir índices econômicos ainda mais pujantes. Seu gesto,ao contrário,do que lhe disseram,os tecnocratas de bobagem que o cercam,vai fazer do Brasil, um lugar melhor e mais bonito de se viver!

Os mesmos de sempre

Comentário do Jornalista Carlos Chagas em artigo publicado na Tribuna da Imprensa em 17/06/2010

Já era esperada a blitz da grande imprensa contra a decisão do presidente Lula de não vetar lei que concedeu 7,7% de reajuste para os aposentados com mais de um salário mínimo. Os editoriais, comentários e simples reportagens refletem o sentimento das elites econômicas, infensas a quaisquer benefícios para os menos favorecidos.

Exultaram, essas elites, cada vez que o governo do sociólogo suprimiu direitos sociais. Sustentaram, até, a revogação integral das leis trabalhistas, deixando a relação entre capital e trabalho entregue ao mercado.

O pretexto é o mesmo de sempre: a Previdência Social vai falir, não suporta encargos capazes de promover justiça aos que vivem de salários e aposentadorias. Sendo assim, vibram tacape e borduna no lombo do Lula, mesmo sabendo que o presidente da República fez o dever de casa pela metade, ou seja, vetou a extinção do famigerado fator previdenciário, outra criação neoliberal sórdida de Fernando Henrique Cardoso.

Constrangida, a equipe econômica curvou-se à decisão do primeiro-companheiro, mas em seguida o ministro Guido Mantega abriu o saco de maldades: vai tirar a diferença dos gastos com o reajuste cortando no orçamento. Vejam bem, não vai cortar nos juros nem na remuneração do capital especulativo. Muito menos no déficit interno que já ultrapassou um trilhão de reais. Atingirá verbas destinadas à saúde, à educação, á segurança e à infra-estrutura. Bem como, está ameaçando, as emendas individuais dos parlamentares, coisa que será preciso ver para crer.

domingo, 13 de junho de 2010

Leonardo Boff: "Pessimismo Capitalista e Darwnismo Social"



Pessimismo Capitalista e Darwinismo Social



Texto de

Leonardo Boff

Teólogo, Filósofo e Ecologista


Que fazer quando uma crise como a nossa se transforma em sistêmica, atingindo todas as áreas e mostra mais traços destrutivos que construtivos? É notório que o modelo social montado já nos primórdios da modernidade, assentado na magnificação do eu e em sua conquista do mundo em vista da acumulação privada de riqueza não pode mais ser levado avante. Apenas os deslumbrados, instigados pelas Elites sempre ávidas de sugar os recursos naturais e sociais, do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo Lula, acreditam ainda neste projeto que é a racionalização do irracional. Hoje percebemos claramente que não podemos crescer indefinidamente porque a Terra não suporta mais nem há demanda suficiente. Este modelo não deu certo, pelas perversidades sociais e ambientais que produziu. Por isso, é intolerável que nos seja imposto como a única forma de produzir como ainda querem os membros do G-20 e do PAC.

A situação emerge mais grave ainda quando este sistema vem apontado como o principal causador da crise ambiental generalizada, culminando com o aquecimento global. A perpetuação deste paradigma de produção e de consumo pode, no limite, comprometer o futuro da biosfera e a existência da espécie humana sobre o planeta.
Como mudar de rumo? É tarefa complexíssima. Mas devemos começar. Antes de tudo, com a mudança de nosso olhar sobre a realidade, olhar este subjacente à atual sociedade de marcado: o pessimismo capitalista e o darwinismo social.

O pessimismo capitalista foi bem expresso pelo pai fundador da economia moderna Adam Smith (1723-1790), professor de ética em Glasgow. Observando a sociedade, dizia que ela é um conjunto de indivíduos egoistas, cada qual procurando para si o melhor. Pessimista, acreditava que esse dado é tão arraigado que não pode ser mudado. Só nos resta moderá-lo. A forma é criar o mercado no qual todos competem com seus produtos, equilibrando assim os impulsos egoistas.

O outro dado é o darwinismo social raso. Assume-se a tese de Darwin, hoje vastamente questionada, de que no processo da evolução das espécies sobrevive apenas o mais forte e o mais apto a adaptar-se. Por exemplo, no mercado, se diz, os fracos serão sempre engolidos pelos mais fortes. É bom que assim seja, dizem, senão a fluidez das trocas fica prejudicada.

Há que se entender corretamente a teoria de Smith. Ele não a tirou das nuvens. Viu-a na prática selvagem do capitalismo inglês nascente. O que ele fez, foi traduzi-la teoricamente no seu famoso livro: "Uma investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações"(1776) e assim justificá-la. Havia, na época, um processo perverso de acumulação individual e de exploração desumana da mão de obra.

Hoje não é diferente. Repito os dados já conhecidos: os três pessoas mais ricas do mundo possuem ativos superiores à toda riqueza de 48 países mais pobres onde vivem 600 milhões de pessoas; 257 pessoas sozinhas acumulam mais riqueza que 2,8 bilhões de pessoas o que equivale a 45% da humanidade; o resultado é que mais de um bilhão passa fome e 2,5 bilhões vivem abaixo da linha da pobreza; no Brasil 5 mil famílias possuem 46% da riqueza nacional. Que dizem esses dados se não expressar um aterrador egoismo? Smith, preocupado com esta barbárie e como professor de ética, acreditava que o mercado, qual mão invisível, poderia controlar os egoismos e garantir o bem estar de todos. Pura ilusão, sempre desmentida pelos fatos.

Smith falhou porque foi reducionista: ficou só no egoismo. Este existe mas pode ser limitado, por aquilo que ele omitiu: a cooperação, essencial ao ser humano. Este é fruto da cooperação de seu pais e comparece como um nó-de-relações sociais. Somente sobrevive dentro de relações de reciprocidade que limitam o egoismo. É verdade que egoismo e altruismo convivem. Mas se o altruismo não prevalecer, surgem perversões como se nota nas sociedades modernas assentadas na inflação do "eu" e no enfraquecimento da cooperação. Esse egoismo coletivo faz todos serem inimigos uns dos outros.

Mudar de rumo? Sim, na direção do "nós", da cooperação de todos com todos e na solidariedade universal e não do "eu" que exclui. Se tivermos altruismo e compaixão não deixaremos que os fracos sejam vítimas da seleção natural. Interferiremos cuidando-os, criando-lhes condições para que vivam e continuem entre nós. Pois cada um é mais que um produtor e um consumidor. É único no universo, portador de uma mensagem a ser ouvida e é membro da grande família humana.

Isso não é uma questão apenas de política, mas de ética humanitária, feita de solidariedade e de compaixão.

Leonardo Boff é autor de Princípio compaixão e cuidado, Vozes (2007).


Mídia e Elite: os oráculos da "Verdade"


Carlos Antonio Fragoso Guimarães

Vendo os telejornais e folheando algumas das mais vendidas revistas semanais algo me vem à mente: a quem eles pensam enganar?

