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domingo, 22 de setembro de 2013

Papa Francisco dá mostras de consciênca crítica e ataca o neoliberalismo econômico mecanicista


 Papa ataca economia global por venerar "deus do dinheiro"



domingo, 22 de setembro de 2013 14:11 BRT
Papa Francisco reza missa em Cagliari, na Itália. O pontífice fez um de seus mais fortes ataques ao sistema econômico global neste domingo, afirmando que ele não pode mais ter como base um "deus chamado dinheiro", e pediu que os desempregados lutem para obter trabalho. 22/09/2013 REUTERS/Giampiero SpositoFonte: Reuters
  


Por Philip Pullella



CAGLIARI, Sardenha, 22 Set (Reuters) - O papa Francisco fez um de seus mais fortes ataques ao sistema econômico global neste domingo, afirmando que ele não pode mais ter como base um "deus chamado dinheiro", e pediu que os desempregados lutem para obter trabalho.

Francisco, no início de uma viagem à capital da Sardenha, Cagliari, deixou de lado seu texto preparado em uma reunião com desempregados e improvisou por cerca de 20 minutos.


"Eu vejo sofrimento aqui...isso os enfraquece e rouba a esperança", disse ele. "Perdoem-se se usar palavras fortes, mas onde não há trabalho não há dignidade."

Ele descartou seu discurso preparado depois de ouvir Francesco Mattana, um homem casado de 45 anos e pai de três filhos que perdeu sem emprego em uma empresa de energia alternativa há quatro anos.

A multidão de cerca de 20 mil pessoas em uma praça perto do porto da cidade gritou o que Francisco chamou de oração por "trabalho, trabalho, trabalho". Eles gritavam a cada vez que o papa falava dos direitos dos trabalhadores e devastação pessoal causada pelo desemprego.

O papa, que depois celebrou a missa para cerca de 300 mil pessoas do lado de fora da catedral da cidade, disse a eles: "Não queremos esse sistema econômico globalizado que nos faz tão mal. Homens e mulheres têm que estar no centro (de um sistema econômico) como Deus quer, não o dinheiro."
"O mundo passou a idolatrar esse deus chamado dinheiro", disse ele.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

A Grande Mídia e o julgamento do "mensalão": aspectos de uma farsa golpista de pequenas famílias controladoras do "Quarto Poder"


JULGAMENTO DO MENSALÃO

‘Opinião pública’ ou ‘opinião da grande mídia’?

Por Venício A. de Lima em 17/09/2013 na edição 764


Aqueles que ainda acreditam que “a grande mídia é diversa e democrática” ou que “a opinião pública é formada livremente” no nosso país, certamente terão nos editoriais e no “enquadramento” único da cobertura política que tem sido oferecida sobre a aceitação ou não dos “embargos infringentes” da Ação Penal nº 470 pelo Supremo Tribunal Federal, uma oportunidade concreta de reavaliarem realisticamente suas crenças.
Ademais da posição explícita da grande mídia, que atribui a si mesma a expressão da opinião pública nacional [como se esta fosse independente da cobertura que ela oferece], chama a atenção o fato de o “argumento da opinião pública” estar sendo utilizado no próprio julgamento pelos preclaros juízes membros da Corte Suprema que equacionam, sem mais, a opinião editorial e a cobertura política da grande mídia como se constituíssem “a opinião pública”.
Existe literatura de excelente qualidade produzida por pesquisadores brasileiros sobre a questão da opinião pública. Recomendo o recentemente publicado A Corrupção da Opinião Pública, de Juarez Guimarães e Ana Paola Amorim (Boitempo, 2013; ver prefácio aqui).
De qualquer maneira, tendo em vista a recorrente atualidade do tema, retomo argumento do qual tenho me valido ao longo dos anos em livros e artigos, inclusive neste Observatório, qual seja: em momentos-chave da história política brasileira a grande mídia tem atribuído a si mesma o papel de expressão da opinião pública. Os resultados, salvo exceções poucas, têm sido no sentido inverso da democracia.
1964: um exemplo apropriado
O historiador e cientista político Aluysio Castelo de Carvalho no seu importante A Rede da Democracia – O Globo, O Jornal e Jornal do Brasil na queda do governo Goulart (1961-64) (NitPress e Editora da UFF, 2010), ao estudar a Rede da Democracia – cadeia de emissoras de rádio criada em outubro de 1963, comandada pelas rádios Tupi, Globo e Jornal do Brasil e retransmitida por centenas de emissoras em todo o país, fazendo a articulação discursiva para derrubada do governo de João Goulart – mostra como os veículos estudados abandonaram a concepção institucional de representatividade da opinião pública – aquela que se materializa por meio dos partidos, de eleições regulares e de representantes políticos – e recorreram a outra concepção, a publicista, que “ressalta a existência da imprensa como condição para a publicização das diversas opiniões individuais que constituem o público” (ver, a este propósito, neste Observatório, “A imprensa carioca no golpe de Estado“ e “Falta a imprensa carioca no ‘Dossiê-1964’“).
A adoção da concepção publicista faz com que não só a crítica aos partidos políticos e ao Congresso se justifique, como também sustenta a posição de que os jornais são os únicos e legítimos representantes da opinião pública.
A partir da análise de pronunciamentos feitos na Rede da Democracia e de editoriais dos jornais, Carvalho afirma:
“Ocorreu por parte [de O GloboO Jornal e Jornal do Brasil) uma exaltação da própria imprensa como modelo de instituição representativa da opinião pública (...). Os jornais cariocas construíram uma imagem positiva da imprensa, em detrimento da divulgada sobre o Congresso. (...) Os jornais se consideravam o espaço público ideal para a argumentação, em contraposição à retórica dita populista e comunista que teria se expandido no governo Goulart e estaria comprometida com a desestruturação das instituições, sobretudo do Congresso. Os jornais se colocaram na posição de porta-vozes autorizados e representativos de todos os setores sociais comprometidos com uma opinião que preservasse os tradicionais valores da sociedade brasileira ancorados na defesa da liberdade [liberal] e da propriedade privada” (p. 156).
Grande mídia e Justiça
Teria sido a “concepção publicista”, analisada por Carvalho, um fenômeno reduzido à articulação do golpe de 1964 pelos principais jornais cariocas ou essa tem sido uma postura permanente da grande mídia brasileira?
No caso da Ação Penal nº 470, parece que juízes do Supremo Tribunal Federal, também consideram que a opinião da grande mídia teria que ser levada em conta, não apenas por ser a mediadora ou “refletora” da opinião pública, mas por ser a própria opinião pública.
Estão mais atuais do que nunca comentários feitos há muitos anos pelo desembargador aposentado, escritor e político brasileiro José Paulo Bisol sobre o artigo 11º da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Dizia ele:
“O jornalismo brasileiro tem, entre outras paixões, a de participar de investigações, a de investigar ele próprio e, principalmente, a de julgar. (...) Concretamente, a mídia assume um papel de poder policial e judiciário paralelos, mas, enquanto os poderes legítimos estão enclausurados em princípios, diretrizes e normas legitimadas procedimentalmente em mandatos de coerção cada vez mais cuidadosamente controlados (...), a mídia não apenas se arvora ela própria em titular desse controle, mas assume, a seu critério, os próprios mandatos de coerção, e os exerce na mais absoluta permissividade, definindo, depois do fato, a regra moral a ele referida – precisamente ela que adota explicitamente o relativismo ético – e aplicando punições não previstas constitucionalmente e irrecorríveis, destruindo reputações, estabilidades, carreiras e vidas inteiras sem conceder aos acusados um espaço de defesa equivalente ao da acusação, quando concede algum, proclamando, em cima dessa tragédia, o triunfo da liberdade de imprensa. (...) A mídia é, hoje, a mais recorrente violação do artigo 11 da Declaração Universal dos Direitos Humanos” [ver íntegra aqui].
A ver o vídeo abaixo, onde o jornalista Bob Fernandes questiona o poder e papel manipulador da grande mídia nas mãos de seis famílias comprometidas a partir da aula dada por Celso de Mello em seu voto pela aceitação dos embargos infrigentes no caso "mensalão" (a transcrição da análise de Bob Fernandes é exposta abaixo do vídeo):


O ministro Celso de Mello deu uma aula ao desempatar a votação sobre a questão dos embargos infringentes. Aula para quem acompanha o julgamento com sede de justiça e é leigo. Mas, também, aula para seus pares.

