André Luiz Abreu de Souza, o André Constantine, é um ativista popular do “Favela Não Se Cala” e do “Movimento Nacional das Favelas e Periferias”.
Hildegard Angel é jornalista. Trabalhou também como atriz no teatro, cinema e televisão nas décadas de 1960 e 70. Ficou conhecida nacionalmente também como colunista social e de televisão nos jornais O Globo (décadas de 80 e 90) e Jornal do Brasil (2003 a 2010).
"O serviço de informações nosso é uma vergonha! Por isso, vou interferir!", "Sistemas de informações: o meu particular funciona!"- Jair Bolsonaro, o falso Messias aos berros na reunião ministerial do dia 22 de abril de 2020, ladeado pelos militares Walter Braga Netto e Hamilton Mourão
Jair Bolsonaro admitiu, na fatídica reunião ministerial de abril de 2020, que tinha um “sistema de informação particular”, paralelo à Agência Brasileira de Inteligência (Abin), e que iria interferir nas pastas do governo federal e nos sistemas de informação, inteligência e segurança, para obter benefícios relacionados ao governo e também a interesses próprios e de familiares.
A Polícia Federal investiga o uso pelo governo de Jair Bolsonaro de sistemas de monitoramento, incluindo pela Abin, então comandada por Alexandre Ramagem, um dos alvos da Operação deflagrada nesta quinta-feira.
“Eu não posso ser surpreendido com notícias. Eu tenho a PF que não me dá informações. Eu tenho as inteligências das Forças Armadas que não tenho [delas] informações. A Abin, tem seus problemas, mas tenho algumas informações. Só não tenho mais porque tá faltando, realmente, temos problemas, aparelhamento, etc. Mas a gente não pode viver sem informação”, introduzia o assunto, quando reuniu toda a sua equipe ministerial para tratar de assuntos de governo.
Bolsonaro ainda comparou obter informações das estruturas oficiais com “ouvir o filho atrás da porta“: “Quem que é que nunca ficou atrás da porta ouvindo o que seu filho ou sua filha está comentando. Tem que ver, porque depois, depois ela engravida, não adianta falar com ela mais, tem que ver antes. Tem que ver antes. Depois que o moleque encheu os c****s de droga, não adianta mais falar com ele, já era. E informação é assim.”
Em outro momento daquela reunião, após citar interesses comerciais com outros países, como China e Estados Unidos, ao criticar novamente não receber informações estratégicas dos órgãos, afirmou efusivamente, batendo com as mãos na mesa, que irá “interferir e ponto final“, que não se tratava de uma “ameaça, extrapolação da minha parte“, mas que essa interferência seria “uma verdade”.
“E me desculpe, o serviço de informações nosso, todos, é uma vergonha, uma vergonha! Que eu não sou informado! E não dá pra trabalhar assim. Fica difícil. Por isso, vou interferir! E ponto final, pô! Não é ameaça, não é uma extrapolação da minha parte. É uma verdade!“
Aproximadamente 1 hora após esses trechos, o ex-mandatário voltou a falar sobre o tema. Quando disse que o Brasil precisava “dar exemplo” e não mostrar “o que o pessoal pinta por aí”, voltou a criticar os sistemas de inteligência e admitiu ter um sistema de informação “particular”, que seria paralelo ao “oficialmente”, referindo-se à Abin.
“Sistemas de informações, o meu funciona. O meu particular funciona. Os oficialmente, desinforma. E voltando ao tema: prefiro não ter informação do que ser desinformado por sistema de informações que eu tenho”, disse.
Imediatamente após a declaração, enfatizou, novamente, que faria interferências a seu favor e em benefício de familiares, mas desta vez nos sistemas de segurança para proteger a própria família.
Bolsonaro disse que seus familiares estavam sendo perseguidos “o tempo todo”, pela imprensa e ataques: “O tempo todo pra me atingir, mexendo com a minha família. Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro, oficialmente, e não consegui! E isso acabou. Eu não vou esperar f***r a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence a estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final! Não estamos aqui pra brincadeira”, concluía.
"Não há argumento racional, político ou ético que se possa alegar contra o pagamento de impostos por parte de líderes religiosos", diz Marcia Tiburi
A norma que dava isenção fiscal a líderes religiosos foi derrubada pela Receita Federal há alguns dias. A isenção, concedida por Bolsonaro, colocou pastores em guerra contra o governo que, na verdade, não pode fazer nada diferente se quiser colocar a democracia em prática.
Todo cidadão paga impostos, ou seja, também os fiéis das igrejas pagam impostos e os pastores e padres não são diferentes até porque vivem do dinheiro dos fiéis. Não há argumento racional, político ou ético que se possa alegar contra o pagamento de impostos por parte de líderes religiosos que não possa ser usado por qualquer outro cidadão para deixar de pagar os seus próprios impostos.
Para além disso, as igrejas tem assumido sua vocação empresarial, há muito tempo se fala em igrejas de mercado que tem escondido o que de fato fazem que é comercializar a fé, transformando Deus e Jesus em uma mercadoria barata. O que Jesus Cristo chamou de “vendilhões do templo” nunca deixaram de existir, aliás eles se especializaram. Vemos pastores usando caríssimas roupas de marca, comprando carros luxuosos, casas luxuosas, tudo com o dinheiro dos fiéis que, na maioria das vezes, são coagidos ou chantageados a pagar o dízimo e o fazem com muito sacrifício.
Há poucos dias uma pastora, cujo investimento em estética corporal e facial deve ter custado muito dinheiro dos fiéis que pagam atualmente as igrejas com pix, pedia valores relacionados à idade das pessoas, quem tem 18 anos paga 18, quem tem 40 paga 40, e assim por diante. Ela criou o milagre da idade, um golpe de marketing em que a fé é manipulada teopsiquicamente sem vergonha nenhuma. Um pastor, igualmente tatuado e sarado, vendendo-se como “macho”, criou justamente uma igreja para “machos” em que pretende restaurar o que seria o “macho bíblico”.