Páginas de propaganda, vários minutos de comerciais e uma preocupação em citar o que o governo faz ou deixa de fazer para acalmar e atrair os investidores estrangeiros enquanto melhorar a vida do povo brasileiro - veja-se o caso dos aposentados - é sempre mostrado como despesa inútil de dinheiro que deveria se usado na infra-estrura por onde se escorra a produção pára o exterior, cada vez mais lucrativa, cada vez mais enriquecedora, enquanto os salários dos mesmpso que produzem para estes capitalista ganham cada vez menos, sem direito a pensar em uma aposentadoria decente...

Este é o Brasil globalizado... Onde a mídia educa para a única "democracia" considerada válida pelas elites: a de Consumo e a do não-pensar.

Já dizia o filósofo Immanuel Kant, em fins do século XVIII, que as pessoas renunciam a pensar por si mesmas. Preferem se colocar sob proteção dos "oráculos da verdade": a revista semanal, o telejornal, o patrão, o chefe, o pároco ou o pastor. Hoje em dia, também aceitam de bom grado o que é cuspido pela Revista Veja, pelo Jornal Nacional ou o que fala o "Iluminado e não preconceituoso" Boris Casoy.

Nas palavras lúcidas de Frei Betto, em artigo publicado no Correio da Cidadania:

Esses os guardiões da verdade que, bondosamente, velam para não nos permitir incorrer em equívocos. Graças a seus alertas sabemos que as mortes de terroristas nas prisões made in USA de Bagdá e Guantánamo são apenas acidentes de percurso comparadas à morte de um preso comum, disfarçado de político, num hospital de Cuba, em decorrência de prolongada greve de fome.

São eles que nos tornam palatáveis os bombardeios dos EUA no Iraque e no Afeganistão, dizimando aldeias com crianças e mulheres, e nos fazem encarar com horror a pretensão de o Irã fazer uso pacífico da energia nuclear, enquanto seu vizinho, Israel, ostenta a bomba atômica.

São eles que nos induzem a repudiar o MST em sua luta por reforma agrária, enquanto o latifúndio, em nome do agronegócio, invade a Amazônia, desmata a floresta e utiliza mão-de-obra escrava.

É isso que, na opinião de Kant, faz do público Hausvieh, "gado doméstico", arrebanhamento, de modo que todos aceitem, resignadamente, permanecer confinados no curral, cientes do risco de caminharem sozinhos.


E assim, temos uma mentira que, de tanto propagada, vira uma "verdade" que - graças a Deus e felizmente -, se engana parte do povo todo o tempo, não engana todo o povo todo o tempo, como diria o grande presidente Abraham Lincoln...

As elites e os banqueiros contra os aposentados




Pois é... Bem-estar social, Previdência Social, qualidade de vida... Palavras que não combinam com lucro exacerbado, exploração, previdência privada, neoliberalismo, capitalismo...

Então, nada mais justo que a máquina publicitária tentar modelar a mentalidade e a realidade e criar a mentira de que aposentados pelo sistema de Prividência Social dão prejuízos... E o neoliberal "sociólogo" FHC, títere dos interesses de Washington e de bancos e outros setores do capitalismo selvagem, decidiu sair da teoria de chamar os aposentados de "vagabundos" para a prática de tratá-los como tais criando o tal Fator Previdenciário com o intuito de nivelá-los a todos por baixo, forçando a população a correr para os planos de previdência privada dos Bancos, uma verdadeir mina de ouro, enquanto tira o dinheiro do Social para salvar ou agradar os vampiros do bem público

Com a palavra o jornalista Carlos Chagas, em trecho de artigo publicado em 13 de junho de 2010 no blog do jornal Tribuna da Imprensa do Rio de Janeiro:

O segredo da popularidade do presidente Lula talvez repouse em suas contradições. De um lado, volta-se desde a posse para as questões sociais, o que é uma qualidade sua, beneficiando os menos favorecidos com inúmeras iniciativas. De outro, satisfaz os interesses das elites, não raro agindo contra os direitos sociais, o que é um grave ponto negativo.

Tome-se o anunciado veto à lei que extinguiu o famigerado fator previdenciário, uma entre montes de ações do governo Fernando Henrique contrárias ao trabalhador. Pelo fator previdenciário vigente desde os tempos do sociólogo, o cidadão vê todos os anos reduzidos os reajustes de sua aposentadoria, até que dentro de alguns anos todos os inativos estarão todos recebendo apenas o salário mínimo.

Nada mais natural de que o Congresso, mesmo com doze anos de atraso, viesse a corrigir a flagrante injustiça. Deputados e senadores fizeram o seu papel. Pois vem agora o presidente Lula e veta o dispositivo, sob o argumento de que desse jeito a Previdência Social irá à falência.

Não é verdade o que a equipe econômica e as elites contaram ao presidente. A Previdência Social não vai quebrar, pelo simples fato de que sua receita aumenta a olhos vistos, através da bem executada política do governo de criar empregos. E mesmo que suas contas ficassem no vermelho, bastaria lembrar do sistema de vasos comunicantes que a gente aprendia nas aulas de Ciências, séculos atrás. Se falta dinheiro de um lado, sobra de outro, com esses intermináveis impostos que a gente paga. A começar pelo trabalhador, precisamente a eterna vítima das elites e da equipe econômica.


É pena que Lula dê mais ouvidos aos banqueiros e à Mídia da elite atrelada ao banqueiros que aos trabalhadores e antigos trabalhadores brasileiros... Mais uma vez, a Globo, a Bandeirantes, os "investidores" e os vampiros de sempre comemoram em sugar o sangue, suor e lágrimas do povo brasileiro...

Nas palavras do sociólog Léo Lince em artigo para o Correio da Cidadania:

Rádios, revistas, televisões e, principalmente, os jornalões de circulação nacional cerram fileiras em torno de uma campanha feroz. Editoriais, articulistas adestrados, economistas de banco, matérias e pesquisas ideologicamente orientadas, sempre batendo na mesma tecla. ‘Não pode, é febre de gastança’. ‘Projeto demagógico, poderoso fator de desequilíbrio’. ‘Ruinoso para a contabilidade pública, uma hemorragia de gastos’. ‘Populismo anacrônico, fora de contexto, tumultua a gestão fiscal’. São alguns dos petardos da guerra ideológica contra os aposentados.

Querem o veto ao reajuste dos aposentados e apresentam tal decisão como resultante de um suposto "clamor técnico". Mentira. Não há "clamor técnico" algum, nem sangria desatada. A diferença entre a proposta original do Executivo e o que resultou da votação no Parlamento, como despesa orçamentária, equivale a R$ 1,1 bilhão anual. Quantia bem menor do que os R$ 13,8 bilhões anuais resultantes do aumento de 0.75% na taxa Selic, decretado na mesma época pelo Banco Central. E não se ouviu falar em "clamor técnico" ou "poderoso fator de desequilíbrio".

