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domingo, 23 de maio de 2010

O Espetáculo obsceno da exploração dos Bancos




Escrito por Léo Lince
21-Mai-2010



O tempo passa, o tempo voa, a bolsa sobe e desce, a crise finge sumir e reaparece, mas a lucratividade dos banqueiros continua numa boa. Na alta ou na baixa, no sujo ou no limpo e até no mal lavado, eles ganham sempre. Mandam e desmandam nos governos, regulam os que deviam regulá-los, seguem soberanos na fortaleza inexpugnável da tirania financeira que avassala o mundo.



Em todo e qualquer lugar, seja no Império Americano hipotecado, na tragédia grega ou nos pólos avançados da velha Europa, os protocolos da supremacia absoluta do capital financeiro continuam a girar as roletas do cassino. Por toda a parte, com a voracidade das matilhas, eles atacam sem dó nem piedade.



Aqui no Brasil, então, nem se fala. A cada trimestre os balancetes dos bancos registram recordes cuja superação parecia impossível. A regra, que se repete de maneira cronometrada, foi confirmada na safra atual. O lucro líquido declarado pelos maiores bancos privados brasileiros nos três primeiros meses deste ano alcançou um padrão estratosférico. Nunca, em tempo algum, o Itaú, o Bradesco e Santander ganharam tanto dinheiro.



Para evitar a sensaboria dos números, vamos nos limitar ao caso do Itaú Unibanco. É, por enquanto, o maior banco privado e declarou, para o trimestre, um lucro líquido de R$ 3,23 bilhões. Um aumento brutal, de cerca de 60%, em relação ao mesmo período do ano passado. Lucratividade espantosa: é o maior valor já registrado para um trimestre ao longo de toda a história do setor.



Uma conta simples, dando de lambuja os domingos e feriados, define o montante do lucro líquido diário: R$ 35,9 milhões. Logo, para efeito de comparação, um trabalhador de salário mínimo levaria quase seis séculos para amealhar uma quantia semelhante. Como Brasil foi "descoberto" em 1500, para equiparar ao que o Itaú lucra num dia, o nosso trabalhador hipotético teria que ter começado sua poupança na era pré-colombiana.



Uma disparidade absurda. Um retrato cruel do abismo que separa as classes sociais no Brasil de hoje. Não há ou, melhor dizendo, não deveria haver qualquer possibilidade de convívio sereno entre a consciência digna da cidadania e semelhante absurdo. No entanto, no torpor gerado pela morfina-dinheiro, o absurdo é tratado como parte integrante da paisagem. Natural como a explosão de um vulcão.



A roleta financeira que gira sem freios é a imagem mais precisa do horror econômico que nos governa. A propriedade que tem o dinheiro - de existir como valor separado de qualquer substância - está na base desta vertigem da pecúnia sem limites. A violenta concentração de poder materializado no dinheiro, hermafrodita que se reproduz na relação consigo mesmo (D-D’), explica muita coisa. A dívida pública, um Himalaia de juros sobre juros. A prevalência do financiamento privado de campanhas eleitorais cada vez mais caras. O tal superávit primário, que sacrifica direitos sociais e sucateia serviços públicos essenciais para garantir o pagamento religioso dos juros.



Montaigne, no célebre ensaio "Dos Canibais", relata a presença de índios trazidos do "Novo Mundo" recém descoberto para visitar a reluzente corte francesa. Ao invés de se embasbacarem com tanto luxo e riqueza, eles se espantaram foi com a desigualdade. Para eles, a brutal disparidade entre o palácio e as ruas não era natural. O sentimento igualitário do passado imemorial há de retornar no futuro utópico. Por enquanto, quando os bancos publicarem balancetes, por favor, tirem as crianças da sala para evitar o espetáculo obsceno.



Léo Lince é sociólogo.

Agora, uma reflexão lúcida, irrefutável, esclarecedora do jornalista Hélio Ferandes em artigo publicado no blog do Jornal Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 26/05/2010


Com exportação, importação, inflação, déficit, a catástrofe e a tragédia grega dos aventureiros. Platão, Sócrates, Aristóteles, da tragédia imortal, o que escreveriam, agora, sobre esses TRILHÕES?

Uma tragédia principalmente transportada para o plano financeiro. E exigindo, inicialmente, 1 trilhão de dólares? Mais trágico ainda e revoltando toda a comunidade grega, que não tem a menor culpa ou participação nesse processo. Envolvendo a Europa e indo para os EUA, e ameaçando a economia do mundo. (Quer dizer, do povo).

Os alunos de Sócrates gostavam de perguntar: “Mestre, é verdade que o senhor sabe todas as coisas?”. E ele, tímido, respondia” “Meus filhos, só sei que nada sei”.

A resposta simples do grande filósofo, seria hoje dolorosa realidade. Por que a Grécia mergulhou profundamente nessa crise, com o déficit chegando a tais níveis?