O pastor inaugura o pós-fundamentalismo estético, pois até onde se pode ler na Bíblia, as indumentárias eram bem diferentes. Com sua “machonaria” ele passa a fazer parte de um nível avançado da performance do ridículo político, tendência maior da política rebaixada à publicidade e, também ela, a mercado. Ou o Brasil assume o Estado Laico, ou não haverá país nenhum.
Nossa laicidade sempre foi frágil. O cristianismo, ao longo da nossa história, foi instrumentalizado para realizar os desejos coloniais e capitalistas.
Foi esta relação distorcida que argumentou a favor da meritocracia para explicar as desigualdades sociais: “se você não tem Terra, Teto ou Trabalho é porque não está se esforçando o suficiente”. Esforça-te e Deus proverá!”.
E eles pedriam um Rei-Instrumentalização entre religião e política
por Romi Marcia Bencke, pastora da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, secretária Geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil
“Este será o direito do rei que reinará sobre vós. Ele convocará os vossos filhos e os encarregará de seus carros de guerra e de sua cavalaria…e os fará lavrar a terra dele e ceifar a sua seara, fabricar as suas armas de guerra e as peças de seus carros….Tomará os vossos campos, as vossas vinhas, os vossos melhores olivais…Exigirá o dízimo dos vossos rebanhos, e vós mesmos vos tornareis seus servos…”
(1 Sm 8.11-17)
A 6ª Semana Social Brasileira (6ª SSB) será realizada em um dos momentos mais complexos e tensos da história recente do Brasil. Os temas estruturantes que serão refletidos durante a 6ª SSB estão colocados em xeque, em especial, a soberania, a economia e a democracia. Estas três dimensões são fundamentais para a alcançarmos os direitos de acesso à Terra, ao Teto e ao Trabalho.
É impossível evitar a pergunta se daqui a alguns meses as profecias e as reivindicações por soberania, democracia e uma economia voltada ao bem comum ainda serão possíveis.
A cada dia cresce a máxima de Mateus 25. 29-30: “Porque a todo o que tem se lhe dará, e terá em abundância; mas ao que não tem, até o que tem será tirado”.
Para o sistema capitalista neoliberal não há possibilidade de democracia e nem soberania ou autodeterminação dos povos.
O final do século XX e o século XXI tem nos ensinado que o neoliberalismo sugou a essência de muitas das elaborações civilizatórias da humanidade, entre elas, da democracia e da própria religião.
A tensão entre Estado e poder religioso não é novidade. Na tradição judaico-cristã, esta tensão aparece na história do povo hebreu quando reivindicou a mudança do sistema tribal para o reinado.
Os versículos 11 e 17 de I Sm 8, são bastante explícitos em relação às consequências desta opção: escravização, perda da liberdade, filhos absorvidos para a guerra, altos impostos e desigualdade. A relação instrumentalizada entre religião e política será sempre uma relação que distorce o sentido da fé e que transmuta a benevolência que emana da fé religiosa em um poder nada benevolente. O que fundamenta esta instrumentalização é o poder pelo poder. É uma aliança idolatra, porque se coloca como poder absoluto e legítimo para dominar a vida das pessoas. Esta relação instrumentalizada não autoriza a divergência, nem a diversidade e, muito menos, as profecias.
Nossa laicidade sempre foi frágil. O cristianismo, ao longo da nossa história, foi instrumentalizado para realizar os desejos coloniais e capitalistas. Foi esta relação distorcida que argumentou a favor da meritocracia para explicar as desigualdades sociais: “se você não tem Terra, Teto ou Trabalho é porque não está se esforçando o suficiente”. Esforça-te e Deus proverá!”.
Nos últimos anos, a relação entre religião e política tornou-se mais complexa. O que temos hoje no Brasil é uma “teopolítica neocolonial” (LIONÇO, 2019), que reivindica o direito à grilagem de terras, o direito à conversão dos povos indígenas e à exploração de garimpos. O fundamentalismo religioso tornou-se política de Estado.
É a instrumentalização da religião pelo poder político que legitima e justifica a morte necessária de alguns para que outros concentrem cada vez mais riquezas e poder. Esta instrumentalização é a necropolítica em forma de homilia e liturgia.
A 6ª Semana Social Brasileira tem como principal inspiração e fundamentação a fé em Jesus Cristo. Apesar de ser um espaço plural, que reúne, a partir desta fé, pessoas de diferentes tradições religiosas e pessoas não religiosas é a partir da fé que nos encontramos para fortalecer a unidade e o comprometimento com a luta por justiça, materializada na divisão radical das riquezas, na justiça socioambiental, na radicalidade da unidade na diversidade.
Na 6ª Semana Social Brasileira afirmamos a dimensão política da fé por confrontar relações de poder e exclusão. No entanto, é uma fé política não instrumentalizada, porque não tutela os movimentos sociais para impor uma vontade e uma verdade absolutas. Não é instrumentalizada porque há espaço para a diversidade de opiniões e a abertura para os questionamentos e críticas necessárias.
Um desafio é compreender que a resposta religiosa jamais pode ser a única e nem a última resposta. Não somos portadores e portadoras da verdade e nem de salvação. Nossa participação política deveria alicerçar-se na autocrítica e na consciência de que sempre que a fé religiosa se transforma na verdade última, utilizando-se de recursos e poderes humanos, ela se torna instrumento de opressão e não libertação.
Perguntas:
Quais os desafios a serem enfrentados para libertar a fé religiosa do jugo do capitalismo?