Em 2009, os juros e amortizações da dívida pública consumiram 36% do orçamento federal. Um absurdo. Nenhum jornal, no entanto, os chamou de estorvo. Um sumidouro de recursos que não merece campanha na mídia grande e nem parece preocupar os titulares da República. Os que se declaram estarrecidos com o aumento de 7,7% dos aposentados não se incomodam o mais mínimo com os inacreditáveis R$ 2,2 trilhões da dívida pública.

Dilma Rousseff, candidata oficial do sistema, forneceu explicações muito esclarecedoras sobre a aceleração vertiginosa do endividamento. Em entrevista recente na rádio CBN, ela afirmou que a dívida cresceu porque, na crise, o governo teve que liberar US$ 100 bilhões do compulsório para os banqueiros. Cresceu também porque o governo teve que injetar US$ 180 bilhões no BNDES para que se pudessem garantir empréstimos e patrocinar fusões e incorporações de grandes empresas em dificuldades. Além de, para tranqüilizar os investidores estrangeiros, bancar reservas internacionais da ordem de US$ 250 bilhões. Tudo muito claro.

A campanha cerrada contra o reajuste dos aposentados, neste quadro, faz sentido. Ela é uma contrapartida lógica do vergonhoso tributo ao grande capital, que trata com naturalidade a dívida monstruosa. São elementos de uma ideologia dominante que faz do Brasil o que ele é hoje: inferno dos aposentados e paraíso dos rentistas.

quarta-feira, 9 de junho de 2010




O Evangelho dos Evangélicos

Ed René Kivitz

“Nem todo aquele que me diz Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus.” [Jesus Cristo]


Estou convencido de que um é o evangelho dos evangélicos, outro é o evangelho do reino de Deus. Registro que uso o termo “evangélico” para me referir à face hegemônica da chamada igreja evangélica, tal como se apresenta na mídia radiofônica e televisiva.

O evangelho dos evangélicos é estratificado. Tem a base e tem a cúpula. Precisamos falar com muito cuidado da base, o povo simples, fiel e crédulo. Mas precisamos igualmente discernir e denunciar a cúpula. A base é movida pela ingenuidade e singeleza da fé; a cúpula, muita vez é oportunista, mal intencionada, e age de má fé. A base transita livremente entre o catolicismo, o protestantismo e as religiões afro. A base vai à missa no domingo, faz cirurgia em centro espírita, leva a filha em benzedeira, e pede oração para a tia que é evangélica. Assim é o povo crédulo e religioso. Uma das palavras chave desta estratificação é “clericalismo”: os do palco manipulando os da platéia, os auto-instituídos guias espirituais tirando vantagem do povo simples, interesseiro, ignorante e crédulo.

A cúpula é pragmática, e aproveita esse imaginário religioso como fator de crescimento da pessoa jurídica, e enriquecimento da pessoa física. Outra palavra chave é “sincretismo”. A medir por sua cúpula, a igreja evangélica virou uma mistura de macumba, protestantismo e catolicismo. Tem igreja que se diz evangélica promovendo “marcha do sal”: você atravessa um tapete de sal grosso, sob a bênção dos pastores, e se livra de mal olhado, dívida, e tudo que é tipo de doença. Já vi igreja que se diz evangélica distribuir cajado com água do Jordão (i.é, um canudo de bic com água de pia), para quem desejasse ungir o seu negócio, isto é, o seu business. Lembro de assistir a um programa de TV onde o apresentador prometia que Deus liberaria a unção da casa própria para quem se tornasse um mantenedor financeiro de sua igreja.

O povo religioso é supersticioso e cheio de crendices. Assim como o Brasil. Somos filhos de portugueses, índios, africanos, e muitos imigrantes de todo canto do planeta. Falar em espíritos na cultura brasileira é normal. Crescemos cheios de crendices: não se pode passar por baixo de escada; gato preto dá azar; caiu a colher, vem visita mulher, caiu garfo, vem visita homem; e outras tantas idéias sem fundamento. Somos assim, o povo religioso é assim. Tem professor de universidade federal dando aula com cristal na mão para se energizar enquanto fala de filosofia.

E a cúpula evangélica aproveita a onda e pratica um estelionato religioso: oferece uma proposta ritualística que aprisiona, promove a culpa e, principalmente, ilude, porque promete o que não entrega. Aliás, os jornais começam a noticiar que os fiéis estão reivindicando indenizações e processando igrejas por propaganda enganosa.

O evangelho dos evangélicos é estratificado. A base é movida pela ingenuidade e singeleza da fé, e a cúpula é oportunista. A base transita entre o catolicismo, o protestantismo e as religiões-afro, e a cúpula é pragmática. A base é cheia de crendices e a cúpula pratica o estelionato religioso.

O evangelho dos evangélicos é mercantilista, de lógica neoliberal. Nasce a partir dos pressupostos capitalistas, como, por exemplo, a supremacia do lucro, a tirania das relações custo-benefício, a ênfase no enriquecimento pessoal, a meritocracia – quem não tem competência não se estabelece. Palavra chave: prosperidade. Desenvolve-se no terreno do egocentrismo, disfarçado no respeito às liberdades individuais. Palavra chave: egoísmo. Promove a desconsideração de toda e qualquer autoridade reguladora dos investimentos privados, onde tudo o que interessa é o lucro e a prosperidade do empreendedor ou investidor. Palavra chave: individualismo. Expande-se a partir da mentalidade de mercado. Tanto dos líderes quanto dos fiéis. Os líderes entram com as técnicas de vendas, as franquias, as pirâmides, o planejamento de faturamento, comissões, marketing, tudo em favor da construção de impérios religiosos. Enquanto os fiéis entram com a busca de produtos e serviços religiosos, estando dispostos inclusive a pagar financeiramente pela sua satisfação. Em síntese, a religião na versão evangélica hegemônica é um negócio.

O sujeito abre sua micro-empresa religiosa, navega no sincretismo popular, promete mundos e fundos, cria mecanismos de vinculação e amarração simbólicas, utiliza leis da sociologia e da psicologia, e encontra um povo desesperado, que está disposto a pagar caro pelo alívio do seu sofrimento ou pela recompensa da sua ganância.

Em terceiro lugar, o evangelho dos evangélicos é mágico. Promove a infantilização em detrimento da maturidade, a dependência em detrimento da emancipação, e a acomodação em detrimento do trabalho.

Pra ser evangélico você não precisa amadurecer, não precisa assumir responsabilidades, não precisa agir. Não precisa agregar virtudes ao seu caráter ou ao processo de sua vida. Primeiro porque Deus resolve. Segundo porque se Deus não resolver, o bispo ou o apóstolo resolvem. Observe a expressão: “Estou liberando a unção”. Pensando como isso pode funcionar, imaginei que seria algo como o apóstolo ou bispo dizendo ao Espírito Santo: “Não faça nada por enquanto, eles não contribuíram ainda, e eu não vou liberar a unção”.

Existe, por exemplo, a unção da superação da crise doméstica. Como isso pode acontecer? A pessoa passa trinta anos arrebentando com o seu casamento, e basta se colocar sob as mãos ungidas do apóstolo, que libera a unção, e o casamento se resolve. Quem não quer isso? Mágica pura.