Para dentro e para fora do Tribunal, Celso de Mello lembrou que Justiça se faz com o uso da razão, e não com o fígado. Com a bílis. Não se faz Justiça com ódio, ressentimento e frustração. Mesmo que de origem legítima, como se dá no caso da larga impunidade.

A aula foi para bem além do Tribunal, do Direito, e da disputa política. Uma aula para uma sociedade que cobra punição, com razões para tanto, mas que se recusa a reconhecer responsabilidades que são também coletivas.

O ministro falou com a autoridade de quem tem sido implacável na aplicação de penas no julgamento da Ação 470, o chamado "mensalão". E de quem, podem anotar, continuará sendo implacável na sequência do julgamento.

Sem citar a história já vivida pelo mundo, inclusive na maior das guerras do século XX, o ministro advertiu: um tribunal, mesmo sendo uma representação, uma delegação da sociedade, não pode se deixar contaminar pela opinião pública. Muito menos ainda pela opinião publicada.

Até porque depois desse julgamento virão outros. Julgamentos que envolverão políticos e partidos. Alguns dos que hoje acusam, amanhã serão réus. E então, só então, defenderão racionalidade na aplicação da justiça.

No ambiente poluído e amesquinhado da política brasileira, qualquer ação ou opinião que contrarie um lado das arquibancadas provoca fúria. Instiga o ódio e o ressentimento do outro lado.

Política é paixão. Mas Política com grandeza se faz com ideias. Se faz na troca, na capilaridade com a sociedade, e não ouvindo e instigando o que há de pior na sociedade.

Nas últimas eleições, em grande parte do tempo o Brasil deixou de debater seu futuro. Perdeu-se tempo açulando os piores instintos na busca de votos. De maneira geral, ideias cederam espaço a discursos medievais, carregados de rancor e recalque. E isso se espalha.

As redes sociais, a internet, por exemplo, são democráticas na essência. Acolhem, ao menos, os que podem ter acesso. Captam de maneira ampla os sentimentos, entre eles a irritação com a impunidade.

Mas isso não significa que deve prevalecer o que há de pior: a frustração pessoal, o ressentimento como indivíduo transformado em discurso e ação política. Discurso moralizador que não resiste ao espelho. E muito menos à história de partidos e indivíduos.

Por isso, histórico o voto de Celso de Mello. O ministro julgou e seguirá julgando os réus da maneira mais dura que permitir a lei. A lei. Não o ódio, o rancor. Justiça se faz com lei. De psicose quem trata é a psiquiatria, a psicanálise.

Bob Fernandes

Bob Fernandes foi redator-chefe da revista Carta Capital. Foi correspondente da Isto É (em Brasília e nos EUA) e da Veja. Foi repórter da Folha de São Paulo e Jornal do Brasil. É comentarista político da TV Gazeta e da Rádio Metrópole (BA)
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Venício A. de Lima é jornalista e sociólogo, professor titular de Ciência Política e Comunicação da UnB (aposentado), pesquisador do Centro de Estudos Republicanos Brasileiros (Cerbras) da UFMG e autor de Política de Comunicações: um Balanço dos Governos Lula (2003-2010), Editora Publisher Brasil, 2012, entre outros livros




sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Reflexões sobre o Budismo, compaixão, reencarnação e conflitos humanos na novela Jóia Rara



Carlos Antonio Fragoso Guimarães

Já houveram novelas sensíveis e inteligentes na televisão brasileira, embora as mais memoráveis sejam poucas. Exemplo disto foram as novelas de crítica social como Roque Santeiro ou Que Rei Sou Eu? e outras de cunho espiritualista, como as duas versões de A Viagem (Rede Tupi e Globo) e a primeira versão, memorável, de O Profeta (Rede Tupi). A versão da Globo desta última distorceu tanto o enredo original de Ivani Ribeiro quanto a seriedade dos estudos sobre religião, ciência e espiritismo, feitos na produção original da Tupi, de 1977, transformando a versão global num meloso draminha superficial.

Agora, a Rede Globo produz uma novela que, em suas chamadas, promete (ao menos isso) resgatar a seriedade e poesia das acima citadas: dia 16 estréia Jóia Rara, um enredo que se desenvolve em torno do tema espiritualidade (agora na ótica da nobre filosofia budista) e da reencarnação (presente tanto no budismo quanto no espiritismo, e base das pesquisas de Ian Stevenson e do departamento de estudos da conscência da Universidade de Virgínia sobre memória espontâneas de lembranças de vidas anteriores), ligadas em uma trama baseada no conflito humano envolvendo a inveja e competição entre dois meio-irmãos, o idealista Franz Hauser (Bruno Gagliasso) e o ambicioso Manfred Hauser (Carmo Dalla Vecchia), ambos vítimas do egoísmo e ganância do poderoso pai, o capitalista fascista e manipulador Ernest Hauser (José de Abreu), uma espécie de "Mr Burns"  alegórico da vertente fascista da elite nacional, precursor da classe  leitora da Veja e de Olavo de Carvalho, que tem total desprezo por trabalhadores, em especial os politizados e progressistas, e que passará a maior parte do tempo perseguindo desafetos ou quem pareça contradizer suas vontades.

Franz é um rapaz mimado e materialista que, ao vivenciar uma crise grave durante uma escalada nas montanhas do Himalaia, no Nepal. Ao ser resgatado e cuidado por monges budistas, Franz é acompanhado pelo monge Ananda (Nelson Xavier) que se torna seu amigo e o ajuda a reavaliar suas ideias sobre a vida. A amizade dos dois transforma a visão de mundo de Franz, mais sensível e agora mais espiritualizado. A despedida de ambos, algum tempo depois, é triste mas não negativa. Ananda deixa no ar que ele mesmo poderia, em outra vida, estar junto a Franz em sua terra, o Brasil.

De volta à pátría, os irmãos Franz e Manfred começam a se atritar por motivos variados, um dos quais é a ligação de Franz com a jovem Amélia (Bianca Bin), que desagrada ao pai e à amante de Manfred, Sílvia (Nathalia Dill). Da união entre Amélia e Franz nasce Pérola (Mel Maia), provavelmente o espírito de Ananda reencarnado. Ela será o apoio dos pais e o elo que tentará, com idas e vindas, trazer paz à conturbada família.
Independentemente do enredo novelesco, o ponto positivo da novela está em se apresentar à maioria do público brasileiro as características de uma das mais antigas e belas religiões do mundo: o Budismo. Numa época de retorno do fundamentalismo mais agressivo e alienador, como o dos pentecostais evangélicos midiáticos, o conhecimento de uma outra religião que, em sua ênfase à compaixão, à paz e à tolerância, se aproxima do espírito do Cristo, é muito bem vinda.
Veja abaixo nosso texto sobre Buda e o Budismo:

Budismo
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   Buda e o Budismo     
Por Carlos Antonio Fragoso Guimarães
(Prefácio professor Gilmar Dantas)