A experiência religiosa pode ser um caminho para o aprofundamento da democracia, da transformação da economia de mercado para uma economia distributiva e para a soberania dos povos. No entanto, quais os cuidados necessários para que a experiência religiosa não se transforme em instrumento de opressão?
Referências: LIONÇO, Tatiana. A Tecnologia da Crueldade na Teopolitica Neocolonial Bolsonarista. In. https://www.justificando.com/2020/04/17/a-tecnologia-da-crueldade-na-teopolitica-neocolonial-bolsonarista/. Acesso em 20/04/2020. STRECK, Wolfgang. Tempo Comprado. Conjuntura Actual Ed. Coimbra, 2013. Livro eletrônico.
Romi Marcia Bencke, é pastora da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, secretária Geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil. Fonte do Texto: CNBB
Afirmo que o sonho é que haja um “avivamento” religioso que leve uma enxurrada de gente para os templos evangélicos. Não reside entre os teólogos do movimento qualquer desejo de que valores cristãos influenciem a cultura brasileira. Eles anelam tão somente que o subgrupo, descendente distante dos protestantes, prevaleça. A eles não interessa que haja um veloz crescimento numérico entre católicos romanos; que ortodoxos sírios, russos, armênios ou gregos se alastrem. Para “ser do Senhor Jesus”, o Brasil tem que virar “crente”, com a cara dos evangélicos. (acabo de bater três vezes na madeira).
Começo este texto com uns 15 anos de atraso. Eu explico. Nos tempos em que outdoors eram permitidos em São Paulo, alguém pagou uma fortuna para espalhar vários deles em avenidas da cidade com a mensagem: “São Paulo é do Senhor Jesus. Povo de Deus, declare isso”.
Rumino o recado desde então. Represei qualquer reação à bobagem estampada publicamente; hoje, por algum motivo, abriu-se uma fresta em uma comporta de minha alma. Preciso escrever sobre o meu pavor de ver o Brasil tornar-se evangélico. Antes explico: eu gostaria de ver o Brasil permeado com a elegância, solidariedade, inclusão e compaixão do Evangelho. Mas a mensagem subliminar dos outdoors, para quem conhece a cultura do movimento evangélico, é outra. Os evangélicos sonham com o dia em que cidade, estado e país se convertam em massa, e a terra dos tupiniquins tenha a cara de suas denominações.
Afirmo que o sonho é que haja um “avivamento” religioso que leve uma enxurrada de gente para os templos evangélicos. Não reside entre os teólogos do movimento qualquer desejo de que valores cristãos influenciem a cultura brasileira. Eles anelam tão somente que o subgrupo, descendente distante dos protestantes, prevaleça. A eles não interessa que haja um veloz crescimento numérico entre católicos romanos; que ortodoxos sírios, russos, armênios ou gregos se alastrem. Para “ser do Senhor Jesus”, o Brasil tem que virar “crente”, com a cara dos evangélicos. (acabo de bater três vezes na madeira).
Avanços numéricos de evangélicos em algumas áreas já dão uma boa ideia de como seria desastroso se acontecesse a tal levedação radical do Brasil.
Imagino uma Genebra calvinista brasileira e tremo. Sei de grupos que anseiam por um puritanismo não inglês, mas moreno. Caso acontecesse, como os novos puritanos tratariam Ney Matogrosso, Caetano Veloso, Maria Gadu? Respondo: seriam execrados como diabólicos, devassos e pervertedores dos bons costumes. Não gosto nem de pensar no destino de poesias sensuais como “Carinhoso” do Pixinguinha ou “Tatuagem” do Chico. Um Brasil evangélico empobreceria, já que sobrariam as péssimas poesias do cancioneiro gospel. As rádios tocariam sem parar músicas horrorosas como “Vou buscar o que é meu”, “Rompendo em Fé”.
Uma história minimamente parecida com a dos puritanos calvinistas provocaria, estou certo, um cerco aos boêmios. Novos Torquemadas seriam implacáveis e perderíamos todo o acervo do Vinicius de Moraes. Quem, entre puritanos, carimbaria a poesia de um ateu como Carlos Drummond de Andrade?
Como ficaria a Universidade em um Brasil dominado por evangélicos? Os chanceleres denominacionais cresceriam, como verdadeiros fiscais, para que se desqualificasse Charles Darwin como “alucinado inimigo da fé”. Facilmente se restabeleceria o criacionismo como disciplina obrigatória em faculdades de medicina, biologia, veterinária. Nietzsche jazeria na categoria dos hereges loucos. Derridá nunca teria uma tradução para o português. O que dizer de rebeldes como Mozart, Gauguin, Michelangelo, Picasso? No máximo, seriam pesquisados como desajustados. Ganhariam rótulos para serem desmerecidos a priori como loucos, pederastas, hereges.
Um Brasil evangélico não teria folclore. Acabaria o Bumba-meu-boi, o Frevo, o Vatapá. As churrascarias não seriam barulhentas. A alegria do futebol morreria; alguma lei proibiria ir ao estádio ou ligar televisão no domingo. E o racha, a famosa pelada de várzea, aconteceria quando? Haveria multa ou surra para palavrão?
Um Brasil evangélico significaria que o fisiologismo político prevaleceu. Basta uma espiada no histórico de Suas Excelências da bancada evangélica nas Câmaras, Assembleias e Gabinetes para se apavorar. Se, ainda minoria, a bancada evangélica na Câmara Federal é campeã em faltas e em processos no STF, imagina dominando o parlamento.
Um Brasil evangélico significaria o triunfo do “american way of life”, já que muito do que se entende por espiritualidade e moralidade não passa de cópia malfeita da cultura estadunidense. Obcecados em implementar os “valores da família”, tão caros ao partido republicano dos Estados Unidos, recrudesceria a teologia de causa-e-efeito, cármica, do “quem planta, colhe”. Vingaria o sucesso como aferidor da bênção de Deus.