O sujeito é mau-caráter, incompetente para gerenciar o seu negócio, e não gosta de trabalhar. Mas basta ir ao culto, dar uma boa oferta financeira, e levar para casa um vidrinho de óleo de cozinha para ungir a empresa e resolver todos os problemas financeiros.

Essa postura de não assumir responsabilidades, de não agir com caráter, e esperar que Deus resolva, ou que o apóstolo ou bispo liberem a unção tem mais a ver com pensamento mágico do que com fé.

Em quarto lugar, o evangelho dos evangélicos tem espírito fundamentalista. Peço licença para citar Frei Beto: “O fundamentalismo interpreta e aplica literalmente os textos religiosos, não sabe que a linguagem simbólica da Bíblia, rica em metáforas, recorre a lendas e mitos para traduzir o ensinamento religioso.” O espírito fundamentalista é literalista, e o mais grave é que o espírito fundamentalista se julga o portador da verdade, não admite críticas, considerações ou contribuições de outras correntes religiosas ou científicas.

Quem tem o espírito fundamentalista não dialoga, pois considera infiéis, heréticos, ou, na melhor das hipóteses, equivocados sinceros, todos os que não concordam com seus postulados, que não são do mesmo time, e não têm a mesma etiqueta. Quem tem o espírito fundamentalista se considera paradigma universal. Dialoga por gentileza, não por interesse em aprender. Ouve para munir-se de mais argumentos contra o interlocutor. Finge-se de tolerante para reforçar sua convicção de que o outro merece ser queimado nas fogueiras da inquisição. Está convencido de que só sua verdade há de prevalecer.

Mais uma vez Frei Beto: “o fundamentalista desconhece que o amor consiste em não fazer da diferença, divergência”. Por causa do espírito fundamentalista, o evangelho dos evangélicos é sectário, intolerante, altamente desconectado da realidade. O evangelho dos que têm o espírito do fundamentalismo é dogmático, hermético, fechado a influências, e, portanto, é burro e incoerente.

Em quinto lugar, o evangelho dos evangélicos é um simulacro. Simulacro é a fotografia mais bonita que o sanduíche. Não me iludo, o evangelho dos evangélicos é mais bonito na televisão do que na vida. As promessas dos líderes espirituais são mais garantidas pela sua prepotência do que pela sua fé. Temos muitos profetas na igreja evangélica, mas acredito que tenhamos muito mais falsos-profetas. Os testemunhos dos abençoados são mais espetaculares do que a realidade dos cristãos comuns. De vez em quando (isso faz parte da dimensão masoquista da minha personalidade) fico assistindo estes programas, e penso que é jogada de marketing, testemunho falso. Mas o fato é que podem ser testemunhos por amostragem. Isto é, entre os muitos que faliram, há sempre dois ou três que deram certo. O testemunho é vendido como regra, mas na verdade é apenas exceção.

A aparência de integridade dos líderes espirituais é mais convincente na TV e no rádio do que na realidade de suas negociatas. A igreja evangélica esta envolvida nos boatos com tráficos de armas, lavagem de dinheiro, acordos políticos, vendas de igrejas e rebanhos, imoralidade sexual, falsificação de testemunho, inadimplência, calotes, corrupção, venda de votos.

A integridade do palco é mais atraente do que a integridade na vida. A fé expressa no palco, e nas celebrações coletivas é mais triunfante, do que a fé vivida no dia a dia. Os ideais éticos, e os princípios de vida são mais vivos nos nossos guias de estudos bíblicos e sermões do que nas experiências cotidianas dos nossos fiéis. Os gabinetes pastorais que o digam: no ambiente reservado do aconselhamento espiritual a verdade mostra sua cara.


Estratificado, mágico, mercantilista, fundamentalista, e simulacro. Eis o evangelho dos “evangélicos”.

publicado por Ed René Kivitz em seu blog "Outra Espiritualidade"

Ed René Kivitz é mestre em Ciências das Religiões e Pastor da Igreja Batista de Água Branca, São Paulo.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Henrique Meirelles, administrando para os Bancos




Hélio Fernandes

segunda-feira, 07 de junho de 2010 | 07:10, blog do Jornal Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro

Com uma dívida interna de 1 TRILHÃO E 800 BILHÕES, estamos condenados a pagar 14 BILHÕES E 500 MILHÕES, de juros MENSAIS. Isso até agora, Meirelles quer aumentar juros.

A última vez que escrevi sobre a calamitosa, rumorosa e perigosa “dívida” interna, foi em fevereiro, comentando a fala do chefe do Departamento Econômico do Banco Central, o seriíssimo e competente Altamir Lopes.

Ele dava os números sobre os JUROS PAGOS DE JANEIRO, e comentava: “Foi economia integral e total, feita pelo governo”. Segundo ele, os juros no primeiro mês de 2010 chegaram a 12 BILHÕES E 200 MILHÕES de reais, “ECONOMIZADOS num esforço enorme pelo próprio governo”.

Há alguns dias, o economista veio novamente a público, (em maio) revelando os números de abril, e ainda mais eufórico do que da primeira vez em 2010. E estava tão entusiasmado, que ganhou COMENTÁRIO também ENTUSIAMADO do “Jornal Nacional”. Vocês sabem, é por onde a Organização Globo costuma se manifestar, quando ADORA o que foi feito.

Mostremos o ÔNUS desses BONUS, da primeira fala, encerremos com a segunda, com o chefe do Departamento Econômico do BC sendo ELOGIADO pela TV Globo, o que irá explicar ou contar em casa? Afinal só COMUNICA os números.

Tendo pago 12 BILHOES E 200 MILHÕES em janeiro, no ano totalizaria 140 BILHÕES E 400 MILHÕES. Isso se no meio do caminho, não existisse o Banco Central, e os indispensáveis (para o BC e os banqueiros e seguradoras, nacionais e internacionais) aumentos de juros.

Os números estão mais ou menos corretos, APENAS para um mês. O que o governo chama de ECONOMIA, e o chefe do Departamento Econômico anuncia como tendo sido suficiente para o pagamento (que na verdade é AMORTIZAÇÃO) de janeiro PODE SER ACEITO PARA UM MÊS, e Graças a Deus.

O próprio Meirelles já disse várias vezes, e não estamos aqui para duvidar de tão íntegra, ilustre e intocável figura: “Já chegamos a ECONOMIZAR 90 BILHÕES em um ano, para pagar essa DÍVIDA”. Como pelo menos nos últimos 4 ou 5 anos, os juros têm ficado acima de 120 BILHÕES, é fácil constatar: a fatia não paga, é sempre JOGADA EM CIMA DO PRINCIPAL. (Que banqueiros e seguradoras, GENEROSOS, aceitam sem protestar. Mesmo porque, desde o primário, se aprende que existe juro sobre juro).

(Deixo para todos, o exame e o comentário que desejarem fazer, a respeito APENAS desses 90 BILHÕES. O que o governo poderia fazer com tantos recursos? E nem examino o que foi colocado acrescentando ou aumentando a DÍVIDA, em mais ou menos 50 BILHÕES).