Prefácio

Hoje em dia existem muitas religiões e doutrinas filosóficas espalhadas pelos quatro cantos do mundo. Muitas delas estão baseadas em princípios realmente sólidos e verdadeiros e que sem dúvida trazem grandes benefícios para a humanidade em geral. Outras no entanto, são meras facções com intuito apenas lucrativo e notório de seus idealizadores . Comumente vemos em noticiários escândalos , guerras e conflitos diversos ligados a esses grupos. A religião sempre exerceu um papel importante na vida dos homens e acho que assim continuara por muito tempo ainda. Por isso é muito importante termos um cuidado na escolha do nosso caminho filosófico e espiritual; para que amanhã ou depois não nos tornemos meros fanáticos donos de uma grande verdade mentirosa. Em todas as boas religiões ou doutrinas existem sempre os pontos favoráveis e desfavoráveis, o importante é termos uma compreensão disso ; ou seja "O caminho do meio", como Buda concluiu em seus estudos. Devemos ter consciência de que nenhuma delas é dona da verdade absoluta. Mesmo porque a verdade dos homens está sempre em constante mutação.
O que ontem era um grande pecado, hoje já não é mais e amanhã pode voltar a ser de novo.
Somente Deus sabe da verdade absoluta e acho que ele nunca contou isso para ninguém. Mas acredito que o homem pode descobrir suas "próprias verdades" através de uma reflexão interior profunda. Muitas vezes o que é bom para uns não é bom para outros e vice-versa, por isso falo em "próprias verdades".
O assunto é bastante complexo e exige anos e anos de estudos filosóficos , religiosos e mesmo científicos ; para que verdadeiramente possamos descobrir essa verdade interior, e conviver de forma harmoniosa com ela.
Buda, Jesus Cristo, foram grandes mestres e que causaram uma enorme mudança na humanidade. Milhões e milhões de pessoas em todo o mundo seguem fielmente seus ensinamentos e graças a isso certamente temos um mundo bem melhor agora. Divergências sempre existirão. Isso faz parte da natureza humana . O tema da "reencarnação" ou "vida após a morte" por exemplo, causa sempre muitas discussões entre religiosos e estudiosos.
Eu sempre meditei a respeito desse tema , e cheguei na seguinte conclusão: "Todos nós morreremos um dia e somente nesse momento saberemos a verdade sobre isso" . Se existe um paraíso ou não ; se voltaremos em outro corpo ou não, não há muita lógica em ficarmos com discussões fúteis sobre coisas que ninguém sabe de fato como é. Aqui entra a "grande verdade que só a Deus pertence". Devemos sim, concentrar nossos esforços para que tenhamos um mundo e um modo de vida cada vez melhor para todos. Enfatizando o amor, a paz, a igualdade e a justiça entre os homens. O respeito pela natureza e os seres que nela habitam.
(Professor Gilmar Dantas)
 
O Buda e sua obra
O termo "Buda" é um título, não um nome próprio. Significa "aquele que sabe", ou "aquele que despertou", e se aplica a alguém que atingiu um superior nível de entendimento e a plenitude da condição humana. Foi aplicado, e ainda o é, a várias pessoas excepcionais que atingiram um tal grau de elevação moral e espiritual que se transformaram em mestres de sabedoria no oriente, onde, em muitos países, se seguem os preceitos budistas. Porém o mais fulgurante dos budas, e também o real fundador do budismo, foi um ser de personalidade excepcional, chamado Sidarta Gautama.

Siddharta Gautama, o Buddha, nasceu no século VI a. C. (em torno de 556 a. C.), em Kapilavastu, norte da Índia, no atual Nepal. Ele era de linhagem nobre, filho do rei Suddhodana e da rainha Maya. Logo depois de nascido, Sidarta foi levado a um templo   para ser apresentado aos sacerdotes, quando um velho sábio, chamado Ansita, que havia se retirado à uma vida de meditação longe da cidade, aparece, toma o menino nas mãos e profetiza: "este menino será grande entre os grandes. Será um poderoso rei ou um um mestre espiritual que ajudará a humanidade a se libertar de seus sofrimentos". Suddhodana, muito impressionado com a profecia, decide que seu filho deve seguir a primeira opção e, para evitar qualquer coisa que lhe pudesse influenciar contrariamente, passa a criar o filho longe de tudo o que lhe pudesse despertar qualquer interesse filosófico e espiritual mais aprofundado e, principalmente, mantendo-o longe das misérias e sofrimentos da vida que se abatem sobre o comum dos mortais. Para isso, seu pai faz com que viva cercado do mais sofisticado luxo.
Aos dezesseis anos, Sidarta casa-se com sua prima, a bela Yasodhara, que lhe deu seu único filho, Rahula, e passa a vida na corte, desenvolvendo-se intelectual e fisicamente, alheio ao convívio e dos problemas da população de seu país. Mas o jovem príncipe era perspicaz, e sempre ouvia os comentários que se faziam sobre a dura vida fora dos portões do palácio. Chegou a um ponto em que ele passou a desconfiar do porquê de seu estilo de vida, e sua curiosidade ansiava por descobrir o motivo das referências ao mundo de fora que pareciam ser, às vezes, carregadas de tristeza. Contrariamente à vontade paterna - que tenta forjar um meio de Sidarta não perceber diferença alguma entre seu mundo protegido e o mundo externo -, o jovem príncipe, ao atravessar a cidade, se detém diante ante a realidade da velhice, da doença e da morte. Sidarta entra em choque e profunda crise existencial. De repente, toda a sua vida parecia ser uma pintura tênue e mentirosa sobre um abismo terrível de dor, sofrimento e perda a que nem mesmo ele estava imune. Sua própria dor o fez voltar-se para o problema do sofrimento humano, cuja solução tornou-se o centro de sua busca espiritual. Ele viu que sua forma de vida atual nunca poderia lhe dar uma resposta ao problema do sofrimento humano, pois era algo artificialmente arranjado. Assim, decidiu, aos vinte e nove anos, deixar sua família e seu palácio para buscar a solução para o que lhe afligia: o sofrimento humano.

Sidarta, certa vez, em um dos seus passeios onde acabara de conhecer os sofrimentos inevitáveis do homem, encontrara-se com um monge mendicante. Ele havia observado que o monge, mesmo vivendo miseravelmente, possuía um olhar sereno, como de quem estava tranqüilo diante dos revezes da vida. Assim, quando decidiu ir em busca de sua iluminação, Gautama resolveu se juntar a um grupo de brâmanes dedicados a uma severa vida ascética. Logo, porém, estes exercícios mortificadores do corpo demonstraram ser algo inútil. A corda de um instrumento musical não pode ser retesada demais, pois assim ela rompe, e nem pode ser frouxa demais, pois assim ela não toca. Não era mortificando o corpo, retesando ao extremo os limites do organismo, que o homem chega à compreensão da vida. Nem é entregando-se aos prazeres excessivamente que chegará a tal. Foi ai que Sidarta chegou ao seu conceito de O Caminho do Meio : buscar uma forma de vida disciplinada o suficiente para não chegar à completa indulgência dos sentidos, pois assim a pessoa passa a ser dominada excessivamente por preocupações menores , e nem à auto tortura, que turva a consciência e afasta a pessoa do convívio dos seus semelhantes. A vida de provações não valia mais que a vida de prazeres que havia levado anteriormente. Ele resolve, então, renunciar ao ascetismo e volta a se alimentar de forma equilibrada. Seus companheiros, então, o abandonam escandalizados.

Sozinho novamente, Sidarta procura seguir seu próprio caminho, confiando apenas na própria intuição e procurando se conhecer a si mesmo. Ele procurava sentir as coisas, evitando tecer qualquer conceitualização intelectual excessiva sobre o mundo que o cercava. Ele passa a atrair, então, pessoas que se lhe acercam devido a pureza de sua alma e tranqüilidade de espírito, que rompiam drasticamente com a vaidosa e estúpida divisão da sociedade em castas rígidas que separavam incondicionalmente as pessoas a partir do nascimento, como hoje as classes sociais e dividem estupidamente a partir da desigual divisão de renda e, ainda mais, de berço.