Um Brasil evangélico acirraria o preconceito contra a Igreja Católica. Uma nova elite religiosa (os ungidos) destilaria maldição contra os “inimigos da fé”, os “idólatras”, os “hereges”, com mais perversidade do que aiatolás iranianos. Ficaria mais fácil falar de inferno e mandar para lá todo mundo que rejeitasse algumas lógicas tidas como ortodoxas.
Cada vez que um evangélico critica a Rede Globo eu me flagro perguntando: Como seria uma emissora liderada por evangélicos? Adianto: insípida, brega, chata, horrorosa, irritante.
Prefiro, sem pestanejar, os textos do Gabriel Garcia Márquez, do Mia Couto, do Victor Hugo, do Fernando Moraes, do João Ubaldo Ribeiro, do Jorge Amado, a qualquer livro da série “Deixados para Trás” do fundamentalista de direita, Tim LaHaye. O demagogo Max Lucado (que abençoou a decisão de Bush bombardear o Iraque) não calça o chinelo de Mário Benedetti.
Toda a teocracia um dia se tornará totalitária. Toda a tentativa de homogeneizar a cultura precisa se valer de obscurantismo. Todo o esforço de higienizar os costumes é moralista e hipócrita.
O projeto cristão visa preparar para a vida. Jesus jamais pretendeu anular os costumes de povos não-judeus. Daí ele celebrar a fé em um centurião, adorador no paganismo romano, como especial e digna de elogio. Cristo afirmou que, entre criteriosos fariseus, ninguém tinha uma espiritualidade tão única e bela como daquele soldado que se preocupou com o escravo.
Levar a Boa Notícia – Evangelho – não significa exportar cultura, criar dialeto ou forçar critérios morais. Na evangelização, fica implícito que todos podem continuar a costurar, compor, escrever, brincar, encenar, como sempre fizeram. O evangelho convoca à pratica da justiça; cria meios de solidariedade; procura gestar homens e mulheres distintos; imprime em pessoas o mesmo espírito que moveu Jesus a praticar o bem.
Há estudos sociológicos que apontam estagnação quando o movimento evangélico chegar a 35% da população brasileira. Esperemos que sim. Caso alcançasse a maioria, com os anseios totalitários e teocráticos que já demonstra, o movimento desenvolveria mecanismos para coibir a liberdade. Acontece que Deus não rivaliza a liberdade humana, mas é seu maior incentivador.
Neste MyNews Entrevista, o Pastor Henrique Vieira fala com o jornalista político João Bosco Rabello sobre a medida da gestão de Jair Bolsonaro que foi suspensa pela Receita Federal na quarta-feira, 17. A medida garantia garantia aos pastores o status de contribuinte individual e, na prática, dava às igrejas argumentos para contestar a cobrança de dívidas previdenciárias sobre as prebendas. A decisão gerou fortes reações da Bancada Evangélica do Congresso. Dois dias depois, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o governo criou um grupo de trabalho para discutir a isenção tributária sobre a remuneração de pastores e declarou que houve uma "politização indevida" do tema.
Nesta entrevista ao Canal MyNews, o deputado federal Pastor Henrique Viera comenta o caso, fala sobre comunidades voluntárias e, principalmente, sobre pessoas que estabelecem uma relação de emprego no trabalho para as igrejas e que não têm o reconhecimento através de garantia dos direitos, mas que são exploradas para reduzir custos: "é o capitalismo e a divisão de classes dentro das igrejas, com uma elite religiosa não querendo reconhecer"
Em entrevista com Jerri Almeida, autor do livro A sociedade da esperança - diálogos espíritas com o mundo atual - que fará parte do Clube do Livro da Editora Comenius, vamos discutir as perspectivas para mudança do mundo.
Gilmar Mendes e o então governador do Ceará, Camilo Santana, hoje ministro da Educação, foram espionados. Alexandre de Moraes também já revelou que tinha seus 'passos monitorados'
247 - Integrantes da Polícia Federal envolvidos na operação desta quinta-feira (25) e ouvidos por Daniela Lima, do g1, foram informados de que o aparato da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) foi utilizado para monitorar e investigar ilegalmente até governadores e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) durante o governo Jair Bolsonaro (PL). As suspeitas recaem sobre o então diretor da Abin, o hoje deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), que é alvo da operação nesta quinta.
A Abin teria investido em um monitoramento ilegal do ministro Gilmar Mendes e do ex-governador do Ceará, Camilo Santana (PT), atualmente ministro da Educação no governo de Lula (PT). A operação desta quinta, denominada "Vigilância Aproximada", representa um desdobramento da "Primeira Milha", iniciada em outubro de 2023 para investigar o suposto uso criminoso da ferramenta "FirstMile". >>> 'Abin monitorava meus passos', diz Alexandre de Moraes, alvo dos golpistas de 8 de janeiro (vídeo)
Os investigados, que invadiam clandestinamente a rede de telefonia do país para monitorar autoridades públicas e outras pessoas, podem responder pelos crimes de invasão de dispositivo informático alheio, organização criminosa e interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei.
22/01/24 - HOJE O BRASIL TEVE BOA NOTÍCIA: UM PROJETO DE REINDUSTRIALIZAÇÃO COMEÇA A SAIR DO PAPEL. ENQUANTO ISSO, O DESESPERO DO MUNDO PARALELO DO CRIME ESTÁ CADA VEZ MAIS EVIDENTE.
Em editorial, o jornal afirma que nem mesmo o fato de o mundo estar investindo em reindustrialização justifica que o Brasil faça o mesmo
247 – O jornal O Globo, que já havia se posicionado contra a retomada das obras da Refinaria Abreu e Lima, voltou a se colocar contra a retomada do desenvolvimento econômico no Brasil. Em editorial publicado nesta terça-feira, o jornal ataca a política industrial lançada pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e diz que nem mesmo o fato de o mundo estar investindo em reindustrialização justifica que o Brasil faça o mesmo.