Agora a nova comunicação do chefe do Departamento Econômico do BC, sobre o que foi pago em abril, logicamente falando em maio. Textual:

“Em abril ECONOMIZAMOS 19 BILHÕES E 800 MILHÕES, pagamos de juros 14 BILHÕES E 500 MILHÕES”. Parou por aí. Mas os senhores da Organização Globo AUTORIZARAM a dizer em tom de gozação ou ironia: “Portanto ainda SOBRARAM 5 BILHÕES E 300 MILHÕES”. (Não culpo os porta-vozes, todos precisam trabalhar). Mas temos que comparar e comentar as duas falas do chefe do Departamento Econômico do Banco Central, e o inacreditável DISPARATE e DESPROPORÇÃO entre o comunicado em fevereiro e o de maio.

Primeira observação: de janeiro a abril, os juros cresceram 2 BILHÕES E 300 MILHÕES, M-E-N-S-A-L-M-E-N-T-E. (Não faço a projeção para o ano, pois o próprio Meirelles já disse, e a palavra dele é como a Bíblia, que “até o fim do ano, os juros serão aumentados uma ou duas vezes”. Provavelmente não pode garantir, é fácil compreender, é ano eleitoral.

Segunda observação; o governo PAGOU 14 BILHÕES E 500 MILHÕES, mas conseguiu ECONOMIZAR mais de 19 BILHÕES. Fez mágica? Cortou drasticamente? Por favor, cortou em quê? Teria feito o mesmo esforço para ECONOMIZAR, se fosse para investir em todas as carências nacionais? O governo tão ECONÔMICO, já teve a audácia de pensar (?) em I-N-F-R-A-E-S-T-R-U-T-U-RA?

***

PS – Observação sobre o pagamento (desculpem, AMORTIZAÇÃO) em todo o ano de 2010: 164 BILHÕES E 800 MILHÕES. Reconheço que são números inacreditáveis, sem solução à vista. (Ou a prazo).

PS2 – E para terminar: esses são os números do governo, resolvi adotá-los para não estabelecer debate ou discordância que exigiriam espaço muito maior. Mas não concordo de maneira alguma, com o que manejam arbitrariamente.

PS3 – Não demora, a dívida chegará (se é que já não chegou) a 2 TRILHÕES. Se por determinação divina, os juros recuassem PARA 5 POR CENTO, ainda estaríamos pagando (amortizando) 100 BILHÕES POR ANO. Não era melhor tomar a decisão SALVADORA, AGORA?

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Jesus e sua mensagem














Carlos Antonio Fragoso Guimarães

Texto escrito em 29 de dezembro de 1996

Originalmente publicado no site "O Espiritualismo Ocidental" da extinta GeoCities


Um pouco de Arqueologia...

Em dezembro de 1945, alguns felás (beduínos egípcios) deslocavam-se com seus camelos por perto de um rochedo chamado Jabal al-Tarif, que margeia o rio Nilo, no Alto Egito, não muito longe da moderna cidade de Nag Hammadi. Eles estavam procurando um tipo de fertilizante natural na área, chamado sabaque.
No sopé do Jabal al-Tarif começaram a cavar em torno de uma pedra que caíra no talude, e, sem esperarem, encontraram um jarro de armazenagem com um recepiente selado na parte superior. Um dos felás, chamado Muhammad Ali Samman, quebrou o jarro com uma picareta na esperança de encontrar algo valioso, talvéz um pequeno tesouro. Deve ter ficado um tanto quanto decepcionado ao ver que ao invés de ouro ou algum tipo de objeto de igual valor, no jarro só havia fragmentos de papiros.

Muhammad Ali Samman, sem querer ou se dar conta, havia descoberto treze livros de papiro (códices), a que hoje chamamos de a biblioteca copta de Nag Hammadi, dois anos antes de outra descoberta famosa, a dos Manuscritos do Mar Morto, conjunto de documentos encontrados na Palestina e que haviam pertencido a uma comunidade judáica que professavam uma forma ascética diferente de judaísmo, conhecido como essênios. Porém, apesar destes últimos manuscritos terem tido maior divulgação, serem mais famosos e terem sido avlos de debates, os primeiros possuem, todavia, caráter muito mais revolucionário, em especial por estarem ligados diretamente ao cristianismo.

Além de outras obras valiosas, entre estes papiros estava algo muito interessante: o chamado Evangelho de Tomé, que é uma coletânea de sentenças de Jesus que teriam sido compiladas, segundo a primeira frase deste Evangelho, por Judas Tomé, O Gêmeo (Dydimus, em grego).

Antes desta descoberta excepcional, os estudiosos dos evangelhos já tinham algumas referências dos pais da Igreja referentes a um documento denominado Evangelho de Tomé (ou de Tomás). Porém, o conteúdo deste documento punha em xeque alguns posicionamentos dogmáticos da Igreja. Cirilo de Jerusalém, em suas Catequeses 6.31 afirmava que o Tomé que escreveu este Evangelho não era um seguidor de Jesus, mas um maniqueu - um maniqueísta, portanto, seguidor gnóstico e místico de Mani, mestre herético do século III. Só que, atualmente, é quase consenso de que o texto de Nag Hammadi foi bem escrito antes do movimento maniqueísta ter vindo à lume e, ainda mais, tudo indica que a cópia copta deste evangelho se baseia em um texto ainda mais antigo, provavelmente escrito em grego e/ou aramaico, a língua falada por Cristo. Além dos testemunhos dos chamados padres da Igreja, temos fragmentos de três papiros gregos - encontrados num monte de lixo em Oxirronco, atual Behnesa, no Egito -, publicados em 1897, e que contêm sentenças de Jesus quase idênticas aos encontrados no Evangelho de Tomé de Nag Hammadi, escrito em língua copta. Estes fragmentos de papiros eram, portanto, representantes ou cópias de edições em grego do Evangelho de Tomé.

Ao contrário dos outros evangelhos conhecidos, quer sejam canônicos ou apócrifos, o Evangelho de Tomé não expõe em nada narrativas sobre a vida de Jesus de Nazaré, mas atém-se especificamente às sentenças que teriam sido proferidas por Jesus a seus discípulos. Entre elas, destaco as que se seguem:


Jesus disse: "Se seus líderes vos dizem: 'Vejam, o Reino está no céu', então saibam que os pássaros do céu os precederão, pois já vivem no céu. Se lhes disserem: 'Está no mar, então o peixe os precederá pelo mesmo motivo. Antes, descubram que o Reino está dentro de vocês, e também fora de vocês. Apenas quando vocês se conhecerem, poderão ser conhecidos, e então compreenderão que todos vocês são filhos do Pai vivo. Mas se vocês não se conhecerem a si mesmos, então vocês vivem na pobreza e são a pobreza".


Evangelho de Tomé, logion 3.