Diz a lenda - e lendas, assim como mitos e parábolas, resumem poética e figuradamente verdades espirituais e existenciais - que Sidarta resolve meditar sob a proteção de uma figueira, a Árvore Bodhi. Lá o demônio, que representa simbolicamente o mundo terreno das aparências sempre mutáveis que Gautama se esforçava por superar, tenta enredá-lo em dúvidas sobre o sucesso de sua tentativa de se por numa vida diferente da de seus semelhantes, ou seja, vem a dúvida sobre o sentido disso tudo que ele fazia. Sidarta logo se sai dessa tentativa de confundi-lo com a argumentação interna de que sua vida ganhou um novo sentido e novos referenciais com sua escolha, que o faziam centrar-se no aqui e agora sem se apegar a desejos que lhe causaria ansiedade. Ele tinha tudo de que precisava, como as aves do céu tinham da natureza seu sustento, e toda a beleza do mundo para sua companhia. Mas Mara, o demônio, não se deu por vencido, e, ciente do perigo que aquele sujeito representava para ele, tenta convencer Sidarta a entrar logo no Nirvana - estado de consciência além dos opostos do mundo físico - imediatamente para evitar que seus insights sobre a vida sejam passados adiante. Aí é possível que Buda tenha realmente pensado duas vezes, pois ele sabia o quanto era difícil as pessoas abandonarem seus preconceitos e apegos a um mundo resumido, por elas mesmas, a experiências sensoriais. Tratava-se de uma escolha difícil para Sidarta: o usufruto de um domínio pessoal de um conhecimento transcendente, impossível de expor facilmente em palavras, e uma dedicação ao bem estar geral, entre a salvação pessoal e uma árdua tentativa de partilhar o conhecimento de uma consciência mais elevada com todos os homens e mulheres. Por fim, Sidarta compreendeu que todas as pessoas eram seus irmãos e irmãs, e que estavam enredados demais em ilusórias certezas para que conseguissem, sozinhos, uma orientação para onde deviam ir. Assim, Sidarta, o Buda, resolve passar adiante seus conhecimentos.
Quando todo o seu poder argumentativo e lógico de persuasão falham, Mara, o mundo das aparências, resolve mandar a Sidarta suas três sedutoras filhas: Desejo, Prazer e Cobiça, que apresentam-se como mulheres cheias de ardor e ávidas de dar e receber prazer, e se mostram como mulheres em diferentes idades (passado, presente e futuro). Mas Sidarta sente que atingiu um estágio em que estas coisas se apresentam como ilusórias e passageiras demais, não sendo comparáveis ao estado de consciência mais calma e de sublime beleza que havia alcançado. Buda vence todas as tentativas de Mara, e este se recolhe, à espreita de um momento mais oportuno para tentar derrotar o Buda, perseguindo-o durante toda a sua vida como uma sombra, um símbolo do extremo do mundo dos prazeres.

Sidarta transformou-se no Buda em virtude de uma profunda transformação interna, psicológica e espiritual, que alterou toda a sua perspectiva de vida. "Seu modo de encarar a questão da doença, velhice e morte mudo porque ele mudou" (Fadiman & Frager, 1986).
Tendo atingido sua iluminação, Buda passa a ensinar o Dharma, isto é, o caminho que conduz à maturação cognitiva que conduz à libertação de boa parte do sofrimento terrestre. Eis que o número de discípulos aumenta cada vez mais, entre eles, seu filho e sua esposa. Os quarenta anos que se seguiram são marcadas pelas intermináveis peregrinações, sua e de seus discípulos, através das diversas regiões da Índia.
Quando completa oitenta anos, Buda sente seu fim terreno se aproximando. Deixa instruções precisas sobre a atitude de seus discípulos a partir de então:

"Por que deveria deixar instruções concernentes à comunidade? Nada mais resta senão praticar, meditar e propagar a Verdade por piedade do mundo, e para maior bem dos homens e dos deuses. Os mendicantes não devem contar com qualquer apóio exterior, devem tomar o Eu - self - por seguro refúgio, a Lei Eterna como refúgio... e é por isso que vos deixo, parto, tendo encontrado refúgio no Eu".

Buda morreu em Kusinara, no bosque de Mallas, Índia. Sete dias depois seu corpo foi cremado e suas cinzas dadas as pessoas cujas terras ele vivera e morrera.


Principais Pontos da Doutrina de Buda

Temporalidade
. A única constante universal é a mudança. Nada do que é físico dura para sempre; tudo está em fluxo em determinado momento. Isto também se aplica a pensamentos e idéias que não deixam de ser influenciados pelo mundo físico. Isto implica que não pode haver uma autoridade suprema ou uma verdade permanente pois nossa percepção muda de acordo com os tempos e grau de desenvolvimento filosófico e moral. O que existem são níveis de compreensão mais adequados para cada tempo e lugar. Uma vez que as condições e as aspirações, bem como os paradigmas, mudam, o que parece ser toda a verdade numa época é visto como imperfeita tentativa de se aproximar de algo noutra época. Nada, nem mesmo Buda, pode tornar-se fixo. Buda é mudança.

Desprendimento
. Já que tudo o que parece existir de fato apenas flui, como nuvens, também é verdade que tudo o que é composto também se dissolve. A pessoa deve viver no mundo, utilizar-se do mundo, mas não deve se apegar ao mundo. Dever ser alguém que saiba utilizar-se do instrumento sem se identificar com o instrumento. Deve também ter a consciência de que seu próprio ego também se transforma com o tempo. Somente o self, o Atman imortal permanece, mesmo assim se desenvolvendo eternamente através das reencarnações e através dos mundos.

Insatisfação ou sofrimento
. O problema básico da existência é o sofrimento, que não é um atributo de algo externo, mas sim numa percepção limitada que advém da adoção de uma visão de mundo defeituosa adotada pelas pessoas. Como disse Jesus: "apenas quem se faz como uma criança pode entrar no reino dos céus", pois as crianças não se prendem ao passado nem se preocupam com um futuro. Elas vivem o presente e são autênticas com o que sentem, até o dia em que a cultura as fazem comer do "fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal", enchendo-as de preconceitos e ansiedades que as expulsam do paraíso. Os ensinamentos budistas - e de todos os grandes Mestres da humanidade - são caminhos propostos para nos ajudar a transcender nosso senso comum egoísta para se atingir um senso de relativa satisfação conosco e com o mundo. Se o sofrimento é fruto da percepção individual, algo pode ser feito para amadurecer esta percepção, através do auto conhecimento

"Projetistas fazem canais, arqueiros preparam flechas, artífices modelam a madeira e o barro, o homem sábio modela-se a si mesmo".