"O governo abriu ontem mais um capítulo na longa história das políticas industriais brasileiras. Desta vez, o plano se chama Nova Indústria Brasil e prevê financiamentos da ordem de R$ 300 bilhões até 2026, a maior parte do BNDES. É verdade que o mundo tem sido palco de uma nova onda de ações governamentais para reavivar a indústria. Mas o pretexto da 'onda global' não necessariamente justifica as medidas", escreveu o editorialista.
Em outro trecho, o jornal também fez um ataque direto ao Partido dos Trabalhadores. "Mas o histórico dos governos como investidor — não apenas, mas especialmente, os petistas — recomenda ceticismo. Quando postas em prática, políticas industriais têm se tornado meios recorrentes de favorecer setores politicamente interessantes (indústria automotiva ou petrolífera) e obsessões desenvolvimentistas (indústria naval ou a produção de semicondutores nacionais)", escreveu.
21/01/24 - BOLSONARO PARECE QUERER MILAGRES. HOJE RESSUSCITOU O "PADRE KELMON EM UMA PUBLICAÇÃO. Desespero é contagiante na direita. Mas nos provoca risos. Há locais para acalmar os corações: Buenos Aires é logo alí!
Retomo essa coluna, que tive de parar por causa de um tratamento de câncer, mas reavivo sua proposta de maneira mais ampla. Antes, ela se chamava Espiritismo progressista, agora: Conexões – espiritualidade, política e educação. Não deixarei de trazer a voz do espiritismo kardecista, mas estabeleço um diálogo com outras formas de espiritualidade, caminhando ao mesmo tempo nos temas políticos e na militância pela mudança na educação, luta urgente e tão menosprezada.
A ideia de conexões entre esses domínios citados já deve de início ser debatida aqui, dentro das circunstâncias históricas em que estamos mergulhados.
Estamos sempre ameaçados pela extrema direita e isso se mostra em todos os países – por esses dias, vimos a impressionante manifestação na Itália, com homens vestidos de preto (como na época do Duce), fazendo a saudação fascista e gritando palavras de ordem. Aqui mesmo no Brasil, tivemos a troca de governo, saindo de uma extrema direita raivosa e esdrúxula, para um governo de centro-esquerda, que é o do Lula, mas a ameaça de nova investida de uma direita, inclusive militarista, nunca se afasta. Ainda mais, considerando-se que o Congresso Nacional é predominantemente à direita e a elite brasileira então, nem se diga. Veja-se também a tragédia em que se enfiou a Argentina. Como diria Bertolt Brecht: “a cadela do fascismo está sempre no cio”.
Ora, análises lúcidas, históricas, científicas sobre a cooptação das massas pelas ideologias de extrema direita não faltam. Recomendo aqui o excelente livro Crítica do Fascismo de Alysson Leandro Mascaro (Editora Boitempo), que faz um balanço de todas essas leituras críticas, desde a liberal até a marxista, com ênfase na solidez da crítica marxista. Esta mostra que o fascismo é uma das fases do capitalismo, que sempre e periodicamente desagua em ideologia extrema para defender a continuidade do sistema.
O que me parece, porém, é que deveríamos trazer a questão da religião para o debate. No Brasil, se quisermos despertar a consciência das massas para uma visão crítica da realidade, para que não sejam manipuladas pelas lideranças abusivas e pela mídia desonesta, teremos que dialogar com um povo que está refém do evangelismo neopentecostal – cuja instalação e propagação entre nós faz claramente parte de um projeto político norte-americano. Aliás, um projeto muito bem-sucedido. A teologia da prosperidade, a ética do trabalho submisso e acrítico, o conservadorismo dos costumes, tudo isso constitui uma cartilha que serve como uma luva ao neoliberalismo. Ao mesmo tempo, não podemos negar que há uma necessária sensação de pertencimento que a população experimenta nas igrejas, onde tem uma comunidade de apoio, possuindo um protagonismo maior em termos de participação social.
Assim, faz mal a esquerda de não dialogar com essa gente, não ter estratégias de aproximação em ações educativas. A esquerda que se faz agressivamente crítica de qualquer forma de religiosidade acaba por criar um abismo em relação ao povo – e o povo brasileiro é profundamente religioso.
Tomei conhecimento há pouco tempo que o MST (Movimento Sem Terra), uma das organizações mais eficazes de autogestão, incluindo projetos de educação e publicações, além de uma impressionante produção de alimentos orgânicos, possui um aspecto de espiritualidade, ainda que fincada numa comunhão social, que se chama a mística do MST.
Outros exemplos que temos, nesse sentido, são personalidades que conseguem dialogar com o povo, dentro de suas bases religiosas, mas trazem um viés de denúncia social e ativismo político, como é o caso do Padre Julio Lancellotti, tão perseguido e tão apoiado ao mesmo tempo, e do Pastor Henrique Vieira, atualmente deputado federal.
No caso dos espíritas progressistas, em movimentos que tomaram mais força nos últimos anos, em combate ao bolsonarismo, há uma tendência a deixar a espiritualidade de lado (com as práticas mediúnicas próprias do espiritismo kardecista) para ficar apenas com o debate de ideias políticas.
Seja por uma real convicção, de que compartilho, que a dimensão espiritual do ser humano não pode ser deixada de lado, porque ela existe e está arraigada no afeto das massas; ou seja por inteligente estratégia de manter um diálogo aberto e respeitoso com elas, não podemos abdicar de algum tipo de religiosidade em nossa ação de transformação social, embora com todas as críticas possíveis aos abusos e aos fundamentalismos.