Perguntaram-lhe os discípulos: "Quando virá o Reino?" Jesus respondeu: "Não é pelo fato de alguém estar à sua espera que o verá chegar. Nem será possível dizer: Está ali, ou está aqui. O Reino do Pai está espalhado por toda a terra e os homens não o vêem".


Evangelho de Tomé, logion 113

Jesus disse: "Eu sou como a luz que está sobre todos. Eu sou o Todo: o Todo saiu de mim e o Todo retornou a mim. Rachem um pedaço de madeira: lá estou eu; levantem a pedra e me encontrarão ali".

Evangelho de Tomé, logion 77.


Passagens semelhantes a estas, ao menos no conteúdo que expressam, podem ser encontradas nos Evangelhos Canônicos, ou seja, nos Evangelhos reconhecidos pela Igreja, apesar do grande número de manipulações, enxertos e cortes pelos quais estes textos reconhecidamente passaram para se adaptar aos interesses que a Igreja, como instituição, passou a compor desde que Constatino a reconheceu como Instituição Oficial (sobre a questão das traduções e distorções dos textos bíblicos, ver o livro do Professor Severino Celestino, da UFPB, intitulado Analisando as Traduções Bíblicas, Editora Idéia, João Pessoa. O professor Celestino aprendeu grego e hebráico e teve a acessoria de rabinos e exegetas cristãos para apontar as distorções "oficiosas" dos textos ditos sagrados. Ver também o volume I da série Apócrifos - Os proscritos da Bíblia organizado por Maria Helena de Oliveira Tricca, editora Mercuryo, São Paulo).

Podemos encontrar exemplos, como em Lucas 19,20, e que expressam a idéia de Reino de Deus não como um evento ou local espacial ou temporalmente determinado, mas uma conquista do espírito ou mesmo uma tomada de consciência de que, sem que se perceba, o Reino já existe dentro do homem, não sendo extrinsecamente necessário a presença de intermediários institucionais, ou doutores teológicos, que se arvorem na presunção de fazer a ligação entre Deus e o homem, ou a dizer onde está a entrada para um exo-Paraíso que as Igrejas fizeram cada vez mais longe do homem:



Havendo-lhe perguntado os fariseus quando chegaria o Reino de Deus, lhes respondeu Jesus: "- O Reino de Deus vem sem se deixar sentir. E não dirão: '- Vede-o aqui ou ali, porque o Reino de Deus já está dentro de vós' "


É notável a semelhança entre o conteúdo destas sentença de Jesus com a máxima adotada por Sócrates, e que foi emprestada do pórtico do Templo de Apolo, em Delfos: "Homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo". De igual forma, outro grande mestre do espírito humano, Buda, dizia que só o conhecimento de si levava à iluminação, do mesmo modo que Láo-Tsé dizia que apenas o conhecimento da ordem dentro de si levava à compreensão do Tao, do aspecto transcendente que a tudo engloba e vivifica. Da mesma forma, os órficos falavam do processo evolutivo como uma tomada de consciência de que somos deuses por sermos filhos de Deus. Apenas não temos nem a percepção, nem a consciência disto.

Segundo Stephen Mitchell, cujo livro "O Evangelho Segundo Jesus" recomendo, quando Jesus falava do Reino de Deus, ele de fato não estava dizendo ou profetizando um evento que acontecerá de repente e nem uma perfeição fácil e livre de perigos, como interpretaram ao seu bel-prazer alguns doutores da teologia, ou como ainda o fazem alguns líderes de religiões institucionalizadas, retirando a ênfase no presente e pondo-a num futuro sempre mais ou menos distante. Ele estava falando de um estado de espírito que, ao se fazer presente, muda o modo como o homem se comporta com seu semelhante, como fica bem demonstrado em muitas de suas parábolas, como, por exemplo, a da mulher que perde uma moeda e revira a casa inteira em sua busca e, quando a acha, sai a correr chamando os vizinhos e dizendo: alegrem-se comigo, pois achei a moeda que havia perdido. Ela encontrou algo aparentemente muito simples, algo que sempre esteve bem perto dela...

Este estado de espírito pode ser tão simples e poético quanto a revoada de pássaros no céu ou os lírios no campo. Ele não está fora, mas fora e dentro de nós. Tudo está ligado a tudo. O homem é um ser que depende da natureza e de outros homens para sobreviver. Tudo é um e temos de passar por várias etapas para adquirir a consciência disto:"Na casa de meu Pai há muitas moradas". Enfim, o Reino é o reconhecimento no coração de que todos somos filhos de um mesmo Pai, portanto, irmãos e irmãs, cada um refletindo o próprio Deus, portanto, a maior alegria é conviver com Deus que se reflete na presença do irmão. Por isso a crítica de Cristo à hipocrisia dos pretensos Doutores da Lei, que provavam claramente nada compreenderem (no sentido profundo e vivencial) a mensagem do Deus Pai, pois rejubilivam-se em se diferenciar dos "leigos" e determinar bem esta separação pela vida de luxo e opulência, ou ao menos de distinção social, que traz o poder. Eles eram (ou melhor, consideravam-se) o elo de ligação entre Deus e seu povo. Jesus demonstrava a infantilidade desta distinção na prática e de várias formas, em especial durante as refeições, já que ele fazia questão de unir na mesma mesa tanto os sábios e Doutores da Lei, quanto gente simples, publicanos, pecadores e pessoas socialmente consideradas impuras. Ademais, no Sermão da Montanha, Jesus deixa claro que não é necessário se postar de pé, em atitude pretensamente pia, para entrar em contato com Deus, nem se por nos primeiros lugares das sinagogas (e Igrejas, poderíamso dizer hoje). Basta se isolar em seu quato e, fechada a porta, entrar em contato com Deus e Este, que sabe o que se passa no íntimo, dará o necessário ao espírito.

Todos nascemos, porém com grau variável de pessoa para pessoa, com um pouco da percepção feliz deste Reino e a mantemos enquanto a cultura - o meio -, ou melhor, a cultura montada tendo em vista divisões de classe ajuda a retirar de nós a tendência natural à afetividade, corrompendo-nos. "Se vos fizerdes como uma criança, entrarás no Reino dos Céus". Os que se envolvem em demasia com as preocupações materiais têm certa dificuldade em entrar neste estado de espírito, pois são possuídos por suas posses que exigem um esforço considerável para serem mantidas e estão tão encarcerados em seus poderes e em sua fantasia social, que, para eles, é quase impossível desapegarem-se delas e terem a liberdade de SEREM longe do peso de demonstrar APARENTAR O TER.

"Não que seja fácil para qualquer um de nós. " Escreve Stephen Mitchell. "Mas, se precisarmos avivar a memória, sempre poderemos nos sentar ao pé de nossas criancinhas. Elas, como ainda não desenvolveram uma noção muito firme do passado e do futuro, sabem aceitar de peito aberto e com plena confiança a infinita abundância do presente". Para elas, o tempo corre de forma diferente que para o adulto, e isso se dá porque a alma se maravilha com a observação do mundo natural, e não está ainda enclausurada em normas, convenções e imposições que secam a sensilidade dos adultos, ou seja, ainda não comeram do fruto do "conhecimento do bem e do mal" e se mantêm em certo sentido no Jardim do Édem.