As Quatro Nobres Verdades

I - Dado o estado psicológico do homem comum, voltando seu desenvolvimento para o mundo externo de modo agressivo, a insatisfação que gera o sofrimento é quase inevitável.
II - A insatisfação é o resultado de anseios ou desejos que não podem ser plenamente realizados, e estão atrelados à sede de poder. A maioria das pessoas é incapaz de aceitar o mundo como é porque é levada pelos vínculos com o desejo narcíseo do sempre agradável e com sentimentos de aversão pelo negativo e doloroso. O anseio sempre cria uma estrutura mental instável, no qual o presente, única realidade fenomênica, nunca é satisfatório. Se os desejos não são satisfeitos, a pessoa tende a lutar para mudar o presente ou agarra-se a um tempo passado; se são satisfeitos, a pessoa tem medo da mudança, o que acarreta novas frustrações e insatisfações. Como tudo se transforma e passa, o desfrutar de uma realização tem a contrapartida de que sabemos que não será eterno. Quanto mais intenso for o desejo, mais intensa será a insatisfação ao saber que tal realização não irá durar.
III - O controle dos desejos leva à extinção do sofrimento. Controlar o desejo não significa extinguir todos os desejos, mas sim não estar amarrado ou controlado por eles, nem condicionar ou acreditar que a felicidade está atrelada a satisfação de determinados desejos. OS DESEJOS SÃO NORMAIS E NECESSÁRIOS até certo ponto, pois eles têm a função primária de preservar a vida orgânica. Mas se todos os desejos e necessidades são imediatamente satisfeitas, é provável que passemos a um estado passivo e alienado de complacência. A aceitação refere-se a uma atitude calma de desfrute dos desejos realizados sem nos perturbarmos seriamente com os inevitáveis períodos de insatisfação.
IV - Há uma forma de se eliminar o sofrimento: O Nobre Caminho Óctuplo, exemplificado pelo Caminho do Meio. A maioria das pessoas busca o mais alto grau de de satisfação dos sentidos, e nunca se dão por satisfeitas. Outros, ao contrário, percebem as limitações desta abordagem e tendem ir ao outro prejudicial extremo: a mortificação. O ideal budista é o da moderação.
O Caminho Óctuplo consiste no discurso, ação, modo de vida, esforço, cautela, concentração, pensamento e compreensão adequados. Todas as ações, pensamentos, etc, tendem a ser forças que, expressando-se, podem magoar as pessoas e a ferir e limitar a nós mesmo. O caminho do meio segue a máxima de ouro de Jesus Cristo: "Ama o próximo como a ti mesmo".

A Psicologia Budista

O físico Fritjof Capra, em seu livro O Tao da Física, nos fala que o budismo  ao contrário do hinduísmo que lhe serviu de preparação e que possui um forte colorido mitológico e ritualístico - tem um caráter e um "sabor" eminentemente psicológicos. Segundo Capra, "Buda não estava interessado em satisfazer a curiosidade humana acerca da origem do mundo, da natureza do Divino ou questões desse gênero. Ele estava preocupado exclusivamente com a situação humana, com o sofrimento e frustrações dos seres humanos. Sua doutrina, portanto, não era metafísica; era uma psicoterapia. Buda indicava a origem das frustrações humanas e a forma de superá-las. Para isso, empregou os conceitos indianos tradicionais de maya, karma, nirvana,etc., atribuindo-lhes uma interpretação psicológica renovada, dinâmica e diretamente pertinente." (Capra, 1986, p. 77). Ele havia dedicado-se a um aspecto da evolução humana: a auto-compreensão para por fim ao sofrimento humano, e só a este aspecto se dedicara.

A questão da causalidade em Buda, assim como em Freud, na psicologia ocidental, é um dos elementos principais de seus ensinamentos. Esta é chamada de karma, que significa ação, e representa a lei universal de causa e efeito em que o resultado de uma ação mais cedo ou mais tarde acaba por retornar a quem a praticou. Jesus certamente se refere à mesma lei universal quando fala: "Colherás aquilo que semeares". De acordo com o budismo, qualquer situação em que possamos nos encontrar em dado momento é a resultante de toda a nossa história pregressa, em cuja corrente histórica nos lançamos até atingir o estado atual; isto quer dizer que dispomos constantemente da oportunidade de aprender as lições para enriquecer nosso crescimento e evolução espiritual. Corretamente entendida, a doutrina do karma não é, como supõem alguns, uma forma de evitar uma ação responsável, nem uma desculpa para a aceitação das coisas tais como estão, mas um incentivo para aproveitar o presente da forma mais criativa e positiva possível; toda experiência vivêncial se converte em um empurrão para diante na nossa jornada para a compreensão de nós mesmos.

"O que hoje somos deve-se aos nossos pensamentos de ontem que condicionaram nosso comportamento, e são os nossos atuais pensamentos que constroem a nossa vida de amanhã; a nossa vida é a criação de nossa mente. Se um homem fala ou atua com a mente impura, o sofrimento lhe seguirá da mesma forma que a roda do carro segue ao animal que o arrasta". (Buda)

Comparemos este pensamento acima, do Buda, com este de Jesus:

"O olho,  o modo como vemos, interpretamos  a realidade   é a lâmpada do corpo. Se teu olho é bom, todo o teu corpo se encherá de luz. Mas se ele é mau, todo teu corpo se encherá de escuridão. Se a luz que há em ti está apagada, imensa é a escuridão".

Nada existe que não esteja relacionado com a sua própria causa. Carma é uma lei natural, existente em todo parte. A semente que cai no solo fértil e germina está obedecendo ao carma. O som que é produzido pela vibração de ar no interior da flauta é fruto de um carma físico. A complexa organização e beleza da vida é algo que demonstra uma sutil inter-relação entre todos os fenômenos naturais e mentais. Daí os budistas desenvolverem uma visão de mundo como uma infinita "Teia de Rubis", em que todos os brilhantes e todas as gemas preciosas, por menores que sejam, refletem todas as demais: uma analogia surpreendentemente do pensamento holístico atualmente muito em voga, e aceitável plenamente à luz das mais recentes descobertas da física quântica.

Buda e Jesus

Desde o século passado que estudiosos apontam as surpreendentes semelhanças entre os ensinamentos de Buda e Jesus. É como se Deus tivesse posto duas vertentes de uma mesma fonte adequadamente apropriadas para o mundo Ocidental e Oriental. Vejas alguns exemplos:

Buda: É mais fácil ver os erros dos outros que os próprios; é muito difícil enxergar os próprios defeitos. Espalham-se os defeitos dos outros como palha ao vento, mas escondem-se os próprios erros como um jogador trapaceiro"

Jesus: Por que olhas o cisco no olho de teu irmão e não vês a trave no teu? Como ousas dizer a teu irmão: 'Deixa-me tirar o cisco de teu olho, pois sei corrigir teu erro de visão'? Hipócrita, tira primeiro o engano de tua visão, e só então poderás tirar o cisco de teu companheiro".

Buda: "Não importa o que um homem faça, se seus atos servem à virtude ou ao vício, tudo é importante. Toda ação acarreta frutos"

Jesus: "Não pode a árvore boa dar maus frutos, nem a árvore má dar bons frutos. Porventura colhem-se figos de espinheiros ou ervas de urtigas? Toda árvore se conhece pelos frutos".

Buda: A pessoa má fala com falsidade, acorrentando os pensamentos às palavras. Aquele que fala mal e rejeita o que é verdadeiramente justo não é sábio".

Jesus: O homem bom tira coisas boas do tesouro do coração, e o mau retira coisas más, pois a boca fala do que está cheio o coração".

Buda: Assim como a chuva penetra numa casa mal coberta, também a paixão invade uma mente dispersa. Assim como a chuva não penetra numa casa bem coberta, igualmente a paixão não invade uma mente bem formada".

Jesus: Todo aquele que ouve as minhas palavras e as põe em prática é como um homem que construiu uma casa sobre a rocha. Caiu a chuva, uma torrente se abateu sobre a casa, mas ela não caiu, pois estava fundada sobre a rocha. Mas aquele que ouve as minhas palavras mas não as pratica é semelhante a um homem que construiu sua casa na areia. Veio a chuva, a torrente se abateu sobre ela, e ela desabou. E foi grande a sua ruína".

Muitas outras analogias ainda mais ricas seriam possíveis. Remeto o leitor ao livro "O Buda Jesus" para um estudo mais aprofundado.