No caso de quem se diz cristão – o que inclui católicos, protestantes e a maioria dos espíritas (há os espíritas laicos que não se consideram cristãos, mas isso não os impede de admirar Jesus e concordar com suas propostas éticas), – fica fácil fazer essa ponte, se houver um real entendimento da mensagem do Cristo: um mestre que pregou a fraternidade, a igualdade, que desafiou os poderes religiosos e políticos estabelecidos e morreu na cruz, condenado pelos fariseus (poder religioso) e pelos romanos (poder político). Uma interpretação menos salvacionista e mais política do Reino anunciado por ele (como faz Frei Betto no livro extraordinário Jesus Militante), nos leva a essa conexão necessária entre espiritualidade e política.
Dora Incontri – Graduada em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero. Mestre e doutora em História e Filosofia da Educação pela USP (Universidade de São Paulo). Pós-doutora em Filosofia da Educação pela USP. Coordenadora geral da Associação Brasileira de Pedagogia Espírita e do Pampédia Educação. Diretora da Editora Comenius. Coordena a Universidade Livre Pamédia. Mais de trinta livros publicados com o tema de educação, espiritualidade, filosofia e espiritismo, pela Editora Comenius, Ática, Scipione, entre outros.
O sábado 20 de janeiro começou com as redes sociais invadidas pela extrema direita brasileira. Centenas de milhares de posts tentavam pela enésima vez atacar o padre Júlio Lancellotti. Quem achava que a artilharia pesada contra o padre que dá comida aos mais pobres nas ruas paulistanas havia acabado, pode ter se surpreendido. O catalisador da mais nova explosão direitista nas redes foi uma "reportagem", se é que podemos dizer assim, da "revista", digamos assim, da extrema direita chamada "Oeste". Confira o minidocumentário de 10min
QUEM ESTÁ CURTINDO FÉRIAS NUNCA ESPERA TER A VISITA DA POLÍCIA! Mas isso está acontecendo e tirando o sono de muita gente. Qual a alternativa para os desesperados? O Portal do José apresenta algumas opções! Malafaia está tendo novos pesadelos. A PGR respondeu uma Representação que fiz contra o criminoso que ocupou a Presidência e usou aeronaves para fugir do Brasil. Vamos ver.
O QUE PARECIA UMA OPERAÇÃO CORRIQUEIRA ESTÁ SE TRANSFORMANDO EM UMA AÇÃO CAUSADORA DE DESESPERO EM CADEIA. ( SEM TROCADILHOS)
A FILA PARECE QUE GANHARÁ MAIS TRAÇÃO.
MILEI É UM PALHAÇO OU PSICOPATA? NÃO INTERESSA SABER. O IMPORTANTE É QUEM ESTÁ POR TRÁS DA CRIATURA.
No Expresso com Manu desta quinta, Manuela d’Ávila e Amara Moira comentam a decisão da Receita Federal que suspende a isenção fiscal que Bolsonaro deu a igrejas, e falam sobre o discurso de Milei no Fórum Econômico em Davos.
O Expresso com Manu é transmitido de segunda a sexta, às 8h, com Manuela d'Ávila e seus convidados que te esperam com um cafezinho e um debate inédito, no canal do Opera Mundi!
17/01/24 - NOTÍCIAS INTERESSANTES HOJE. LEÃO MORDE PASTORES DE BOLSONARO. Já era hora. Quem sorriu com o mito não foram os seus eleitores pobres.
Sigamos.
O Jornalista Chico Pinheiro abriu o programa ICL Notícias com editorial abordando a absurda proposta de CPI contra o Padre Julio Lancellotti e cobrando uma Comissão Parlamentar de Inquérito das Igrejas Evangélicas e uma investigação contra os bispos e pastores que fazem uso político da fé e religião evangélica. Pastores Edir Macedo, Valdemiro Santiago, RR Soares, Estevam Hernandes, Silas Malafaia estão entre os mais ricos do Brasil. Confira.
Renunciando por vezes - pela falta de oportunidade de desenvolver-se plenamente enquanto ser pensante e autônomo - a própria liberdade, o fanático fundamentalista se sente ou se faz um "instrumento" ou acredita se tornar um instrumento nas mãos daquele a quem ele percebe como autoridade, ainda que líder de comunidade religiosa que contorce os dizeres de suas escrituras no modo mais politicamente conveniente aos seus interesses.
Carlos Antonio Fragoso Guimarães
Em nosso tempo instrumental de tecnologia avançada, mas de anulação do humano, do cooperativo em prol do competitivo, do consumismo em detrimento do construtivo e da dessacralização das relações humanas e da natureza, a reação fanática e fundamentalista surge como mais um sintoma de patologia social em que o atual capitalismo condiciona a muitos pois retira a possibilidade de maturação emocional e intelectual na luta pela sobrevivência em um mundo de crescente agressividade interpessoal.
Pela falta de meios de formação emocional e mental apropriadas, muitas pessoas não conseguem amadurecer o suficiente para construir uma relação pessoal equilibrada com o ideal da divindade e esperam, diante das dores do mundo moderno, uma panaceia que venham tanto a lhes aliviar a dor quanto a valorizá-los, mesmo que simbolicamente, frente aos demais. Renunciando por vezes - pela falta de oportunidade de desenvolver-se plenamente enquanto ser pensante e autônomo - a própria liberdade, o fanático fundamentalista se sente ou se faz um "instrumento" ou acredita se tornar um instrumento nas mãos daquele a quem ele percebe como autoridade, ainda que pretenso líder de comunidade religiosa que contorce os dizeres de suas escrituras no modo mais politicamente conveniente aos seus interesses.