Nossa realidade é moldada pelas nossas crenças. Normalmente vemos aquilo que esperamos ver e outras coisas escapam simplesmente ao nosso olhar por não levarmos outras possibilidades em consideração. Se tememos ao relógio, se nos apegamos ao passado e se nos apavoramos com o futuro, nunca poderemos viver o presente. De certa forma, entrar no Reino de Deus significa sentir que existe algo que cuida de nós a cada instante, da mesma forma como alimenta as aves do céu e veste os lírios do campo, com infinito amor. Algo que Jesus chamava de Abba - Papai. Um pai bem diferente do patriarcal e vingativo Deus dos Exércitos do Antigo Testamento, ainda muito presente em algumas das igrejas cristãs atuais. Talvez Abba seja uma maneira carinhosa de Jesus de se referir a um Deus Pai-Mãe... "Qual de vós, se vosso filho vos pedir pão, lhe dará uma serpente, ou um escopião se vos pedir peixe? Pois se vós, que sois imperfeitos sabeis o que dar de bom para vossos filhos, quanto mas vosso Pai, que está nos céus!"

Todos os Mestres da humanidade, em todas as épocas e lugares, sempre apontaram para a necessidade de voltarmos a viver o presente como única realidade concreta da alma no mundo: "Não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois a cada dia basta a sua própria preocupação....", disse Jesus.

As passagens do Evangelho em que Jesus fala de um Reino dos Céus no futuro não podem ser autênticas transcrições do pensamento do Cristo, e sim interpretações de pessoas ainda muito ligadas ao pensamento judáico da época, a não ser, como fala Stephen Mitchell, que Jesus tivesse dupla personalidade, como se fossem torneiras de água quente e fria. O problema é que Jesus usava uma linguagem figurada, mais próxima do imaginário mítico que da razão discursiva, freqüentemente composta por imagens fortes, mais propícias a impressionar a mente simples do povo igualmente simples que o ouvia, fazendo-os refletir seus atos de cada dia. Esta forma de discurso soa esquisita para nós, hoje. Estas palavras, contudo, podiam ser interpretadas de modo tão diferente -e, por isso, apropriadamente - quanto o número de ouvidos que as ouviam.

O que chegou à nós, em formas de textos evangélicos, não são mais do que interpretações sobre os dizeres do Cristo feito por discípulos. Algumas passagens são tão opostas à doce doutrina de amor e compreensão de Jesus que dificilmente não nos deixam de chocar. Estas estão muito impregnadas de um espírito de vingança e de uma agressividade apocalíptica de mesmo aspecto como encontrado nos textos dos profetas do Antigo Testamento, e cabem muito bem aos judeus que vivenciaram os terríveis acontecimentos da Revolta Judáica do ano 66 d. C. que terminaria com a destruição de Jerusalém pelos romanos e com a dispersão dos judeus por todo o mundo. Cristo desejava mudanças sociais sim, e foi sua proposta radical de um socialismo real que lhe custou a vida após sua ação contra os cambistas do Templo, mas mais que mera crítica o que ele queria era que a transformação partisse a partir da mudança íntima das pessoas que encontrasse a intuição, em si, de que todos são filhos de Deus e, portanto, que todas as demais criaturas são irmãos e irmãs que merecem respeito. Estas passagens de um reino externo por vir, muito provavelmente, poderiam ter sido inseridas no Evangelho por discípulos que interpretaram os acontecimentos como um início da materialização do Reino que Jesus pregava, sem atinarem que este Reino é de uma profunidade maior do eles pensavam. Eles viveram estes acontecimentos e tentaram ver neles uma concretização da mudança social que Jesus aspirava a implantar na Terra, ou ainda, por interpretações feitas por discípulos de discípulos.

Já que Jesus não deixou nada escrito, tudo o que dele sabemos é de segunda ou terceira mão, sendo o primeiro evangelho sinótico, o de Marcos, sido escrito provavelmente por volta do ano 60, ainda que baseado - segundo experts - em um texto anterior, chamado de quelle - fonte, em alemão, e que muitos pensam estar contido em grande parte no Evangelho de Tomé. Fora isso, a distância ajudou a acomodar os ensinos de Cristo ao que viviam seus seguidores (veja a Home Page O Cristianismo depois de Jesus).

Estes discípulos ainda estavam cheios da tradição judáica. Passagens que falam do Reino de Deus como algo que virá no futuro existem aos borbotões nos profetas e nos escritos apocalípticos judáicos redigidos sob o jugo romano dos primeiros séculos de nossa era, bem como na maioria dos textos geralmente muito partiarcais e calcados mais na figura mitologizada de Jesus que em sua mensagem, atribuídos a Paulo pela Igreja primitiva. Elas são repletas de uma esperança passional, exclusivista, e, como apontou Nietzsche, de um amargurado ressentimento contra "eles" (os poderosos políticos e econômicos, os ímpios), sem questionar o porquê que leva à existência da divisão de classes e a figura do explorador social. Certamente, a mensagem original acabou por ser reduzida às interpretações mais concordes com a mentalidade média. Mas tudo isso é fruto de uma interpretação intelectual e passional das reformas sociais propostas por Jesus, que, em toda a sua vida, aboliu todo tipo de distinção de castas e de origens, devido à sua consciência de irmandade entre todos. Os discípulos dos discípulos tiveram uma noção apenas intelectual disto e não da vivência do estado de espírito ou da consciência cósmica vivenciada por Jesus. Uma vivência que foi plenamente exemplificada por um Francisco de Assis ou por um Mahatman Gandhi, e que é profundamente revolucionária, na verdade tão revolucionária que seus propositores impreterivelmente são assassinados.

Stephen Mitchell fala, com muita propriedade, que o Reino de Deus "não é algo que irá acontecer, porque não é algo que, temporalmente falando, possa acontecer. Não pode surgir num mundo" como se fosse uma invasão externa - "O meu Reino não é deste mundo" - "é uma condição que não tem plural, mas apenas infinitos singulares. Jesus falava das pessoas 'entrando' no Reino, e que as crianças já estavam nele (...).

Se pararmos de olhar para frente e para trás, foi o que ele nos disse, poderemos nos dedicar a buscar o Reino que está bem debaixo de nosso pés, bem diante de nosso nariz; e, quando o encotrarmos, alimentos, roupas e outras coisas necessárias também nos serão dados, tal como o são às aves e aos lírios. (...) Este reino é como um tesouro enterrado num campo que é nossa alma; é como uma pérola de grande valor; é como voltar para casa. Quando o encontramos, encontramos a nós mesmos, tornamo-nos donos de uma riqueza infinita (...)", é por isto que todos os místicos falam em perderem-se em Deus. "Eu e o Pai somo um", pois nossa personalidade é apenas uma máscara mutável, mas o self, como diria Jung, é a parte mais próxima do divino, em nós. Vivenciando o Deus que há em nós, poderemos reconehcer o Deus que há no outro e, assim, poderemos viver, naturalmente, devido à nosso grau de consciência, a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade.