Bibliografia Sugerida

O Pensamento Vivo de Buda, Editora Martin Claret, São Paulo, 1985.
Fadiman, James & Frager, Robert. Teorias da Personalidade, Editora Harbra, São Paulo, 1986.
Hall & Lindzey. Teorias da Personalidade, Vol. II, Ed. E.P.U. São Paulo, 1993.
Shearer, A. Buda, Ed. Del Prado, Madrid/Rio de Janeiro, 1997.
Ikeda, Daisaku. O Buda VivoEd. Record, Rio de Janeiro, 1989.
Jung, Carl Gustav. O Homem e Seus Símbolos, Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1991.
Jung, Carl Gustav. Psicologia da Religião Ocidental e Oriental, Editora Vozes, Petrópolis, 1990.
Kersten, Holger & Gruber, Elmar R. O Buda Jesus, Editora Best Seller, São Paulo, 1996.
Silva, George & Homenko, Rita. Budismo - Psicologia do auto conhecimento. Ed. Pensamento, s/d.
Capra, Fritjof. O Tao da Física, Ed. Cultrix, São Paulo, 1986.
Hesse, Hermann Sidarta, Ed. Record, Rio de Janeiro, 1988.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

11 de setembro de 1973: Golpe militar incentivado pela Casa Branca derruba um governo democraticamente eleito... Vídeo esclarecedor



Para os coxinhas golpistas leitores da Veja e do astrólogo Olavo de Carvalho e do "escaravelho rola aquilo" Reinaldo Azevedo, que acreditando nas montagens de Ali Kamel  chamam médicos cubanos de escravos e Cuba de ditadura, conspirando pela volta dos militares, um vídeo muito esclarecedor:


quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Vídeo onde o jornalista Palmério Dória fala sobre seu novo livro: O Príncipe da Privataria



Em entrevista a bancário e blogueiros no Contraponto, o autor dá detalhes da história secreta de como o Brasil perdeu seu patrimônio e Fernando Henrique Cardoso ganhou sua reeleição. O programa de webtv é uma parceria do Sindicato com o Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e vai ao ar, ao vivo, todas as primeiras segundas-feiras do mês, pelo site do Sindicato dos Bancários, rede Brasil Atual e blogues alternativos.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

A hipocrisa dos novos "Preocupados" com os direitos trabalhistas encobrindo posturas ideológicas fascistas



Reflexão do filósofo Jeverton Soares Dos Santos:



É engraçado que aqueles que se dizem "preocupados" com os direitos trabalhistas dos cubanos nunca proferiram uma palavra sequer sobre a decadente situação dos bolivianos em São Paulo. Este tipo de gente é estranha. Usa tênis fruto do trabalho escravo de crianças e jovens indianos; usa "smartphone" produzido em alguma periferia de Bangladesh; Ou até mesmo dirigem alguma "Mitsubishi" da Tailândia. Suas roupas são de alguma multinacional instalada estrategicamente na China ( que desde a morte de Mao Tse, já não é mais comunista, diríamos que ficou com o pior do comunismo e do capitalismo ao mesmo tempo). Seu notebook provavelmente foi feito no Haiti... Tudo com mão de obra sem direitos trabalhistas. Mas nada disso importa. Para estes "humanistas" em abstrato, tudo o que cheira a socialismo é ruim a priori. Só "pode"' existir miséria e escravidão em país cujo o regime é socialista. Isso não parece óbvio? O problema destes humanistas em abstrato é que eles "não tem nenhum problema concreto". Eles nunca passaram fome, por isso acham que a liberdade de ter um "Nike" é mais relevante do que a de saciar a fome. "Humanos, demasiadamente humanos".

Leonardo Boff contra as tramoias da direita




Contra as tramóias da direita: sustentar a Dilma Roussef

Texto de Leonardo Boff

 

É notório que a direita brasileira especialmente aquela articulação de forças que sempre ocupou o poder de Estado e o tratou como propriedade privada (patrimonialismo), apoiada pela mídia privada e familiar, estão se aproveitando das manifestações massivas nas ruas para manipular esta energia a seu favor. A estratégia e fazer sangrar mais e mais a Presidenta Dilma e desmoralizar o PT e assim criar uma atmosfera que lhes permite voltar ao lugar que por via democrática perderam.
Se por um lado não podemos nos privar de críticas ao governo do PT (e voltaremos ao tema), mas críticas construtivas, por outro, não podemos ingenuamente permitir que as transformações politico-sociais alcançadas nos últimos 10 anos sejam desmoralizadas e, se puderem, desmontadas por parte das elites conservadoras. Estas visam a ganhar o imaginário dos manifestantes para a sua causa que é inimiga de uma democracia participativa de cariz popular.
Seria grande irresponsabilidade e vergonhosa traição de nossa parte, entregar à velha e apodrecida classe política aquilo que por dezenas de anos  temos construido, com tantas oposições: um novo sujeito histórico,  o PT e partidos populares, com a inserção  na sociedade de milhões de brasileiros. Esta classe se mostra agora feliz com a possibilidade de atuar sem máscara e mostrando suas intenções antes ocultas: finalmente, pensa, temos chance de voltar e de colocar esse povo todo que reclama reformas, no lugar que sempre lhe competiu historicamente: na periferia, na ignorância e no silenciamento. Aí não incomoda nem cria caos na ordem que por séculos construimos mas que, se bem olhrmos, é ordem na desordem ético-social.
Esta pretensão se liga a algo anterior e que fez história. É sabido que com a vitória do capitalismo sobre o socialismo estatal  do Leste europeu em 1989, o Presidente Reagan e a primeira ministra Tatscher inauguraram uma campanha mundial de desmoralização do Estado, tido como ineficiente e da política como empecilho aos negócios das grandes corporações globalizadas e à lógica da acumulação capitalista. Com isso visava-se a chegar ao Estado mínimo, debilitar a sociedade civil e abrir amplo espaço às privatizações e ao domínio do mercado, até conseguir a passagem de uma sociedade com mercado para uma sociedade de puro mercado no qual tudo, mas tudo mesmo, da religião ao sexo, vira mercadoria. E conseguiram. O Brasil sob a hegemonia do PSDB se alinhou ao que se achava o marco mais moderno e eficaz da política mundial. Protagonizou vasta privatização de bens públicos que foram maléficos ao interesse geral.
Que isso foi uma desgraça mundial se comprova pelo fosso abissal que se estabeleceu entre os poucos que dominam os capitais e as finanças e a grandes maiorias da humanidade. Sacrifica-se um povo inteiro como a Grécia, sem qualquer consideração, no altar do mercado e da voracidade dos bancos. O mesmo poderá acontecer com Portugal, com a Espanha e com a Itália.
A crise econômico-financeira de 2008 instaurada no coração dos países centrais que inventaram esta perversidade social, foi consequência deste tipo de opção política. Foram os Estados que tanto combateram que os salvaram da completa falência, produzida por suas medidas montadas sobre a mentira e a ganância (greed is good), como não se cansa de acusar o prêmio Nobel de economia Paul Krugman. Para ele, estes corifeus das finanças especulativas deveriam estar todos na cadeia como criminosos. Mas continuam aí faceiros e rindo.
Então, se devemos criticar  a nossa classe política por ser corrupta e o Estado por ser ainda, em grande parte, refém da macro-economia neoliberal, devemos fazê-lo com critério e senso de medida. Caso contrário, levamos água ao moinho da direita. Esta se aproveita desta crítica, não para melhorar a sociedade em benefício do povo que grita na rua, mas para resgatar seu antigo poder político especialmente, aquele ligado ao poder de Estado a partir do qual garantia seu enriquecimento fácil. Especialmente a mídia privada e familiar, cujos nomes não precisam ser citados, está empenhada fevorosamente neste empreitada de volta ao  velho status quo.
Por isso, as demonstrações devem continuar na rua contra as tramóias da direita. Precisam estar atentas a esta infiltração que visa a mudar o rumo das manifestações. Elas invocam a segurança pública e a ordem a ser estabelecida. Quem sabe, até sonham com a volta do braço armado para limpar as  ruas.
Dai, repetimos, cabe reforçar o governo de Dilma, cobrar-lhe, sim,  reformas políticas profundas, evitar a histórica conciliação entre as forças em tensão e o oposição para juntas novamente esvaziar o clamor das ruas e manterem um status quo que prolonga  benefíciois compartilhados.
Inteligentemente sugeriu o analista politico Jeferson Miolo em Carta Maior (07/7/2013):”Há uma grave urgência política no ar. A disputa real que se trava nesse momento é pelo destino da sétima economia mundial e pelo direcionamento de suas fantásticas riquezas para a orgia financeira neoliberal. Os atores da direita estão bem posicionados institucionalmente e politicamente…A possibilidade de reversão das tendências está nas ruas, se soubermos canalizar sua enorme energia mobilizadora. Por que não instalar em todas as cidades do país aulas públicas, espaços de deliberação pública e de participação direta para construir com o povo propostas sobre a realidade nacional, o plebiscito, o sistema político, a taxação das grandes fortunas e do capital, a progressividade tributária, a pluralidade dos meios de comunicação, aborto, união homoafetiva, sustentabilidade social, ambiental e cultural, reforma urbana, reforma republicana do Estado e tantas outras demandas históricas do povo brasileiro, para assim apoiar e influir nas políticas do governo Dilma”?
Desta forma se enfrentarão as articulações da direita e se poderá com mais força reclamar reformas políticas de base que vão na direção de atender a infra-estrutura reclamada pelo povo nas ruas: melhor educação, melhores hospitais públicos, melhor transporte coletivo e menos violência na cidade e no campo.
Leonardo Boff não é filiado ao PT, é teólogo e escritor, da Comissão da Carta da Terra