Busca o "missionário" imerso na sua fantasia de ser um escolhido a converter quase à ferro e fogo os não prosélitos de seu culto, ao entregar qualquer possibilidade de pensamento crítico ao líder, o pretenso apoio tocado pelo divino e dententor de uma "verdade" espetaculosamente apresentada que lhe sirva de muleta psicológica, a aparente rocha que esconda suas dúvidas íntimas, incertezas e inseguranças, as quais busca calar ao personalizá-las nos outros.
O fundamentalista, pois, é um escravo que assim se faz consciente ou inconscientemente pela renúncia do pensar autônomo em troca do que ele acha serem ganhos, imediatos (riquezas, sucesso, salvação) ou secundários (sentir-se aceito ou amado por iguais, etc.) pessoais, passando a ser intolerante a todo o pensamento diverso do seu e de sua comunidade por este ser um contraponto perigoso às suas crenças e verdades e assim o fanático se vê como soldado e guerreiro de uma "guerra santa" contra as diferenças que podem questionar suas verdades. Que Deus Pai acharia bom ter filhos que não soubessem discernir o certo do errado, dando a líderes e doutrinas a responsabilidade de decidirem por eles, muitas vezes criando contextos e situações de conflitos com seus outros filhos?
Achando ter o poder e a missão "sagrada" de exorcizar pessoas que ele não aceita por não seguirem sua familiar e muitas vezes reducionista visão de mundo, o fundamentalista está sempre pronto a atacar os outros, acusando-os de serem possuidos pelo "demônio", não percebendo que este demônio muitas vezes habita primariamente em si mesmo e se faz visível nos outros por um fenômeno psicológico chamado de projeção do inconsciente...
E não existe exemplo mais gritante deste fenômeno de projeção e consequente perseguição, coletivamente visto, do que no surrel Encontro da Consciência "Cristã", um evento evangélico que compete agressivamente com um outro mais equilibrado e antigo, chamado Encontro da Nova Consciência, que, ao contrário do dos evangélicos, se caracterizou exatamente pelo encontro ecumênico e diálogo entre correntes de pensamento diferentes, em uma atmosfera de fraternidade e equilíbrio, teólogos, filósofos e representantes de diversas correntes espirituais podiam dialogar fraternalmente com ateus, agnósticos, cientistas e pessoas dos mais diferentes misteres. Pois bem, para a grande maioria dos evangélicos do tal Encontro para a Consciência "Cristã" (na sua maior parte, constituída de pentecostais e neo-pentecostais, havendo, como se sabe, evangélicos melhor esclarecidos, amadurecidos e críticos dos exageros daqueles), todos os participantes do Encontro para a Nova Consciência são dominados pelo diabo e este encontro, então, tem de ser exterminado pelos missionários e esclarecidos evangélicos. Não há diálogo, não há fala, há discursos de perseguição.
Vejamos um exemplo disto neste trecho de "artigo" do Pastor Ridalvo Alves da Silva no site do movimento-seita Consciência "Cristã":
É verdade que o evento emerge dentro do contexto do Nordeste do Brasil, especificamente na cidade de Campina Grande, no momento em que se realizava o VIII Encontro Esotérico intitulado Encontro para a Nova Consciência - Uma Cultura Emergente, como os organizadores a denominaram. Houve nesta conjuntura uma grande preocupação relacionada ao destino da Igreja Cristã Evangélica, pois ninguém havia se levantado até aquele momento para refutar e comparar em nível de reflexão teológica e apologética cristã os ensinos perniciosos que submergia a comunidade campinense como um todo atingindo já naquela época 48 eventos paralelos.
A perplexidade e angústia já haviam chegado ao coração de muitas pessoas reivindicando da Igreja Evangélica de Campina Grande uma tomada de posição firme quanto à invasão esotérica em nossa cidade. A princípio não se sabia como fazer para criar uma estratégia eficaz, não somente para combater os ensinos distorcidos da Nova Era, como também trazer diretrizes seguras para a comunidade quanto aos ensinos de uma Teologia Cristã sadia. Aconteceu somente em fevereiro de 1999 o I Encontro Para a Consciência Cristã quando os alunos do Instituto Teológico Superior de Missões - ITESMI, sob a nossa direção, que dirigíamos pela orientação e urgência do Espírito Santo de Deus, aceitaram o desafio de enfrentar não somente as dificuldades de recursos financeiros, mas também de recursos humanos.
No início houve crítica, falta de compreensão e de ajuda por parte de muitos, porém, não era hora de olhar para as circunstâncias e sim exercer a fé em Deus que opera nas coisas impossíveis. Aí entra a disponibilidade do homem. Por isso, quero destacar a pessoa do pastor Euder Faber Guedes Ferreira, que nos instantes decisivos, acreditou plenamente na visão de Deus, que estava brotando, e largou seu emprego secular para se dedicar integralmente à grande causa prioritária do Reino de Deus. Quero trazer à memória de nossos caros leitores que foi muito difícil para implantarmos o I Encontro Para a Consciência Cristã, no entanto, o milagre aconteceu.
Não obstante, a razão do Encontro Para a Consciência Cristã não somente abrange a cidade de Campina Grande em seu contexto esotérico de evento anual, mas prepara a igreja contra os falsos ensinos que se alastram em nosso território nacional e também em outras regiões do mundo ocidental e oriental. O pluralismo religioso será certamente o maior desafio da Igreja Cristã neste novo milênio. Não temos dúvidas que por trás de tudo isto está o Império da religião ecumênica liderada pelo seu grande mentor, o Anticristo.