O verdairo Jesus é o Jesus do Sermão da Montanha, o Jesus entre as crianças, o Jesus que admitia mulheres, publicanos e leprosos entre seus seguidores, um homem que se esvaziou dos desejos mundanos comuns, esvaziou-se de doutrinas e regras - todos os inúteis aparatos intelectuais - e se deixou preencher pela vida, como o demonstram as suas parábolas, onde o reino é o campo, é a festa de núpcias, é a rede lançada ao mar... Porque se desapegou de tudo o que é egóico e passou a sentir o TODO - o Tao, como diria Lao-Tsé -, ele deixou de ser meramente alguém, para ser também todos, todo o mundo: "Tudo isso que fizeres a um destes pequeninos, fareis a mim". Porque admitiu Deus em sí, sua personalidade é como um ímã que atrai a todos. Quanto mais se aproximam dele, mais sentem a pureza de seu coração. Um coração que é como um quarto claro e espaçoso: "Vinde a mim todos vóis que estais aflitos e sobrecarregados, e eu vos aliviarei". As pessoas ou as possibilidades abrem a porta e entram. O quarto recebe a todas o tempo que quiserem, sem impor regras além da do amor. É bem diferente de um coração cheio de pertences, de crenças e de certezas, cujo dono senta-se atrás da porta trancada com uma arma em punho, como o fazem as Igrejas de todas as denominações.

Jesus também reconhecia as verdades espirituais que foram ditas pelos outros Grandes Mestres da humanidade, em todas as épocas. É assim que se explica as grandes similaridades entre seus ensinamentos e os de Buda, por exemplo, que nasceu mais de 500 anos antes de Cristo.

Jesus enfatizava a importância da evolução e da transformação pessoal: "Não te maravilhes de eu ter dito: Necessário vos é nascer de novo (João, 3. 3-7)". Reconhecia a imortalidade da alma: "De fato, Elias há de vir e restabeler todas as coisas. Eu porém vos digo: Elias já veio e fizeram dele o que quiseram! E os discípulos compreenderam que era de João Batista de quem ele falava" (Mateus, 17, 11-13; Marcos, 9, 11-13). Bem, como Elias não voltou numa carruagem celeste ao tempo de Jesus, e como "os discípulos compreenderam que era de João Batista de quem ele lhes falava", Elias e João têm de ser a mesma pessoa... Ora, todos conheciam a história do nascimento de João - aliás, o anjo que aparece a Zacarias diz que o menino "irá adiante do Senhor no espírito e no poder de Elias (Lucas, 1. 17)".

Sendo assim, a única possibilidade real de Elias ter retornado à terra como João era a de que ele reencarnou como João, conhecido como O Batista, primo de Jesus... Esta idéia na reencarnação, conhecida ao tempo e na região de Jesus com o nome confuso de ressurreição (Mateus, 16.13-15), era familiar a inúmeros sistemas filosóficos da era helenística, e é encontrado em Pitágoras, Sócrates e Platão, sendo retomado por Amônio Sacas e por seu discípulo Plotino e, já na era cristã, por Orígenes de Alexandria, um dos pais da Igreja. Esta crença permaneceu mais ou menos atuante durante os primeiros séculos do cristianismo até que os interesses temporais e políticos a tornaram numa crença herética. Cristo também solapou a proibição de Moisés de não invocar os mortos, pois sabemos de seu encontro visível com dois mortos (Mateus, 17. 14-21; Lucas 9. 37-43) - o próprio Moisés, e Elias (João já havia sido degolado a esta época) -, no fenômeno da transfiguração, isso sem falar nas aparições póstumas durante os quarenta dias após a cruxificação, já que Cristo podia aparecer e desaparecer de repente, tanto em Emaús ("então se lhes abriram os olhos, e o reconheceram; mas ele desapareceu da presença deles." Lucas, 24, 31), como em Jerusalém "estando as portas fechadas" ("Ao cair da tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando trancadas as portas da casa onde estavam os discípulos com medo dos judeus, veio Jesus, pôs-se no meio e disselhes: Paz seja convosco! João, 20, 19; "Finalmente apareceu Jesus aos onze, quando estavam em casa..." Marcos, 16,14). Tal fenômeno se explica perfeitamente pelo processo da materialização do nobre e poderoso espírito de Jesus. É interessante notar, nesse ponto, o comportamento de algumas seitas de base fundamentalista que aceitam tudo ao pé da letra que está escrito na Bíblia mas, quando chegam nestas partes dos Evangelhos, INTERPRETAM o que está escrito da forma que mais lhes convenha para negar a realidade destes fatos, isso quando não invocam o suposto ser que acaba por se tranformar em seu maior aliado em questões que os embaraçam, ou seja, o "demônio", para dizer que estão errados os outros, os que aceitam a reencarnação ou a vida após a morte e que estão possuidos do espírito do mal, e não eles, detentores de todo o saber sobre o absoluto.... "Ai de vós, doutores da lei..." pois estão plenos de orgulho, e são como "Cegos a guiar outros cegos".

Enfim, ainda citando Mitchell, Jesus foi o maior exemplo de quão longe pode o homem chegar. Ele soube viver plenamente entre os dois mundos: o material e o espiritual. Soube dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Ele foi uma árvore. Como fala Mitchell, a árvore não tenta arrancar da terra as suas raízes e plantar-se no céu, nem tampouco estende suas folhas para baixo, junto à lama. Ela precisa tanto do solo quanto da luz, e sabe a direção de cada coisa. Exatamente porque enterra as suas raízes na terra escura, é que pode sutentar suas folhas no alto para receber a luz do sol... É pena que Jesus de Nazaré seja frequentemente incompreentendido pelos Cristãos.


Bibliografia sugerida

Da Silva, Severino Celestino. "Analisando as Traduções Bíblicas", editora Idéia, João Pessoa, 1999.
Mateus, Marcos, Lucas e João. "O Novo Testamento : Os 4 Evangelhos", diversas editoras.
Meyer, Marvin. "O Evangelho de Tomé". Ed. Imago, Coleção Bereshit, Rio de Janeiro, 1993.
Miranda, Hermínio Correia. "O Evangelho de Tomé - Texto e Contexto". Ed. Arte e Cultura, Niterói, 1992.
Miranda, Hermínio Correia. "O Evangelho Gnóstico de Tomé". Publicações Lachatre, Niterói, 1995.
Mitchell, Stephen. "O Evangelho Segundo Jesus". Ed. Imago, Coleção Bereshit, Rio de Janeiro, 1994.
Benítez, J.J. "Operação Cavalo de Tróia" Editora Mercuryo, São Paulo, 1988.
Leloup, Jean-Yves. "O Evangelho de Tomé". Editora Vozes, Petrópolis, 1998.
Tricca, Maria Helena de Oliveira (Org.) "Apócrifos - Os Proscritos da Bíblia". Editora Mercuryo, São Paulo, 1989.