A tal Operação 7 de setembro: análise de um movimento de direita








mascaratuca

A direita que não mostra a cara contra a esquerda que ficava muda 

Texto de Fernando Brito 
Ilustração: Vítor Teixeira

Fonte: Tijolaço 






Cumprindo seu papel de “Facebook” da direita, o site da Folha assume a campanha de convocação da agora enfraquecida “Operação Sete de Setembro”, a tal “onda” de manifestações que se planeja para o próximo sábado.

Em boa parte porque a mídia, que as promovia, está dividida agora.

Mas que ninguém se iluda, elas vão ocorrer, porque a esta altura há grupos com ousadia e meios para fazê-lo e vão encontrar um ambiente onde não recebem enfrentamento político-ideológico e se valem da mais que justa insatisfação da população com o atraso e as distorções históricas da vida política brasileira para levar água ao moinho da direita brasileira.

Até porque estes grupos não a direita real, mas apenas seus instrumentos – incientes, muitas vezes – de desestabilização de um governo progressista, no lugar do qual pretendem colocar não sabem bem o que, embora os acontecimentos no Egito devessem ter mostrado que as roupas pretas e toucas ninja que sobem ao poder não são exatamente os black blocs.

Mas, se os “anonymous” não são a direita real, o contrário é real: procure um reacionário no Brasil e encontrará um simpatizante dos “anonymous”, gostem disso eles ou não.

O apolítico, há tempos é assim, é sempre de direita, porque a ausência de polêmica é a manutenção do status quo.

Não se exija tanta lucidez, porém, de uma juventude à qual deixamos de dar referências políticas e ideológicas, à qual desacostumamos de manifestações públicas, a quem legamos a ideia de que a associação – sindical, estudantil, partidária – se resume na obtenção de favores e posições. Exceções raras e honrosas, como o MST, quem pode honestamente dizer que isso não se passou?

Quantas vezes nos iludimos achando que uma gestão técnica e republicana (jamais pensei que ia ter problemas em ouvir essa palavra, que tanto amo) e que o simples e inegável sucesso da administração do país bastaria para manter a hegemonia conquistada depois de quase 40 anos de governos de direita?
Deixamos de nos identificar, de revelar o que somos, de apontar-lhes o dedo e acusá-los pelo atraso, pela pobreza e pela dependência deste país.

Encaixotamo-nos no discurso da eficiência, da governabilidade, e deixamos de lado o do desejo, do sonho, da busca, esquecido que somos matéria e sonho, barriga e mente, presente e futuro.
O tempo faz a vida pender para os primeiros e a e tender a abandonar os segundos. Essa força é a morte e a morte só não nos alcança se a desafiamos.

Na política, isso é tão verdade quanto na existência individual. Passamos por isso ao final do primeiro governo Lula, quando achamos que a imensa empatia que se construiu com a sua eleição bastaria para reconduzi-lo. Fomos às pressas, correndo, buscar no amor ao progresso do Brasil e no horror às privatizações criminosas de Fernando Henrique a tábua que nos salvou do naufrágio eleitoral.
De alguma forma, no Governo Dilma, este erro repetiu-se.

Gerente, faxina, gestão…Bonito, caímos nas “graças” de uma mídia “simpática”, que exaltava a figura presidencial enquanto minava as forças que lhe davam sustentação política. Não fosse o caráter e a solidez ideológica de Dilma Rousseff, quão perto estaríamos de uma traição política, não é?

Mesmo assim, deixamo-nos cair na rotina e fugimos da polêmica. A comunicação do governo não é política, é “institucional e republicana” (estão vendo porque a palavra me arrepia?).

Mas, vejam que maravilha é a força do povo, basta um pequeno episódio, uma situação que marque claramente onde estamos e o que queremos para que ela se acenda e ilumine os caminhos.

Este episódio dos médicos, num instante, repartiu os campos com uma clareza que todos puderam, sem dificuldade, entender. O conservadorismo elitista, excludente, que pensa este país para si e não para o seu povo desnudou-se, estrilou e, afinal, submergiu em gaguejos e desculpas “éticas e técnicas” e foi varrido com todos os seus senões para o lugar desprezível que merece.

Porque a direita brasileira, quando se lhe mostra a cara, vemo-la como ela é: monstruosa, disforme, encarquilhada, mesmo quando se exime de roupas brancas e personagens jovens.

Sua face é horrenda e sua causa, desumana.

Natural, portanto, que se mascare.

Mas nós voltaremos à mudez?

Existirá vida após... o nascimento?



Carlos Antonio Fragoso Guimarães

Esta é uma parábola baseada em uma metáfora já conhecida na net, mas sempre atual. Nos faz pensar que, à semelhança do que ocorre no Mito da Caverna de Platão (livro VII de seu diálogo A República), nós tomamos o mundo que nos é familiar como sendo a única realidade possível, assim como os habitantes da caverna tomavam como a única verdade o seu mundo de sombras projetadas... Será mesmo que haverá algo além da vida conhecida? Por que não? Não faz muito tempo, se pensava que o universo se resumia à nossa única galaxia....

Segue, agora, a nossa versão da história dos bebês gêmeos que debatem sobre a possibilidade de uma vida além-útero. É a nossa adaptação,  ampliada, da metáfora de autor desconhecido (segundo um comentário, pode ser do escritor Pablo J. Luis Molinero) sobre a possibilidade de vida depois do... parto/partida (se você souber quem fez o conto original, mais simples, por favor, escreva ou deixe o nome no espaço para os comentários):

No ventre de uma mulher grávida estavam dois bebês, gêmeos fraternos. Ambos começaram a refletir sobre a vida intra-uterina que conheciam até que, inevitavelmente, passam a discutir a possibilidade de vida além-útero.

Eis a história:

 Um dos dois bebês pergunta, intrigado, ao outro:

- Você acredita na vida após o nascimento?