Vê-se, pois, o quanto salta aos olhos a construção lógica e o grau de civilidade e de maturidade intelectual dos mentores do tal Encontro da Consciência "Cristã", não apenas na falta de adesão ao mandamento de Cristo de "Amar ao próximo", como na total falta de respeito com quem não partilha de suas idéias, em uma quase paranóia que abarca a proteção de um "mercado religioso" altamente lucrativo, baseado na cobrança de dízimos. Estranho ainda é essa expliticidade em se auto-denomiar de cristãos reais e agirem como egoístas mesquinhos com a "missão" de criticar e mesmo perseguir os demais. Por isso reflete o filósofo, teólogo e sociólogo Frei Betto, sobre os atuais fundamentalistas midiáticos:
"Todo fundamentalista é, a ferro e fogo, um “altruísta”. Está tão convencido de que só ele enxerga a verdade que trata de forçar os demais a aceitar o seu ponto de vista... para o bem deles! Há muitos fundamentalismos em voga, desde o religioso, que confessionaliza a política, ao líder político que se considera revestido de missão divina. Eles geram fanáticos e intolerantes."
Fanáticos intolerantes que se acham no direito de agredir o diferente e que se sentem ofendidos, "perseguidos" se aqueles a quem agridem ousarem criticar seu posicionamento hipócrita. Este comportamento farisáico foi bem discutido pelo psicanalista e professor universitário da UEM, Dr. Raymundo de Lima, quando, eu seu artigo "O Fanatismo Religioso entre outros", destaca alguns de seus sintomas:
O fanático não fala, faz discursos; é portador de discursos prontos cujo efeito é a pregação de fundo religioso ou a inculcação política de idéias que poderá vir a se tornar ato agressivo ou violento, tomado sempre como revelação da "ira de Deus" ou "a inevitável marcha da história" ou, ainda, a suposta "superioridade de uns sobre os demais". Faz discursos e não fala, porque enquanto a fala é assumida pelo sujeito disposto ao exercício do diálogo, da dialética, do discernimento da verdade, os discursos - especialmente odiscurso fanático - fazem sumir os sujeitos para que todos virem meros objetos de um desejo divinizado; servir ao desejo divino e à produção da repetição de algo já pronto, onde o retorno do recalcado do sujeito faz do Eu (ego) um porta-voz de um sistema de crenças moralistas carregado de ódio em relação ao suposto inimigo ou adversário que precisa ser destruído para reinar o Bem.
Os textos sagrados, tomados literalmente, fornecem a sustentação "teórica" do discurso fundamentalista religioso; com ele, o indivíduo acredita, a priori, estar de posse de toda a verdade e por isso não se dá ao trabalho de levantar possíveis dúvidas, como confrontar com outro ponto de vista, ou desvelar outro sentido de interpretação, ou ainda, contextualizá-lo, etc. O fanático tem certezae isso lhe basta. Creio porque é absurdo, já dizia Tertuliano. Certeza para ele é igual a verdade. (Segundo Popper, no campo científico, a certeza nada vale porque é "raramente objetiva: geralmente não passa de um forte sentimento de confiança, ou convicção, embora baseada em conhecimento insuficiente", já a verdade tem estatuto de objetividade, na medida em que "consiste na correspondência aos factos", na possibilidade da discussão racional com sentido de comprovação. (Popper, 1988, p. 48).
O problema da religião não é a paixão "fé", mas a inquestionalidade de seu método. O método de qualquer religião traz uma certezadivulgada em forma de monólogo, jamais de diálogo ou debate de idéias. O pastor, padre, rabino, ou qualquer pregador de rua, vivem o circuito repetitivo do monólogo da pregação; acreditam que "vale tudo" para difundir a "verdade única" que o tocou e o transformou para sempre! O estilo fanático usa e abusa do discurso monológico delirante, declarações, comunicados, que jamais se voltam para escuta ou o diálogo, exercício esse que faria emergir a verdade - não a "certeza".
Psicopatologia do fanatismo
Do ponto de vista psicopatológico, todo fanatismo parece ter relação com a fuga da realidade. A crença cega ou irracional parece loucura quando se manifesta em momentos ou situações específicas, porém se sua inteligência não está afetada, o fanático aparentemente é um sujeito normal. No entanto, torna-se um ser potencialmente explosivo, sobretudo se o fanatismo se combinar com uma inteligência tecnologicamente preparada. Fanático inteligente é um perigo para a civilização. O terrorismo, por exemplo, que atua com a única meta de destruir inimigos aleatórios é realizado por indivíduos fanáticos cuja inteligência é instrumentada apenas para essa finalidade. No terrorismo é uma das expressões do fanatismo combinado com uma inteligência tecnológico, mas totalmente incapaz de exercitá-la por meios mais racionais, políticos e legais. Para o terrorismo sustentado no fanatismo, os inocentes devem pagar pelos inimigos; a destruição deve ser a única linguagem possível e a construção de um novo projeto político-econômico, não está em questão, porque a realidade no seu todo é forcluída.
O fanatismo parece surgir de uma estrutura psicótica. O fato do sujeito se ver como o único que está no lugar de certeza absoluta, de "ter sido escolhido por Deus" para uma missão "x", já constitui sintoma suficiente para muitos psiquiatras diagnosticarem aí uma loucura ou psicose. Mas, seguindo o raciocínio de Freud, vemos que "aquilo que o psicótico paranóico vivencia na própria pele, o parafrênico experiência na pele do outro", ou seja, somos levados a supor que o fanatismo está mais para a parafrenia que para a paranóia. Hitler, antes considerado um paranóico, hoje é mais aceito enquanto parafrênico, pois seus atos indicam sua idéia fixa pela supremacia da raça ariana e a eliminação dos "impuros"; mais ainda, o gozo psíquico do parafrênico não se limita "ser olhado" ou "ser perseguido", tal como acontece com paranóicos, mas sim se desenvolve "uma ação inteligente de perseguição e extermínio de milhares de seres humanos", donde extrai um quantum de gozo sádico. Portanto, deve existir membros de um grupo de fanáticos paranóicos, mas certamente o pior fanático é o determinado pela parafrenia, pois visa de fato destruir em atos calculados "os impuros", "os infiéis", enfim, todos os que não concordam com ele.