(Sorte para o Brasil, que só tem déficit primário). O da Grécia deve ser secundário, talvez “triliardário”. É possível que seja mesmo, pois a “ajuda” começou tão alta e tão urgente, que ninguém sabe os números que poderá atingir.

O estarrecimento não é apenas filosófico, sociológico ou econômico, alguma coisa fugiu ao controle. Ou estão procurando explicação mais compreensível para os países da UE (União Européia). Por enquanto, o que se sabe ou se procura entender é a razão de ter chegado tão longe sem ninguém perceber.

Perceberam, mas existiam interessados em “não ver”? Ou até mesmo estimular, o que já chamam de segunda crise, praticamente no mesmo período?

O capitalismo tem tais mistérios, que nada é o que parece, ou então lucros e prejuízos não são tão desastrados nem conflitantes, compõem o mesmo conjunto. Têm muito de “construtivo” entre si.

Lord Keynes, o economista inglês, que em 1944 inventou o “dólar papel-pintado”, levando (e elevando) os EUA a uma prosperidade que durou pelo menos 50 anos, não estava muito tranqüilo em Bretton Woods.

Já havia criado o Bancor, moeda que substituiria o ouro como lastro para os negócios. (Principalmente exportação e importação). Mas não tinha muita certeza do que ocorreria. Quando um banqueiro não muito poderoso, interrogou-o sobre a relação que ocorreria entre LUCROS e PREJUÍZOS, Keynes respondeu alto e de mau humor: “Eu sou economista, o senhor deveria procurar e consultar um contador profissional”. (De mau humor, como Serra, e tão arrogante quanto o ex-governador, que jamais será presidente. O que comecei a dizer e a repetir desde 2002).

(Keynes estava sempe mais irritado do que Serra, obrigado a acordar às 8 da manhã. Para um cético mas não enciclopédico, irritante, insuportável, incompreensível).

A perplexidade da tragédia grega de agora, é o que os importantes pró-homens (ou que assim se julgam) do comando da UE, na Bélgica, traçam como projeto e objetivo para ultrapassar a crise: “Temos que salvar os banqueiros para que eles possam nos ajudar a vencer o gravíssimo problema”.

Isso é textual, esses “líderes” são tão pomposos e arrogantes, que não acredito que conheçam a famosa afirmação-interrogação de Lenine: “Qual a diferença entre fundar ou assaltar um banco?”.

Só que o capitalismo, mesmo “sufocado” e quase perdido entre becos e vielas, desemboca sempre em avenidas majestosas. Os EUA, que aparentemente foram atingidos pela primeira crise, (a “imobiliária”) na verdade foram criadores e vencedores.

Agora, a mesma coisa. Os bancos que “precisam ser salvos”, estão quase todos nos EUA. E o EURO, que tirava o sono dos “banqueiros-aventureiros” americanos, perdeu força, não assusta mais.

Já escrevi na Tribuna impressa: “O pânico dos EUA é que o valor do petróleo seja apregoado em EURO”. Disse na época que o “dólar papel-pintado”, seria salvo pelos TRILIARDÁRIOS da Rússia, China, Índia, paises árabes, e seus depósitos maravilhosos, feitos em bancos americanos.

Os ingleses, depois da implantação de um governo fraquíssimo e instável, “ressurgiram”. Motivo: preservaram a LIBRA, não aderindo ao EURO, estão satisfeitos. Não são mais ouvidos ou citados, mas podem fingir de potência.

***

PS – De qualquer maneira, o CAPITALISMO não vai acabar, o SOCIALISMO não irá desaparecer, nem mesmo em teoria. O mundo, pelo menos nos últimos 300 ou 400 anos, foi sempre dominado pela BIPOLARIDADE geográfica. A próxima BIPOLARIDADE será econômico-financeira, construída pela união China-EUA.

PS2 – Surgirá o que parecia impossível, cada vez mais possivel e obrigatório. Será o CAPITALISMO-SOCIALISTA, que pode ser identificado também como SOCIALISMO-CAPITALISTA. Imposto e garantido não tanto pela QUALIDADE e sim pela QUANTIDADE. Mas a QUANTIDADE vai purificar e trazer a QUALIDADE?

PS3 – Com fabulosa PROSPERIDADE para os que hoje são 7 BILHÕES de habitantes. Já serão então 10 BILHÕES.

PS4 – A China será CAPITALIZADA pela juventude, as centenas de milhões que gostaram de comprar e existir. Os EUA serão SOCIALIZADOS pela juventude, que quer continuar comprando e vivendo, não pretende deixar de existir.

PS5 – E com o avanço da tecnologia nuclear, não haverá mais guerras. Todos lembrarão de Einstein, quando lhe perguntaram sobre a TERCEIRA GUERRA Mundial, NUCLEAR: “Se houver, a QUARTA será travada com paus e pedras, não sobrará mais do que isso”.

PS6 – Só que desaparecerá sem possibilidade de volta, a maior fonte de destruição e enriquecimento que é o chamado COMPLEXO INDUSTRIAL MILITAR. (Surpreendentemente, royalties da frase, para o general Eisenhower).

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