A resposta do outro bebê, após pensar um pouco, foi:

- Ah, bom... Penso que algo, alguma coisa, tem de haver após o nascimento. Isso tudo que nos trouxe à vida aqui dentro deve ter um sentido, ainda que nos escape. Talvez estejamos aqui principalmente porque nós precisamos nos desenvolver e preparar para o que seremos mais tarde, após o parto. Se for assim, aqui seria só uma fase de preparação para a vida lá fora, fase para o desenvolvimento de capacidades que aflorarão melhor em outra realidade, após o nascimento. Acredito que isso inclui mesmo, por exemplo, as capacidades de reflexão e entendimento, como a que estamos fazendo agora.

A esta reflexão, respondeu o bebê cético:

- Bobagem, não há isso de vida após o nascimento. Como é que seria essa vida? Será que seriamos iguais? acho que não. Haveria ainda esse líquido confortável que nos circunda? Você acha que teria sentido um mundo sem líquido, sem cordão umbilical?

A pronta resposta do bebê que pensa haver em uma vida além-útero foi:

- Eu não sei exatamente o que há, mas certamente, pelo que podemos ver surgir tenuamente, às vezes, deve haver mais luz e espaço do que aqui. Talvez lá exista novas possibilidades, quem sabe tenhamos características novas, como caminhar com nossos próprios pés e nos alimentarmos com a boca.

- Isso é um absurdo! Caminhar é impossível. Você consegue caminhar aqui? E comer com a boca, então? É totalmente ridículo! O cordão umbilical é o que nos alimenta. Até onde posso entender aonde me levam minhas pesquisas, posso afirmar uma coisa: A vida após o nascimento está excluída – o cordão umbilical é muito curto para ir além deste nosso mundo.

Acompanhando com atenção os argumentos do irmão, o outro bebê, contudo, não achava que os mesmos eram prova da inexistência de uma realidade maior. Ele achava que o pouco que ambos sabiam sobre o universo que conheciam era muito limitado e muito condicionado pelas fronteiras do que podiam perceber em relação ao que certamente ainda não sabiam. Pensando assim, ele replicou, dizendo:

- Ah, eu não acho que isso que conhecemos da realidade seja tudo, certamente há algo a mais. Até um dia desses nós nem sabíamos o porquê do cordão umbilical. Ainda não entendo o porquê dos sons destas batidas ritmadas que escutamos o dia todo, mas descobri que dentro de nós existe batidas semelhantes em nossos corações. Talvez a realidade pós-parto seja apenas um pouco diferente do que estamos habituados a ter aqui, porém mais livre. E quanto a provas sobre isso, quem sabe elas apenas ainda não foram percebidas por nossas limitações ou pelas limitações do nosso pensamento. De vez em quando vemos este útero um pouco mais iluminado, como se houvesse uma fonte luminosa externa e além útero, mas não sabemos ainda o que é que provoca isso, sabemos? Sequer sabemos tampouco com certeza de onde é que vem o alimento que recebemos do cordão umbilical.

O outro bebê, já habituado com a visão reducionista de mundo que adotava, continuou a estranhar a lógica do seu companheiro intra-uterino. E por que isto de argumentar que ainda não sabemos sobre a luz e o alimento? Certamente eles seriam explicados mais adiante com um estudo aprofundado e nada haveria de mágico ou acima do entendimento empírico. De qualquer modo, ele estava emocionalmente vinculado demais a seu próprio paradigma para levar em consideração os pontos de vista do irmão. Para ele, o bebê cético, seu posicionamento parecia ancorar-se no argumento de que não havia indícios confiáveis para a aceitação de uma vida após o parto:

- Mas ninguém nunca voltou de lá, deste "outro mundo", depois do nascimento, pra contar o que existe - replicou o bebê cético -. O parto apenas encerra a vida: Nasceu, acabou! E afinal de contas, a vida é nada mais do que a angústia prolongada na semi-escuridão. Um acidente da química e da física, assim como todo esse nosso mundo em que estamos também o é. E ainda que houvesse outro tipo de vida, ainda assim acho que ela não seria para sempre.  Haveria uma outra crise de que poderiamos chamar de, por exemplo, morte.


Sobre esta questão, respondeu o outro bebê: 
- Bem, eu não sei exatamente como será o depois do nascimento. Mas uma vez sonhei que tive uma experiência próxima do parto, uma EPP, em que, depois da terrível agonia das contrações uterinas, em passava pelo túnel do canal de parto e era amparado por carinhosas e grandes mãos amigas em um novo mundo de tanta luz que não consegui me adaptar e ver ou entender imediatamente o que havia por lá, mas suponho que com o tempo iria me adaptar e ver melhor, discernindo as coisas e pessoas . E quanto a uma limitação de vida nesta outra realidade, naquilo que você chama morte, acho que seria algo parecido ao que estamos discutindo aqui: toda nascimento seria uma morte para um estágio anterior da vida para o surgimento em outra dimensão mais ampla.  Não vejo a vida como sendo o contrário desta transformação. Nascimento/morte são só curvas ou pontos de mutação nesta estrada da vida.  É bem provável que na vida após nascimento, as pessoas também tenham algum tipo de experiência de quase da morte, ou EQM, e até uns tantos que estudem tal fenômeno. Mas, de qualquer modo, como estava dizendo sem ir tão longe, após o nascimento certamente iriamos ver melhor e compreender a origem de tudo: a mamãe, e ela cuidará de nós.

Essa última intervenção do irmão pareceu irritar muito o bebê mais cético, que respondeu ironicamente:

- Mamãe?! Você acredita na existência da mamãe?! E onde ela supostamente está? Não vejo essa coisa de mamãe em canto nenhum... Mamãe, mamãe, onde está você? Em que canto te escondes?!

O bebê filósofo,  já compreendendo que não haveria argumentos suficientes para abalar o posicionamento do irmão, ainda assim defendeu seu ponto de vista, respondendo:

- Onde ela está? Em tudo à nossa volta! Ou você acha que estamos imersos em um nada que nos faz e sustenta? Acho que não, acho que a mamãe é o que nos sustenta. Nela e através dela nós vivemos. Sem ela tudo isso não existiria. Você não sente que existe algo que nos sustenta e ampara?

O Bebê cético, sentindo que havia lógica nas palavras do mano, começou a se sentir incomodado, não tanto pela argumentação adversa, mas pelo feato de que ela começava a balançar suas anteriores "certezas". O bebê ficou perplexo e pensou:



"Mas como? Não se leva um tempo considerável em construirmos nosso próprio mapa conceitual da realidade e ele não parece tão perfeito? Como é que vem alguém agora e começa a expor pontos de vista que vão em linhas diametralmente opostos as minhas? Eu tenho de estar certo, ainda que ele fale algo coerente. Não, o meu modelo é o que está certo e faz sentido, não o que aponta para características ou possibilidades opostas às minhas!"

Assim, por ser muito dificil reconhecer os limites de nossas próprias crenças, que por mais baseadas que sejam no empirismo do conhecido, acabam formando uma metafísica tão limitada quanto a metafísica tradicional, o bebê cético passou a responder um pouco mais rispidamente às colocações do irmão apelando para os limitados fatos do mundo que conhecia:

- Eu não acredito! Eu nunca vi nenhuma mamãe. Tampouco vi indícios que sustentem essa hipótese absurda, já que os estudos sequer implicam na existência dela, por isso é claro que não existe nenhuma, muito menos vida depois do parto!.

O bebê filósofo, já percebendo a insegurança íntima do mano, resolver não levar muito adiante a discussão, encerrando a conversa com uma reflexão sobre certos indícios sobre a vida além-útero e da existência da mamãe:

- Bem, mas às vezes, quando estamos em silêncio, você pode ouvi-la cantando, ou sentir como ela afaga nosso mundo. Saiba, eu penso que só então a vida real nos espera e agora, por enquanto, apenas estamos nos preparando para ela…